Abri um livro esquecido. É assim que se altera o curso de
um rio ou a sua memória. Entre as páginas, um trevo, uma rosa espalmada, uma
borboleta morta, um bilhete de cinema e uma bailarina de papel a quem cortaram
um pé.
Foi então que ele a convidou para dançar. A folha direita
na cintura estreita, a folha esquerda na sua mão direita. A terceira folha, um
coração a galopar.
Atrevo-me, disse a bailarina de papel e perderam-se nos
campos verdes de junho onde ainda não habitam as cigarras. Um golpe de vento
levou-os.
Ficou-me um silêncio neste sem lugar.
19 comentários:
MANUELA BAPTISTA
... e a mim encheu-se-me a alma, galopante, de um coração de papel que tem um lugar, sim!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 6 de Junho de 2014
.
.
. este saber assim dizer . como quem des.tece a mais efémera cassa .
.
. porém . tão e.terna .
.
. bravo . nelita . bravo .
.
.
. íssimo feliz .
.
.
Kriu?
Tanta coisa entre as páginas...
Já que estamos em época de Santos Populares, bem que podias espalmar também uma sardinha!
Kriu!
Cigarras ainda não, acredito, agora cigarros e beatas são aos montes a passar-me pelas narinas...
E quando acabamos de ler parece que algo ficou por dizer.
O pé da bailarina naqueles passos de vento que lhes dá ritmo e beleza.
Depois renasceu o sonho. Como conseguirão acertar o canto do tempo e do vento num só passo de momento ?
E "nos campos verdes de junho" continuam a dançar. De rosto em sobressalto. O coração vulnerável à lentidão do sol. Os passos cantantes como o curso do rio.Nenhum rumor a trair o silêncio...
Maravilhosa escrita, minha amiga, Manuela. Um encantamento!
Beijo imenso.
Belíssimo como sempre
Conheço essa bailarina
Bj
Olá, Manuela!
As coisas que se podem guardar entre duas páginas dum livro abandonado...e com elas trazer o passado para o tempo presente.
Lindamente escrito!
Um bom fim de semana e um abraço
Vitor
Há sempre um prémio inesperado
a quem abre um livro esquecido
e a quem mais nada restava
que habitar
espalmada por duas páginas
entre trevos e borboletas
Pois é, há livros que escondem memórias...!
Beijinhos, Manuela
Muito belo o texto, Manuela.
Esquecido do tempo, a morar entre páginas, o trevo de folhas quatro, com trabalho, dinheiro e saúde, sobrando-lhe pois uma folha, para não ficar desocupada, declarou-se: a_trevo-me a pedir-lhe uma dança, meu caro.
Manuela:
O livro
é muito mais
do que aquilo
que nele vem escrito!
Pode ser guardador
de inspiradores personagens
que ganham vida própria!
Gosto muito.
Bjs
essa bailarina que dança no eco do vento, seja em Junho ou outro mês.
essa bailarina das palavras suaves e dos livros que não ficam esquecidos.
a leveza a levitar nas palavras e nas imagens.
:)
Ah! Um livro esquecido...prega-nos ás vezes rasteiras desconcertantes...As histórias saem das páginas e bailam num outro ritmo a que já se tinha perdido o fio da meada e baralham tudo!!
Gosto de te ler...como sempre!
Beijo
Graça
Os livros esquecidos, quando reabertos, são como palimpsestos: esquece-se o que têm escrito, e apenas se retoma o rasto dos nossos passos,
outrora,
neles
Um momento de sensibilidade como só tu sabes e acho que não te tenho dito o suficiente quanto gosto da tua poesia e gosto muito, por isso saboreei aqui cada palavra no tempo de cada golo de chá que tomei contigo, entre os versos.
Beijinhos
Branca
cinco cubos de gelo no meu, por favor
e esforcei-me para recordar os palimpsestos
um papiro apagado para dar lugar a outras escritas, acho eu
O vento tem esse poder;
leva-nos as coisas soltas e no lugar fica, a nostalgia dos objectos em falta.
Nada mais fica na mesma.
Abç
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