Era uma vez um
pássaro verde, de peito branco e olhos azul-turquesa. Um pássaro curioso,
diziam os melros. Um pássaro pequeno, afiançavam os gaios. Azougado, insistiam
os verdilhões. Ágil, afirmavam as carriças. Na verdade ninguém sabia exatamente
o nome daquele pássaro verde, de peito branco e olhos azul-turquesa.
Por seu lado a
cerejeira não era curiosa, nem azougada, nem ágil. Quanto muito, seria pequena
e em toda a sua vida nunca tinha dado flor. O pássaro gostava da cerejeira, de
cambalhotar nos seus ramos frágeis, de cantar para ela quando o vento soprava. E
o pássaro perguntava, vês aquelas nuvens altas, árvore fininha? E as poças de
água onde eu gosto de esvoaçar? E os grãos que eu gosto de comer? Porque é que
não voas comigo nas manhãs de sol, nas tardes quentes? continuava o pássaro. A cerejeira
estremecia um pouco e não respondia. O pássaro, contudo, jamais se cansava de
perguntar e a cerejeira gostava do pássaro tal como o pássaro gostava da
cerejeira.

Passaram muitas
nuvens altas, outras baixas e ainda médias. O pássaro voou, esvoaçou,
cambalhotou e a cerejeira cresceu a ouvi-lo perguntar. Um dia floresceu. Tantas
eram as flores de cerejeira nos ramos frágeis e o pássaro louco de alegria saltava
de um para o outro e tão feliz era o pássaro verde, de peito branco e olhos azul-turquesa
que nesse dia esqueceu-se de perguntar.
Naquele verão as
cerejas foram doces, firmes e vermelhas e enfeitaram as orelhas de uma ou duas bailarinas que por ali tinham ido dançar.
Para a Mar ler quando for grande.
15 de agosto de 2020