Não me saiu bem. Eu queria uma sombra miudinha, um chapéu
a dançar sobre a cabeça, um movimento acelerado de quem está feliz assim, numa
gabardina cinzenta.
Fechei o caderno, tapei-a com papel esquisso para não
borrar, ela protestou, tira-me daqui, sufoco. E pontapeava as folhas com as
botas azuis, birrenta e teimosa. Eu fiz ouvidos de criador.
Esqueci-me dela, até que um dia me faltou o sal. E os
cavalos marinhos e os peixes, as anémonas e os caranguejos e os oceanos que
conheço, mas sobretudo os que nunca vi.
Lembrei-me dela e acordei-lhe o sono de chuva fraca,
dei-lhe um saco de pôr ao ombro e disse-lhe, vem daí esconjurar a fraqueza da
primavera. Vamos à praia, morrinho de saudades de sal.
às vezes as ondas parecem aves a voar
23 comentários:
... e quando eu vi aquele gato, ao espelho, pintado pelo Bush, lá pensei: temos um ilustre (e néscio) visitante do ultramar a visitar as magníficas pinturas da Manuela,
cruzes, canhoto :-)
MANUELA BAPTISTA
Bravo!
( a Ki.Ti, a esta hora é que se deve estar a borrar de contentamento )
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 6 de Abril de 2014
está bem, mas agora acho que te faltam 100 g de pimenta...
cruzes canhoto mesmo! se o Bush me pintasse estragava-me toda
e
uma gata com pedigree nunca se borra, ora essa
Kriu?
Ir para a praia de gabardina faz-me lembrar aquele anúncio do iogurte...
Kriu!
Na semana passada faltou-te foi o peixe, não foi ki.ti?
Olá,Manuela!
E oxalá que o esconjuro resulte. E que não tenhamos mais que matar as saudades de mar vestidos numa triste gabardina cinzenta...tão a condizer com esta Primavera.
Bom restinho de Domingo, com um abraço.
Vitor
As botas azuis pisaram a praia ou ficaram-se pelo saco ao ombro,à espera de que há de vir?
A aventura promete. Diz-se que esta semana tem areia nas botas.
morrinho as saudades de sal
com as lágrimas que me apetece chorar
diz-me, depressa, que praia é essa!
Gosto destes pedacinhos de suposta prosa...
Gosto deveras.
Gostei do seu poema
em lágrimas de sal
Por isso ontem o meu peixe tinha sal a menos... eheheh...
Mais uma excelente história, gostei.
Manuela, tem uma óptima semana.
Beijo.
Cem gramas de sal... uma bela flor azul que emerge do chapéu de chuva e sol - da Manuela - e uma deliciosa prosa poética, é tudo o que alma precisa para acordar a esperança... Lindo como sempre :))
O Inverno tem sido longo, mas a Primavera acaba sempre por voltar aos nossos corações...
Beijinho e boa semana :)
Esta primavera...falta-lhe sal e espero que tenhas mesmo esconjurado esta apatia que não se percebe bem de onde vem...
Adoro o que escreves e..os desenhos que pintas que me fazem sonhar.
Beijo
Graça
Não sei o que diga, Manuela. Fico sem palavras para o teu talento de pintar e de escrever. Comovo-me sempre com estas histórias tão cheias de ternura... Bem hajas.
Um beijo.
Hoje já não faltará sal...
Mas deu para mais um post
maravilhoso.
Bj.
Irene Alves
Kriu?
Ai a primavera e o pólen das armindas do campo...
Kriu!
As armindas do campo são bolas sem creme, nem com borrifos lá vão...
o sal que (não) faz (muita) falta, referindo-me às lágrimas...
a imagem é lindíssima e em tons de azul, como eu gosto!
:)
Aqui de novo para lhe desejar
um bom fim de semana.
Bj.
Irene Alves
Ainda bem que se lembrou dela! Posso ir com vocês à praia? :)
Boa semana, um abraço
Eu sou como ela, se não saio, sufoco.
E aí vou eu e regresso com a boca a saber a sal.
Saíu-lhe bem, Manuela.
Abraços
E as ondas são mesmo aves a voar :)
Belo!
Bjs
Olá, Manuela!
Deixei um pequeno presente no link abaixo! :)
http://instantaneospretobranco.blogspot.pt/2014/04/um-presente-recebido-presentes.html
Boa Páscoa!
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