transversal

visto-me de rocha
silencio os murmúrios tristes suspirados dos solitários rios
destituídos da nascente à foz
roubados nas correntes transbordantes de troncos e raízes
cabeças de bonecas mortas tanta folha velha
velho é o caminho percorrido de olhos fechados a setenta chaves
pois sete não encerra nem um grito que nos magoa a pele arrepiado
um frio cortante nas esquinas dos cantos dos quartos escuros
o homem do saco tem um saco ou é o saco que esconde o homem assustado
com o cheiro do café acabado de fazer que o transporta sem querer
para o princípio do mundo
quando era quente a mão amada que lhe sussurrava pão com manteiga e o queimava
bem dentro do coração
as pedras eram só as da calçada do lamento não se ouviam nem os ais
perdidamente confundido com o soprar do vento
esculpindo cada ruga de uma face desenhada segredo não guardado
e pouco mais


(fotos de mb "Penélope", escultura de Francisco Simões)

24 comentários:

Jaime Latino Ferreira disse...

LET YOUR INDULGENCE SET US FREE


a rocha que tu és
é mais do que murmúrios tristes de rios perdidos
roubados de bonecas mortas
folhas velhas
como eternidade liberta

é mais que um grito
frio cortante
susto seco
segredo que guardado
e mais e mais
indulgência tua
pois que nos liberta

manuela baptista disse...

Jaime

obrigada pelo poema!

a libertária,

manuela

alegria de viver disse...

Querida amiga

Bonito é você ser você,do jeito que você é, sem máscaras,sem falsidades, sem falcatruas,com transparência e,
principalmente, com muita bondade e honestidade.
Belíssimo seu texto.

Com muito carinho BJS.

. intemporal . disse...

.

. "Comentar é interpretar, partilhar o pensamento.
Ou simplesmente bater à porta e fazer silêncio." .

.

. simples.mente .

.

. porque sim .

.

. um beijo sempre total .

.

. paulo .

.

manuela baptista disse...

Rufina

sendo do jeito que eu sou

sem máscaras
transparente

dou-lhe um beijinho

Manuela

manuela baptista disse...

Paulo

porque sim

perdidamente confundida com o soprar do vento

um beijo total

porque sim!

Manuela

Branca disse...

Olá Manuela,

Hoje foi um dia longe dos blogues, apenas agora abri o computador e passei só pelos amigos.
Deixo um beijo de presença, mas volto ao serão, com calma, para reler o texto que nos deixou, acompanhado destas belas fotografias e para deixar a minha expressão de admiração por tudo o que escreve e transmite tanta vida e sensibilidade.

Beijos ed amizade.
Branca

Branca disse...

Bom dia Manuela,

Hoje acordei cedo e como eu compreendo agora os amigos que trabalham muito cedo, estou na mesma onda e já não consigo andar por aqui de noite, por isso não cumpri a promessa de vir ao serão...não consegui simplesmente, mas li o texto, agora pela terceira vez, escrito num registo soberbo que é o seu.
Gostei deste homem do saco, mais humano, mais real que aquele de que nos falavam algumas avós e de que ainda hoje ouço algumas jovens mães falar, quando o amor ou uma estranha forma de amar é impotente para controlar as travessuras infantis. Sempre detestei que falassem às crianças no homem do saco, porque afinal ele é este, o que está aqui retratado e é esse que as crianças devem aprender a amar.

Soberbo, muito!

Beijinhos
Branca

manuela baptista disse...

Branca

dias, longe dos computadores fazem falta!

e as manhãs acordadas são tão belas como as noites estreladas

o problema, é quando se gosta das duas, como eu...

nunca tive medo do homem do saco,
sabia que não continha pedras

com essas
fazemos estátuas e casas

obrigada por ter trelido :))

beijinhos e um bom domingo

Manuela

Dulce AC disse...

"bem dentro do coração"

esta história trouxe-me à memória outras que ouvia em criança, não eram para mim mas ouvia-as...
e nas noites estreladas quando me deitava, só o narazito ficava de fora...
eu e a minha companhia...a minha irmã, naquele silêncio nos ficávamos até adormecer
hoje permanecem as saudades desses silêncios de tão grande cúmplicidade e que hoje são boa memória bem dentro do meu, do nosso, coração

Olá Manuela. Encantei-me uma vez mais com estas Suas palavras e gostei muito...
é tudo sempre tão bom por aqui
palavras com sentimento que encontram tão gratas memórias

muitos beijinhos.
dulce

manuela baptista disse...

Dulce

e como é bom esperar o medo...com a nossa irmã ao lado e apenas o nariz de fora...

beijinhos de olá! (é assim?)

manuela

Dulce AC disse...

beijinhos de olá num grande abracinho de amizade...!

é mesmo assim como escreveu Manuela.

dulce

gosto muito da nova imagem de mar e vida neste Seu cantinho...ainda em tempo de lhe dizer...!e gosto muitíssimo de ir ao encontro de "segredos"..!

Dulce AC disse...

gosto de ir ao encontro dos segredos guardados nos Seus "tesouros"..!
agora sim..!
beijinhos e bom domingo
e eu de quarentena em casa com a minha filha que não pode colocar os pézitos no chão...
só até amanhã..I hope so..!
"chesseeeeee" e lá me rio com esta palavra que me calhou para este meu comentário, mesmo a propósito..!

dulce

Unknown disse...

Manuela,

a menina por certo já estaria a pensar que o homem do saco me tinha levado não?

:)))

ou então que tivesse ficado lá pela Ribeira do Porto em amena cacaqueira com a nossa Branquinha...

ficaria-mos sim... horas infinitas à sombra dos plátanos a ouvi-la a si contar-nos estas histórias de encantar, que nos transportam através do tempo e nos devolvem a inocência perdida...

o homem do saco pois! o meu era real e chamavam-lhe o Janeiro, era muito velho de barbas amarelecidas, coxeava e pouco dizia

era um pobre homem que tinha apenas por companhia a sua própria solidão

o saco estava sempre encostada junto à porta da sua humilde casa e estava quase sempre cheio de pinhas para queimar nas noites de inverno e de solidão

mas as mãezinhas dos "meninos maus", insistiam em dizer que o saco estava cheio de meninos mal comportados e seria esse o destino
daqueles que transgredissem as regras ou tão simplesmente não comessem a sopa toda... enfim!

nenhum menino daquele aldeia queria tal sorte: ser entregue ao Janeiro

Manuela
amei este conto
transversal

beijos
Walter

manuela baptista disse...

Dulce

as palavras chave são mesmo cheseeeeeeeee todas elas! eu engano-me sempre...

e que a menina que ainda não anda possa depressa desatar a correr!

beijinhos de até amanhã

Manuela

manuela baptista disse...

Walter

não há outro a contar histórias!!

a do Janeiro de quem todos têm medo

porque é frio...

e que possui um saco com pinhões e quem assusta são as mães que sabem a verdade toda e o segredo das sopas de nabiça!

transversal é a vida, pássaro!

um beijo

Manuela

Mª João C.Martins disse...

Manuela

Das rochas, os murmúrios e os silêncios, abraçados às memórias para não naufragarem.
Fortalecem, no firme esculpir das rugas, essas sábias companheiras de quem sabe como se desenha a vida por dentro.

O meu abraço

AC disse...

Olhar escultor, que sente a dor, mas ainda e sempre sensível aos rumores do vento...

Beijo

manuela baptista disse...

Maria João

desenhando a vida
por dentro e por fora

pelas memórias desnaufragadas

dou-lhe um abraço

Manuela

manuela baptista disse...

AC

sensível também
aos seus rumores

um beijo

Manuela

. intemporal . disse...

.

. e,,, .

. com este calor ... a "Penélope" encontra.se assim semi.prostrada .

. com dores na nuca e um ligeiro desvio na cervical .

.

. não deixando por isso de ser tão bela como é a manuela, que de nada padece, feliz.mente,,, mas que está cada vez melhor, a olhos vistos, a cada dia que passa . assim testemunha o resto da sala de espera .

.

. :))) .

.

. um beijo sempre e para sempre TOTAL, xim? .

.

. paulo . ito .

.

manuela baptista disse...

o reino de Xim

era contíguo ao reino de Xiu

no primeiro

reinava um homem bondoso
sem artroses nem desvios de coluna

tinha um olhar especial
pois mesmo que estivesse virado para a esquerda ou para a direita
via sempre para a frente

para trás, não era preciso
porque bem vistas as coisas
é apenas uma questão de perspectiva...

no segundo

reinava um homem secreto
sem problemas de audição

capaz de guardar segredos
e de os transformar em pirilampos
que iluminavam as pessoas tristes
perdidas nos campos de trigo quando não havia lua cheia

o caminho para estes dois reinos
é procurado por muitos

mas é fácil lá chegar.

para o pau . lito

com um beijo total

Manuela

Branca disse...

Há por aí algum homem do saco de gelo? Era o que eu precisava agora para me defender deste calôr atroz que nos assa aos bocadinhos... :))
Ai que eu quero chuva, venha a chuva...!

Boa noite Manuelita, :))
Beijinhos
Branca

manuela baptista disse...

ai Branca!

mas que ideia genial

era isso mesmo! dois sacos de gelo mesmo sem homem nem nada...

vou buscar o saco das ervilhas congeladas ou Janeiro cheio de frio e chuva

beijinhos

Manuela