Na manhã de um dia espreguiçou-se. Primeiro o braço direito, a mão bem esticada em direcção ao céu. Apanhou um pássaro azul de asas brancas, quieto e espantado pousado no dedo indicador. Depois o braço esquerdo tocou ao de leve, tão leve, na agulha de um pinheiro manso. Azul é o pássaro que indica o mar, manso é o barulho das ondas.
Tantas saudades do fundo, onde o ar escasseia, o zumbido nos ouvidos assobia, a pressão no peito aperta como a paixão sem tino, desatinadamente solta em cada respirar. Sufoco que se desprende mal ouve um tilintar, pode ser peixe, sereia ou um marinheiro perdido desencontrado de um barco à vela ou de papel, marinheiro pequenino como um menino, com o medo de um lado e a coragem do outro, enfrentando as rochas negras, pontiagudas, que rasgam como facas o casco das embarcações, sempre à espera de um defeito, de uma falha na junção das tábuas, de um suspiro por onde passam as correntes.
Às vezes, os marinheiros tapam os ouvidos com as mãos, tão cansados estão dos chamamentos da terra " vem!! nasceu mais um filho do teu ventre e a festa está aqui à tua espreita, os padrinhos perguntam tanto pela rota do teu barco e querem oferecer uma colherinha de prata, um fio de ouro fino para o teu filho prender e não escapar para as lutas deste mundo e ele é tão pequenino e a tua mulher a chorar com saudades de ti e das tuas canções de marear...traz um mapa desenhado a lápis grosso para eu te encontrar!"
Na tarde desse dia descalçou-se, deixados os sapatos sei lá onde, escondeu-se na torre mais alta e fria e desejou ser pedra de um castelo fazer parte de uma construção precisa, milimetricamente calculada, onde tudo encaixa e justifica a visão perfeita de tanto mar. Apenas os castelos conhecem os segredos da história, o trotar dos cavalos de um rei, os suspiros das princesas-rãs porque os sapos são tão feios de beijar.
"Mãe dás-me pão com manteiga e mel? eu sento-me aqui ao pé do lume a imaginar os dançarinos das chamas, vestidos de fogo, sem sapatos como eu, e depois lambo os dedos para não sujar este vestido de linho que me vestiram de manhã a cheirar a arca de pinho, a rendas e bordados e a sabonete de alfazema. Lá fora gritam os meus irmãos, excitados em brincadeiras de espadas, não imaginam a dor de um corte fundo que trespasse o coração. Guerrear porquê?"
E ela ouvia "a guerra não muda, é sempre a mesma guerra, de espada, de pólvora, de aço, de qualquer coisa que envenena o ar, que nos transforma em pedaços, repartidos, doloridos, ou nos deixa inteiros, intactos mas vazios de ar." Insistia "e a paz?" "a paz é o teu vestido branco e esse fogo no olhar!"
No entardecer desse dia sentou-se, à entrada de uma tenda branca e chegaram por um caminho de incontáveis estrelas tantos os luzeiros que há no céu e não foram precisos archotes nem velas de cera porque derretidos já estavam os corações e falaram tantas línguas porque estranhos até eram, mas quando ouviam sabiam exactamente o que diziam porque a torre do castelo não era de babel.
Na noite desse mesmo dia enrolou-se, como fazem as ondas em tempestades de vento e vagueou cheia de vagar.
Tantas saudades do fundo, onde o ar escasseia, o zumbido nos ouvidos assobia, a pressão no peito aperta como a paixão sem tino, desatinadamente solta em cada respirar. Sufoco que se desprende mal ouve um tilintar, pode ser peixe, sereia ou um marinheiro perdido desencontrado de um barco à vela ou de papel, marinheiro pequenino como um menino, com o medo de um lado e a coragem do outro, enfrentando as rochas negras, pontiagudas, que rasgam como facas o casco das embarcações, sempre à espera de um defeito, de uma falha na junção das tábuas, de um suspiro por onde passam as correntes.
Às vezes, os marinheiros tapam os ouvidos com as mãos, tão cansados estão dos chamamentos da terra " vem!! nasceu mais um filho do teu ventre e a festa está aqui à tua espreita, os padrinhos perguntam tanto pela rota do teu barco e querem oferecer uma colherinha de prata, um fio de ouro fino para o teu filho prender e não escapar para as lutas deste mundo e ele é tão pequenino e a tua mulher a chorar com saudades de ti e das tuas canções de marear...traz um mapa desenhado a lápis grosso para eu te encontrar!"
Na tarde desse dia descalçou-se, deixados os sapatos sei lá onde, escondeu-se na torre mais alta e fria e desejou ser pedra de um castelo fazer parte de uma construção precisa, milimetricamente calculada, onde tudo encaixa e justifica a visão perfeita de tanto mar. Apenas os castelos conhecem os segredos da história, o trotar dos cavalos de um rei, os suspiros das princesas-rãs porque os sapos são tão feios de beijar.
"Mãe dás-me pão com manteiga e mel? eu sento-me aqui ao pé do lume a imaginar os dançarinos das chamas, vestidos de fogo, sem sapatos como eu, e depois lambo os dedos para não sujar este vestido de linho que me vestiram de manhã a cheirar a arca de pinho, a rendas e bordados e a sabonete de alfazema. Lá fora gritam os meus irmãos, excitados em brincadeiras de espadas, não imaginam a dor de um corte fundo que trespasse o coração. Guerrear porquê?"
E ela ouvia "a guerra não muda, é sempre a mesma guerra, de espada, de pólvora, de aço, de qualquer coisa que envenena o ar, que nos transforma em pedaços, repartidos, doloridos, ou nos deixa inteiros, intactos mas vazios de ar." Insistia "e a paz?" "a paz é o teu vestido branco e esse fogo no olhar!"
No entardecer desse dia sentou-se, à entrada de uma tenda branca e chegaram por um caminho de incontáveis estrelas tantos os luzeiros que há no céu e não foram precisos archotes nem velas de cera porque derretidos já estavam os corações e falaram tantas línguas porque estranhos até eram, mas quando ouviam sabiam exactamente o que diziam porque a torre do castelo não era de babel.
Na noite desse mesmo dia enrolou-se, como fazem as ondas em tempestades de vento e vagueou cheia de vagar.
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esta é uma página de castelos e de ar
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(desenhos a pastel e devagar)
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Manuela Baptista
2010/05/08
50 comentários:
PORQUE
Porque derretido já estava meu coração
encostei-me a teu ombro
e dormente
acordei
a ouvir esta estória
e dei-te a mão
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Maio de 2010
que encanto de palavras e imagens...puro deleite!
um bj de praia e (m)ar :)
talvez gostes de ler este blog que tanto aprecio...
http://saudades-futuro.blogspot.com/
E de castelos no ar se fazem as mais belas histórias de encantar
Um beijinho
Um vaguear pelas palavras cheio de beleza e de simbolismos.
Bjs
Jaime
...deste-me!
Manuela
búzio
já lá fui, às saudades do futuro e gostei!revoltarei...
obrigada pelo puro deleite e pelo conselho
um beijo de ar :))
Manuela
Filomena
e castelos no ar é mesmo connosco!
beijinhos
Manuela
Teresa
obrigada pelo seu vaguear comigo!
beijos
Manuela
Linda hsitória que nos prende no ler!
Angel
Bonito e belas ilustrações também.
de encher os olhos
a mente
e o coração
fabuloso querida
beijos
MANUELA BAPTISTA
Dei-te e continuar-te-ei sempre a dar!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Maio de 2010
anda um
Angel por aqui??
obrigada!
um abraço
Manuela
relógio
obrigada!
...e o caracol já subiu a parede??
um abraço
Manuela
Cris França
também é com o coração
que lhe dou um beijinho
Manuela
Olá! Jaime!
estás aqui, outra vez??
MB
Manuela,
No castelo mágico da vida vou vaguear,
o sonho espreita,
a paz vou encontrar
na alma que se veste de branco.
História deliciosa que me vai adormecer nesta noite fresca de Primavera.
beijinhos
♥ Olá, amiga!
Passei para uma visitinha.
Para você... com muito carinho ♥
"Quem tem o abraço mais apertado...
mais carinhoso...♥
e um amor tão grande... tão grande...♥
que apaga qualquer desamor?"♥
Feliz Dia das Mães!!!
♥Ótimo fim de semana!
Itabira♥♥
Brasil
Olá querida
Obrigada pelo carinho.
Belo texto, podemos vaguear nesta maravilhosa leitura, saborear todos os momentos sem ficarmos enfadados.
Como pessoa especial tem o dom de nos presentear com belos posts.
Com muito carinho BJS.
Um pássaro azul de penas brancas...Azul é o pássaro que indica o mar e manso é o barulho das ondas...
Ai, que lindo vaguear !
Um abraço apertado de saudade,
Linda Simões
E o que é que queres que eu te diga linda menina......?
Vestida assim de sonhos, bordados nas ondas que cruzam os mares em barcos de papel e marinheiros ausentes nas lágrimas das mulheres paridas com as cargas filhos famintos..........
Não, não digo nada pois o texto é tão bonito que que se tivesse uma janela nesse castelo eu ficaria por lá...
ah...
hoje era tudo o que eu mais queria,
uma história embrulhada de "voares", construída de "cabeça no ar" a tocar as nuvens, uns pézinhos mergulhados no azul do mar, e uns bracinhos esticados para empoleirar os pássaros e sonhar sonhar sonhar...
Olá Manuela!
Que tal a vida aí nesses seus castelos?
Se não descer, subo eu para a abraçar...
Walter
Manuela,
E é tão bom vaguear, construir castelos no ar...!
Gostei particularmente da passagem do marinheiro, do filho que nasce em terra, da mulher que espera...tenho uma especial ternura não própriamente por marinheiros, mas por pescadores, vidas que labutam e outras que esperam nos portinhos de mar...mas essa são outras histórias.
Esta é uma história de nos fazer sonhar, a história de uma menina capaz das maiores fantasias e com os pés bem assentes na terra.
Adorei.
Se me permite, tenho que dizer que os comentários do Walter aqui me deixam sempre maravilhada, é como se fossem uma outra história resumida, comentários de encantar.
Beijinhos
Branca
Peço desculpa, o comentário eliminado era meu.
Ontem não vim cá porque adormeci, antes de ontem foi quase a mesma coisa e parece que este acordar ainda não está no ponto... :))
Um Bom Domingo, Manuela.
Beijinhos
Branca
.
. na manhã de um dia,,, este é o dia onde me a.cerco,,, da liberdade para cá do infinito cerco, onde o ar escasseia ... e a alma vagueia sobre açucenas de uma primavera res.plandecente .
. presente na diáspora de um frente.a.frente .
.
. serão sempre as asas o alcance do sonho .
. serão sempre rasas para quem sabe a.mar .
.
. bel.íssimo, manuela .
.
. !!! parabéns .
.
. uM bOm DoMiNgO .
.
. um bEiJo toTAL .
.
. paulo .
.
Canduxa
já sei que esta noite dormiu no castelo!
...espero que os fantasmas não a tenham incomodado.
beijinhos
Manuela
Inês
o dia das mães atrasou-se a atravessar o oceano!
espero que tenha um feliz dia!
beijinhos
Manuela
Rufina
vagueando dou-lhe um beijinho...
Manuela
Linda!
que bom teres chegado cá acima!
eu não sei se tinha paciência para me ler a mim própria assim com tanto carinho...
e Feliz Dia!!
mãe do pássaro noctívago e do simpático que atende o telefone (Marcos?? ai que em esqueci...)
beijinhos
Manuela
Luís
não diga nada, porque já disse muito!
está bem! reservo-lhe uma janela no castelo,ela está lá, apenas não se vê
um abraço
Manuela
Walter
está ventinho aqui em cima...
não se vá embora que eu desço já!
embrulhada em voares e cansada de picar os dedos nas agulhas do pinheiro,
um abraço, gaivota!
Manuela
Brancamar
adormecida
em histórias de portos e pescadores
não me vou esquecer, porque de pescadores gosto eu, quase tanto como de navegar...
o comentário eliminado que fiz desaparecer, era o seu, assim já está tudo mais bonito e menos ensonado!
Concordo consigo, o Walter tem uma cabeça histórica e eu não lhe roubo mais ideias, porque até fico envergonhada...
beijos
Manuela
Paulo
esta é a tarde
em que cede o cerco
e por aqui o deixo entrar
com a alma vagueante de açucenas
frente a frente
rasando o mar!
...e AgoRa jÁ faÇo isTo coM uMA PeRnA àS cOStas
eMbORa nÃo sAibA se É a dIreItA oU a eSqUeRda
e O EfEIto vIsuAl SejA dE
lAmEntAr!!! :)))
sempre a aprender!
um beijo total
Manuela
Ola Manuela
As telas sâo muito bonitas.
E o seu texto belo como sempre.
beijinhos
Sideny
obrigada!
...e o fim de semana a acabar...
beijos
Manuela
Ler os teus textos é ficar com a cabeça cheia de imagens, umas vão-se sobrepondo às outras e foi assim que subi o castelo, as tuas palavras foram as minhas escadas.
Estou lá em cima e a paisagem é tão boa, que decidi ficar por lá, até porque vejo o mar em toda a sua extensão e quando os meus olhos caiem no mar é difícil arrancá-los...lá ao fundo lá vai um barco, para onde irá?
Beijinhos,
Marisa
Marisa
mais uma inquilina para a torre deste castelo!!
é, lá ao fundo vai um barco
que para tão longe navega, sem carta e marear...
beijos
Manuela
Cá estou eu, sempre a receber com
muito interesse o conteúdo dos seus
maravilhosos textos.
Muito obrigada por ter ido ao meu
blogue.
A m/ternura para si num beijo
"Na tarde desse dia descalçou-se, deixados os sapatos sei lá onde, escondeu-se na torre mais alta e fria e desejou ser pedra de um castelo fazer parte de uma construção precisa, milimetricamente calculada, onde tudo encaixa e justifica a visão perfeita de tanto mar"
Que bom deve ser ter essa visão de tanto mar...numa tarde assim mesmo, descalços...
Que bom que deve ser...
Manuela também eu Lhe daria hoje a minha mão para irmos por aí ...vaguear.
Que bem sei me faria...
Gostei muito. Muito mesmo.
Beijinhos de muitos abraços.
dulce
Manuela
Um abraço apertado da
Mãe da Gabriela(pássaro notívago)e do rapaz simpático chamado Lucas
Boa semana
Irene
pela ternura
um beijo para si também!
Manuela
Dulce
tenho este hábito (feio?) passo a vida a descalçar-me, sabia??
assim, quando estiver cansada
posso sempre imaginar que estou na India...
beijos
e dê cá a mão!
Manuela
Linda
da Gabriela, podia lá eu esquecer-me? leio-a, sabendo ela ou não...
Lucas!
peço desculpa de ter trocado o teu nome...
mas afinal quem ouviu a tua voz foi o Jaime e não eu
e depois, Lucas e Marcos são os dois evangelistas!
beijos à família TODA
Manuela
MANUELA BAPTISTA
Ao Lucas, ouvi-Lhe a voz e o desvelo com que, aos nossos recados os transmitiu a Sua mãe!
Desculpa-me não me ter apercebido da confusão de nomes ...
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 10 de Maio de 2010
Gosto de castelos...bem altos, onde o dia acorda mais cedo...Daqueles de onde de uma janela se pode apanhar um pássaro com uma mão e, com outra, tocar num pinheiro manso... Talvez com cuidado, possa colocar o pássaro que é azul, no pinheiro para ele construir um ninho... Vagueando pelo castelo encontro um saco de viagem a abarrotar de histórias que a dama do castelo escreveu e ilustrou para contar aos visitantes em noites de luar e para os soldados que chegam cansados de tantas lutas... O cansaço pesa-lhes... e a Dama vestida de branco, pede-lhes que esqueçam tudo e oferece-lhes pão com manteiga e mel...
E a voz continua com a côr dos tempos nas histórias que escreveu e todos escutam com a alma lavrada em paz porque aquela não é uma Torre de Babel...mas sim uma Torre de Amor!
Manela, feiticeira das palavras...tão lindo!
Tal como a Canduxa...deixa-me ficar nesse castelo...
Beijos
Graça
tudo...como sempre: perfeito!
Jaime
...estás desculpado!
de quê??
Manuela
Graça Pereira
então é assim:
tu ficas com a terceira torre a contar da esquerda, a Canduxa com a quarta e o Luís (direitinho) vai ter de se arrumar noutro sítio, porque
primeiro as Damas!!
...e que bonita a tua história, dentro da minha história!
beijinhos
Manuela
Bia!!
minha amiga de tão longe
que desenha barcos tão mais bonitos do que os meus!!
Lembras-te quando eu pedi
"Bia, desenhas-me um barquinho?" e agora desenho eu os meus...
Bia, desenhas-me um pássaro?
beijos
Manuela
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