Não me importa se chover. O casaco protestou, não me
atires para aqui, não me feches, esqueceste-te da chave de casa no bolso,
vais-te arrepender.
Da súplica à ameaça. É um casaco de tweed castanho, com
bolsos, botões e sentimentos. Um ser bizarro com cabeça de lã. Hesitei. Levo-te
a passear quando os amores-perfeitos pintarem de veludo os canteiros,
prometi-lhe. E as andorinhas, gritou ele, não me prives das andorinhas. Fechei
a porta do roupeiro, a voz do casaco perdeu-se entre os cabides e as gavetas e
eu com um frio fininho na nuca.
Quando o silêncio se instalou, sentei-me na varanda e
abri a carta do urso. Ainda não acordei, contava ele, e no entanto o degelo já
começou. Às vezes ouço a minha barriga roncar de fome e as reservas de gordura
desapareceram do meu peito. O caçador que sou eu e também não sou, chama-me
todas as manhãs e eu respondo-lhe, volta mais tarde quando a noite chegar, bate-me
à porta, traz-me um sonho bom, um desejo de mergulhar na água gelada e depois
flutuar de barriga para as nuvens.
Pousei a carta sobre os joelhos e pensei no urso que sou
eu e também não sou e nesse facto estranho de sermos ambos capazes de escrever
e hibernar em simultâneo. O urso tem uma pele quente e eu tenho um casaco com cabeça
de lã. Fui buscá-lo ao roupeiro e fomos os três apanhar chuva.
9 comentários:
MANUELA BAPTISTA
tu e as tuas outras peles que maravilhas fazem
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 3 de Fevereiro de 2017
O casaco a cheirar a amores-perfeitos. O urso que é caçador e não é. E tu, Manuela, com o teu imaginário fantástico, a transportar-me para o mundo mágico da Natureza e da inocência. Bem-hajas!
Um bom fim de semana.
Um beijo.
Muitos parabéns, querida nelita, pelo Seu aniversário :)
Por aqui estao 42 graus e estou ainda em Bangkok. Viajo dia 8 para as "Maldivas" desta Tailândia que amo.
Tenha um dia muito feliz :)
Um grande beijinho!
Rolito
muito obrigada Paulo!
boas viagens :)
Como uma esfinge, a flor das brisas enrola-se sobre si mesma. Em frente, há uma primavera, e nada custou, exceto a conta de mais um ano,
e um ano após outro ano.
Há quem lhes chame aniversários
Parabéns :-)
E chega um ano novo, mas chega também uma despedida. E assim se darão parabéns, e se dão :-)
A Jacintinha tem andado muito apartada destas andanças, não se pode ter tudo, o sr. Trump disse que não queria inválidas nos estados unidos, as irmãzinhas ficaram todas em pânico,
agora onde é que as vamos arrumar, as inválidas do comércio e da indústria?....
e eu,
façam como os ursos, todos enrolados,
uma aleijada, desde que não seja daquelas que ficam com a síndroma do espantalho, todas rijas e de braços esticados,
benzó-deus,
arruma-se onde calhar,
o meu caso é mais simples, parei e deixei de andar, só comunico com os olhos, no fundo é uma economia que agrada ao Centeno e á OCDE, o sr. Trump não quer aleijadas, e santas, hein?.., santas já aceita, uma coisa é certa Dona Manuela, roa-se de inveja, 2017 é o meu ano, há 100 anos que ando nisto, e a menina é uma amadora, todos os 6 de fevereiro a tentar ficar mais velha, mas tem muito que andar, que esta sua amiga, se precisar dá-lhe umas lições, o que custa mesmo são os primeiros quarenta, depois, é só a multiplicar por dois, por três e por quatro, enquanto eu me aguentar, e o mulatão deixar
olhe,
parabéns, e não tenha inveja de mim, umas são santas, as outras escrevem contos :-)
Com casacos e peles se faz o urso que atravessa o inverno. Havemos de lhe ver as pegadas pelos caminhos enlameados da primavera. Não tarda.
Quem tardou fui eu, a atinar com este roupeiro da Manuela, que nunca nos deixa dependurados ao frio.
Com o engenho de sempre.
Bj.
Eu sei que ainda está frio, mas está um sol lindo, ursinho...
Um beijo, Manuela.
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