Quando o branco inunda todas as coisas e o amarelo dos limões se desfaz em gelo e açúcar mascavado, vejo que os grãos de pó desenham um caminho entre a janela e o chão e que a quietude da casa navega parada com vontade de se agitar.
Amanheço em sonhos achocolatados, amendoados, arrumada a Páscoa no fundo do peito e ainda o sol não acariciou a chaminé mais baixa, dou um salto na cama, a cabeça tão acordada como um relógio de cuco, tão louco e tão maluco com vontade de cantar!
O cheiro a café acabado de fazer lança a confusão na caneca mais alta, preto, amargo, a fumegar e na varanda, de onde apenas e tão somente se avista o verde, é o verde que visto assim só de o avistar.
Pássaros serenos fizeram o ninho no candeeiro da entrada e agora ando em bicos de pés, falo baixo, finjo ser estátua para não os perturbar, na emoção sentida de os saber ali, frágeis, pequenos, leves nas inexistentes penas, nas promessas de voos, no desejo do calor do Verão ou das papoilas em campo de azedas amarelas como os amarelos limões. E devagar, abro as gavetas dos guardanapos e lanço-os pelas janelas, pois basta apenas uma brisa suave para que partam, descobrindo que são mais leves do que o ar. Limpo o pó aos livros e guardo no bolso os personagens de que eu gosto mais e troco-lhes as frases para que nunca apanhem a doença do tédio e saibam de cor as canções de amor eterno, o cântico dos cânticos, as constantes perguntas de um perguntador, as dúvidas de um sonhador, os sonhos de um poeta. Lavo as paredes com flor de laranjeira e nelas posso desenhar caminhos e pontes, árvores e mares e ondas, marés e barcos. E os desenhos adormecidos em capas de cartão, pinto-os de novo de olhos fechados e penduro-os no quintal para que não sequem nunca e cheirem a relva acabada de cortar.
Deito no lixo a tristeza de uma flor por abrir, a cobiça de um vestido novo, a inveja de um olhar, a ausência de uma razão qualquer e assim tão descuidada, tão desavisada, encontro a tranquilidade de um dia. Porque sereno é um pássaro.
Amanheço em sonhos achocolatados, amendoados, arrumada a Páscoa no fundo do peito e ainda o sol não acariciou a chaminé mais baixa, dou um salto na cama, a cabeça tão acordada como um relógio de cuco, tão louco e tão maluco com vontade de cantar!
O cheiro a café acabado de fazer lança a confusão na caneca mais alta, preto, amargo, a fumegar e na varanda, de onde apenas e tão somente se avista o verde, é o verde que visto assim só de o avistar.
Pássaros serenos fizeram o ninho no candeeiro da entrada e agora ando em bicos de pés, falo baixo, finjo ser estátua para não os perturbar, na emoção sentida de os saber ali, frágeis, pequenos, leves nas inexistentes penas, nas promessas de voos, no desejo do calor do Verão ou das papoilas em campo de azedas amarelas como os amarelos limões. E devagar, abro as gavetas dos guardanapos e lanço-os pelas janelas, pois basta apenas uma brisa suave para que partam, descobrindo que são mais leves do que o ar. Limpo o pó aos livros e guardo no bolso os personagens de que eu gosto mais e troco-lhes as frases para que nunca apanhem a doença do tédio e saibam de cor as canções de amor eterno, o cântico dos cânticos, as constantes perguntas de um perguntador, as dúvidas de um sonhador, os sonhos de um poeta. Lavo as paredes com flor de laranjeira e nelas posso desenhar caminhos e pontes, árvores e mares e ondas, marés e barcos. E os desenhos adormecidos em capas de cartão, pinto-os de novo de olhos fechados e penduro-os no quintal para que não sequem nunca e cheirem a relva acabada de cortar.
Deito no lixo a tristeza de uma flor por abrir, a cobiça de um vestido novo, a inveja de um olhar, a ausência de uma razão qualquer e assim tão descuidada, tão desavisada, encontro a tranquilidade de um dia. Porque sereno é um pássaro.
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esta é uma página que acordou cedo demais
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Manuela Baptista
Estoril, 4 de Abril 2010
44 comentários:
LUZ DO SOL AMENDOADO DE LIMÃO
Sabe a luz do Sol
este bemol
este teu canto eterno
é um rol
lista imensa
estendal
roupa
um caracol
que põe as antenas de fora
mesmo se mole
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 4 de Abril de 2010
É tão bom Manuela este despertar da Primavera, os pássaros, as árvores, a tranquilidade da casa.
Já me aconteceu de andar em bicos de pés por caudsa de um ninho numa árvore de jardim, outra vez num pote de gerâneos (esse foi parto mais difícil, tive que deixar de regar o vaso, mas ele não morreu até que os passarinhos aprendessem a voar), no candeeiro de entrada ainda não me aconteceu, deve ser interesante, imagino que não pode acender a luz, :)
A natureza é fantástica e serena...e a nossa casinha às vezes também...!
Adorei este bocadinho, porque a serenidade é uma virtude que muito aprecio.
Beijinhos
Branca
Sereno é um pássaro... quando pousa em nossa janela e ficamos a escutar seu canto...
Sereno é um pássaro que nos deixa feliz.
Muito bonito, sempre!
Beijoquinhas
Um texto poético de excelente valor pelas figuras criadas.
Um beijinho de parabéns pela delicadeza destes momentos em que nos sentimos personagens numa história viva.
Trocam-nos os nomes para que a vida nunca acabe e a rotina seja banida.
Parece que até o pó dos livros faz história e fortalece os ninhos dos passarinhos...
Acordar com a serenidade e a alegria dos pássaros numa manhã de primavera
Bom dia, Manuela
"...arrumada a Páscoa no fundo do peito e ainda o sol não acariciou a chaminé mais baixa, dou um salto na cama, a cabeça tão acordada como um relógio de cuco, tão louco e tão maluco com vontade de cantar!"
Que Maravilha Manuela o que escreveu ... e quando nos sentimos acordar assim...
Hoje acordei e quando li as Suas palavras Olhei para fora de casa e vi o Sol, que bom...sem que contudo me apetecesse cantar..
contemplar sem quaisquer palavras sem mais nada..
Um beijinho grande de cheirinho de jasmim de lembrança de que já é mesmo primavera e isso é simples e é madrugada de pássaros, madrugada de páscoa à minha janela e isso é mesmo bom ..muito bom...
dulce ac
Jaime
e assim em bemol
estendi as antenas ao sol
e resolvi tomar banho na praia (da Parede onde eu fui mais pequena)!
pedindo desculpa a Edward Hopper que tem sido um amigo...
Manuela
Branca
...exactamente! agora ninguém pode ligar a luz!
ou então os passarinhos assam...
Sabe que "sereno" é o nome que dão no Minho, ao chamariz ou milheira?
beijinhos agitados
e também gostei deste bocadinho :))
Manuela
Linda
muito amiga, sempre!
beijinhos
Manuela
Luís, pássaro da madrugada!
um beijinho
por ter acordado tão cedo, para escrever palavras bonitas!
Manuela
Boa tarde, Filomena!
acordar com a sereridade e a alegria dos pássaros
agora que os seus espertos melros, estão ainda de férias a entupirem-se com amendoas, ou hamburguers??
Boas férias!
beijinhos
Manuela
Dulce
as limpezas da Primavera, seguidas criteriosamente pelas nossas avós
devem ser tomadas a peito, apenas com uma diferença: deixar entrar o ar e o sol na cabeça e no coração e somente no fim, limpar um grãozinho de pó!
e ainda é Páscoa afinal...
beijinhos
Manuela
Sereno é um pássaro... sereno é também tudo o que quisermos poetizar, é só acreditar e se deixar levar!
Lindo , Manuela!
Beijos!=**
... se esta página não tivesse acordado assim tão cedo...
talvez não houvesse tempo para pendurar os barquinhos no estandal...
talvez não houvesse tempo para deixá-la num brinco... mas ficou, assim toda luminosa e impreguenada de cheiros madrugadores com sabor a café, de cheiros primaveris, de serenas melodias de pássaros...
cheira tão bem esta página!
hoje senti que a Primavera finalmente chegou...olá Primavera!
e os barquinhos quem os pintou?
hummm!!!
serenamente me vou... empoleirar noutros galhos...
beijinho
Walter
Gabriela, pássaro nocturno!
que reconhece e entende os outros pássaros
serenos
ou não...
Obrigada por ter escolhido este galho para pousar!
beijos (igual a estrelas)
Manuela
Walter, em galho de pássaro
...e cheira mesmo bem lá fora! a flor de laranjeira e a frésias, que ainda teimam em crescer!
Não goze! Os barquinhos fui eu quem os pintou :))
mas as casinhas loucas estão bem mais bonitas... apesar da ventania que me rasgou o cenário todo.
um beijo
Manuela
Olá Manuela,
De repente pensei que tinha entrado no sítio errado.
De quem é essa pintura tão interessante que abre o seu blog?
É linda de morrer e o estilo não me é estranho, ou estarei enganada?
Se estou há por aqui um génio desconhecido com tantos dons como outros mais famosos.
Deixo beijinhos.
Branca
...não gozo não!
eu dou-lhe é os parabéns... afinal temos artista!
eu nem sei pintar barcos...
aceito umas aulas, quando posso começar?:)
os barquinhos parecem de Sesimbra e o palácio parece o da Pena, parece não! é mesmo!
beijo
Branquinha
ai quem me dera pintar assim!
e o estilo nem sei de quem é, porque esta imagem vem de uma página que eu escrevi no blogue do Jaime, daí o não lhe ser estranha...
a foto do mar, lá de muito em baixo....é que é minha.
beijinhos
Manuela
Walter
estou para aqui a rir imenso, porque a Branca pensou que a pintura do cabeçalho seria minha!! o Walter nem reparou nela?
os barcos e as gaivotas são de Sesimbra, o palácio é uma espécie de castelo que há aqui na praia do Tamariz, mas está fantasiado com as assoalhadas todas trocadas...
eu ensino-lhe a pintar barcos, mas acho que vai estragar o seu talento!
beijinhos
Manuela
eu nunca desaprendo com quem sabe pintar histórias tão belas...
beijo
Manuela,
De qualquer forma a imagem da entrada é linda, gosto daqueles meninos a chapinhar no mar, fizeram-me lembrar assim uma Paula Rego um pouco mais realista, porque eu até adoro a sua inocência e pureza, a sua queda para um imaginário entre o surrealismo e o realismo,se calhar estou a dizer muitos disparates, mas não gosto de classificar arte, nem de a espartilhar em determinadas catalogações, isso é mais trabalho dos críticos.
Aquela imagem é mesmo "gira", transmite paz, inocência, alegria interior e tudo o mais que nos proporciona uma infância feliz.
Também fui lá muito abaixo e vi a sua imagem do mar e sabe como sou perdida pelo mar.
Já estou a ficar envergonhada, porque tirei umas fotografias do mar no Inverno, muito cinzentão,
que já usei num post e de um afluente do Douro e
não voltei a pegar na máquina.
Deixo-lhe beijinhos, uma santa noite.
Branca
Walter e Branca
quero dizer-vos
que gosto de desaprender convosco.
boa noite aos dois
um beijo
Manuela
Querida Manela
É, a Páscoa já lá vai..."arrumada no fundo do peito." Agora, é viver, respirar marcar o compasso de um tempo novo. Pode ser em amarelo (minha cor preferida) como os limões ou um girassol, como um sol, que ficou com um olho preto do café amargo acabado de fazer.
Os serenos são os alfaiates da Primavera. Adubaram o ninho com todo o seu esforço e amor...esqueceram-se de pedir licença para se acoitarem no candieiro mas, não foi por mal...
Talvez fosse o cheiro do café ou da flor de laranjeira que os atraíu ou ainda os desenhos no estendal, coisa que nunca tinham visto em lado algum , mas, cá para mim,foi a tranquilidade oferecida em bicos de pés e a emoção de vidas partilhadas.
Um beijo amigo
Graça
Bom dia Manuela
Adorei a sua historia,encantam.
A foto la de cima do seu blog e linda.
E as suas pinturas dos barquinhos estao muito bonitas,como ja li temos pintora:))
beijinhos
Graça
o pássaro afaiate é um artista! Alta costura é a sua habilidade, unindo as folhas para construir um ninho com a mais bela das coberturas.
Se olharmos os lírios do campo, ficamos com a certeza de que a Páscoa aconteceu!
Muito bonito o teu comentário!
beijinhos
Manuela
Sideny
....uma pintora muito trapalhona!
Muitos beijinhos para si e obrigada pelo incentivo à arte de colorir papéis.
Manuela
Manuela!
Mudou a cara do seu blog!!!
Está lindo!
Beijinhos
Filomena
agora, é uma cara com os rabinhos para o ar!
beijinhos
Manuela
Olá querida
Amei seu varal, as roupas a secar tem uma beleza colorida.
Um texto com cheiro e suavidade, lindo.
Com muito carinho BJS.
Rufina
que a sua alegria de viver
solte a roupa do varal
e o varal do chão
e o chão do mundo!
beijinhos
Manuela
é cores cheias e perfumes da mola ESPLÊNDIDOS!!
Muitos beijos de Atenas
Rosemary
perfumes da mola sinto eu
assim
baralhada sem falar a sua língua!
mas gosto de Atenas e de si!
um beijo
Manuela
Fátima
desejando que o amarelo limão resulte...
as melhoras e obrigada pela visita!
um beijo
Manuela
Manuela:
Obrigada pelas suas palavras e carinho... Encontrei o meu amigo finalmente, já longe, cansado.
Procurei muito, é o meu amigo de sempre.
Parabens pela Fezada, gostei do nome!
Um abraço
Manuela,
depois de sonhos achocolatados e amendoados,
só podia ter saído esta história maravilhosa.
Os pássaros lá sabiam que fazer o ninho no candeeiro da entrada
trazia alegria e sorrisos num dia em que a casa ficou com cheirinho a flor de laranjeira.
Quem diz que eles não são sábios? São iguais à nossa alma….
beijinhos
Manuela, é como se a primavera começasse hoje com este texto cheio de luz, de flores e de pássaros. A atmosfera impregnada do fascínio de viver...
Muito belo. Li e reli e adorei. Um beijo.
Milhita
eu tinha cá uma fézada que o seu amigo iria aparecer!
um abraço
Manuela
Canduxa
sim, sábios são os pássaros!
e lá continuam, doidos, sempre a piar...e o chão todo sujo, porque apesar de ecológicos, quem faz o ninho sobre mosaicos...
beijinhos
Manuela
Graça Pires
que leu e releu
e pode continuar aqui...
Aceita uma limonada?
um beijo
Manuela
Sereno é um Rasteirinho
Assim bonito como eu
Abano a cauda devagarinho
Enquanto sorrio como um tolinho
Até ser escuro como breu
Um beijinho de quem? de quem?
D`O Rasteirinho, pois claro.
Rasteirinho!
que saudades eu tinha das suas lagartices!
os crocodilos não comem pássaros?
uma festinha com a palma da mão...
Manuela
Carine
obrigada pela informação! eu gosto de mistérios e naufrágios...
um abraço
Manuela
Carine e Yasmin
folgo em saber que se encontraram aqui!
Manuela
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