Os grilos são agora raros como os pirilampos. Excessivos,
o ruído e a luz. Em tudo o mais nada mudou, talvez a hera a romper os muros, a
força que tem.
Os bancos do jardim, vamos pintá-los de verde como a
hera. Fazem-me pena uns bancos assim, sólidos, pesados, perderem um grão de
tinta a cada chuva miudinha e ao estalar do sol e a ausência de um livro aberto
sobre a madeira gasta. Gastar é qualquer coisa que nos rói a pele e desenha na
face os veios do tempo, mas vamos pintar as faces e os bancos ainda este verão.
Sobre o telhado cresceram as ervas do campo e um casal de
pombos nidificou na chaminé da cozinha. Arrulham pasmados como sempre
arrulharam e será preciso convencê-los a mudar o ninho para o cume das
palmeiras mortas pelos escaravelhos. Ou talvez não. É um anseio dos homens e
das aves nidificarem abrigados do vento, próximo dos terrenos alagados onde
crescem os arrozais, virados para o azul do mar onde abundam os peixes. Por
isso vamos subir ao telhado, substituir as telhas, contar os pombos e dar-lhes
um nome, replantar as pequenas árvores e tudo isto antes das tempestades do
equinócio ainda este verão.
Com galhos e cordel cinzento, preparamos o poleiro dos
pássaros vadios e o comedouro das sementes e o alguidar de esmalte a transbordar
de água e estou certa que ele vai regressar, o pássaro de muitas cores, e estilhaçar
o ar da madrugada com o seu canto. E já que acordarei tão cedo nesse dia, serei
eu, uma caneca de café e o último dos morcegos da noite ou o primeiro da antemanhã
e a humidade em uma camada fina.
Não quero que me chamem. Tenho ainda de limpar os
morangueiros, cortar-lhes os estolhos e certificar-me das marés e das fases da
lua. Dar banho ao cão. Não fossem os estolhos e esta camada fina, ainda este verão.
31 comentários:
Dás banho ao cão, dás...
kriu?
Sobe ao telhado que eu e a ki.ti dizemos-te!
Para quem não tem asas, apenas bico, arriscas-te demasiado...
Kriu!
este mundo entregue aos bichos, seria um lugar muito melhor!
o cão, só aparece de vez em quando e não toma banho e aos telhados, subo eu
safa-se o pássaro gordo, dando um desconto às cores de rebuçado anos sessenta
MANUELA BAPTISTA
Que belo, meu amor, que belo ...!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 31 de Agosto de 2015
Ainda este verão (e nas demais estações), voltarei cá para a ler mais e mais! :)
Beijinhos, boa semana!
Teus textos remetem-me para a infância
para uma quintinha, com o Tejo ao fundo
de onde guardo
as melhores recordações deste mundo.
É verdade
Minha avó Mariana dava um nome a cada pombo
E era no verão, sob o odor dominante do café,
que dava banho ao cão
E não eram raros
nem os grilos nem os pirilampos
nem as cigarras
(prometes que um dia ainda me falas das cigarras?)
Gosto de a ler nestes textos tão vivos que mexem com cada momento do nosso dia
Peço desculpa das minhas ausências. Foram meses difíceis com o casamento do meu filho.
Lentamente vou regressando ao convívio dos meus caros amigos da blogosféra.
Boa noite, Manuela. Ainda este verão hei-de voltar à infância que inventarei com as tuas histórias de encantamento.
Um beijo.
Eu entendo a vontade dos arranjos, a falta do canto dos grilos e da luz do pisca-pisca dos pirilampos. Aqui, também temos arranjos constantes e a falta das mesmas coisas.
Não me vou esquecer de comprar mais casinhas para os pássaros.
Que bom ter regressado Manuela!Pois é muito bom ler as suas crónicas e contos e fábulas e tudo!
Beijos,
mz
Minha querida amiga Manuela Baptista, peço desculpa das minhas ausências. Foram meses difíceis com o casamento do meu filho.
Já está um homem e decidiu casar com outro homem. É um senhor de Rio Tinto, industrial e muito bem na vida.
Olhe, não podemos ser esquisitas com os genros e genras. Daqui a meia dúzia de anos eles assentam, a levar na peida de estranhos em zonas pouco iluminadas. E lá em casa reinará a paz do Senhor...
Foram meses difíceis com o casamento do meu filho.
Agora ele já não faz broche ao pai como fazia antes. Diz que isso é incesto. Nem chupa minha buceta gostosa. Estou carente
Na próxima viagem ao Brasil eu vou com a minha querida amiga também.
O Luis Prata vai gostar de nos ver as duas juntas... kkkkk
(prometes que um dia ainda me falas das cigarras?)
escreve-me quando quiseres
latino_ferreira@sapo.pt
e vem ao nosso http://thebraganza.blogspot.com
descrever teu corpo
pintar tua alma
estórias de encantar com todos os pormenores e não podia deixar esquecer dar banho ao cão...
beijo
:)
Que belo, Manuela!
Uma pessoa assim só pode ser como o sol da manhã.
Mas eu quero é que chegue a noite, sentar-me no "arrebato" de tua casa e pedir: conta mais, conta mais...
Se quiseres ajudo-te a pintar o banco cor de hera tal qual era.
Bj
Um texto que revejo aqui ao vivo
quase na totalidade
porque aqui os cães tomam banho
na rega automática
à míngua como eu dos belos relâmpagos
Bj
.
.
. ainda este verão . e tão breve e já gasto e o outono a predizer o inverno e mais um ano que finda .
.
. conforme o tempo vai passando . findam os anos cada vez mais rapidamente . e de repente já estamos gastos e gasto o tempo que passou por nós . ou nós pelo tempo . nesta que é a maior das incertezas tão certas .
.
. um dia . já não estaremos aqui . mas aqui e por aqui e também por aí estarão as palavras que nos fizeram neste . e noutros dias . sonhar .
.
. íssimo . das cores dos rebuçados dos anos sessenta . :) . e sempre feliz .
.
.
Adorei o texto, apesar de neste início de setembro frio já ter de puxar para as clavículas o meu tricot rosa velho, quem diz que as artroses não tem terminações nervosas está muito enganado, doi-me tudo e todas as maneiras, como dizia a Flor
Espan
Cadela,
au,au, quando nervosa marchava para a braguilha do irmão, que era o homem que tinha mais perto. Quem me dera que arrulhassem pasmados como sempre arrulharam e pudesse convencê-los a mudar o ninho para o cume das palmeiras mortas pelos escaravelhos, ele sabem lá o que é uma palmeira morta, morta ou viva, o sonho era porem-me de pé, e encostarem as vértebras ao tronco, no estado em que eu estou, ficava com cada osso encravado em cada anel de crescimento, e tenho muitos que, em 100 anos, uma aleijada está cheia de anéis de crescimento, o verdadeiro problema é que eles preferem o meu ninho a amarinhar para o topo da árvore, benzó deus, vou ter refugiados a taparem-me a luz do sol, senhor, deixai-me ao menos respirar, tenho de aprender qualquer coisa com as baleias, e já estou a ver este calvário antes do equinócio, durante o equinócio e depois do equinócio. Olhe, adorei o passarinho, pena ter a boca descaída, senão até fazia piu, piu.
SIM! Vamos subir aos telhados e ver como vivem os pássaros, observar a chuva chegando e conversar com os pombos.. e se a maré estiver baixa, corre pela praia sem destino! Viver em harmonia com a natureza, tudo de bom!!!
Um beijinho Manuela e que bons ventos levem suas palavras a todos os cantos
Bia
www.biaviagemambiental.blogspot.com
Kriu?
Vendo próteses de pares de pernas com patas e unhas para pássaros de pequeno porte em bom estado!
Kriu!
Quem é a senhora que está a afinar o violoncelo lá em baixo?
é a Jacqueline du Pré, mas está só a fingir que toca...
~~~
~ Um modo atarefado e interessante
~~~ de despedir-se deste verão...
~ O violino está muito nostálgico!
~~ O outono também é muito belo.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
~~~ Dias felizes. ~~~
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Um fim de verão calmo e sereno com a nostalgia outonal.
Belo como sempre.
bjs
.
.
. e . ainda . esta página . ainda . (.e.não.des.fazendo.) . :) .
.
. comprei desodorizantes em promoção para a menina.Senhora.dONA.manu.ela.de.elo . para que possa construir muitas páginas como esta . sem a inconveniência dos anões . :))) .
.
. íssimo feliz .
.
.
ainda, ainda e ainda
mas com esta oferta, sabemos lá
:)))
http://www.rtp.pt/noticias/saude/um-quinto-dos-portugueses-sofre-de-perturbacoes-mentais_n787306
Não estamos sós...
... e a Jacintinha?
E a Jacintinha?
Onde está o desodorizante da acamada?...
Eu sei que as santas não têm cheiro, mas pensem na coitada, nada mexe, nem a anca nem a asa, pudesse eu ser desodorizada, e fazer a dança da narina, coisa última que resta
à acamada
Uma boa semana
Belo, Bjbj Lisette.
O último dos morcegos da noite
it sounds good :-)
Quando dorme o último verão, os sons da noite mergulham na neblina, e a neblina anuncia o sono das coisas
Sou assim desde pequena. Espalho angústia, transmito desassossego...
a minha mãe chamava-me
Flagelo !
Sombria e fria criança que eu era.
Manuela, lembraste-me tanta coisa para fazer, ainda este verão, como limpar os morangueiros, arrancar as ervas dos vasos, cortar as rosas velhas e as hortenses, ah| quero ainda semear nabiças para uma sopa rápida quando os netos aparecem sem avisar.
Como é agradável ler-te e ver os teus desenhos. Obrigada.
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