Entre os dois existia um poço, fundo, escuro, onde o eco brincava e brincando assustava. Ela dizia "bom dia!" ele saltava, ágil, feliz, os olhos brilhantes antecipando guloseimas e mimos. Uma pausa, em que se olhavam reconhecendo o cheiro um do outro, as nuvens que pairavam na voz, o calor sufocante da manhã de Setembro zumbido irritante de mosquito peganhoso, o trotar de uma velha carroça, desarticulada, barulhenta, arrastando o odor forte de estrume e mosto.
ao Chiquinho, não o libertei do frio do Inverno, mas adoptei este outro de Paula Rodrigues preso na livraria Galileu em Cascais, dentro das Fábulas de La Fontaine e que me fez recordar o meu amigo trepador de ramos e de sonhos
Depois sentavam-se, um de cada lado do poço, ela metia a mão no bolso devagarinho, para que o instante não fosse apenas um segundo, tivesse a consistência de uma casca, de uma semente, de uma pele castanha avermelhada, de uma eternidade reencontrada.
Ele entrava no jogo, porque era de um jogo que se tratava, de sedução, de encantamento, porque ambos sabiam como terminava, mas que importância tem o fim se existe tanto pelo meio? Ela sussurrava "Chiquinho..." e num golpe certeiro atirava-lhe um amendoim e nesse mesmo instante ele apanhava-o, sem mudar de posição, a mão aberta, a linha invísivel que une o objecto ao seu apanhador, caçador de frutos quentes, trepador de ramos e de muros.
Chiquinho tinha um dono viajante, ladrão de animais raros, exibia-os como um troféu mas abandonava-os por aí ao sabor de casas de férias e outras, enjoado da vida, ansiando a próxima partida, desligado de quem capturava sem piedade. O macaquinho era pequenino como a menina dos bolsos e tinha saudades de ser pequenino e gritar livre atrás da mãe, morder os irmãos numa algazarra doida, ser aquilo que nunca mais lhe permitiram que fosse. Tinha frio no Inverno, e não reconhecia aquele cheiro de terra rural longe do mar e a menina sentia saudades da praia e não queria saber de uvas e de vindimas, nem de carroças chiadeiras, nem do sufoco de um dia de Verão!
Por isso eram tão amigos e os olhos tristes de Chiquinho apenas se incendiavam com a sua presença e a sua voz fininha de menina, com tantos bolsos e em cada um qualquer coisa de espantar. E ela inventava-lhe uma história de fugas em que sonhava enviá-lo de volta aos lugares onde ele retomaria a sua vida interrompida de trepador de ramos e de sonhos, de chuvas intensas e de eterno e húmido calor.
Às vezes nas tardes paradas, gritavam os dois assustando os pássaros ou os morcegos ao pôr do sol e a menina inventava só para si, uma outra história de países distantes.
Nunca se tocaram. Entre os dois existia um poço, fundo, onde o eco brincava e brincando assustava.
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encontrei-o muitos anos depois num país de monção e tenho a certeza que me reconheceu
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ao Chiquinho, não o libertei do frio do Inverno, mas adoptei este outro de Paula Rodrigues preso na livraria Galileu em Cascais, dentro das Fábulas de La Fontaine e que me fez recordar o meu amigo trepador de ramos e de sonhos
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Manuela Baptista
2010/06/12
42 comentários:
AVISO
O Chico era para estar aqui plantado em fotografia mas estando nós a adaptarmo-nos ao nosso novo computador onde as regras, quiçá, estão todas de pernas para o ar ainda não descobrimos como editar duas fotografias ou mais numa mesma página, essa entre muitas outras coisas ...!
Quiçá, o Chico ter-se-á deitado ao poço!
Chicoooooooooo!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 12 de Junho de 2010
Jaime
o da foto
é em pasta de papel
o do conto
era verdadeiro e vivia no Cartaxo do outro lado do poço
chamava-se mesmo Chiquinho!
Manuela
Manuela,
Vejo que em pouco tempo já fez maravilhas com o novo computador e programas mais actualizados...seja como fôr as suas histórias fazen sempre um eco tremendo dentro de nós.
"que importância tem o fim se existe tanto pelo meio?"
Nunca mais me vou esquecer desta frase, tão lúcida, tão linda...!
Uma boa noite Manuela.
Beijinhos
Branca
quer o destino que as suas boas noites
sejam o começo dos meus dias
é um eco, bonito!
afinal o que é o dia
senão uma noite acordada?
BOM DIA!
beijinhos
Manuela (um pouco menos zangada com este ET teimoso à minha frente...)
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. bOm DiA qUeRiDa mAnUeLa,,, .
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. nÃo VeNhO pOr oRa cOmEnTaR o PoSt,,, tAnTo eStE CoMo O aNtErIoR .
.
. vEnHo a.PeNaS dEiXaR uM bEiJO tOtAl e O dEsEjO dE uM BoM dOmInGo cOm A pRoMeSsA dE qUe rE.vOlTaReI mAis lOgO, eNtÃo SiM,,, pArA cOmEnTaR .
.
. pAuLo .
.
Paulo
e que até ao logo
faça tanto SOL!!!
um beijo
Manuela
Boa tarde Manuela,
há por aí uns amendoins aqui para o macaquinho Walter?:)))
estou aqui todo derretidinho por este macaquinho tão ternurento, por esta menina meiga e sonhadora...
adoro macacos e macaquinhos e as suas macacadas, mas... nos seus respectivos habitats... não tolero ladrões de animais selvagens, assim como caçadores furtivos, tenho mesmo raiva dessa gente! são gente?
então animais selvagens no circo nem pensar, acho cruel...
Manuela, a história é lindíssima, de uma ternura sem fim, mas... remete-me para um assunto ao qual sou extremamente sensível...
eu furava o eco, saltava o poço e levaria o chiquinho para os galhos da sua mamã, a menina não se importaria concerteza!
...ah! gosto muito das suas macacadas, as da Branca, as do rasteirinho... e às vezes até gosto das minhas, por vezes não resultam lá muito bem, porque ninguém me atira amendoins...:)
Um beijo e uma macacada!
Walter
.
. "para que o instante não fosse apenas um segundo" .
.
. sendo o segundo, este, o toque do afecto sendo também o tecto entre.galhos equi.distantes .
.
. por ora reservo.me à leveza do sonho .
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. a.manhã rumarei ao futuro de todos os passados ainda em súplica pelo carácter dos homens .
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. e deixo mais um, total.íssimo beijo .
.
. paulo .
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Walter
desolada
por nunca me ter ocorrido oferecer-lhe amendoins...
saltava o poço, se conseguisse!
este poço dividia duas propriedades e tanto eu como o macaco éramos tão pequenos...
eu também detesto animais nos circos, selvagens ou não
só gosto do trapézio e das macacadas dos macacos voadores e do planeta dos macacos!
e adeus, macaquinho :))
um beijo
Manuela
Paulo
segundo
o rumo que tomamos
é um toque de futuro
que agarramos!
(neste momento estou a esticar o dedo, está a ver?)
um beijo total
Manuela
Oh minha querida Manuela,
esta história fez-me voltar aos meus 12 anos...
o Chiquinho era do meu vizinho e tinha vindo de África.
Não sei porquê, mas sempre adorei macaquinhos e aquele enchiam-me os olhos de brilho e o coração de alegria.
Era triste este Chiquinho, embora irrequieto, e costumava pensar que seria impossível ele ali viver, naquele pedaço de quintal cercado de rede, durante muito tempo.
Sempre que o via na rua a passear com o seu dono corria ao seu encontro para pegar nele e brincar um pouco.
Eram momentos especiais.
Num dia de chuva morreu!
Chorei, senti saudades … mas o tempo tem o condão de nos empurrara para a frente...ficou a recordação.
A sua bela e terna história fez-me relembrar este amor antigo e apesar de longe no tempo ainda está vivo no meu coração
A Manuela tem o condão de nos encher a alma. Obrigado!
Meu abraço cheio de carinho
MANUELA BAPTISTA
E então, agora que já sabes, graças à Branca, os truques todos, não pões o Chiquinho a adornar a tua bonita história!?
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 13 de Junho de 2010
Olá querida
Que história linda, maravilhoso quando temos algo para recordar com prazer e encantamento.
Uma semana de alegrias para você.
Com muito carinho BJS.
Canduxa
e todos os macaquinhos se chamavam Chiquinhos, vá-se lá saber porquê?
com este nome, conheci pelo menos três
pois é! e sofriam tanto com o frio e com o cativeiro!
a única alegria, era encontrarem meninas simpáticas pelo caminho...
beijinhos
Manuela
Jaime e Branca
já cá está o Chiquinho Segundo!
Manuela
Rufina
uma semana de encantamento para si também!
beijinhos
Manuela
Lindo este texto. Perdoe entrar sem pedir no seu blogue mas gostei muito. Um beijo com amizade.
Daniel
se fosse preciso pedir
para entrar
isto não seria um blogue!
seja bem vindo
um abraço
Manuela
ah ah ah ah ah ah ah ah ah ah.. chiquiiiiiiiiiho pá! és bué de lindo meu...assim que nem eu!
dá cá um abraço que eu dou-te uns amendoins, mas... nada de arrancar cabelos!
hi hi hi hi...tão giro!
olá Walter!
és o primeiro amigo da blogosfera!
dou-te dois abraços se me levares na tua bicicleta!!
Chiquinho
...o macaco já ganhou vida própria e domina o teclado melhor do que eu!!
beijinhos Walter!
Manuela
Olá Manuela,
está mestra e sinceramente nem sei como apareço neste filme...de macacadas, hihihi.
E o Walter tem cá uma fixação por arrancar cabelos...fujo... :)).
Não sabia que os "macaquinhos" os arrancavam, costumo vê-los mais a catar...ahahah!
Beijinhos
Branca
Branca
aparece neste filme
porque é graças a si, que o Chiquinho Segundo entrou nesta página!
com piolhos
ou não...
os cabelos é apenas um pormenor de um outro macaquito
beijinhos
Manuela
Boa noite, Manu.
Realmente "Chiquinhos" se encontram por toda a parte macacos, certa vez tive um ato de rebeldia e dei o nome Chico a um papagaio, resultado ficou mau humorado, papagaios são Zé por que também não sei. E Renata seria o que? rsrsrsrsrsrs.
Beijo
Renata
seria, de dia uma flor
à noite transformava-se numa bailarina que dançava até ao sol nascer!
aqui os papagaios eram chamados de "Louro", também não faço a menor ideia porquê...
beijinhos
Manuela
Ai,que eu gostei dessa história,tanto!
Sei lá se foi por causa do Chiquinho ou da menina ou ainda das tardes paradas... Sei que gostei e viajei bem... No sítio do meu avô também tinha um macaquinho,tão zangadinho, tão danadinho, mas não lembro o nome...Eu morrriiiiiaaa de medo dele!rsrs
Um monte de beijos
Braaaaaaaaaaaaaca... venha já à janela imediatamente!!!
Eu "expilico":
Na aldeia onde eu cresci, (Alcogulhe) e que a partir de agora fica mundialmente famosa, havia um chimpanzé que vivia em cativeiro numa Quinta, não a do tio João, isso não, era de um outro tio mas não meu e ainda bem! não gosto de tios que enclausuram animais selvagens dentro de jaulas. Este pobre chimpanzé estava confinado a uma jaula debaixo de um vão de escadas. Sempre vivera ali desde pequenino e eu sempre me acostumei a vê-lo completamente alucinado dentro da sua jaula, pois estava no caminho que eu fazia quando ía visitar o meu pai ao seu trabalho.
Ele fazia uma gritaria danada, batia com a cabeça com toda a violência nas grades e mordia-se a ele próprio...dizia-se que estava louco!
Ele já me conhecia, no entanto eu não ousava apróximar-me das grades, só os gritos me assustavam, mas... lá houve um dia que o achei mais calmo e incentivado por um colega da escola ousei chegar-me às grades com o íntuito de lhe dar qualquer coisa para comer. Nem tive tempo de recuar, lançou um braço fora e puxou-me pelos cabelos contra as grades, largou-me logo e felizmente só fiquei sem uma madeixa de cabelos e uns galos na testa...
Não! não fiquei com raiva do bicho, muito pelo contrário, fiquei com imensa pena de o sentir enraivecido pela liberdade que não tinha. Acho que foi a partir daí que passei a gostar tanto de macacos.
E agora expantem-se: o dono do chimpanzé era nem mais nem menos que um "ilustre" veterinário.
Alguns anos mais tarde contaram-me que o tinham abatido a tiro.
Branca, não fiquei traumatizado com o puxão de cabelos, só o lembrei, mas de uma forma carinhosa...
Beijinhos Branca
Beijinhos Manuela
Linda
nunca imaginei que tantos de nós
conhecessem, algures, um macaquinho!
foi uma ilusão das tardes paradas...
beijinhos Lindinha!
Manuela
Walter
que HISTÓRIA!!!
e que crueldade de veterinário!
o Chiquinho era um príncipe, ao pé desse prisioneiro...e não era um chimpanzé, os chimpanzés são quase humanos!
...e agora venha cá, para eu lhe dar mais um puxão de cabelos...
um beijo, que a Branca dorme (??)
Manuela
Manuela
Uma história linda, de amizade e partilha de sonhos e de solidão.
Bjs
Manuela, já estou desde o princípio da noite para lhe dizer que percebi tudo, só não sei onde entro no filme porque o mérito foi todo seu, eu sou péssima a explicar e com a testa sem cabelos ainda pior, ahahah.
Eu também trazia um puxão de cabelos para o Walter, mas com tantos puxões coitado do miúdo, fica careca, :))
Ainda por cima estou como a Manuela com aquele veterinário cruel pelos cabelos..., acho que perdi o sono, eu bem queria estar a dormir quando disse que estava(?), mas o correio hoje estava tão interessante e atrasado desde o fim de semana. Queria visitar alguns amigos e ainda não despeguei do e-mail, muitas urgências, se eu fosse médica estava desgraçada, não era capaz de estabelecer prioridades...fica só o usual para amanhã, agora só vim à janela porque já tinha ouvido gritar por mim, mas não pude vir imediatamente... :))
Beijinhos Manuela
Beijinhos Walter.
Bons sonhos
Branca
CHIQUINHO
Chiquinho da perna alçada
macaquinho sem pelada
ó meu macaco Chiquinho
tem cuidado com o vinho
Vem isto a propósito de uns amigos meus que tinham um macaco, não sei se Chico ou não, que tinha a mania de lambusar a cauda em vinho ...
Resultado:
De tanto a lambusar, não sei se por alguma alcoolémia assim adquirida, aos poucos, a cauda foi perdendo o seu tamanho ...!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Junho de 2010
"encontrei-o muitos anos depois num país de monção e tenho a certeza que me reconheceu"
Oh Manuela mais uma história que nos diz tanto
e também eu gostava de o ter encontrado na vida
a este macaquinho...
beijinhos de bom dia..!
dulce ac
Teresa
partilhando consigo um grande abraço!
Manuela
Drª Branca!
e ensinou muito bem!
já agora
se tivesse uma receita para me ensinar a fazer duas ou três coisas ao mesmo tempo, isso é que era!
e também acho melhor pararmos com os puxões de cabelos
ou ficaremos todos carecas...uns mais do que os outros claro :)))
beijinhos
Manuela
Jaime
ai! macaco sem rabo de tanto o chupar!!
depois da tortura do chimpanzé vem o comportamento compulsivo de um outro...
isto já parece uma história de terror
Chiquinhos, perdoem-nos!!
...acho que o melhor é mudar de página
Manuela
Dulce
seja bem aparecida!
e andava à solta o Chiquinho
só que os muros eram altos e o poço era grande e fundo, por isso ele não fugia...
o outro, que eu chamei na Índia, tenho a certeza que me reconheceu
beijinhos
Manuela
Ai, Manuela, duas ou três coissa ao mesmo tempo é o que já faço e nem assim resulta, ontem fiz tantas que cheguei à noite e caí, literalmente. :)
Beijinhos.
Branca
.
. e está tal e qual .
. que bel.íssimo animal .
. na mais ingrata posição entre o céu e este chão .
. "amei.de.amar" .
.
. (reparou na ausência de alguns orgãos essencias à manutenção das espécies?) .
. morro . de riso .
.
. re.beij.íssimo total e um abraço ao jAiMe .
.
. paulo .
.
. INTEMPORAL .
Paulo,
Ai Paulo que o meu nome assim me deixa tonto e ainda que tenha tudo no sítio!
Abraço grande
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Junho de 2010
Ai que lindo macaquinho
É tal qual o Rodinhas Fotografista
Nada tem lá no sítio coitadinho
Assim não há quem resista
Porque eu sou o mais bonito
E armo sempre um ganda banzé
Quando me ergo na minha cauda
Até pareço um tripé
Que tanto jeito daria
Ao macaquinho para fotografar
Mas não há mais valia
Que me enfoque para o ajudar
Cada um é como cada qual
Que culpa tenho de ser tão belo?
Mesmo quando não gosto deixo ficar
O meu sorriso amarelo
Amarelo é mesmo assim
E qualquer um desatina
Que hei-de fazer, ai de mim
É da maldita cocaína
De rabo para o ar está tão bonito
Assim sendo qualquer um aprova
Que lhe ofereçamos um rolito
De papel duplo da Renova
Croc Croc Croc Croc Croc!
Um beijinho de quem? de quem?
D´O Rasteirinho, pois claro.
Paulo
...eu tenho insistido para ele vestir uns calções, mas sem grandes resultados...por isso é que foi o último a arranjar uns donos
quanto à manutenção desta espécie, ele é ÚNICO!!
um beijo chiquíssimo
aqui desta casa onde tudo está no sítio :))
Manuela
olha lá, ó habitante das águas!
nunca viste um macaco de casaquinho encarnado?
eu acho que a tua história tem as páginas trocadas...
guarda o papel Renova para limpar as tuas lágrimas de crocodilo, quando eu te ferrar o dente,,,,
depois...podemos ser amigos!!
Chiquinho Segundo
,,,,= dentes de macaco
p.s. croc! :))
Manuela
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