Primeiro sente uma espécie de náusea, difusa, como se estivesse perdido no meio da multidão.
“São as luzes, fazem-me mal” e as pessoas falam alto e embrulham-se em listas, ariscas, em frutas cristalizadas antes de tempo, lembram-se da generosidade, das vendas, dá-se o imprestável, não se empresta nada. Dão tanto jeito as botinhas de lã que já ninguém usa, e os saca-rolhas, são um mistério os saca-rolhas nos adros das igrejas.
“O sarcasmo não é o meu forte!” murmura. Talvez não seja, não sabe o que é, este sentimento de culpa quando vem Dezembro e vem sempre tão inesperadamente depois da tristeza de Novembro.
“O sarcasmo não é o meu forte!” murmura. Talvez não seja, não sabe o que é, este sentimento de culpa quando vem Dezembro e vem sempre tão inesperadamente depois da tristeza de Novembro.
Tem saudades, de ser menino, de acreditar em tudo, de ignorar quantos talheres são precisos para comer o ananás, mas comê-lo e deixar que o sumo escorra pelo queixo, que o inunde, o afogue em doce e acidez, de atirar as cascas que picam à cabeça dos irmãos e não ser castigado, porque ninguém repara, tão distraídos estão, com tanto que não parece nada, mas é.
Acende as quatro velas de uma só vez, para enganar os dias, para que voem como aves no inverno inquietas com a tempestade e lamenta não saber trancar o coração aos apelos dos outros, vem lá… é só um almoço, um jantar, uma troca, destroca, dás-me uma caneca eu dou-te um berlinde. Dá-me outra coisa qualquer, que me vire do avesso, me encha os olhos de bolas vermelhas, douradas, verdes e prateadas.
Um abafador que me abafe estes dias, que os torne mornos e adormecidos, quero tecer uma manta quente, ausente, de tantos corações gelados.
A planta dos seus pés toca totalmente o solo, plantígrado, dizem. Ouve a terra a rodar, eixo, rotação contra o sentido dos ponteiros do relógio, como ele.
Uma última inspiração profunda, a seguir respira leve e devagar, as energias no mínimo para não se gastar, levanta o nariz em direcção ao céu azul-escuro de desaluadas estrelas, cheira o frio dos grandes espaços onde desconhecido é o comércio dos dias, endireita o seu enorme e desajeitado corpo, solitário como todos os seus irmãos.
Por fim enrola-se, torna-se pequeno, pousa a cabeça no fundo da sua cápsula, toca, gruta, lapa.
Acende as quatro velas de uma só vez, para enganar os dias, para que voem como aves no inverno inquietas com a tempestade e lamenta não saber trancar o coração aos apelos dos outros, vem lá… é só um almoço, um jantar, uma troca, destroca, dás-me uma caneca eu dou-te um berlinde. Dá-me outra coisa qualquer, que me vire do avesso, me encha os olhos de bolas vermelhas, douradas, verdes e prateadas.
Um abafador que me abafe estes dias, que os torne mornos e adormecidos, quero tecer uma manta quente, ausente, de tantos corações gelados.
A planta dos seus pés toca totalmente o solo, plantígrado, dizem. Ouve a terra a rodar, eixo, rotação contra o sentido dos ponteiros do relógio, como ele.
Uma última inspiração profunda, a seguir respira leve e devagar, as energias no mínimo para não se gastar, levanta o nariz em direcção ao céu azul-escuro de desaluadas estrelas, cheira o frio dos grandes espaços onde desconhecido é o comércio dos dias, endireita o seu enorme e desajeitado corpo, solitário como todos os seus irmãos.
Por fim enrola-se, torna-se pequeno, pousa a cabeça no fundo da sua cápsula, toca, gruta, lapa.
E é a manta quente, presente, do seu próprio coração.
"o sonho do urso" de mb
41 comentários:
Manuela
E nos dias frios que de Novembro se prolongam a Dezembro, enrosco-me na manta quente a desejar ser outra vez, a menina que acredita em tudo.
É que só esta manta tem bolas coloridas e essas, não as consigo pôr no bolso...
Um beijinho, tecido neste conto, tão bonito!
( Desculpe o eliminado, errar ainda é tão humano... )
.
. esta é a metáfora do natal, pelo confronto sub.entendido .
.
. no entanto, é um conto de conforto, que nos conforta perante a realidade torta .
.
. o coração é sempre um manto aquecido . e uma anáfora no re.começo de cada dia .
.
. o coração é mestria . ressuscita a catáfora da sangria .
. restaura . re.vive . ressurge .
.
. urge .
.
. o tempo do tempo sem tempo .
.
. onde o acento é sílaba tónica de uma noite lacónica .
.
. e en.quanto deambulam des.confiantes as solidariedades pela ruas diferentes, ausentes e presentes, crentes e des.crentes, viventes e morrentes . o urso sonha .
.
. e nunca será enfadonha a vivência do seu coração .
.
. porque ao sonhar, volta a ser menino . ladino .
.
. como o sino que dobra e re.dobra ao dobrar o hino .
.
. quando a atenção é também tino .
.
. um .
.
. dois .
.
. três .
.
. íssimos de advento .
.
.
.
. e,,, a pintura é uma garra . que se a.garra e nunca se des.agarra . fruto paralelo de uma rara parra .
.
Tecer na palavra quente
a manta que aqueça a gente
E aquece mesmo, Manuela!
Beijo :)
MANUELA BAPTISTA
Desta manta
corpo quente
sou eu
e o que sente
ilumina-se
a ouvir-te neste breu
E os teus desenhos ...!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 4 de Dezembro de 2010
Olá Manela,
lindoooooo
tenho de sair e preparar a mala para levar a lareira...,
volto + tarde e trago umas brasas para derreter o gelo e beber um pouco dessa pureza derretida no olhar do ursinho...
toma este presente:
http://www.youtube.com/watch?v=_FO3wp6FZyw
beijinhos
Olá Manuela:
Gostei de ler, nesta época...
Bom fim de semana
Beijinhos
Quero hibernar, enrolar-me, tornar-me pequena, tecer a manta quente presente do meu próprio coração.
Adoro os seus desenhos, são uma graça, lindos!
beijo
Manuela,
Por vezes é bom hibernar, por vezes é bom não fazer nada, nem pensar. Apenas esperar que surja de novo a vontade de desenrolar a manta e voar
Beijinhos
"Dá-me outra coisa qualquer, que me vire do avesso, me encha os olhos de bolas vermelhas, douradas, verdes e prateadas"
Já sei...
Aquele abraço
para me aninhar e ficar
Alcanço a paisagem...
E adormeço sonhando com a criança que é ainda em mim muitas cores...
Muito bonito o conto e linda a sua tela.
E num abracinho de muita ternura mando também um beijinho por lembrar-me Manuela, as muitas bolinhas de enfeite...que tanto adorava e que todos os anos me paravam e levava para casa numa simples fita que muito brilhava...e a minha mãe sorria sempre, num sorrir de muita ternura...o mesmo de hoje.., e hoje só já não páro...mas dou-lhe sempre sempre aquele abraço..:))
dulce
Manuela
sem querer desviar-me em demasia da mensagem do seu conto, apetece-me dizer, que por vezes o mundo me parece uma besta de olhos vendados e ouvidos tapados, que a trote vai de Janeiro a Novembro, tudo atropelando, e que só o frio de Dezembro e o repicar dos sinos consegue deter...
e parados então ficamos de olhos esbogalhados a descongelar as emoções em frente de uma montra luminosa pejada de sonhos artificiais, e sorrimos... fingimos ser tudo tão verdade, de nunca termos crescido, de nunca a nossa mão se ter fechado..."sempre fomos tão bonzinhos..."
mas...
pelo caminho, o sonho e a inocência ficou... tal a velocidade da corrida desenfreada, egoista, muda e cega dos dias...
indiferente permanece o sino na torre da igreja, que mornamente nos vai chamando dia-após-dia para dentro de nós... e nem sempre sabemos o caminho, porque nos esquecemos de ouvir com o coração a melodia suave e doce dos dias...
mas... também é muito reconfortante saber, que o sonho e a inocência é permanência no coração de um urso, que da vida nada mais quer que o quente de uma manta tecida de afectos...todos os dias...
Manuela, na manta quentinha que teceu me enrolo para desenrolar o menino que há em mim...
um beijo
walter
o texto cheira a natal e a boa literatura.
e a manta quente aquece o corpo e a alma.
beij
diferente
permanece o sino da igreja
na contradição de sermos e já não sermos nós
às vezes, colamos o nariz no vidro da montra
outras, somos a própria montra
é assim que eu agora me sinto, na pele do urso
a quem tantos teceram a manta quente,
a Maria João
o Paulo
o AC
o Jaime
a Fá
o JB
a Maria Ivone
a Filomena
a Dulce
a Piedade
e o Walter, enroladinho de tão desenrolado
um abraço
manuela
quentinha a pele do urso de mel... olhos coco baunilhado...
o doce
perfume que permanece nesse peluxe
sonhador...
beijinhos
Olá Manuela:
Voltei aqui por que lhe devo um esclarecimento: Agora sou JBártolo, já que descobri o JB já era usado pela titular de "EM TONS DE AZUL", como, aliás, já deve ter reparado.
Beijinhos
JBártolo
registei! agora é, mas já era...
esteja descansado que eu não os confundo, os avatares são muito diferentes e as palavras também
obrigada e um abraço
manuela
Olá Manuela,
Um original e interessantíssimo conto sobre as contradições da época, que no fundo são iguais às de todo o ano.
E eu vou-me enrolando na minha manta quente, aquela que fez todos os natais e procura um novo Natal, sempre aconchegado no calor da família e chorado no mundo cá fora, porque ainda há uma multidão que nasce em palhas, numa gruta qualquer.
Beijos pelo sonho oferecido.
Branca
Olá Manela,
a Pimpi tem novo visual...
tb tem umas luvas de cerimónia para dias especiais...
tão brancas que + parece lhe ter caído neve nas mãos...
Adoro os pelinhos desta ursinhha...
beijinhossssssssssssssssssssss
Olá Manuela!
Que figura linda! E que texto mais acolhedor e comovente! Deu vontade de ficar embaixo de uma manta, quietinha, protegida do mundo...
Beijos :)
Branca
e enroladinha numa manta a beber um chá com bolitos de limão...
não há família que resista!
beijos
manuela
a Pimpi está gira de pirosa!
com o cabelo cor-de-rosa...
beijos
manuela
seja bem vinda, Ana Kalil!
um abraço
manuela
Querida amiga
Amei este texto, e fiquei com saudades, como seria bom se pudesse voltar ser criança.
Escreve como uma fada, nos enfeitiça com seus contos.
Com muito carinho BJS.
.
. duas . dúzias . de rosas . no teu regaço . no teu abraço . tão terno . e tão e.terno .
.
. duas . dúzias . de rosas . encarnado.fogo.pássaro.asa.nunca.rasa .
.
. ímpares são as pessoas .
.
. íssimo feliz .
.
OLÁ..
entrei sem pedir..
adorei..teu espaço
UM DIA BEM FELIZ !!
É justamente a possibilidade
De realizar um sonho
Que torna a vida
Interessante!!!
BEIJOS E ABRAÇOS
JUDDY
Rufina
outra vez criança, não pode,
acreditar em fadas, talvez...
beijos
manuela
intemporal
alegoria breve,
disse o urso!
um abraço.ímpar
manuela
Juddy
não precisa de pedir licença para entrar!
um abraço
manuela
Hibernar...seria tão bom, esquecer tanta coisa...Aceitaria um cantinho na toca do urso tão simpático e aconchegar-me-ia na sua manta quente tecida com o coração...
Quando a manta quente se rasgar...lancemos o olhar para dentro, para o mais secreto paraíso que nos habita...talvez então, colhamos o calor e a alegria da estrela natalícia tão desejada.
Mil beijos
Graça
O homem nem sempre é um lugar triste, como dizia o poeta... Apesar do frio das inúmeras solidões, do excesso de consumo.
Este texto tem um sabor a natal e tem implícito um queixume. O que vale é a manta quente do coração...
Como sempre belíssimo, Manuela.
Um beijo.
Neste tempo, todos temos saudade de sermos meninos...
Belíssimo conto, querida amiga.
Gostei.
Um beijo natalício.
Belíssimo...
Deixo um abraço, sensibilizada
Graça Pereira
quando a manta quente se rasgar,
tecemos uma outra!
um beijo
manuela
Graça Pires
o homem, não é defintivamente um lugar triste...
obrigada pelas palavras!
um beijo
manuela
Nilson
num tempo de saudades
e presenças
grata, pela sua!
um beijo
manuela
Virgínia
sensibilizada fico eu
seja bem vinda!
um abraço
manuela
e para a Alis
a cor do mel
e o peluche sonhador
beijinhos
manuela
.________querida Manuela
"manta quente"_________natal todos os dias
.entro no "o sonho do urso" e lutarei todos os dias com a realidade absoluta que me rodeia
para que o natal seja decretado "permanente"
...
obrigada de coração Manuela. por estes momentos tão.magicamente.verdadeiros
///
_________________///
beijO______ternO
obrigada
de coração Betty!
um beijo
manuela
.
. enta . onde estou . terno e também e.terno .
. porque sim .
.
. issimo . feliz .
.
porque sim!
sim, Paulo
um beijo
manuela
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