Era uma vez uma rainha que possuía um pescoço de altura
invulgar. Não tão longo como o pescoço das girafas, não tão desajeitado como
o das avestruzes. Quando atravessava os salões, a cabeça tocava nos candelabros
e sentada à mesa para jantar, era obrigada a perguntar que alimentos lhe
serviam no prato. Era a primeira a avistar as nuvens de tempestade, os torreões
e os cometas. Em tudo o mais, era uma mulher sábia, bondosa e justa, apenas
aterradora para os menores de cento e cinquenta centímetros e os animais
domésticos de quatro patas.
Não é pois de admirar que tivesse uma paixão por lenços,
echarpes, cachecóis, gargantilhas e camisolas de gola alta.
Os seres de cauda-anelada habitavam uma ilha a oriente e
eram mansos e pacíficos, alimentando-se de frutos, de flores, de cascas e de
seiva. Gostavam da luz do sol e dominavam uma linguagem própria com variadas e
significativas vocalizações. Protegiam-se dos ataques dos inimigos, em bloco,
unidos e não destoavam uns dos outros, pretos e brancos, as caudas enroladas
até ao pescoço. E a vida era como o rio que atravessava a ilha, sem um rápido, ou
uma cascata, ou uma pedra a desentoar.
Mas um dia apareceu um estranho, mais alto, mais forte.
Combatia sozinho, uivava, predador de roedores, o que não estava decerto na
sua natureza. E a natureza mudou.
E a rainha fez saber, que no dia do seu aniversário, como
era tradição e sobretudo do seu agrado, muito gostaria de receber como presente,
cachecóis, echarpes, lenços, gargantilhas e camisolas de gola alta. Os
habitantes do seu reino alegraram-se porque a amavam, mas preocuparam-se, pois tornava-se cada vez mais difícil não repetir tecidos, padrões, esquadrias, cores e
materiais.
Foi então que apareceu o estranho, alto, forte e pediu para
ser recebido pela rainha. Disse que sabia de um reino de seres que teciam
cachecóis de pelo macio e fofo, e que assim enrolados no pescoço da rainha, o
tornariam discreto e elegante. A rainha ficou curiosa e quis acompanhar o
estranho na viagem de ida e este disse que não, mas por muito estranho que
pareça, não é possível recusar uma ordem real.
Atravessaram o mar, depois o rio, contornaram as ruínas,
os poços, os troncos, a floresta de galeria. Por fim chegaram. Os seres de cauda
anelada, assustados, juntaram-se e o estranho, sacando de uma faca afiada, aproximou-se
dos mais pequenos com o intuito de lhes cortar as caudas. A rainha, levando a
mão ao pescoço, gritou, um grito agudo e lancinante e o estranho suspendeu o
gesto e a faca e fugiu. Silenciaram-se os seres e a ilha. Empreendida a viagem de volta, nunca mais a rainha
cobriu de panos o seu pescoço e todos viram que afinal era belo, esguio e flexível.
Nos dias de sol caminham com ela dois seres
anelados em cada um dos seus ombros.
18 comentários:
MANUELA BAPTISTA
... nos dias de sol caminham com ela dois seres anelados em cada um dos seus ombros ... acascolados de echarpes e gargantilhas das suas maravilhosas caudas e até ao pescoço ...
Assim viveram os reinos em harmonia.
Belo
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Outubro de 2016
Que história tão engraçada contada de maneira a meditar na sua mensagem. Os desenhos ilustram-na objetivamente. Gostei imenso.
Belo conto
mas quanto a mim
já não há rainhas assim
ou são belas mas de pescoço curto
ou se são com ar de girafa
são todas de má raça
para tranquilidade
dos seres de cauda anelada
Pater noster qui es in caelis,
sanctificetur nomen tuum,
adveniat regnum tuum,
fiat voluntas tua,
sicut in caelo et in terra.
Panem nostrum quotidianum
da nobis hodie,
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris,
et ne nos inducas in tentationem,
sed libera nos a malo.
Amen.
http://thebraganza.blogspot.com
Belo como sempre
Na República há casos assim
conforme a cor política dos olhos dos eleitos
Bj
E a rainha tinha na ponta dos dedos um gesto de ternura que os dois seres anelados partilhavam na cumplicidade de um enigma...
Sempre tão belo o que escreves e o que pintas, Manuela...
Uma boa semana.
Um beijo.
É unha ledicia descubrir este espacio onde se respira maxia, na pintura e nos textos.
Quedo por aquí a ler e a disfrutar de todo este arte.
Grazas e un saúdo
Pater noster qui es in caelis,
sanctificetur nomen tuum,
adveniat regnum tuum,
fiat voluntas tua,
sicut in caelo et in terra.
Panem nostrum quotidianum
da nobis hodie,
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris,
et ne nos inducas in tentationem,
sed libera nos a malo.
Amen.
http://thebraganza.blogspot.com
Pater noster qui es in caelis,
sanctificetur nomen tuum,
adveniat regnum tuum,
fiat voluntas tua,
sicut in caelo et in terra.
Panem nostrum quotidianum
da nobis hodie,
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris,
et ne nos inducas in tentationem,
sed LIBERA NOS A MALO!!!!
Amen!!!
http://thebraganza.blogspot.com
Olá Manuela
Que bom ler este conto acompanhado de uma bela música!
Seriam eles os lêmures? Gosto de vê-los a vaguear por sua ilha com suas caudas levantadas. Gostaria muito de ver tudo isso de perto um dia...
Beijinho e uma boa semana Manuela!
Bia
www.biaviagemambiental.blogspor.com
Adorei os desenhos pretos e brancos da Man'ela,
pretos e brancos acho que é mulato,
cada um representa com a imaginação com que vê,
há as outras, como eu, que não precisam de imaginação, levam com a realidade toda em cima, estes dias da penitência têm sido horríveis, eles agora vêem tudo nos programas da teresa guilherme, e depois vêm praticar para a rua, ouviram falar no dia dos mortos, a coisa que mais se lhes parece com os mortos é verem uma acamada, ainda por cima, eu que não me mexo, no escuro, pareço as salas de estar do Curry Cabral, não me lembro bem como foi, mas acho que eram dois irmáos, acho que nenhum dele era rainha,
era o Wilson e o Camané,
cada um deles com um pescoço de comprimento invulgar. Não tão longo como o pescoço das girafas, não tão desajeitado como o das avestruzes, mas quando atravessava os salões, a cabeça tocava nos candelabros, e sentada à mesa chegava ao prato,
o resto não conto, por que há senhoras por aqui, saí dali com vontade de rezar um padre nosso cada dia,
as irmãzinhas da segurança social viram-me tão abatida, tão cheia de olheiras e nódoas negras que acho que me querem levar outra vez a Fátima, quando vier o Papa Francisco, para ver se ele me esconjura ali o mal do corpo,
o mal de uns +e a alegria dos outros,
e lá irei eu para Fátima, aquilo é quase a minha toca, estar ali ou no quarto das arrumações é o mesmo, é da minha criação, felizes os tempos em que eu ainda andava,
agora que desabafei vou ler o seu conto que é lindo, felizes dos que escrevem contos, eu coitada só posso relatar esta minha triste realidade.
Bem hajam
Andam rainhas a saltitar pelas rochas do Mar Estoril,
o Mar da Palha, mais acima,
deslumbra-se em esplendores,
felizes os que viajam de olhar cimeiro
.
.
. em primeiro lugar . eu penso que a nossa Jacintinha deveria pedir apoio urgente à APARVA . Associação Portuguesa de Apoio Real à Vitima Acamada . :) .
.
. em segundo lugar . e relativamente a todos os Seus contos e desenhos . tanto livreco por aí editado sem qualquer conteúdo . apenas e só para sustentar temporariamente a tesouraria de "Editoras" sem nível algum ,,, enfim .
.
. íssimo feliz .
.
.
parecendo que não, ou que sim,
é bom ler isto :))
Bom dia, a rainha é amorosa, assim como tudo que escreveu, gostei de conhecer esta sua pagina.
A musica de fundo é suave e agradável, faz-me levitar.
Resto de boa semana.
AG
Ouvir Arvo Pärt "Spiegel im Spiegel" for Violin & Piano é perfeito.
Parabéns pela criatividade,Manuela,
o conto está muito interessante,
assim como as suas ilustrações.
Dias felizes.
Abraço.
~~~
Não há melhor maneira de começar um conto: era uma vez!
Para mais mete rainha e bichanos.
Será que posso dar a ler ou contar às minhas minorcas? Ou terei problemas com a SPA?
Agora vou eu dormir que ando com o alternador em obras.
Parabéns! É muito bom. De 20!
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