Tinha a transparência de um fio de água na gelada madrugada e nascente é o sol que ainda não está.
Concentrado no olhar aquilo que sabia, era na interrogação dos lábios que a curiosidade se manifestava e o desejo de tocar o desconhecido enchia-lhe a cabeça de perguntas e ela girava como um moinho de vento, os panos soltos e o eterno chiar das cordas e as nuvens de farinha a cobrirem as formigas e os gafanhotos.
Morava no cimo de um monte, numa casa de madeira com duas portas, cinco janelas e um sótão com duas outras mais. A lareira era no meio da casa, a cama colocada ao seu lado direito, à esquerda a mesa da cozinha e o armário dos pratos estava onde quisesse estar.
O sótão era o lugar onde espreitava o mar tão ao longe, que poderia duvidar da sua existência, mas não o faria, porque o ouvia perfeitamente na calma das marés e no turbilhão das tempestades.
Se o vento uivava, o cão chamado Estrela uivava com ele e o rapaz ria-se do vento e do cão e saíam os dois a correr, os cabelos em pé, a cauda a abanar.
Concentrado no olhar aquilo que sabia, era na interrogação dos lábios que a curiosidade se manifestava e o desejo de tocar o desconhecido enchia-lhe a cabeça de perguntas e ela girava como um moinho de vento, os panos soltos e o eterno chiar das cordas e as nuvens de farinha a cobrirem as formigas e os gafanhotos.
Morava no cimo de um monte, numa casa de madeira com duas portas, cinco janelas e um sótão com duas outras mais. A lareira era no meio da casa, a cama colocada ao seu lado direito, à esquerda a mesa da cozinha e o armário dos pratos estava onde quisesse estar.
O sótão era o lugar onde espreitava o mar tão ao longe, que poderia duvidar da sua existência, mas não o faria, porque o ouvia perfeitamente na calma das marés e no turbilhão das tempestades.
Se o vento uivava, o cão chamado Estrela uivava com ele e o rapaz ria-se do vento e do cão e saíam os dois a correr, os cabelos em pé, a cauda a abanar.
Era um cão bom, ligeiramente atarracado, o pelo rijo e forte da cor do mel com pinceladas pretas, as patas potentes e o olhar meigo de conquistar corações.
Ninguém se lembrava da chegada do rapaz e muitos brincavam, dizendo que seria de um outro planeta, mas este facto não tinha a menor importância porque também já ninguém se lembrava de como era a sua vida antes de ele ter chegado. Não lhe perguntavam nada e ele não respondia, porque calado era e gostava de o ser.
Jacinto e o cão iam à escola às segundas, quartas e sextas, porque sabiam ler e escrever e contavam às crianças as histórias de quando não tinham amigos e uma casa de madeira no cimo de um monte e o cão ainda não era cão, mas uma estrela no firmamento. Uma noite, caíra desajeitadamente em cima da orelha esquerda do rapaz que disse baixinho au! O cão Estrela respondeu au! au!
Ficaram amigos e era desse ouvido, que o rapaz conseguia ouvir as vozes dos habitantes secretos das árvores e dos quintais, o sussurro da canção das mães que embalam os filhos e o pensamento dos homens quando estão tristes.
Nessas alturas, guardava as terças, quintas e sábados para apanhar malmequeres e fazer pão e partilhava-os com os vizinhos.
Depois, ao crepúsculo, Jacinto gostava de ver a noite chegar e o cão Estrela matava as saudades do céu. No chão húmido do cimo do monte, deitavam-se em frente à casa de madeira e o rapaz pousava a cabeça no dorso do cão e o mel dourado dos cabelos de um, confundia-se com o castanho e preto do outro.
E eram os dois lados da mesma face.
Ninguém se lembrava da chegada do rapaz e muitos brincavam, dizendo que seria de um outro planeta, mas este facto não tinha a menor importância porque também já ninguém se lembrava de como era a sua vida antes de ele ter chegado. Não lhe perguntavam nada e ele não respondia, porque calado era e gostava de o ser.
Jacinto e o cão iam à escola às segundas, quartas e sextas, porque sabiam ler e escrever e contavam às crianças as histórias de quando não tinham amigos e uma casa de madeira no cimo de um monte e o cão ainda não era cão, mas uma estrela no firmamento. Uma noite, caíra desajeitadamente em cima da orelha esquerda do rapaz que disse baixinho au! O cão Estrela respondeu au! au!
Ficaram amigos e era desse ouvido, que o rapaz conseguia ouvir as vozes dos habitantes secretos das árvores e dos quintais, o sussurro da canção das mães que embalam os filhos e o pensamento dos homens quando estão tristes.
Nessas alturas, guardava as terças, quintas e sábados para apanhar malmequeres e fazer pão e partilhava-os com os vizinhos.
Depois, ao crepúsculo, Jacinto gostava de ver a noite chegar e o cão Estrela matava as saudades do céu. No chão húmido do cimo do monte, deitavam-se em frente à casa de madeira e o rapaz pousava a cabeça no dorso do cão e o mel dourado dos cabelos de um, confundia-se com o castanho e preto do outro.
E eram os dois lados da mesma face.
este é um conto que se quis de um outro mundo fácil de gostar
desenhos de mb
27 comentários:
MANUELA BAPTISTA
Cão de outra face
porque não
a cara do rapaz
o seu quinhão
Sonho por um lado
de Verão
de estrelas firmamento
sem ter chão
Lindíssimo!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 4 de Fevereiro de 2011
Que bom ter um sótão onde se adivinha o mar ao longe. Que bom ter um cão chamado Estrela por companheiro e ser com ele a face de uma só moeda.
Lindo Manuela( como sempre)
Gostei
Beijinhos de mel como os cabelos do Jacinto
A Manuela tem um pote de mel num canto do coração que partilha com os amigos. Depois conta-lhes os segredos do vento, os nomes dos peixes, com quantas voltas se faz a amizade...
Beijo :)
Saudades de um tempo em que possámos voltar a ser "estrela no firmamento"!?...
Também gostava de ter um sótão assim, guardador de pérolas em banho de mel, mais ainda, com vista para o mar!...
Beijinho e um bom fim-de-semana!
sempre este olhar sonhador terno e doce, sobre um mundo que é tão fácil de gostar...
e eu gosto do seu mundo, Manuela...
tem a dimensão exacta do meu sonhar!
porque hoje é sábado, dou-lhe um beijinho, um raminho de malmequeres e um pãozinho acabadinho de cozer... aceita?
Walter
Mais um belíssimo conto.
Gostei imenso, querida amiga.
Bom fim-de-semana.
Beijos.
Manuela,
Este mundo é mesmo tão lindo e fácil de gostar! Eu tive um sótão de onde já não via o mar, nem as estrelas e uma lareira que não era tão linda como esta, porque basta ter uma casa de madeira no meio do monte, um cão chamado Estrela e um armário com pratos que anda por onde se quer, uma cama do lado direito da lareira e um coração grande para ouvir o som das ondas e sentir o cheiro a maresia.
Basta que existam dois lados da mesma moeda para nascerem malmequeres e campos floridos.
[Até já, vou apanhar malmequeres]
Beijos
Branca
.
.
entre os dedos, seguro o teu fino fio de ouro, como se tocasse a pele do teu pescoço.
há o céu, a casa, o quarto, e tu estás dentro de mim.
estás tão bonita hoje.
[José Luís Peixoto]
.
.
. e hoje,,, .
.
. somos os dois lados da mesma face . na inter.face de todas as emoções .
.
. muitos parabéns mANU.ela.de.elo .
.
. no dia de agora .
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. íssimo .
.
. total e feliz .
.
.
Por aqui também se mandam uma mão cheia de momentos felizes para este dia
Beijinhos de parabéns, Manuela
Filomena
E o que faziam aos domingos?
E depois de todas as festas por onde passei termino o dia nesta casa, onde os últimos raios de sol ainda brilham festejando uma menina do mar.
[Só me falta o bolo, :)]
Que o dia tenha sido pleno de luz e amor e que o sejam todos que se seguem.
Beijos
Branca
Olá linda amiga
Gostei desta casa no cimo do monte e para lá me transportei. Agora está difícil voltar, começo a pensar porque tenho que sair.
Obrigada mais uma vez por me fazer sonhar.
Lindo coração, com mãos de fada que escrevem e desenham.
Com muito carinho BJS.
aos domingos
davam grandes passeios
e repartiam croquetes acabados de fritar
o bolo era de ovos e farinha e o chocolate lambia-se da taça até fartar
depois
davam um abraço aos amigos e agradeciam
eram bonitos estes dias!
manuela
Manuela!
Não sei se chego a tempo de lhe dar os parabéns, mas deixo um longo abraço e congratulo-a, não só pelo aniversário mas por tudo que acabo de aqui descobrir.
Voltarei.
Beijo
Ná
O caminho era longo: mas caminhavam juntos!
O caminho era difícil: mas ajudavam-se mutuamente!
O caminho era semeado de alegria: dividiam a casa no alto do monte!
O Jacinto deu-me a mão para me ensinar o lugar mas, chegámos só a estas horas porque, o Estrela decidiu apanhar todos os pontinhos do céu, tantos como os anos da Manuela(era o nosso segredo) para que quando cantassemos os Parabens, todas as estrelas se acendessem!
Mil beijos de Parabens!
Graça
Teremos chegado a tempo?
Ná e Graça
a tempo chegaram,
ainda é hoje sendo amanhã :)
um beijo e obrigada
manuela
Eu cheguei agora para dar-te um bejinho de parabéns pelo aniversário
Para dizer-te que és uma amiga querida
Para abraçá-la hoje sendo amanhã
Para saber se o bolo foi de chocolate com morangos :))
E para dizer que estás no meu coração
Abraço grande
.
.
. íssimo feliz . íssimo feliz .
. íssimo feliz . íssimo feliz .
. íssimo feliz . íssimo feliz .
. íssimo feliz . íssimo feliz .
. íssimo feliz . íssimo feliz .
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. [18x2] .
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"...e o rapaz pousava a cabeça no dorso do cão e o mel dourado dos cabelos de um, confundia-se com o castanho e preto do outro"
Lindíssimo. Absolutamente maravilhoso.
Manuela no melhor que a vida nos dá quantas vezes fundimo-nos enquanto pessoas que se dão em sentimentos de ternura numa sintonia tão perfeita.
Olá...
Será que ainda há esse bolinho de chocolate e morangos...bem sei chego um pouco depois do que devia
PARABÉNS Manuela..!!
Muitos mais dias de encanto, de Vida sentidamente vivida e sempre sempre com muita Saúde.
E num abracinho amigo, deixo duas mãos de beijinhos de muita ternura.
dulce
Manuela
O menino a correr com o cão e os meus pensamentos a voar por aí...
É sempre um encanto passar por aqui!
Bia
www.biaviagemambiental.blogspot.com
Linda e Dulce
os morangos ainda não estão doces e maduros
têm saudades do sol
mas o chocolate é eterno!
abraço-as!
manuela
22x2
íssimos felizes, Paulo!
manuela
olá Bia voadora!
passe sempre por aqui
um beijo
manuela
Hoje, aqui, li um conto que é fácil de amar...
Partilhei esse sotão com vista para o mar onde todos os sonhos são perfeitos. Onde a fantasia é verdadeira, onde a comunicação é perfeita.
Dá vontade de ficar ... aqui ... consigo e neste sotão.
Parabéns não só pelo texto mas também pelos desenhos.
Beijo
Ná
por cada face
um abraço
por cada abraço um traço,
grata a todos!
manuela
Dois lados da mesma face. Um que olha o mar ao fundo sabendo-o certo pelo rumor das marés e tempestades, e o outro a adivinhar estrelas e sóis medindo-lhes a distância com fios de água. Dois lados num só, onde a partilha do universo é feita de amizade tanta que não cabe no peito dos homens e tem o contorno de uma meia-lua, com outra lua que também é meia e as duas vivem, redondas, na memória das crianças.
Linda a sua face, Manuela e tão fácil de gostar!
Um beijinho
para lá da face
a sua, Maria João!
um beijo
manuela
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