A saga de Brama espalhou-se rapidamente pelas aldeias e
se uns ironizavam afirmando que um veado sem hastes não é um veado, outros
desejavam ardentemente que Brama ganhasse coragem, enfrentasse as montanhas e
libertasse Timóteo. Entre os últimos, encontrava-se o rapaz mais pequeno da
aldeia, o mais tímido, o mais pacífico. Chamavam-lhe Lunar porque tinha nascido
entre a lua cheia e o quarto minguante, quando balsâmica é a lua. Do seu
verdadeiro nome já ninguém se recordava e Lunar era lunar, o rapaz calado,
curioso, que sabia a ciência dos bichos e das plantas.
O rapaz possuía um esquilo voador, pequenino, tímido e
pacífico como ele. Por isso pasmava com a fama de Perfidus e dos seus filhos,
com a maldade das suas ações. Bem lá no fundo acreditava que alguém ou alguma
coisa os tinha tornado assim.
E sonhava com a tristeza de Brama no sopé do monte e com
Timóteo, prisioneiro na terceira das torres, aquela que ninguém via. Depois
teve uma ideia que considerou genial e disse ao avô:
- Se ateassem fogueiras pelas montanhas acima, talvez
Brama subisse e quem sabe.
O avô juntou os homens da aldeia e em cada pequeno
planalto fizeram uma fogueira e se a neve era fria, não parecia, e nos olhos do
veado brilharam labaredas cor de fogo e à medida que subia, as hastes começaram
a crescer e a meio da montanha já lhe pesavam. Chegado ao topo, Brama era um
veado adulto e as galhadas na sua cabeça eram as mais belas que alguma vez
alguém vira. Foi então que avistou a terceira das torres, invisível para os
olhos humanos mas percetível para os seres que têm bom coração. Soube que era
ali que Timóteo estava cativo. Mas uma pesada porta guardava a fortaleza e não
seria assim que lhe permitiriam entrar. E escondeu-se atrás de uma rocha.
Então o rapaz enviou o seu esquilo voador pequenino e
tímido como ele e este bateu na ferragem da porta. Do lado de dentro ouviu-se uma
voz:
- Quem és, o que queres?
- Sou um esquilo voador.
Venho prestar vassalagem ao meu rei – respondeu, abismado com a ousadia.
Os de dentro, cedendo à vaidade e à cobiça e desejosos de
acrescentar mais um ao seu terrível bando, abriram a pesada porta.
O esquilo voador avançou e logo atrás dele surgiu Brama e
as suas enormes hastes. E bramindo investiu contra Perfidus e os filhos. Contam
alguns que o esventrou, outros que o baniu para sempre das montanhas, outros
ainda, que lhes perdoou e redimindo, se redimiram.
Juntamente com Timóteo, cujos dentes da frente tinham o
comprimento de vários paus de canela, tal foi a fome que passou, foram
libertados dois lobos, quatro coelhos, cinco esquilos comuns, dois castores,
uma truta, um urso, um homem, três mulheres e duas crianças.
São assim as lendas. A verdade dos factos mistura-se com
a imaginação e lunar é o rapaz balsâmico que possuía um pacífico esquilo voador.
Na aldeia, guardaram-se as nozes para os bolos de mel e
as bagas de azevinho rebentaram entre as folhas de um verde muito escuro. Cheirava
a húmus e a pinheiro manso e o fogo crepitava nas lareiras.
Foi então que Brama sentiu um apelo, um chamamento dos
outros veados. Agitou as hastes, baixou a cabeça, raspou a terra com as patas
dianteiras.
E se era dezembro era o tempo de regressar a casa.
40 comentários:
MANUELA BAPTISTA
Yessss ... até já cheira a Natal!!!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Dezembro de 2012
:))
cheira mesmo, Jaime!
ai se eu fosse realizador de cinema...!
Manuela, acho que merece um grande aplauso e um abraço ainda maior!
nandinho
Olá, Manuela!
Durante alguns minutos,os que devagarinho levam a ler este conto, sabe bem voltar a ser pequenino, acreditar que das fraquezas se pode fazer forças quando é preciso socorrer os amigos - e que o bem sempre sobre o mal triunfa.E tudo isto em dose redobrada, agora que o Natal está à porta.
Lindo!
Boa semana, com um abraço.
Vitor
FERNANDO
Nandinho
Meu Caro,
A julgar pelos seus guiões e pelas sua fotografias, para realizador de cinema já não lhe falta muito ...!
Abraços
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 2 de Dezembro de 2012
Kriu?
Olha, olha, que linda esta almofada em forma de esquilo voador!
Compraste na "Loja do Gato Preto"?
Logo tu, que não és nada de alardes e que nem te intitulas como poetisa, nem nada, com estas aquisições concluo que andas numa fase bués da connect!
Também queres ser inteira é? Mas tu és magriça!
Kika, não vês que é para colocar o saco de água quente?
Oa gatos têm lojas?
francamente...
Pois é querida Manuela.. não tarda, chega o Natal!!
Belíssimo é sempre o que lhe leio.
Entretanto chegou o Advento.. Vida e Esperança entrelaçadas em ..nós!!
Beijinho grande.. melhor dois:)
Dulce
Minha querida Manuela
Fico embevecida a ler-te, volto a ser criança e beber as estórias como quem voa num sonho...Lindo sempre.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
As tuas histórias são deliciosas. E esta foi a mais deliciosa de todas, porque foi a última e ainda tenho a doçura das tuas palavras na boca...
Manuela, querida amiga, tem uma boa semana.
Um abraço.
Li mas não fiquei satisfeito.
Voltei ao início e li mais devagar,tão devagar que ouvia o passos dos animais animando toda a floresta.
Foi uma viagem maravilhosa.
São das nossas fragilidades e do nosso sentido de pequenez, muitas vezes, que encontramos forças para dar uma virada heroica.
Gosto demais de histórias. Sabe, vou pelo face todos os dias, mas não largo meu amor pelas páginas dos amigos...
Aqui é tudo mais primoroso e cheio de detalhes, sem o imediatismos das informações.
Um grande abraço!!!
Manuela
Sou apaixonada pelos seus desenhos, de uma pureza sem fim!
Uma imaginação balsâmica se apossou de mim ao ler este conto.....e já é dezembro.....
Bj
Bia
www.biaviagemambiental.blogspot.com
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. "são assim as lendas" . e são também prendas . muitas e muitas prendas . que das Suas mãos recebemos . todas fulgentes .
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. neste tempo . de quase natal .
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. a húmus . cheira sempre a Sua escrita . fora de série . única e exclusiva . detentora de uma capacidade ímpar associada in.equivoca.mente . a uma sensibilidade mais.do.que.perfeita .
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. _________________________ . eleita .
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. íssimo . e.terna.mente feliz .
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Hoje não comento
faleceu o Joaquim Benite
Kriu!
Olha, sabes, já estou outra vez sózinha! Tudo isto porque lhe traumatizei uma perna e destravei-lhe uma asa, em poucos minutos!
Agora diz-me, que mal vem ao mundo com isso?
Kika escalada com grelos fresquinhos e batatinhas a murro!
Cauuuuufffff!
Kika,
ao mundo não sei, mas à perna...
Estou contente!!!
Deste-lhe um final feliz e com uma grande mensagem, como todas as fábulas.
Chega sempre a hora.
A hora do bem sobre o mal,
A hora da fraqueza dos poderosos,
A hora de uma ideia brilhante,
A hora do pequeno se destacar,
A hora das despedidas, mesmo quando nos sentimos confortáveis.
Adorei todo o enredo desta crónica e já estou com saudades do Brama. afeiçoei-me ao veadinho. Será que me vou cruzar com ele este Natal?
Um abraço, Manuela.
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. e vim . "vinte" . ver .
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. :))) .
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Maravilhoso, me fez viajar te lendo.
Deixo um grande abraços!
Ótimo fim de semana!
Clique-Refletindo com a Smareis
Oi. estive aqui dando uma espiada. muito legal. apareça por la. abraços.
Querida amiga
Eu acredito plenamente em tudo que escreve, por esse motivo sinto sua emoção.
Obrigada por mais este belo conto.
Com muito carinho BJS.
Ainda bem que Brama cresceu. Ainda bem que regressou a casa. Ainda bem que se guardaram as nozes e as bagas de azevinho.
E ainda bem que partilha as suas histórias, porque de cada vez que venho cá, lembro-me de como é bom sonhar.
Beijos, um bom fim de semana!
P.S.: Também costumo ir ao outro mar e adoro os tesouros que por lá encontro!
Brama/veado/Natal/lendas...e a sua
imensa imaginação e capacidade de
passar para palavras.
Quando eu ver um veado vou-me lembrar de si e do Brama.Será uma
homenagem aos dois.
Beijinhos
Irene Alves
Há minha cara, tu nao sabes o quanto eu admiro lendas. São verdades afáveis que dão sentido a vida. E o que nos faz humanos e singulares. Adorei...
Desculpe-me pela ausência, mas tive dias curtos e prazos estreitos. Bacio
Querida amiga Manuela (andei uns dias afastada...) li a parte I, II e III das crónicas de Brama, emocionei-me... as suas palavras são sempre plenas de sabedoria e talento... nelas lê-se a grandiosidade da alma que as veste com beleza e encanto! Adorei também as pinturas, magníficas como sempre, parabéns!
Um beijinho com amizade e estima, bem-haja pelo seu carinho :)
E antes que Dezembro acabe... e Brama parta para a sua casa e para a companhia dos seus... eu pergunto:Acabou? Que pena!
Acredito que Manuela Baptista, autora da saga de Brama, não fica atrás dos autores de "Harry Poter" e do "Senhor dos Anéis"... Haverá alguém com coragem para me desmentir?
Demasiado lindo para ficar por aqui!!! Os desenhos maravilhosos completam a história e eu fiquei com vontade de ter um esquilo voador.
Beijo amigo.
Graça
Kriu?
Olha, sabes, eu já não tenho blogue, mas estou aqui!
És mesmo tonta, Kika!
Bonita história e lindas imagens !
Gostei muito !
Feliz Natal
Vim à procura de mais...
Mas eu espero.
Um abraço, minha querida amiga.
Kriu!
Com papas e bolos se enganam os tolos, costuma dizer-se!
Mas a mim não, a mim é que não!
E logo eu... que detesto ovo... vitaminado... kriu!
Kika, vai uma gemada?
tanto talento a escrever estórias que quando te leio volto a ser criança.
gosto da maneira como enriqueces a escrita, gosto, gosto e mesmo que não gostasse. só esta frase vale a pena ler todo o resto.
"nos olhos do veado brilharam labaredas cor de fogo"
beijo
;)
São sim,
verdadeiramente
... fantásticas!
Beijo
da Lúcia
Kriu?
Está um vento que nem te passa!
Vem de norte, olha que até consigo ouvir aqui as intrigas da rodilhona de Fânzeres...
Credo!
Kriu!
Kika!
Sê "sóbria", "reservada", deixa lá essa ... em paz!
Vim saber de si e sentir de novo o imenso prazer em lê-la.
Feliz Natal
Beijo
Hoje venho apenas desejar-lhe a si
e sua Família um FELIZ NATAL.
Beijinhos
Irene Alves
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