Corredor é um espaço que fica entre um princípio e o outro exactamente igual a si.
Nas casas antigas desnorteadas onde tudo está mas já se foi embora, as salas são quartos de vestir onde aqueles que partiram não estão, mas despem-se todas as noites de um pedaço de nós.
Se tiverem saudades acendem a luz do início dos tempos e riem-se quando tropeçamos nos tapetes, porque eles sabem de cor aquilo que nós ainda não aprendemos ou não saberemos nunca. Dos armários e das cristaleiras soltam-se os sons das músicas impensáveis em copos da loja da esquina do shopping, que tem loja e esquina e até tem praças e árvores a fingir e bancos de jardim sem jardim e velhos especados esquecidos da torrada que arrefece e do chá fraco que aquece.
E depois as portas. Podem-se fechar e abrir, encostar, escancarar, bater com força ou devagar. Serão inteligentes como as luzes e quando como elas, reconhecerem a nossa voz, há sempre a possibilidade de nos entalarem se por um acaso estivermos roucos e a garganta nos doer.
Nas casas antigas desnorteadas onde tudo está mas já se foi embora, as salas são quartos de vestir onde aqueles que partiram não estão, mas despem-se todas as noites de um pedaço de nós.
Se tiverem saudades acendem a luz do início dos tempos e riem-se quando tropeçamos nos tapetes, porque eles sabem de cor aquilo que nós ainda não aprendemos ou não saberemos nunca. Dos armários e das cristaleiras soltam-se os sons das músicas impensáveis em copos da loja da esquina do shopping, que tem loja e esquina e até tem praças e árvores a fingir e bancos de jardim sem jardim e velhos especados esquecidos da torrada que arrefece e do chá fraco que aquece.
E depois as portas. Podem-se fechar e abrir, encostar, escancarar, bater com força ou devagar. Serão inteligentes como as luzes e quando como elas, reconhecerem a nossa voz, há sempre a possibilidade de nos entalarem se por um acaso estivermos roucos e a garganta nos doer.
Também nos colamos ao automatismo das coisas e o caminho de casa que é sempre o mesmo, passa pelo mar ou pela viagem desejada, pelo diálogo com a pessoa amada e os nossos pés não se enganam na travessia das ruas, param e avançam nos sinais de trânsito e nos outros que nos alertam para a perigosidade de uma poça de água ou para o rapaz indesejado que gosta de nos roubar a carteira.
É tão real estarmos acordados como dissentidos de sentidos, numa harmonia factual comprovadamente nossa, íntima, ínfima, parte de um universo interno, secreto, despojado.
E nesse corredor canta um pássaro sendo noite e é tão certa a imperfeição humana como humana a voz de Deus.
É tão real estarmos acordados como dissentidos de sentidos, numa harmonia factual comprovadamente nossa, íntima, ínfima, parte de um universo interno, secreto, despojado.
E nesse corredor canta um pássaro sendo noite e é tão certa a imperfeição humana como humana a voz de Deus.
19 comentários:
.
s
i
m
p
l
e
s
.mente .
p
e
r
f
e
i
t
o
. e não sei dizer mais nada, tal a comoção .
.
.
. um . dois e três íssimos ,
.
. paulo .
.
. re.volto quando conseguir dizer ... .
.
SEM PRINCÍPIO NEM FIM
E nesse corredor
cantando o pássaro
à perfeição de Deus
infunde
na perfeita imperfeição
de cada um de nós
Um beijo
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 12 de Outubro de 2010
Passo a passo, sigo segura ou tropeçando, pensando que nesse corredor fundo, o principio será sempre o meu começo e assim recomeço.
Entro na sala que é quarto onde me visto e nos odores do tempo que inalo, a bengala que preciso. Sei dos passos que me levam à janela e pousar os cotovelos no beiral e daí ver entrar outro sol no desenho das cortinas de renda. E fico assim, espantada com a mão Deus a guiar a minha.
E grata sou sempre, por isso!
Também a si, Manuela
Um beijinho
Perfeito Manuela!
Mesmo!
Entrei com esta simples frase na cabeça e acrescento que é o dizer perfeito das nossas rotinas, das nossas imperfeições e da nossa vontade de as quebrar pela mão de Deus.
Beijo
Branca
DESCANSO ACORDADA
na voz de um passáro
canto da alma
descanso acordada
ansiando na noite
sentir a voz de Deus
que me acalma
Lindíssimo Manuela.
Num olá um beijinho amigo.
dulce
Manuela
deste conto que nos toca no mais fundo de nós, aconchego-me à perfeição das palavras, e reflicto
eu aceito a inperfeição das minhas asas, do meu canto...
a última frase guardo-a num bilhetinho, posso?
"E nesse corredor canta um pássaro e é tão certa a imperfeição humana como humana a Voz de Deus."
perfeitíssimo Manuela!
um beijo
...
e, ainda + um beijinho onde os pássaros de todas as cores inventam um canto com asas...
mto bonito como sempre...
beijinho
..."onde tudo está mas se foi embora..."
É incrível como tu consegues dizer exatamente o que gostaríamos de dizer...
É mesmo assim...
Um beijinho de saudade,que aumenta cada vez que venho aqui.
Linda Simões
A luz dói á sombra e olhamos as nossas imperfeições. Retiramos a máscara e descobrimos o nosso olhar inquieto, a ambiguidade dos gestos,a mentira das raízes. Por isso, a sombra em bicos de pés e com subtis artimanhas repele a luz.
É esta a nossa dialéctica quotidiana.
Beijo
Graça
Boa tarde Manuela,
deixou-me sem palavras para comentar perante a beleza deste texto.
Beijinhos,
Ana Martins
Ave Sem Asas
Sem motivo aparente o silêncio devassa o interior das casas e ninguém sabe de onde vem o fascínio que nos cola a esse chão.
Um texto ecelente. Sendo noite vou ouvir o pássaro cantar...
Um beijo, Manuela
Manuela,
É essa harmonia íntima e ínfima que interessa preservar e cultivar, pois é nela que somos alquimistas do (im)possível.
Beijo :)
Gostei imenso do texto, sabe?
Tudo de bom.
rrs não gosto é das letras de verificação, rrs
Querida amiga
Obrigada pelas palavras de conforto.
Sou uma pessoa que gosta de cuidar de todos, me sinto meio mãezona.
Sei também que isso quer dizer control. Mas já estou trabalhando para mudar, não muito, gosto de dar carinho e receber lógico, isso é amor.
Amiga acho que estou nesse corredor sem saber para que lado correr.
Vou encontrar a saída.
Com muito carinho e feliz por ter encontrado pessoas maravilhosas, amigos do coração. BJS.
Nesses corredores que nos encontramos para novamente nos perder.
Nada o que disser caberá a este lindo texto, palavras perfeitas e bem colocadas, emoção como sempre digo você é doce Manu, escritora completa.
Renata
E termos noção dessa imperfeição é talvez percorrermos metade desse corredor "onde tudo está", onde há portas que sempre podemos abrir, onde há sons que sempre nos podem apaziguar, onde há mistérios que tentaremos sempre desvendar, pois a vida poderia ser um corredor," um espaço que fica entre um princípio e o outro exactamente igual a si."...
Beijinhos
um abraço a todos!
manuela
.
. um corredor pode ser uma chaminé .
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. ascendente e/ou des.cendente .
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. uma prece . uma ascese . crente .
.
. por isso arde e ardo . pardo .
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. íssimos em tríptico .
.
.
. paulo .
.
e que corredor de vento o trouxe
aqui
no silêncio
espaço onde habitam as chaminés, por onde desliza quando muito bem quer
o menino Jesus, era assim que eu acreditava
e acredito ainda, Paulo?
um beijo
manuela
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