Em cada trilho paravam e davam um nome às coisas.
Diziam água, ela corria e eles saciavam a sede, as searas não eram searas antes de germinar o grão e o pão era farinha e água muito antes de dizerem fermento.
Não escreviam porque não sabiam escrever, mas reproduziam os sons da noite e da preia-mar e quando pela primeira vez cantaram, registaram o canto num lugar sagrado que apenas eles conheciam.
Às vezes sentavam-se no chão de pernas cruzadas e a mão esquerda de um, segurava a mão direita do outro e a mão direita do primeiro apertava a mão esquerda do que à sua direita se encontrava e por aí fora, até perfazerem muitas centenas. As palavras multiplicavam-se e contavam e recontavam as suas histórias, para que quando se perdesse a memória de um, prevalecesse a memória de todos e sossegavam o coração ao entardecer.
Nos dias de luta desenhavam traços de sangue nas suas faces cálidas e pintavam as sobrancelhas de açafrão, os lábios tinham a cor da terra escura e até os que já mortos se encontravam, não esqueciam os gritos de dor e desespero, para repor uma fronteira perdida ou a água de um rio ou as árvores da floresta.
Os dias de festa estavam inscritos na matriz dos tempos e pelo tocar dos sinos e a inclinação do sol, sabiam das colheitas e dos nascimentos, das casas que construíam e das chaminés, dos teatros e das fogueiras, das flores, dos pássaros e do voltear das marés.
As crianças cresciam na plenitude dos campos de alfazema e pediam “a bênção, minha mãe!” e elas abençoavam. Repetiam então as canções de embalar, as mais doces, as que fazem dobrar os juncos e os lírios, as que perturbam o olhar e transformam as pestanas sonolentas em canaviais cerrados onde assobia o vento, as que apagam os medos e desenham a óleo e a pincel a narração de aprender segredos.
Quando já não cabiam nos seus colos e o chamamento dos oásis perturbava, elas deixavam-nos ir experimentando a saudade e a alegria e a terra girava.
Às vezes sentavam-se no chão de pernas cruzadas e a mão esquerda de um, segurava a mão direita do outro e a mão direita do primeiro apertava a mão esquerda do que à sua direita se encontrava e por aí fora, até perfazerem muitas centenas. As palavras multiplicavam-se e contavam e recontavam as suas histórias, para que quando se perdesse a memória de um, prevalecesse a memória de todos e sossegavam o coração ao entardecer.
Nos dias de luta desenhavam traços de sangue nas suas faces cálidas e pintavam as sobrancelhas de açafrão, os lábios tinham a cor da terra escura e até os que já mortos se encontravam, não esqueciam os gritos de dor e desespero, para repor uma fronteira perdida ou a água de um rio ou as árvores da floresta.
Os dias de festa estavam inscritos na matriz dos tempos e pelo tocar dos sinos e a inclinação do sol, sabiam das colheitas e dos nascimentos, das casas que construíam e das chaminés, dos teatros e das fogueiras, das flores, dos pássaros e do voltear das marés.
As crianças cresciam na plenitude dos campos de alfazema e pediam “a bênção, minha mãe!” e elas abençoavam. Repetiam então as canções de embalar, as mais doces, as que fazem dobrar os juncos e os lírios, as que perturbam o olhar e transformam as pestanas sonolentas em canaviais cerrados onde assobia o vento, as que apagam os medos e desenham a óleo e a pincel a narração de aprender segredos.
Quando já não cabiam nos seus colos e o chamamento dos oásis perturbava, elas deixavam-nos ir experimentando a saudade e a alegria e a terra girava.
39 comentários:
.
. como uma corrente . de elos que se entre.laçam tão belos .
.
. sabem dos aflitos, sabem dos gritos .
.
. sabem das ceitas, sabem das colheitas .
.
. sabem dos cultos que podem ser muitos .
.
. os ritos dão a volta ao mundo e quando se tocam, cumprem.se em mais um rito .
.
. na organização de um mundo ainda por organizar .
.
. os ritos são . a imensidão com que hoje aqui deixo um beijo .
.
. íssimo .
.
. e,,, .
.
. total .
.
. e saio . em tons de azul .
.
. paulo .
.
Olá Manuela:
Narrativa perfeita do dia a dia simples.
Bom fim de semana
Beijinho
MANUELA BAPTISTA
... a narração de aprender segredos.
Quando narras os degredos transfiguram-se!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Novembro de 2010
rito também é estar aqui...
sentir com o tacto a textura madura de um conto
sentir com a alma a beleza de um tempo secreto ainda por revelar
sentir com o coração o rito e o ritmo de um pulso que pulsa vibrante de emoção na demanda de uma história que não se quer que tenha fim...
Manuela,
do mais belo que li de si!
amei simplesmente!
e as telas são belíssimas, fazem muito o meu género de pintura... parabéns à autora!
um beijo
walter
Manuela,
Quando reinventarmos a vida, é obrigatório ler e reler as suas palavras...
Um abraço comovido
Ritos que não se perderam ainda em muitos locais, sobretudo no nosso interior, ritos que muito nos ensinam e que não se perdem no tempo e as crianças mesmo que já não peçam "a benção minha mãe" têm ainda algumas o privilégio de crescerem na "plenitude dos campos de alfazema", que se perdem de vista, carregados de azul ali pelas Beiras. E as searas maduras e o ritmo das horas que é o do pulsar do coração e a fogueira no adro da Igreja. E no Verão as colheitas estão prontas para os que partiram e regressam ao colo materno, vindos de longe e ali se fazem os baptizados, as comunhões e todo o alegre encontro de uma vida plena. É tempo de parar a labuta árdua do ano inteiro e de dedicar todo o tempo aos que pertiram e estão de passagem para colmatar as saudades na ternura dos dias e dos horizontes da terra.
Belíssimo Manuela o seu contar de vidas que conheci e conheço de perto, outros ritmos e outra forma de estar.
Beijos
Branca
Esta é uma história de rituais... que se encadearam nas mãos unidas dos povos e os passaram nas escarpas do tempo...Guardaram o eco das coisas e repetiram-no para nada se perder.
Beijo amigo.
Graça
.
. de um reino para outro, a ser o fundo mais que emergente de uma dádiva de gente .
.
. por ora pingente . nunca pungente .
.
. porque amar.de.amar o "fecho" de um espaço é permanecer sempre e para sempre com a porta no trinco .
.
. ou en.costada a.penas . na prece da brisa que des.liza rente ao altar que visa .
.
. os meus parabéns .
. e,,,
. sinto.me imensa.mente feliz pela forma como trata o gesto, ainda que meu, ao alcance de um acto também ele revolucionário .
.
. íssimo total .
.
. uma boa semana .
.
...imenso
é o trinco que não trinca
e deixa entrar um sussurro de vento...
um beijo total, Paulo!
manuela
Manecas .... beijinhos
só vim mesmo re ler... e re ver...
obrigada
mil beijinho
Tempos ancestrais, mais felizes?
Com certeza, essa simplicidade era feita de uma comunhão mais profunda com a Natureza e tudo mais natural!
Passei por lá há uns anos conheci essa gente!
Ainda há resquicíos no mundo mais profundo!...
Bj,
Manuela
Em muitos ritos se perdem outros rituais, alguns ancestrais, de trazer permanentemente ao peito.
Aqui, de entre os gestos que perduram num conto entre uma mão direita que a esquerda segura, descobrimos a fonte da água límpida que sacia e aconchega qualquer coração de qualquer medo.
Aqui, como um tesouro que levamos e guardamos, como um imenso e poderoso segredo.
Um beijinho Manuela e, obrigada por tudo o que levo e guardo, daqui!
"Repetiam então as canções de embalar, as mais doces, as que fazem dobrar os juncos e os lírios.."
... que tanto nos encantam
e que guardamos na alma
num certo segredo de amor
que nos agarra à vida
que nos dá a força que permanece
naquele segredo
escrito no meu sorriso
Lindíssimo Manuela (Olá..) e as telas são absolutamente cumplices..
Um abraço de muita ternura para si e um dia bonito:)
Dulce
Olá Manela,
...
a©or dar as areias da praia e renovar marés no quarto crescente
a terra gira e o vento solta os fios das ondas presos com laços á brisa f®ia tão bronzeada quanto o ocaso…
debaixo do sol adormece a saudade e põe-se a alegria no horizonte aquecido,é anoitecer de um mito
um rito milenar que pé ante pé anda de boca em boca...
...
um canto de sereia a resgatar o pescador ao uni verso de estrelas…
!nfinita a mão que a vida tem presa por fios ao ramo de uma oliveira que nunca seca…
A Luz da lua e o mistério das pa l a v r a s paira no ventre da terra…
O Nascimento é o berço de todas as emoções
Ser mãe é ®e Nascer…
Mto b elo...
I m e n s o
beijinho
Que belo conto.
bjs
Insana
.
. íssimo feliz entre.laçado num favo de mel .
.
. boa noite,,, manuela .
.
Não há no mundo melhor rito
do que aquele com o qual lidamos
que se chama carrapito
que afagamos e para sempre lembramos
Porque eu sou o mais bonito
E por vezes eu sou azul
Quando entro no mar do sul
E regresso molhadito
E bebo um chá do seu bule
A benção querida Manuela
Que eu agora vou prá caminha
Por favor feche-me a janela
Porque a chuva é miudinha
Um beijinho de quem, de quem?
D`O Rasteirinho, pois escuro.
Da cor da terra fica o pessoal de vez em quando...
Bento
.
. 20 . vim-te ver . :) .
.
. :))) .
.
. adoro tanto o número vinte .
.
. íssimo . e um e dois e três .
.
. sempre e mais uma vez .
.
._________querida Manuela
[...]
lá bem ao fundo
daquela.pequena.terra
uma voz embora.sumida
__________se ouviu...
.acendam um sol na treva____ou uma lua!
...
e as pessoas
sentiram-se perdidas______como se fosse natural assim reagirem
há muito que não se viam______olhavam-se_______mas não se viam!
.sendo que alguns os ouvidos taparam com ambas as mãos_______para que aquele grito não o ouvissem...mas que lhes soou no coração
deitaram-se no solo para se aproximarem mais das entranhas da terra.do.mundo
.mas a terra pareceu-lhes adquirir a flexibilidade doce de um colchão de musgo
.aquecendo e moldando os seus corpos
________num abraço
em que os segredos respiravam e sorriam nos rostos das crianças
_______________________.
.daqui vou sempre um pouco "mais muito.mais.rica"
.obrigada:)
__________________///
beijO______ternO
"... e a terra girava", pois por vezes parece-me que pára, que tudo fica estanque, sem risos, sem pulsar...
Palavras deveras profundas, sentidos na recordação de tempos que já lá vão, fotografados em imagens de uma terna saudade.
Emocionada, sim, é a palavra certa!
Beijinho
Era tudo tão simples.
Depois, fomos complicando... complicando...
Excelente texto, querida amiga. Gostei imenso.
Um beijo.
O simples que é ancestral, o entendimento onde o homem procura beber velhos ensinamentos... rituais mágicos de saberes intensos.
Um beijinho Manuela,
Chris
.
. ... .
. ainda oiço a tua voz:
. Era uma vez uma princesa
. no meio de um laranjal...
. Mas - tu sabes - a noite é enorme,
. e todo o meu corpo cresceu.
. Eu saí da moldura,
. dei às aves os meus olhos a beber.
. Não me esqueci de nada, mãe.
. Guardo a tua voz dentro de mim.
. E deixo-te as rosas.
. Boa noite. Eu vou com as aves.
.
. Eugénio de Andrade .
.
Olá querida amiga
Lindo, não encontro outra palavra para definir este belo conto.
Tudo depende da educação no lar.
Com muito carinho BJS.
Um conto belíssimo! Ritos de iniciação e de passagem: os rituais fraternos que vão passando enquanto a terra gira. Gostei mesmo.
Um beijo, Manuela.
Manu.
Vem dos rituais e dos contos assim como o teu a esperança de que nem tudo esta perdido, os mais antigos que o faziam com maestria, sentir o por que de tudo que nos cerca neste imenso trilho que nunca acaba apenas se renova.
Renata
"- Poisam em estrelas amigas, que aproveitam o momento,
p'ra contar histórias antigas
(que nunca foram ouvidas),
Aos sábios do firmamento."
de M Lourdes Soares
beijo
pimpinela chinela
venha à janela
conte uma história amarela!
beijos
manuela
A Pimpi deseja um dia feliz
beijinhospimpin
so many Pimpis!!
Olá,
tenho uma camisola nova cheia de pompons....
bom fim de semana...
pimpi beijinhos
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhos
eram os tais peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade:
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus
.
. de,,, .
. Eugénio de Andrade .
.
Manuela Educadora vulgo Ama
Que a nós por bem e tão bem educou assim
A genti cresce e já não chora e já não mama
A genti anoitece e já dorme só na nossa cama
A genti floresce e acontece até ao fim
Manuela Escritora e por nós chama
Também Pintora de uma nuance de carmesim
A genti gosta e até aposta que a vida aclama
E a tela seca e até resseca e cheira a jasmim
Um beijinho de quem, de quem?
D`O Rasteirinho, pois escuro.
Manela olha que é pompons não é bombons... estou de dieta...
beijinhos
Manuela...que lindo!!!
Mais belas ainda as pinturas em tons de azul....minha cor preferida!
Parabéns Manu!
Bia
www.biaviagemambiental.blogspot.com
grata a todos!
manuela
.
. enta . sempre na ternura .
. de nada .
.
. um bom domingo . e um beijo feliz .
.
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