Ao entardecer fez-se leão. Encontrou a coragem a vaguear
pelas ervas baixas, as pedras altas, uma ou outra ave de arribação. Não rugiu
como seria de esperar e os animais das tocas, mais afoitos, sentaram-se com
ele, as caudas enroladas à volta das patas dianteiras, o focinho espetado na
expectativa das queimadas, dos fogos a consumir o mato.
Pegou-lhe com cuidado e com uma unha afiada fez um lenho
no peito e colocou-a rente ao coração. O sangue era vermelho vivo e um pingo
caiu na unha do primeiro dedo da pata esquerda.
Ele lambeu-a. Era doce como antes.
Contou apenas três árvores e recontou-as com medo que a
morte o viesse buscar, mas não veio. Os outros leões rondaram-no, curiosos e
desconfiados. Elevaram as narinas a cheirar o ar que ele respirava, observaram
o pelo amarelo mascavado, a tranquilidade cor de oliveira dos olhos e
desconcertados, deixaram-no em paz.
Ao longe o vento do deserto mudou as dunas de lugar,
desenhou trilhos, destapou os panos escondidos pelas tempestades e um compasso
antigo de marear.
Na quietude da lua fez-se pequeno a acreditar num tempo
bom de feras mansas. E partiu em busca dos marinhos leões.
16 comentários:
MANUELA BAPTISTA
Marinho
o leão
cabe neste cantinho
Muito bonito, Leo, gato amansado!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Junho de 2013
Estranha história esta
onde nem o leão nem a floresta
batem com a imagem que temos
ou com o que deles sabemos
Se é bela?
Como sempre
Leo, contigo também eu me sentava. Enroscava-me no teu pelo amarelo mascavado se o teu acreditar se tornasse realidade.
"...tempo bom de feras mansas..."
Pelo caminho talvez encontres a EVA!
Um abraço para si, Manuela.
Aqui venho mais uma vez descobrir mágicas personagens e lindas pinturas!
Beijos
Isa Lisboa
=> Instantâneos a preto e branco
=> Os dias em que olho o Mundo
=> Pense fora da caixa
=> Tubo de ensaio
Também eu gostava de "acreditar num tempo bom de feras mansas"...
Mais um belíssimo texto. Gostei muito, como sempre. Tal como das ilustrações.
Manuela, minha querida amiga, tenha um bom domingo.
Um abraço.
Tão peludo...em julho
Kriu?
Ao entardecer faço-me arara e solto caganitas na tola das poetisas enfermeiras que deambulam, também por aqui...
Tão humildes que elas são !!!
Kriu!
Pior do que essas só as graxistas de Fânzeres...
não sei porque, mas, a ternura do leão ou então seja por mim, senti uma sensação de angústia...
:(
Até os leões se podem transformar...
Tudo já é possível.
Bj.
Irene Alves
Olá, Manuela!
Estranho este mundo: habitado por leões que sendo da terra, vão ao encontro dos que vivem no mar; só mesmo nesta história de encantar!
Lindas gravuras, como sempre.
Bom resto de semana, um abraço.
Vitor
Eu acredito neste leão :)
Beijinhos
Depois de ler fica-se a sonhar e vimos outros leões rugindo e abanado as noites de sombras pavorosas...
Leões politcos, quietos fingidos...
Leões que desconhecem os ventos e sonham com as presas ainda vivas....
Manuela, querida amiga,passei para te desejar um bom fim de semana.
Beijo.
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. mais.do.que.perfeita.a.quietude. assim como uma veste . da qual nos urdimos unos . de amarelo mascavado .
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. esta é uma página suspensa . a ser a capa de uma obra grandiosa .
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. mais.do.que.perfeita .
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. íssimo feliz .
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Vai virar Leo, o Marinho...no azul.
Lindo, lindo, lindo...
Beijos
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