Naqueles últimos dias que antecedem o fim de Agosto há sempre um salto no estômago e no coração. Vamos distraídos, o nariz queimado pelo sol, uma sarda, um sinal em cada mão, um tom moreno de cigano bonito, um movimento suave na descida de um trilho onde saciamos a fome de amoras silvestres, de melancias grávidas e doces em tanto sumo encarnado, carnudo, afogado.
Depois alguém diz: “Como cresceu este rapaz! Não vai caber nos ténis…a mochila serve-lhe de chapéu” e sem saber como, estamos na montanha russa e sentimo-nos deslizar, uma náusea de medo, as mãos fechadas no varão que escorrega no nosso próprio suor e tememos ser lançados no espaço como um vaivém e numa viagem sem regresso ficarmos ali no infinito desconhecido e ter um encontro imediato com o nada, porque o ET é do nosso irmão mais velho e o dedo já não brilha, está estragado.
Se fossemos frágeis, fazíamos como as borboletas e na nossa ânsia migratória percorreríamos 1500 Km no sentido Sul-Norte, atravessaríamos vales montanhosos e grandes superfícies de água, embalados por uma qualquer estação sem nos perguntarmos “como é que já terminou o Verão?”
E se por um acaso o vento soprasse forte e a tempestade nos molhasse as asas, mascarávamo-nos de folha verde, terra, vaso, peixe ou simplesmente flor e ninguém sabia que estava ali uma borboleta viva, desconhecida, incógnita, cidadã de um reino leve, com muitas caras e outras tantas casas, cantadas pelos poetas que na sua presunçosa sabedoria das rimas, desconhecem que são terríveis as lagartas, senhoras de uma voracidade atroz, comedoras de colheitas e de plantas.
Carregamos tanto peso, tanta régua, tanto compasso de espera porque três gramas é o peso máximo de uma borboleta, mas a sua ausência define o ponto de viragem de uma espécie e quando temos medo, podemos apenas afirmar em voz bem alta “Estou inquieto, por isso solto em mim estas asas e perco peso, até aos zero vírgula três gramas de vida e já é tanto!”
E quando assim gritados, nos olham de volta no banco do comboio ou na paragem de autocarro, não vêem em nós aquele menino tisnado com a boca tingida de amoras, mas um ser alado que não sabe nada da vida das borboletas, contando e recontando na multidão que sobra, obra de tantos homens ainda por acabar, o eterno conto de um eterno retornar.
Depois alguém diz: “Como cresceu este rapaz! Não vai caber nos ténis…a mochila serve-lhe de chapéu” e sem saber como, estamos na montanha russa e sentimo-nos deslizar, uma náusea de medo, as mãos fechadas no varão que escorrega no nosso próprio suor e tememos ser lançados no espaço como um vaivém e numa viagem sem regresso ficarmos ali no infinito desconhecido e ter um encontro imediato com o nada, porque o ET é do nosso irmão mais velho e o dedo já não brilha, está estragado.
Se fossemos frágeis, fazíamos como as borboletas e na nossa ânsia migratória percorreríamos 1500 Km no sentido Sul-Norte, atravessaríamos vales montanhosos e grandes superfícies de água, embalados por uma qualquer estação sem nos perguntarmos “como é que já terminou o Verão?”
E se por um acaso o vento soprasse forte e a tempestade nos molhasse as asas, mascarávamo-nos de folha verde, terra, vaso, peixe ou simplesmente flor e ninguém sabia que estava ali uma borboleta viva, desconhecida, incógnita, cidadã de um reino leve, com muitas caras e outras tantas casas, cantadas pelos poetas que na sua presunçosa sabedoria das rimas, desconhecem que são terríveis as lagartas, senhoras de uma voracidade atroz, comedoras de colheitas e de plantas.
Carregamos tanto peso, tanta régua, tanto compasso de espera porque três gramas é o peso máximo de uma borboleta, mas a sua ausência define o ponto de viragem de uma espécie e quando temos medo, podemos apenas afirmar em voz bem alta “Estou inquieto, por isso solto em mim estas asas e perco peso, até aos zero vírgula três gramas de vida e já é tanto!”
E quando assim gritados, nos olham de volta no banco do comboio ou na paragem de autocarro, não vêem em nós aquele menino tisnado com a boca tingida de amoras, mas um ser alado que não sabe nada da vida das borboletas, contando e recontando na multidão que sobra, obra de tantos homens ainda por acabar, o eterno conto de um eterno retornar.
"mariposas vivas" desenho de mb
43 comentários:
Oh Manuela como eu gostava de escrever assim!, Mas já não vou a tempo. A "veia", se alguma vez existiu esvaiu-se por outras escritas, talvez necessárias, mas muitas deles em vão.
Obrigado e Beijinhos
O pai Bártolo
NA SUA VIDA A VIDA SE LEVANTA
Retorna a borboleta
e bate as asas
e quando ela as bate
mal sabe
que no fim do mundo
um furacão se abre
e se agiganta
Como um menino
é grande
e tem garganta
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 30 de Agosto de 2010
Manuela, estou lendo e apreciando seu texto. E o desenho.
Esta frase me chamou a atenção -
"Carregamos tanto peso, tanta régua, tanto compasso de espera..."
Tem horas que parecemos viver nos transformando de lagarta em borboleta, de borboleta em lagarta..para darmos do viver.
Mas vamos voar...
beijo
Querida amiga
Muito obrigada pelas lindas palavras de carinho.
Amei suas borboletas, é um dos desenhos mais lindos, é que eu gosto muito de borboletas.
Maravilhoso seu texto, concordo que carregamos lixo de mais.
Sua sabedoria cria uma leitura gostosa e harmoniosa. Bela escritora de coração leve e caridoso.
Com muito carinho BJS.
O final do Verão tem sempre estas surpresas. Não podemos parar o tempo nem esquecer que crescemos e "alargamos" os nossos conhecimentos.
Um estilo límpido de escrever com sentimento e saudade.
Parabéns
Minha amiga, Manu.
E estas borboletas e mariposas.
Que voam encantam e desencantam se diurnas borboletas, noturnas mariposas senhoras da noite e dos perfumes doces que só os amantes respiram... as borboletas meninas bailarinas, fadas que espalham encanto.
Tu sabes o quanto amo borboletas e fiquei feliz em poder encontrá-las aqui, quado voltar do meu vôou que estou fazendo a procura de amoras levarei esta página comigo se me permetir.
Beijo em ti e no teu Jaime, que Nossa Senhora de Fátima abençoe o casal.
Renata ainda voando um tanto perdida.
.
. entre.tanto,,, é nesta viagem sem regresso que fluir é devir e tão somente ou a.penas a amizade sem pontas .
.
. porque tontas são as contas que entre.laçamos entre.os.dedos como se soubessemos rezar .
.
. a prece,,, permanece além e i.memorial.mente aquém do dia da primeira comunhão, e a vela empalidecida pelo tempo re.lembrará sempre uma prática única como única é a táctica de estarmos co.existindo .
.
. no fundo, no mundo somos tão frágeis e nem sabemos se.quer se terminaremos, por exemplo, este comentário, que de alma e coração escancarado, é também a anunciação de um anjo oriundo de um des.tempo que teimamos de criação .
.
. porque o que fica, o que permanece é e será sempre a obra que ninguém chora ou des.tece . e muito menos esquece . e re.voltamos ao seio.ventre da prece . agora em ascese de uma amizade mayor .
.
. a nossa .
.
.
.
.
.
.
. um .
.
. dois .
.
. três .
.
. íssimos beijos felizes .
.
. como que um salto, sobre tanto chão de as.falto . falto .
.
.
.
. paulo .
.
nas asas de uma borboleta vejo espelhada a minha curta e frágil existência!
manuela,
sinta na leveza do meu abraço a profundidade da minha amizade!
um belo conto para reflectir-mos neste último dia de agosto e emocionado saio sem saber muito bem em que fase hoje me encontro: lagarta, crisálida ou borboleta... ah... e alguém aqui deixou um comentário que quase uma lágrima me rebentou...
que venha setembro!
walter
leio-vos e oiço-vos
e aquilo que me acrescentam não o posso medir em palavras!
porque nenhum comentário é vago, vão ou simplesmente fútil
cada um deixa um pouco de si que eu agarro, roubo, faço meu e torno a dar
é isso também o eterno retorno!
a Renata
amante de borboletas, pediu-me várias vezes um desenho de borboletas, mas para uma amadora nata como eu, são difíceis de desenhar e ainda mais de fotografar
são voláteis, mas se quiser pode levá-las até ao Brasil...
o Paulo
há muitos séculos atrás
ouviu o vento que lhe falou de um conto
". que conta e re.conta no mesmo conto a multidão que sobra, obra de tantos homens ainda por acabar ."
e são estas as mariposas vivas da minha amizade mayor, por si Paulo
assim de um salto, em que não falto!
e do Walter
sinto a leveza do abraço e a profundidade do seu estar
e se fosse borboleta, o Walter seria a "Cauda de Andorinha" porque têm nomes belos as andorinhas, até existe uma que se chama "Polygonia" e outra "Vanessa Atalante"...
e
o pai Bártolo
o Jaime
a Paula Barros
a Rufina
e o Luís
que atravessaram tantos vales montanhosos e grandes superfícies de água para aqui chegarem!
um beijo
manuela
E, enquanto o dedo do ET fica fora de uso, na espera do próximo Verão, as borboletas vão em busca dele...
Beijo :)
...dessa, nem eu me lembraria, AC!
um beijo
manuela
Manuela
Somos frágeis, sensíveis e belos, como borboletas que pousam aqui e além , atraídas pelo colorido da vida.
Somos seres em constante metamorfose num ciclo constantemente renovado nos dias, nos meses e em tantos solstícios. Ficaremos mais fortes ou mais francos, às vezes, mas ficamos diferentes.
Mesmo distraídos e com o nariz queimado do sol, continuemos a receber Setembro, não como o prenuncio do inevitável final de verão, mas como a renovação do ciclo das borboletas.
Um beijinho desta borboleta que também eu sou.
e é mesmo Maria João!
obrigada!
um beijo
manuela
Já acabou o Verão? Mas o ar está abafado e há ainda botões de rosa no jardim... E as borboletas? Voam desvairadas contando novidades umas ás outras... Talvez anunciem Setembro...onde tudo parece recomeçar! O trabalho...as aulas...o menino que cresceu e a mochila que encolheu...Então se fosse borboleta...o Verão não acabaria?
Não sei se as minhas asas aguentariam tanto vôo...como aguenta o menino que cresceu e vai para a escola com uma mochila carregada...Vai ficar sem asas...voltará um dia a ser lagarta?Quem lhe explica? Ele não sabe nada de borboletas e...no comboio ninguem vê que ele cresceu...
Só tu sabes, Manuela!
Beijo
Graça
E chegou a borboleta nocturna, que já ontem por aqui sobrevoou de flôr em flôr, ao de leve, com brisas frescas de amizade.
Deixo beijinhos.
Até breve
Branca
Manuela, que belo texto!
Não damos por isso mas somos mais frágeis que as borboletas, quando a limpidez do olhar, cada vez mais íntimo, nos mostra o passar dos anos e da inocência.
Um grande beijo.
Lindo texto e imagem! Fiquei fã deste pedacinho de mar encantado...
Essas borboletas que sobem e descem, ou as que esgrimem bonitas cores e formas... é a força da metáfora!
Gostei deste texto que me acercou a um passado já, para mim, ido no tempo.
Um grande abraço
Ai, Manuela!!!
com borboletas, flores,meninos,contos tão lindos assim... Eu lembro que tenho que voar também...
Portugal já é parte do meu coração... E voarei,para voltar, quem sabe, no próximo verão!
Eita!Será que sou uma borboleta?
rsrsrsrs
Beijoquinhas de carinho e amizade,
Linda Simões
Olá Manuela
Bela a foto de entrada do seu blog.
E bonito a sua historia, gosto imenso de a ler, mas agora nem tenho tido tempo para quase nada.
Quando a minha mâe se recompor da cirugia voltarei mais vezes.
beijinhos
Graça Pereira
às vezes
ninguém repara
que já acabámos de crescer!
um beijo
Manuela
Branca Borboleta da Noite
quando tiver mais tempo
venha e fique aqui
verá como dormirá bem!
breijinhos
manuela
Graça Pires
muito mais frágeis, mas tão semelhantes
um beijo
manuela
Isabel Preto
seja(m) bem vinda (os)!
e obrigada
um abraço
manuela
Duarte
acercado a um passado, mas presente no meu tempo!
um abraço
manuela
Linda
não sei quantas milhas nos separam
em Outubro
mas estaremos sempre à distância de um clic
até já!
muitos abraços
manuela
Linda
não sei quantas milhas nos separam
em Outubro
mas estaremos sempre à distância de um clic
até já!
muitos abraços
manuela
Sideny
estou aqui a torcer para que tudo fique melhor
um beijo
e obrigada por ter encontrado este tempo para mim!
manuela
.
. ou estou muito enganado,,, ou anda por aqui uma apatura íris a tentar comer.me o crepe com gelado de chocolate e baunilha .
.
. um .
.
. dois .
.
. três .
.
. beijos esvoaçantes .
.
. paulo .
.
aHHHHHHHHHHHHHHHHH!
mas eu prefiro gelado de avelã e limão
...que sorte!
um beijo
manuela
Adorei o seu texto assim como o seu desenho. As metamorfoses da vida são sempre salutares. São novas etapas com novos preparos.O bom será mesmo ter vida de borboleta.
Bjo
MariaIvone
"Vamos distraídos, o nariz queimado pelo sol, uma sarda, um sinal em cada mão, um tom moreno de cigano bonito, um movimento suave na descida de um trilho onde saciamos a fome de amoras silvestres.."
vamos distraídos e tão animados
a vida bate forte em nós
embalando-nos para além de tudo o que vemos...
Para além das suas palavras Manuela...
fiquei maravilhada ao olhar o desenho
Que bom que deve ser...escrever e desenhar assim, sentindo desse modo a vida...
que bom que deve ser...
Muitos beijinhos num grande abracinho
dulce
Aqui e ali, deixo beijos e abraços aos amigos tertulianos...
Também gosto muito dos seus desenhos, Manuela!
Dulce!beijo, beijo e obrigada pela visita ao blog da Gaby...
Linda Simões
Maria Ivone
a conta-gotas lá a vou conhecendo...
obrigada!
um beijo
manuela
Dulce
ora o que eu acho mesmo...
é que é o seu nariz que está bem mais queimado!!!
os meus desenhos são rabiscos, Dulce..
beijinhos
manuela
Linda
aqui e ali tanto recadinho...e tanto abraço!
manuela
Manuela...
um dia mostro-lhe os meus rabiscos...
depois voltamos a falar sobre os seus intitulados "rabiscos"
muitos beijinhos de olá e já..
de bom fim de semana..!
um abracinho a todos os amiguinhos tertulianos...
e um bom fim de semana a todos os que por aqui vão estando...!
dulce
Bom dia Manuela,
Gosto tanto de borboletas que estou sempre a passar por aqui, mesmo sem dizer nada, :)
Bom fim de semana Manuela, mas se calhar ainda passo hoje outra vez, :)
Beijinhos
Branca
Manuela, há muito que ando para lhe dizer que comprou um contador já avariado, eu entro e saio e nada muda, :))
Vou sair outra vez, :)
Beijinhos
Dulce, olá e já!
porque a desenhar também se conversa
um beijo
manuela
Branca
o meu contador deve ser de histórias,daí a avaria...
ou então
a responsabilidade é das borboletas que, cansadas desta página reclamam outra, silenciosamente
beijinhos
manuela
.
. ergue.se a a.patura íris estremunhada,,, estica os tarsos passos e vem a.qui .
.
. dar.Lhe um beijo feliz .
.
. um bom.fim.de.semana .
.
. paulo .
.
obrigada Paulo!
que o longo dia
tenha soltado as apaturas
para que voem longe
quase tão longe como as Calanthas
um beijo três
manuela
Enviar um comentário