III - de como os mais pequenos se tornam grandes e balsâmico é o desejo de voltar a casa


A saga de Brama espalhou-se rapidamente pelas aldeias e se uns ironizavam afirmando que um veado sem hastes não é um veado, outros desejavam ardentemente que Brama ganhasse coragem, enfrentasse as montanhas e libertasse Timóteo. Entre os últimos, encontrava-se o rapaz mais pequeno da aldeia, o mais tímido, o mais pacífico. Chamavam-lhe Lunar porque tinha nascido entre a lua cheia e o quarto minguante, quando balsâmica é a lua. Do seu verdadeiro nome já ninguém se recordava e Lunar era lunar, o rapaz calado, curioso, que sabia a ciência dos bichos e das plantas.
O rapaz possuía um esquilo voador, pequenino, tímido e pacífico como ele. Por isso pasmava com a fama de Perfidus e dos seus filhos, com a maldade das suas ações. Bem lá no fundo acreditava que alguém ou alguma coisa os tinha tornado assim.
E sonhava com a tristeza de Brama no sopé do monte e com Timóteo, prisioneiro na terceira das torres, aquela que ninguém via. Depois teve uma ideia que considerou genial e disse ao avô:
- Se ateassem fogueiras pelas montanhas acima, talvez Brama subisse e quem sabe.
O avô juntou os homens da aldeia e em cada pequeno planalto fizeram uma fogueira e se a neve era fria, não parecia, e nos olhos do veado brilharam labaredas cor de fogo e à medida que subia, as hastes começaram a crescer e a meio da montanha já lhe pesavam. Chegado ao topo, Brama era um veado adulto e as galhadas na sua cabeça eram as mais belas que alguma vez alguém vira. Foi então que avistou a terceira das torres, invisível para os olhos humanos mas percetível para os seres que têm bom coração. Soube que era ali que Timóteo estava cativo. Mas uma pesada porta guardava a fortaleza e não seria assim que lhe permitiriam entrar. E escondeu-se atrás de uma rocha.
Então o rapaz enviou o seu esquilo voador pequenino e tímido como ele e este bateu na ferragem da porta. Do lado de dentro ouviu-se uma voz:
- Quem és, o que queres?
- Sou um esquilo voador. Venho prestar vassalagem ao meu rei – respondeu, abismado com a ousadia.
Os de dentro, cedendo à vaidade e à cobiça e desejosos de acrescentar mais um ao seu terrível bando, abriram a pesada porta.
O esquilo voador avançou e logo atrás dele surgiu Brama e as suas enormes hastes. E bramindo investiu contra Perfidus e os filhos. Contam alguns que o esventrou, outros que o baniu para sempre das montanhas, outros ainda, que lhes perdoou e redimindo, se redimiram.
Juntamente com Timóteo, cujos dentes da frente tinham o comprimento de vários paus de canela, tal foi a fome que passou, foram libertados dois lobos, quatro coelhos, cinco esquilos comuns, dois castores, uma truta, um urso, um homem, três mulheres e duas crianças.
São assim as lendas. A verdade dos factos mistura-se com a imaginação e lunar é o rapaz balsâmico que possuía um pacífico esquilo voador.
Na aldeia, guardaram-se as nozes para os bolos de mel e as bagas de azevinho rebentaram entre as folhas de um verde muito escuro. Cheirava a húmus e a pinheiro manso e o fogo crepitava nas lareiras.
Foi então que Brama sentiu um apelo, um chamamento dos outros veados. Agitou as hastes, baixou a cabeça, raspou a terra com as patas dianteiras.
E se era dezembro era o tempo de regressar a casa.
esta é a última das Crónicas de Brama
muitas outras se contaram e todas são verdadeiras






40 comentários:

Jaime Latino Ferreira disse...

MANUELA BAPTISTA


Yessss ... até já cheira a Natal!!!


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Dezembro de 2012

Unknown disse...

:))

cheira mesmo, Jaime!

ai se eu fosse realizador de cinema...!

Manuela, acho que merece um grande aplauso e um abraço ainda maior!

nandinho

Anónimo disse...

Olá, Manuela!

Durante alguns minutos,os que devagarinho levam a ler este conto, sabe bem voltar a ser pequenino, acreditar que das fraquezas se pode fazer forças quando é preciso socorrer os amigos - e que o bem sempre sobre o mal triunfa.E tudo isto em dose redobrada, agora que o Natal está à porta.

Lindo!
Boa semana, com um abraço.
Vitor

Jaime Latino Ferreira disse...

FERNANDO


Nandinho

Meu Caro,

A julgar pelos seus guiões e pelas sua fotografias, para realizador de cinema já não lhe falta muito ...!

Abraços


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 2 de Dezembro de 2012

Kika disse...

Kriu?

Olha, olha, que linda esta almofada em forma de esquilo voador!

Compraste na "Loja do Gato Preto"?

Logo tu, que não és nada de alardes e que nem te intitulas como poetisa, nem nada, com estas aquisições concluo que andas numa fase bués da connect!

Também queres ser inteira é? Mas tu és magriça!

Anónimo disse...

Kika, não vês que é para colocar o saco de água quente?

ki.ti disse...

Oa gatos têm lojas?

francamente...



Dulce disse...

Pois é querida Manuela.. não tarda, chega o Natal!!
Belíssimo é sempre o que lhe leio.

Entretanto chegou o Advento.. Vida e Esperança entrelaçadas em ..nós!!

Beijinho grande.. melhor dois:)

Dulce

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida Manuela

Fico embevecida a ler-te, volto a ser criança e beber as estórias como quem voa num sonho...Lindo sempre.

Um beijinho com carinho
Sonhadora

Nilson Barcelli disse...

As tuas histórias são deliciosas. E esta foi a mais deliciosa de todas, porque foi a última e ainda tenho a doçura das tuas palavras na boca...
Manuela, querida amiga, tem uma boa semana.
Um abraço.

Unknown disse...

Li mas não fiquei satisfeito.
Voltei ao início e li mais devagar,tão devagar que ouvia o passos dos animais animando toda a floresta.
Foi uma viagem maravilhosa.

Penélope disse...

São das nossas fragilidades e do nosso sentido de pequenez, muitas vezes, que encontramos forças para dar uma virada heroica.
Gosto demais de histórias. Sabe, vou pelo face todos os dias, mas não largo meu amor pelas páginas dos amigos...
Aqui é tudo mais primoroso e cheio de detalhes, sem o imediatismos das informações.
Um grande abraço!!!

Beatriz disse...

Manuela
Sou apaixonada pelos seus desenhos, de uma pureza sem fim!
Uma imaginação balsâmica se apossou de mim ao ler este conto.....e já é dezembro.....
Bj

Bia
www.biaviagemambiental.blogspot.com

. intemporal . disse...

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. "são assim as lendas" . e são também prendas . muitas e muitas prendas . que das Suas mãos recebemos . todas fulgentes .

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. neste tempo . de quase natal .

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. a húmus . cheira sempre a Sua escrita . fora de série . única e exclusiva . detentora de uma capacidade ímpar associada in.equivoca.mente . a uma sensibilidade mais.do.que.perfeita .

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. _________________________ . eleita .

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. íssimo . e.terna.mente feliz .

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O Puma disse...

Hoje não comento

faleceu o Joaquim Benite

Kika disse...

Kriu!

Olha, sabes, já estou outra vez sózinha! Tudo isto porque lhe traumatizei uma perna e destravei-lhe uma asa, em poucos minutos!

Agora diz-me, que mal vem ao mundo com isso?

Anónimo disse...

Kika escalada com grelos fresquinhos e batatinhas a murro!

Cauuuuufffff!

ki.ti disse...

Kika,

ao mundo não sei, mas à perna...

mz disse...

Estou contente!!!

Deste-lhe um final feliz e com uma grande mensagem, como todas as fábulas.

Chega sempre a hora.

A hora do bem sobre o mal,

A hora da fraqueza dos poderosos,

A hora de uma ideia brilhante,

A hora do pequeno se destacar,

A hora das despedidas, mesmo quando nos sentimos confortáveis.


Adorei todo o enredo desta crónica e já estou com saudades do Brama. afeiçoei-me ao veadinho. Será que me vou cruzar com ele este Natal?


Um abraço, Manuela.



. intemporal . disse...

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. e vim . "vinte" . ver .

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. :))) .

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Smareis disse...

Maravilhoso, me fez viajar te lendo.


Deixo um grande abraços!
Ótimo fim de semana!

Clique-Refletindo com a Smareis

Um brasileiro disse...

Oi. estive aqui dando uma espiada. muito legal. apareça por la. abraços.

alegria de viver disse...

Querida amiga


Eu acredito plenamente em tudo que escreve, por esse motivo sinto sua emoção.

Obrigada por mais este belo conto.

Com muito carinho BJS.

Isa Lisboa disse...

Ainda bem que Brama cresceu. Ainda bem que regressou a casa. Ainda bem que se guardaram as nozes e as bagas de azevinho.
E ainda bem que partilha as suas histórias, porque de cada vez que venho cá, lembro-me de como é bom sonhar.

Beijos, um bom fim de semana!

P.S.: Também costumo ir ao outro mar e adoro os tesouros que por lá encontro!

Silenciosamente ouvindo... disse...

Brama/veado/Natal/lendas...e a sua
imensa imaginação e capacidade de
passar para palavras.
Quando eu ver um veado vou-me lembrar de si e do Brama.Será uma
homenagem aos dois.
Beijinhos
Irene Alves

Menina no Sotão disse...

Há minha cara, tu nao sabes o quanto eu admiro lendas. São verdades afáveis que dão sentido a vida. E o que nos faz humanos e singulares. Adorei...
Desculpe-me pela ausência, mas tive dias curtos e prazos estreitos. Bacio

CamilaSB disse...

Querida amiga Manuela (andei uns dias afastada...) li a parte I, II e III das crónicas de Brama, emocionei-me... as suas palavras são sempre plenas de sabedoria e talento... nelas lê-se a grandiosidade da alma que as veste com beleza e encanto! Adorei também as pinturas, magníficas como sempre, parabéns!
Um beijinho com amizade e estima, bem-haja pelo seu carinho :)

Graça Pereira disse...

E antes que Dezembro acabe... e Brama parta para a sua casa e para a companhia dos seus... eu pergunto:Acabou? Que pena!
Acredito que Manuela Baptista, autora da saga de Brama, não fica atrás dos autores de "Harry Poter" e do "Senhor dos Anéis"... Haverá alguém com coragem para me desmentir?
Demasiado lindo para ficar por aqui!!! Os desenhos maravilhosos completam a história e eu fiquei com vontade de ter um esquilo voador.
Beijo amigo.
Graça

Kika disse...

Kriu?

Olha, sabes, eu já não tenho blogue, mas estou aqui!

Anónimo disse...

És mesmo tonta, Kika!

helia disse...

Bonita história e lindas imagens !
Gostei muito !
Feliz Natal

Nilson Barcelli disse...

Vim à procura de mais...
Mas eu espero.
Um abraço, minha querida amiga.

Kika disse...

Kriu!

Com papas e bolos se enganam os tolos, costuma dizer-se!

Mas a mim não, a mim é que não!

E logo eu... que detesto ovo... vitaminado... kriu!

Anónimo disse...

Kika, vai uma gemada?

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

tanto talento a escrever estórias que quando te leio volto a ser criança.

gosto da maneira como enriqueces a escrita, gosto, gosto e mesmo que não gostasse. só esta frase vale a pena ler todo o resto.

"nos olhos do veado brilharam labaredas cor de fogo"

beijo

;)

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

São sim,
verdadeiramente
... fantásticas!
Beijo
da Lúcia

Kika disse...

Kriu?

Está um vento que nem te passa!

Vem de norte, olha que até consigo ouvir aqui as intrigas da rodilhona de Fânzeres...

Credo!

Kriu!

Anónimo disse...

Kika!

Sê "sóbria", "reservada", deixa lá essa ... em paz!

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Vim saber de si e sentir de novo o imenso prazer em lê-la.
Feliz Natal
Beijo

Silenciosamente ouvindo... disse...

Hoje venho apenas desejar-lhe a si
e sua Família um FELIZ NATAL.

Beijinhos

Irene Alves