Às vezes dava-lhe para ali, sentava-se e cruzava os
braços. Eu admirava-lhe a destreza e o equilíbrio e ele atirava, provocador,
vais ficar aqui, o verão todo, a criar limo? Depois ria-se fazendo
estalar as ventosas, e de repente descruzava os braços espadanando água e algas
por todos os lados.
Não sei como é que eu entendia a sua linguagem e ele a
minha. Ele sabia dos náufragos e das grutas, dos argonautas, dos chocos e das
lulas vampiras, que afinal não são vampiras. Eu sabia apenas do cheiro da água
do mar à noite na maré vaza e de quanto é difícil regressar a casa.
Muito antes do equinócio a praia enche-se de conchas e de
búzios numa premonição de orelhas coladas, ouves o oceano, o marulhar, sim ou não.
E ele calçava as luvas de concha e sapateava rochas fora,
a música na cabeça das ondas, a desafiar caranguejos e mexilhões.
22 comentários:
MANUELA BAPTISTA
Bem vinda sejas de novo!
Mar
polvo
ar
lufada de ar fresco
a cantar
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Setembro de 2013
Olá Manuela!
Com os seus oito braços os polvos são ótimos dançarinos. Levam-nos ao céu
Beijinho de setembro
Sempre adorei polvo. Pena ser tão rijinho e só estar para quem pode comer à mesa, e fazer força nos talheres, não para mim, que já não tenho força nenhuma nas vértebras lombares.
Consola-se a inválida com a metáfora, quando é atacada no seu colchão articulado, pelo polvo de pares de braços negros, que vêm de um arrastão em Carcavelos, e procuram o consolo no palmier mirrado da aleijada, enterrando os talheres, com toda a força...
Obrigado pela sua escrita, que Deus nos deu
Kriu?
Cada um sabe do que sabe mas à lagareiro é que sabe melhor...
Por onde andaste este tempo todo?
Kriu!
Estiveste em Wadi Rum?
وادي رم
.
.
. o verão todo e muito mais até . :) .
.
. até ao infinito . pois claro .
.
. seja bem.regressada minha querida amiga .
.
. porque deste canto se faz . e eu faço . resguardo e recanto . sempre .
.
.
. íssimo feliz .
.
.
Maré vai, maré vem e tudo fica tão simples.....entendemos o que eles têm a nos dizer. Mas ás vezes não querem dizer nada, apenas guardar seus mais profundos segredos do mar....
Que bom, Manuela, poder aqui retornar!
Beijinhos
Bia
www.biaviagemambiental.blogspot.com
Neste teu regresso
vou fazer-te
um 'espanta espíritos'
de búzios e de conchas,
para que possas
escutar o vento
no próximo Outono
e lembrares-te do mar.
Um abraço!
Té,
em Wadi Rum?
kika,
por onde andei este tempo todo?
completamente ao abandono, qual jacinta, digo, jacinto maltratado,
valeu-me o meu bom senso e a validade das trincas
turraças para vocês!
e já agora,
deram-me este recado,
"esta época escolar vai ser muito difícil, os miudos, digo, miúdos, andam insoportáveis, digo, insuportáveis"
arrebentei a cabeça com a profundidade da mesma
mas eu, sou gata
Há linguagens universais e esta será uma delas.
Bjs
Porque quando as almas se entendem não são precisas palavras...! :)
Beijos
Bom regresso de férias.
A facilidade da sua linguagem...
com os animais, e todas as várias
espécies que habitam o nosso Planeta é fantástica. Fantasia...
e prende-me...
Beijinho
Irene Alves
Um belo equilíbrio
na assimetria
Olá, Manuela!
Bem vinda.
Animado diálogo este, feito de contemplação em tempo de maré vasa e, depois,a fazer esquecer a volta à casa..
Um abraço, e boa semana.
Vitor
por momentos também eu entendi a linguagem do mar, do polvo dos búzios e do azul.....
:)
E eis que, por breves momentos se juntam dois saberes...
Está perfeito!!!
É sempre um prazer ler-te !!
Um beijo Manuela
anacosta
Minha querida
Bem vinda e como sempre sublime o teu texto.
O mar guarda tantos segredos.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
"Muito antes do equinócio a praia enche-se de conchas e de búzios",
e muito depois da noite ser poente,
são as esferas luminosas do mar dolente,
e nós, os embalados de luz cegante,
deixamos cair as pálpebras
no nosso torpor de serendidade,
e repousamos num louvor candente,
ó mar estelado,
do nosso rumor amante
É necessário guardar, dentro de nós, uma infinita criança grande, para poder entender todos os sons e jogos do Mar Oceano
Ficaremos o verão todo :-)
...e quantos polvos-humanos e quantos verões a criarem limbos?
e quantas belezas em estórias de nós... assim, como a simplicidade sem motivo de quem se atravessa no poetar...
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