quando o sol escalda e a areia é uma brasa na planta dos meus pés, à sombra dos toldos azuis e brancos as riscas faiscam num convencimento horizontal desafiando a verticalidade da luz
dizer que as pálpebras têm o peso de uma toalha molhada não é nada e a cada dez minutos impõe-se um mergulho na água, mas como o poderia dar?
às costas, o biombo de madeira pintado com tantos bonecos quantos os meninos desta praia, o braço direito suporta o peso do velho saco de cabedal que já foi do meu pai e antes dele do meu avô e antes dele não sei de quem seria, na mão direita o chapéu de sol lilás que atrai todos os mosquitos, mas não quero saber gosto da cor e não me ralo com os mosquitos
os bonecos protestam com o calor e eu sinto-os inquietos, cheiram a maresia e agitam-se, ouvem os risos e os gritos de alegria e querem sair antes de tempo
ainda não está na hora… - sussurro, tentando aquietá-los
procurar uma sombra é apenas um sonho vago e largo tudo aqui mesmo, no meio da praia e logo à minha volta as pernas cruzam-se num colorido de calções e fatos de banho, barquinhos à vela bordados nos peitilhos, estrelas do mar nas mangas de balão e às vezes um peixinho encarnado no chapéu
num bater de palmas prematuro, público entusiasta e exigente nunca aceitando a mudança do guião, sabendo de cor cada deixa que não deixo assim entregue ao deus-dará e deus tem-me dado tanto como este mar sem fim que eu amo de tão imenso e um enredo que parece sempre o mesmo e até é
a princesa prisioneira da bruxa má, o rapaz valente, a menina tímida, o homem do cacete e o seu touro Eh touro lindo! porque é que será? os meninos gritam de contentes e os meus robertos soltos do saco de cabedal que já foi do meu pai e antes dele do meu avô, coram de alegria e até os cabelos louros da princesa ficam mais brilhantes do que o brilhante e negro touro lindo que eu quero solto porque livre é o meu soltar
já construí outros de madeira de pasta de papel de trapinhos cosidos e agulhas de lã, o crocodilo verde que assusta os mais pequenos e quer apenas um coração de gente, a bailarina tão distraída que perde sempre as sapatilhas cor de rosa, a avó que voa numa bicicleta de lata, o poeta que recita versos que ninguém quer ouvir, o violinista triste apaixonado pela lua, sei as suas vozes e tão distantes dessas outras de corneta que o meu pai me ensinou, como a ele o seu próprio pai
o sol deu a volta à terra e ela acredita ingenuamente que sim, as riscas dos toldos descansam na areia e o som dos búzios é o da maré-cheia eu sou as vozes dos meus bonecos e os meus bonecos são as vozes de mim, sobrevivemos na memória de um tempo, dentro de um velho saco de cabedal que já foi do meu pai e antes dele do meu avô e antes dele não sei de quem seria mas tenho a certeza que era para mim
dizer que as pálpebras têm o peso de uma toalha molhada não é nada e a cada dez minutos impõe-se um mergulho na água, mas como o poderia dar?
às costas, o biombo de madeira pintado com tantos bonecos quantos os meninos desta praia, o braço direito suporta o peso do velho saco de cabedal que já foi do meu pai e antes dele do meu avô e antes dele não sei de quem seria, na mão direita o chapéu de sol lilás que atrai todos os mosquitos, mas não quero saber gosto da cor e não me ralo com os mosquitos
os bonecos protestam com o calor e eu sinto-os inquietos, cheiram a maresia e agitam-se, ouvem os risos e os gritos de alegria e querem sair antes de tempo
ainda não está na hora… - sussurro, tentando aquietá-los
procurar uma sombra é apenas um sonho vago e largo tudo aqui mesmo, no meio da praia e logo à minha volta as pernas cruzam-se num colorido de calções e fatos de banho, barquinhos à vela bordados nos peitilhos, estrelas do mar nas mangas de balão e às vezes um peixinho encarnado no chapéu
num bater de palmas prematuro, público entusiasta e exigente nunca aceitando a mudança do guião, sabendo de cor cada deixa que não deixo assim entregue ao deus-dará e deus tem-me dado tanto como este mar sem fim que eu amo de tão imenso e um enredo que parece sempre o mesmo e até é
a princesa prisioneira da bruxa má, o rapaz valente, a menina tímida, o homem do cacete e o seu touro Eh touro lindo! porque é que será? os meninos gritam de contentes e os meus robertos soltos do saco de cabedal que já foi do meu pai e antes dele do meu avô, coram de alegria e até os cabelos louros da princesa ficam mais brilhantes do que o brilhante e negro touro lindo que eu quero solto porque livre é o meu soltar
já construí outros de madeira de pasta de papel de trapinhos cosidos e agulhas de lã, o crocodilo verde que assusta os mais pequenos e quer apenas um coração de gente, a bailarina tão distraída que perde sempre as sapatilhas cor de rosa, a avó que voa numa bicicleta de lata, o poeta que recita versos que ninguém quer ouvir, o violinista triste apaixonado pela lua, sei as suas vozes e tão distantes dessas outras de corneta que o meu pai me ensinou, como a ele o seu próprio pai
o sol deu a volta à terra e ela acredita ingenuamente que sim, as riscas dos toldos descansam na areia e o som dos búzios é o da maré-cheia eu sou as vozes dos meus bonecos e os meus bonecos são as vozes de mim, sobrevivemos na memória de um tempo, dentro de um velho saco de cabedal que já foi do meu pai e antes dele do meu avô e antes dele não sei de quem seria mas tenho a certeza que era para mim
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esta é uma página que deu a volta à terra e ela acredita ingenuamente que sim
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Manuela Baptista
2010/07/07
32 comentários:
MANUELA BAPTISTA
I've got no strings ...
Não tens cordas!?
Tens tantas, tantas e toca-las todas tão bem ...!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 7 de Julho de 2010
...E,com desenhos e robertos,mar,areia,princesas
o Sol deu a volta à terra,
deu sim.
E o som dos búzios é o da maré cheia,
é sim!
Beijinhos desde este lado do oceano,
com um ventinho frio(aqui)de chuva
que pede aconchego,chocolate quente
e conversa com amigosss
Linda Simões
E já disse que gostei muito do teu desenho do perfil?
Gostei sim.
Eita!
Beijoquinhas
Manuela,
Sempre em si o dom de nos fazer retornar a tantos encantos da nossa infância e que continuam a ser os encantos de muitos dos nossos mneninos, daqueles que ainda conseguem não passar o tempo todo no computador ou na televisão.
Como eram lindos os "robertos", como lhes chamavamos, vejo-os ainda todos os anos numa feira de artesanato na Foz do Douro, que por acaso se faz no Jardim do Passeio Alegre, em frente à última morada de Eugénio de Andrade, onde está sempre uma associação de jovens dedicados a esse tipo de teatrinhos e os meninos sentam-se na relva entusiasmados a ouvir essas histórias de princesas e aventuras e dão a volta à terra com o sol e acreditam ingenuamente que sim. Os pais também se sentam na relva e uma "belhota" como eu também...e outras iguais... e soltamos os meninos que somos...
Há por aqui também vários grupos e oficinas de marionetas, construção de vários tipos de fantoches e escolas desse tipo de arte. A minha filha teve uma cadeira dedicada a esta arte cénica, muito interessante. Este post fez-me lembrar tudo isso e sentir-me de novo feliz por ver alguns grupos fazer renascer este teatro que remonta, segundo parece à comédia Dell’Arte Italiana do séc. XVI.
Quando os meus filhos eram pequenos e procurava peças infantis para eles havia apenas um grupo no Porto inteiramente dedicado à infância e outro que por vezes alternava na programação uma ou outra peça infantil, estas artes mais tradicionais quase tinham deasparecido, hoje felizmente proliferam aqui pelo Norte e há uma grande vontade de as fazer retornar.
Obrigada por este momento de sonho, até senti que o sol rodava à volta da terra...
Beijinhos.
Branca
.
. no peitilho das jardineiras trago hoje bordadas estrelas de cetim .
.
. com aroma a jasmim .
.
. e para Si serão sempre os bonecos que na Sua voz sobre.vivem na memória do tempo, dentro de um saco de cabedal quase tão velho como eles, res.gatado à pressa no dia que se seguiu à criação material do primeiro boneco . porque há muito ele já existia .
.
. o meu pai gostava muito dele e dizia.me - guarda.o com carinho - porque dele procede a vida lá fora, a rasar ar.rasando os corações dos que acreditam que a terra acredita ingenua.mente que sim .
.
. porque do não a volta re.vira.volta e não há então volta a dar à volta .
.
. perene é a alma que as.sim se e.terniza .
.
. na memória acesa das sapatilhas cor de rosa das bailarinas, da bicicleta de lata onde a avó ar.rebata . a alma do poeta que recita versos que ninguém quer ouvir .
.
. um beijo total .
.
. paulo .
.
...sim Manuela, é mesmo encalorada esta página!
escrevo-lhe hoje olhando o mar, que tenho a meus pés, ouço-o e já não sei se é o mar de Sesimbra... talvez seja o da Nazaré, talvez o terraço onde estou, seja mesmo o Sítio da Nazaré...
esta história Manuela, deu-me a volta à cabeça, ao coração e remexeu-me nas minhas mais longíquas memórias... a praia da Nazaré.
emocionou-me, porque me fez recordar meu pai, pegando em mim ao colo e dizendo: "agora que já viste como é o mar, vamos para sombra daquela barraca para veres o teatro da bonecada."
enquanto o meu pai me foi levando ao colo, ou pela mão eu fui dando a volta à Terra...
Um beijo menina do mar
Walter
Ola Manuela
O texto esta magnifico os desenhos muito bonitos.
E a foto lá de cima um mimo, com o rapaz a correr nu:))
eheh
beijinhos
Bom dia Manuela
Sempre a escrever com ousadia metendo o sonho e o sono, a paixão e a recordação viva no tempo presente.
Todos esses bonecos mexeram comigo, não que os houvesse cá em casa, mas porque a sua magia me dominava assim como o marulhar da ondas do mar e o cheirinho da maresia.
Bom dia Manuela!
Corre hoje uma brisa suave que refresca a natureza e nos traz um pouco de paz depois destes dias de panela de pressão.
A manhã vai ficar por certo mais bonita depois de lido este texto.
Nunca vi os robertos nas praias mas, o seu texto retrata muito bem destes artistas itenerantes e que faziam sonhar os meninos.
Nos seus textos o sol dá muita vezes a volta à terra, e o mar ganha uma vida única.
Beijíssimos
filomena
"os bonecos protestam com o calor e eu sinto-os inquietos, cheiram a maresia e agitam-se, ouvem os risos e os gritos de alegria e querem sair antes de tempo
ainda não está na hora… - sussurro"
ainda não está na hora...!!
quantas e quantas vezes ouvimos nós esta frase
quanta ternura Manuela..!
estou profundamente maravilhada com esta volta que dei agora
e num mergulhinho num mar calmo encontrei tudo...
as estrelinhas do mar os búzios, os pescadores, os bancos da praia, os fatos de banho de favinhos que ainda hoje adoro, as pessoas de quem tanto gosto...
reencontrei-me nessa infância de tantos encantos
e mergulhei de novo e agora ao voltar sinto o meu coração mais forte...
para Si Manuela, menina de tantas ternuras de magias infindáveis um abracinho grande de muita alegria e um Obrigado...
também pela ilustração que dá sempre mais ao que escreve...
e um Bom dia.
dulce ac
mas que bonito comentário, Jaime!
apesar da manuelabaptistização...
Manuela
Linda
eu quero esse ventinho frio e até pode ser uma chuvinha
perdoem-me os búzios e as conchinhas mas estou pior que o Roberto com os pés e tudo o mais a escaldar...
obrigada Linda! o desenho do perfil é bonito, é!
beijinhos
Manuela
Branca
sentiu que o sol rodava à volta da terra? mas não roda mesmo??
obrigada pelas notícias de tantos grupos de bonecreiros! eu também já fiz parte de um
mas não há como os robertos da praia e as suas histórias que nem eram história nenhuma...
beijinhos
Manuela
paulo
e há coisa mais bonita
do que umas jardineiras bordadas com estrelas de cetim?
no peitilho
que é aquele lugar secreto junto ao coração, que às vezes está na nossa mão
naquela mão com que apertamos uma outra mão que nos ensina a amar o primeiro de todos
o único e carinhoso boneco!
um beijo total
manuela
Walter
a praia da Nazaré foi
aquela primeira praia onde o meu pai deu a mão à minha mãe
a mão que os dois me deram, foi na praia da Parede
mas os robertos verdadeiros têm um segredo, multiplicam-se, permanecendo os mesmos, senão como é que se explica que estivessem ao mesmo tempo em todas as nossas praias?
e não me chame menina do mar
que me faz corar e não é do calor...
e não pare de dar a volta à terra agora que já sabe andar
um beijo
manuela
Sideny
o rapaz é um descaradão,
mas é o único que tem juízo!
pois como é que a todos nós nos apetece andar, com este calor?
beijinhos
Manuela
Luís
pelos bonecos
que marulharam tanto connosco e a quem nós não esquecemos
um abraço
Manuela
Filomena
ainda não estou refeita dos dias de panela de pressão :))
sobretudo porque passei as duas últimas semanas a fazer sopas...
agora acabou! quem quiser ponha cubos de gelos nas couves do quintal e tome o lugar das borboletas
não está certo não conhecer os robertos...um dia quando nos encontrarmos em carne e osso faço-lhe um teatro
e o Roberto? esse é bonito e eu acho que ainda anda por aí!
beijinhos
Manuela
ai, Dulce...
que saudades dos fatos de banho de favinhos!! eram tão bonitos com aqueles elásticos todos e depois
à medida que iam ficando velhos e os elásticos lassos
continuavam a servir-nos, apesar de nós teimarmos em crescer
até à lassidão final em que nos caíam pelo rabo abaixo...
este recordar é tão bonito como a mais bonita ilustração!
beijinhos
Manuela
Profeta
até já tinha saudades dos seus enigmas!
e obrigada por essa ilha de verde dentro do mar
um abraço
Manuela
Quem é a pessoa quem é ela
Cujas iniciais são mb
A lê-la todos gostam dela
Mas o certo é que ninguém a vê
Dizem que é aristocrata e antiga
Veste bem e não gosta de farpela
E gosta também de jeropiga
Uns golinhos à janela
Enquanto conta os comboios que passam
Mas apenas num só sentido
Os pássaros entretanto esvoaçam
Em enorme alarido
Porque eu sou o mais bonito
Tão belo que eu nem acredito
Alma verde e povoada
Mas não gosto de tourada
Um beijinho de quem? de quem?
D`O Rasteirinho, pois claro.
Croc!
de jeropiga? ai, ai...não gosto muito de bebidas doces, ná...
nem tão pouco de touradas
e ainda menos de crocodiladas, que também as há, porque a violência contra os animais tem muitas formas
mas os touros negros são lindos e corajosos
nada que se compare com a tua beleza claro!
ou porque é que pensas que o Roberto te copiou?
aceitas um pizang ambon?
é verde
é podre de doce
e pode-se beber à janela, ó bonitão!!
umas festinhas para ti
mb
...farpela? :))
Oh Manuela,
que lindo reviver... tão cheio de encanto.
Robertos faziam brilhar os meus olhos cheios de sorrisos quando apareciam atrás da barraca de riscas, em dias de festas, e contavam histórias de princesas ou então batiam com o pau no companheiro..toma, toma para aprenderes.
Uma lembrança que nunca se solta da criança que fui e que muitas vezes ainda sou....e foi bom senti-la aqui aos saltos depois de ler esta "história" saída do saco de cabedal que era do seu pai.
simplesmente lindo!
beijinhos
Canduxa
então, já parou de dar saltos??
é verdade, os robertos passavam a vida à cacetada
já para não falar na tourada...
enredos politicamente incorrectos, diriam...
beijinhos
Manuela
Olá querida
Seu texto nos acomoda e ao mesmo tempo, nos faz viver na imaginação de um tempo de ficção.
Sempre fico com o sentimento de que perdi algo,de tão belo que é.
É tão lindo.
Não posso esquecer dos desenhos, suaves doces.
Com muito carinho BJS.
Rufina
perder, não perde
porque eu empresto-lho!
beijinhos
Manuela
Querida Manuela,
minha amiga linda que saudades que eu já tinha e o Bruno aqui ao lado a dizer que também sente falta das trocas de palavras e brincadeiras e saber o que lhe escrevem.
Não temos mesmo tido sorte com a Internet e agora também com este problema de saúde que me afecta não é fácil.
Terei de ler com muita atenção como sempre faço todos os seus post's pois cada historia que escreve ou poema para além de ser uma parte de si que ali está retratada em palavras, é um verdadeiro tesouro que precisa ser guardado com muito carinho.
Obrigada por tantas coisas lindas que escreve.
Não quis no entanto deixar passar mais tempo e estivemos até às 4h manhã para editar o vídeo do Bruno ( a pen banda larga não é lá muito prática temos de desligar constantemente para não gastar ).
O Bruno surpreendeu na sua actuação em palco os professores e todo o pessoal envolvido ao longo destes anos.
Espero que sintam um pouco do que eu tenho sentido ao vê-lo ali na bateria ( apesar da música forte).
Manuela por agora despeço-me com muitos beijinhos , abracinhos e a.m do Bruno.
Tempo de antena -rsss
Peço desculpa aos amigos e amigas em comum por não ir a todos os blogs agradecer as visitas e comentários mas como o tempo, saúde (e a pen-banda larga limitada)não o permitem como eu desejava deixo aqui com a sua permissão o agradecimento e convido-os todos a visitarem o blog e verem o vídeo do Bruno.
Brancamar,Linda S,Dulce AC,Canduxa,Paulo Intemporal, e todos os que aqui passam, beijinhos
Lisa B. e Bruno
obrigada por serem quem são!!!
o recado será dado
beijos, a.m. e as melhoras!
Manuela
Hola que tal?
Como estás manuelita?
Hoy, yo soy spañolito e quiero mutchos bêsos teus, cariño!
Desfruta-los!
E mutchas gracias!
Besitos de quiem? de quiem?
D`El Rasteirito, pués!
que viva la España!
e los Rasteiricos!
...ritos?
...rito?
olé!!
besitos para ti
manuelita
A praia. O mar. Os robertos. A bonecada toda. A ler-te voltei à minha infância "menina rosada de sonhos nos bolsos, bailarina de corda na caixinha se som"...
Um texto maravilhoso!
Um beijo.
Graça Pires
cheios os bolsos de tanto som
bailarina menina rosada de tom
um beijo
Manuela
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