Sentamo-nos no chão, abrimos o saco de pano onde a avó bordou a ponto cruz as letras do nosso nome e contamos quantas nozes, amêndoas e tangerinas doces.
Depois com uma faca velha e gasta, limpamos a lama dos
sapatos e entramos em meias pela porta da cozinha. Nesse instante o avô Joaquim
acena-nos um adeus junto do portão mas nenhum de nós o vê e nem é para ver,
basta saber que cheirava a tabaco de cachimbo e usava camisas de algodão
branco. As senhoras dos retratos parados nas cómodas e nas escrivaninhas
esboçam um sorriso e ajeitam o cabelo e o fecho do brinco da orelha esquerda ou
o anel, mas este caiu no naperon, que é uma palavra antiga como elas.
Neste dia fazemos um bolo de mel e nozes, porque
aprendemos a ler em ponto cruz e a enumerar tangerinas.
Lá fora os ursos de sono leve mal cai novembro e
hibernam nos ocos das árvores, os esquilos e os sacos de pano cru.
18 comentários:
Kriu?
Um dia destes, ao voar da cozinha para a sala, também preguei uma nódoa no naperon... E olha que nem o martelo levava comigo, mas, por vezes, sucedem-me situações deveras estranhas, às quais sou, entretanto e no entanto, totalmente alheia...
Os pontos, de fato, aprendi-os com o Cruz! Irra, que não te escapa nada...
Kriu!
Para o sono leve existe agora o Angelicalm e se serve para o pessoal, também servirá para o animal!
Há ursos que o tomam, e tu, como delegada de propaganda médica de última hora, contribuis também e de sobremaneira para o sucesso da economia paralela!
Beijinhos, Manuelazinha querida!
MANUELA BAPTISTA
Hibernam ...
... mas a memória, com eles vive!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 2 de Outubro de 2013
.
.
. a.novembro.me então neste [en]canto Seu . onde já cheira a quase Natal .
.
. e todo o texto é um esplendor de memórias idas . que hoje me comovem . e me fazem vacilar . perante um passado . o qual não esqueço . este presente . que faço por não me lembrar . e um futuro que não desejo . assim .
.
.
. íssimo . sempre feliz .
.
.
Não sei, mas esta forma tão intima de partilhares estes fazeres e lugares dá-me a impressão de que sou teu irmão...
(assim se sintam todos)
Olá, Manuela!
Doces e bem cheirosas memórias, estas; que após tanto tempo hibernadas, agora despertam...
E a mim soube-me lindamente ler mais esta bonita história.
Bom fim de semana; um abraço.
Vitor
Um saco bordado a ponto cruz mas o melhor são as recordações e os doces que enchem o saco.
Gosto de me sentir parte desta leitura e saio sem pressa.
Ler em ponto cruz
Belíssimo
este cerzir de palavras
Huuummmm, bolo de mel e nozes, que delícia! Correr livre, sujar roupas e sapatos....me lembram a infância
Um beijinho, Manuela
Bia
Esse saco de pano traz-me memórias, Manuela...!
Um abraço e boa semana!
Hummm, tanta coisa boa!
O que se vê, o que se cheira e o que se come.
Coisas de família, em sacos de ternura.
Pequenino e lindo numa hibernação perfeita.
Um abraço e boa semana.
Tantas memórias boas neste
mágico Novembro.
Bj.
Irene Alves
Ouso dizer, que vi a mim mesma em tuas linhas. Foi como entrar em casa de novo e acompanhar o aceno de mio nono. Parece que escreveu sobre aquela menina que sorri e acena enquanto o comboio parte me levando de volta para a realidade dos dias seguintes. Lindissimo.
bacio
Que seria de nós sem o poema?
Almas aprisionadas em gestos desumanos, rumando sem luz e sem norte, definhando sem nada que as salvasse.
Que bom que é ser-se tocado por um poema!
Um beijinho
Kika Poetesa :)))
há uma (in)quietude que me aquieta a cada forma interrogativa, a cada silaba. e, sem como, e sem palavras que não maculem a beleza deste texto,
parto...
fica um ENORME bem-hajas, Né
beijo daqui
Té
Aqui sempre rememoro a minha infância, pela similitude de alguns personagens e cenários. Tem cheiro de saudade! Eu gosto dessa saudade...
Deixo um beijo e um abraço, Manuela.
Lúcia
Mais um belo momento literário.
Excelente.
Manuela, tem um bom domingo e uma boa semana.
Beijo, querida amiga.
gosto, gosto!
:)
PS:acho que por vezes gostava de hibernar.
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