decorrente


Há um momento em que precisamos dilatar o tempo, atordoar as palavras acostumadas, coladas à nossa forma de escrever e empreendermos uma viagem que começará mais cedo e terminará quando tiver estrutura, matéria complexa, textura.

A humildade não é um valor deste mundo formatado, anexado à vaidade, em busca de uma perfeição corpórea que não incomode, antes envaideça, que navega à superfície onde é sempre mais fácil respirar. É como se buscando um modelo nas asas de um pássaro, desenhássemos uma lagarta das couves. Não interessa a poesia serôdia da vida das borboletas, a maioria das lagartas devora as couves e as couves deixam-se devorar. É confortável acreditar que tudo é belo, marítimo, desatinadamente compensador.

O melhor escritor é aquele que não escreveu nada, porque tem todos os livros em aberto. E se necessário for, enfeitamos os pinheiros de natal em fins de Junho, Julho ou até Janeiro, todos os meses são bons se começam primeiro.

A lua no céu é um vaguear obscuro de verão quente e falaremos de uma aldeia perdida entre cinco montes e um vale, as casas têm telhados de quatro águas, o sino é de bronze, três são os rios, dois são os seios de uma mulher.

E vem comigo quem quiser.



decorrente
diz-se da folha cujo pedúnculo desliza ao longo da haste em quase todo o seu comprimento

fotos de mb





37 comentários:

. intemporal . disse...

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o
r
g
u
l
h
o
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m
e

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. _____________ de Si .

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. tanto . tanto . tanto .

.

. íssimo . humilde . simples e ampla.mente feliz .

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António Gallobar - Ensaios Poéticos disse...

Um texto fantastico, bem convidativo, que até tem um telhado de quatro aguas... e o que será um telhado de quatro aguas pergunta o comum dos mortais. Tens que ler mais... tens que ler mais!

Parabens desculpe a brincadeira
Abraço

Jaime Latino Ferreira disse...

MANUELA BAPTISTA


Decorrente do que escreves quando escreves sobre o melhor escritor ...

... provavelmente, o melhor escritor, sendo aquele que não escreveu nada, não o escreveu porque se escrevesse tudo o que gostaria ... nunca o conseguiria escrever ...!

E vou contigo, concerteza!


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 17 de Junho de 2011

Carlos Ramos disse...

Dilatamos o tempo até que a poesia estremeça pela ultima vez.

Kika disse...

Auf!

Eu vou contigo... nas condições do costume!

Auf!

Auf!

Mel de Carvalho disse...

Ó minha querida Manuela,
humildemente lhe peço, por favor, deixe-me ir consigo. Ensine-me a acreditar sempre na beleza das coisas simples. Fiquei presa aos jarros - dantes tinha aqui em casa. Eram das flores da minha mãe, tinha sido esse o bouquet de noiva que escolheu. Fosse pelo que fosse, quando faleceu, os jarros definharam e morreram ... Comoveu-me.

Beijo
Gratidão, sempre.
Mel

Eva Gonçalves disse...

Eu quero manuela! Sempre que puder!
Quase que este texto se encaixava no meu desafio, sob o título "as if I could write" :)Por outro lado, não há dúvida nenhuma, :)) texto ligeiramente diferente do costume, é verdade, mas igualmente sublime... Grande beijinho

antonio ganhão disse...

Eu aceito o convite e mergulho, incondicional, nesta escrita.

Unknown disse...

e quem assim diz... sabe exactamente o que quer e não quer, porque a lucidez, são uns olhos dilatados no tempo, que sabem olhar em todos os sentidos, e a humildade, um par de asas que se oferece ao nosso melhor amigo, e dizemos: "anda daí, porque isto sem ti, não tem graça nenhuma!"

por isso, eu vou consigo, Manuela!

beijo grande

Walter

Linda Simões disse...

Eu também vou, Manuela.

De olhos fechados,abertos... Viajar nas asasdo tempo,atravessar oceanos...
É confortável.

E tomem lá um abraço,amigos


Beijinhos

Nilson Barcelli disse...

Um conjunto de pensamentos notavelmente escritos.
Gostei de ler.
Minha amiga Manuela, tem um bom fim de semana.
Um abraço.

Anónimo disse...

E assim, na humildade das coisas e na grandeza dos voos, nos deixamos ir consigo.

Eva Gonçalves disse...

O prometido é devido... Including the kitchen sink is proud to present Histórias com mar ao fundo Hope it meets your approval :)) Beijinhos

manuela baptista disse...

Eva

yes, i'm proud!

Petrus Monte Real disse...

Estou emocionado com a beleza das palavras e a riqueza das ideias.

Dizer o que nos vai na alma, ser fiel à palavra. É difícil...

Sinto que o texto e a imagem nos transmitem o significado da complexidade do escrever e viver com "coluna vertebral"...
tudo em tonalidades de verde... o que significa esperança, como pano de fundo.

Boa semana.
Um abraço

Branca disse...

Eu vou, eu vou.

Gosto de telhados de quatro águas e sinos de bronze, daqueles que se ouvem ao longe na aldeia e assinalam as horas e todos os acontecimentos, também gosto de rios e três ainda melhor, gosto da humildade, coisa tão difícil, mas boa de se encontrar e gosto de tudo o que li aqui.

Gosto, gosto, gosto.

Beijinhos.
Branca

Sopro Vida Sem Margens disse...

" Há um momento em que precisamos dilatar o tempo, atordoar as palavras acostumadas.." e, nesses momentos as imagens trémulas passam por nós como cortejos sonoros de seda onde o luar são ideias incuráveis da noite..*

Excelente prosa!

Um beijinho
da
Assiria

alegria de viver disse...

Olá querida amiga

Algo acontece e tem uma consequência, para mim é mais um belo texto, e assim saio mais uma vez feliz e, ricamente beneficiada, como um sonho bom.

Com muito carinho BJS.

Glorinha L de Lion disse...

Querida Manuela, o que posso falar de ti e de tuas palavras? Nada, pois está tudo dito e desenhado e fotografado com a arte que tens no olhar...lindo....beijos,

Kika disse...

Auf!

Vinte! Vinte croquetes e uma copaça de tinto!

Auf!

Auf!

manuela baptista disse...

a festa, não é exactamente aqui Fézada

vou reencaminhar a tua mensagem


és o cãomailindo da blogosfera!

Unknown disse...

Se descobrir como se alonga o tempo conte-nos . Preciso de alongar todo o tempo de amor e paz.
O tempo dos carinhos e beijos dos nossos meninos.
É urgente alongar o tempo.........

manuela baptista disse...

está bem Luís

se eu descobrir, conto-lhe o segredo...

Graça Pereira disse...

Manela
Alongar o tempo para quê? Talvez para encontrar as palavras certas que nos levariam longe, a um outro tempo onde encontrassemos a nossa dimensão: tão grandes e tão pequenos!
Há mistérios não desvendados, das lagartas e das couves, da vida das borboletas e a razão pela qual o pinheiro de natal se enfeita em Dezembro.
Nesta grandeza e pequenez confundem-se, como a luz e as trevas se misturam no crepúsculo, e já não distinguimos com clareza e segurança os passos que temos de dar para encontrar as casas de quatro águas.Resta-me a esperança que o sino toque e eu entenda aonde estou e...para não me perder, vou com certeza, contigo!
Beijo
Graça

OutrosEncantos disse...

já te li mil vezes, Manuela...
[acho que já gastei meias solas, lolll...]

gosto desse jarro branco e da delicadeza com que poisa na folha decorrente e verde. e gosto dessa ideia de dilatar o tempo e atordoar as palavras...
a humildade, as asas de um pássaro no desenho de uma lagarta que devora couves e elas deixam...
o melhor escritor...

parece-me bem que não há melhor escritor que tu..., essa é que é essa!

e sim, eu pego boleia e vou contigo também, que este meu vicio de, para tudo querer uma explicação, morde-me os neurónios... rsss...

misteriosa esta tua história :)

beijo :), até logo.

Graça Pires disse...

Há momentos em que nos interrogamos por que motivo continuamos a escrever. Depois passamos por aqui e lemos: "A lua no céu é um vaguear obscuro de verão quente e falaremos de uma aldeia perdida entre cinco montes e um vale, as casas têm telhados de quatro águas, o sino é de bronze, três são os rios, dois são os seios de uma mulher."
Então entendemos...
Um grande beijo, Manuela.

Mª João C.Martins disse...

Vou consigo, Manuela!

Sei que vou por aí...
Sei do desconforto e, talvez por isso, acredito nas palavras que não se escreveram ainda, naquelas que jamais se escreverão e repousam no cimo dos pinheiros à espera dum céu que as precinta, como estrelas de brilho imenso em todos os dias, de todos os meses, de qualquer um dos anos que comecem primeiro.

Vou consigo... claro que sim!!


Um beijinho grande

Silenciosamente ouvindo... disse...

Eu gostaria muito de ir consigo...
Eu gosto muito de aprender consigo...
Eu gosto muito de silenciosamente
refletir nos seus textos.
Obrigada por tudo isso.
Bj.
Irene

Kika disse...

Auf!

"Decorrente" não gosto pois magoa-me o pescoço!

Prefiro-a de cabedal castanho lustro com fivela prata mate e uma gravação a baixo revelo em toda a sua extensão onde se possa ler:

"Fézada - o melhor cão do mundo"

Auf!

Auf!

AC disse...

Manuela,
Apesar da obviedade dos conceitos (um óbvio restrito a alguns, infelizmente) todos nós precisamos de âncora para equilibrar esse barco. E, se me permite, eu quero navegar nele, fazer-lhe companhia...

Beijo :)

Anónimo disse...

Cadê o ganso esvoaçante que ontem esteve aqui quase a atingir a lua ou a tê-la como pano de fundo?

É tão atemporal... e mais vale de perfil do que de costas...

Um beijinho de quem? de quem?

D`o Rasteirinho, pois claro!

manuela baptista disse...

eu não acredito...

já não se pode rasar as marés descansadamente

ou dançar na lua

manuela baptista disse...

um beijinho Rasteirinho!

quantos olhos tens, que não dormem nunca...?

mb

manuela baptista disse...

agradeço-vos

a corrente de comentários em todo o comprimento desta folha!

manuela

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

mais um texto repleto de graciosidade e talento.
frases perfeitas.
fotos muito boas.
beij

manuela baptista disse...

obrigada Piedade

um beijo

manuela

Pássaro Notívago disse...

Teus textos estão lindos!!!

Venho aqui e não sei achar palavra para elogiá-los. Mas como dizem que o silêncio é um dos maiores elogios à literatura, sinal de que estamos nos tornando parte do texto, trago-te aqui o meu silêncio em elogio ao que dizes!

parabéns!
Beijos!