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Era tão ligeira, tão rápida, que as pessoas coçavam o nariz quando ela passava e diziam "hoje o ar está cheio de mosquitos..." às vezes deixava para trás um rasto de pó, mas este sinal era atribuído ao movimento do vento ou às partículas de pólen, abundantes em primaveras quentes e tardias. Gostava de longas rectas e de curvas apertadas, aí guinchava um pouco e assustava-se com medo de deixar cair qualquer coisa, mas a emoção da pressa logo a empurrava para a frente, fosse a frente um qualquer lado desligado do espaço e perdido no tempo, ou um outro lado reencontrado a tempo.
Nas incontáveis viagens que fizera deixara sempre um pedaço de si, uma cor, um pingo, um traço, mas aquilo que trazia na memória, fazia dela a heroína de todas as histórias, aquelas que se contam às estrelas ou a um único e solitário amigo, o que é exactamente a mesma coisa.
Já tinha sido roubada e sabia quantos segundos tinha passado longe de casa, cheia de saudades de um muro coberto de musgo, de um campo de silvas carregadas de amoras, de uma mão que lhe sossegasse o bater acelerado no seu peito, de uma voz que lhe cantasse canções de caminhar.
Não gostava de crianças, frágeis, levezinhas, sempre a cair, a magoá-la, a darem-lhe pontapés, a gritarem aos seus ouvidos. As crianças gostavam dela.
Não gostava de camiões, pesados, compridos, altos, malcheirosos, barulhentos, sempre a buzinar. Os camiões gostavam dela! E da sua ligeireza e das notas alegres da sua campainha.
Às vezes sentia um arrepio quando vinha a chuva forte, a humidade das manhãs de nevoeiro, pensava na ferrugem que a poderia atacar sem piedade e a condenaria a uma penosa imobilidade, porque quem conheceu um dia a vertigem e a emoção de ser veloz não se contentará jamais com a lentidão de uma pegajosa lesma! Temia o abandono e a morte prematura, atirada desmembrada para uma cave sem janelas e sem ar. Mas bastava um assobiar alegre ou um pingo de óleo no seu coração, para lhe restituir a confiança no seu companheiro de todas as horas e assim lançada na ousadia de cada descoberta, sonhava que voava e que uma flor se abria em cada aro das suas rodas.
E não existia mais nada à superfície da terra. Apenas aquela terna canção de caminhar.
Nas incontáveis viagens que fizera deixara sempre um pedaço de si, uma cor, um pingo, um traço, mas aquilo que trazia na memória, fazia dela a heroína de todas as histórias, aquelas que se contam às estrelas ou a um único e solitário amigo, o que é exactamente a mesma coisa.
Já tinha sido roubada e sabia quantos segundos tinha passado longe de casa, cheia de saudades de um muro coberto de musgo, de um campo de silvas carregadas de amoras, de uma mão que lhe sossegasse o bater acelerado no seu peito, de uma voz que lhe cantasse canções de caminhar.
Não gostava de crianças, frágeis, levezinhas, sempre a cair, a magoá-la, a darem-lhe pontapés, a gritarem aos seus ouvidos. As crianças gostavam dela.
Não gostava de camiões, pesados, compridos, altos, malcheirosos, barulhentos, sempre a buzinar. Os camiões gostavam dela! E da sua ligeireza e das notas alegres da sua campainha.
Às vezes sentia um arrepio quando vinha a chuva forte, a humidade das manhãs de nevoeiro, pensava na ferrugem que a poderia atacar sem piedade e a condenaria a uma penosa imobilidade, porque quem conheceu um dia a vertigem e a emoção de ser veloz não se contentará jamais com a lentidão de uma pegajosa lesma! Temia o abandono e a morte prematura, atirada desmembrada para uma cave sem janelas e sem ar. Mas bastava um assobiar alegre ou um pingo de óleo no seu coração, para lhe restituir a confiança no seu companheiro de todas as horas e assim lançada na ousadia de cada descoberta, sonhava que voava e que uma flor se abria em cada aro das suas rodas.
E não existia mais nada à superfície da terra. Apenas aquela terna canção de caminhar.
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quando alguém nos recorda a bicicleta partida que ficou longe no tempo
companheira das nossas mais aventurosas viagens
sentimos as saudades imensas das peças que vamos deixando para trás
mas que acreditamos ter reunidas bem à tona de água
no mais profundo mar dentro de nós
companheira das nossas mais aventurosas viagens
sentimos as saudades imensas das peças que vamos deixando para trás
mas que acreditamos ter reunidas bem à tona de água
no mais profundo mar dentro de nós
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(fotos pessoais dos todo-o-terreno cá de casa)
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Manuela Baptista
Estoril, 12 de Abril 2010
48 comentários:
Quem sabe o que pensa ou o que sente uma bicicleta? Só a tua sensibilidade para lhe auscultares o coração.
Bjs e boa semana
AS TODO O TERRENO
Infinitos, uma era brinquedo de meu pai e a outra, é ainda a bicicleta do meu filho.
De tempos unidos por um oito deitado na vertigem veloz da emoção ...
Muito bonito, obrigado Manela!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 12 de Abril de 2010
Manuela,
lindas memórias, que ganharam vida nesta maravilhosa história criada por si.
Uma flor na roda que nos faz sorrir,
um brinquedo que nos faz recuar no tempo.
Simplesmente delicioso!
Quando há um coração a bater tudo é vivido com amor.
Beijinhos com muito carinho
Ola Manuela
Linda esta historia.
fez-me recordar em que um dia uma certa crianca saiu com a sua bicicleta mas nao sabia andar mas quando voltou ao fim da tarde
a fazer cavalinhos todo orgulhoso:)
beijinhos
Vou desvendar um segredo:
não sei andar de bicicleta. Nunca consegui a prender.
Coisas!
Beijinhos
.
. ! bel.íssimo, manuela .
.
. pelo movimento ao sabor do vento .
.
. ou reminiscência de um tempo que se deseja intemporal .
.
. por isso, por isto, um beijo total .
.
. paulo .
.
Teresa
a sua bicicleta não falava?!
assim
com o coração auscultado...
beijinhos
Manuela
Jaime
obrigada eu!
por teres gostado
e
por teres carregado a bicicleta...
Manuela
Canduxa
pelas memórias partilhadas e que nos dão vida!
beijinhos
Manuela
sideny
e quem era essa criança?
espero que ainda saiba fazer cavalinhos!! eu isso faço muito mal...
beijos
Manuela
Filomena!
eu acho que já me tinha contado...ou estou a inventar?
Também não se esmurrou toda na aprendizagem...eu tinha sempre as canelas cheias de nódoas negras!
E olhe, Filomena, há tanta coisa que eu ainda não aprendi.
beijinhos
Manuela
Paulo
a minha primeira e intemporal bicicleta era encarnada e sabia descer os degraus da escada
pedia-me desculpa, cada vez que me atirava borda fora!
e ainda hoje tenho saudades do toque da sua campainha...
na mudança, não deixe nenhuma peça para trás :))
um beijo aos pedaços
mas total!
Manuela
Linda Manuela.
Você gosta de me ouvir e eu adoro ler-te, memórias e vivas nas palavras que teclas cheias de alegria.
Renata não sei andar de bicicleta rsrsrsrsr
beijo
Renata
que se junta à Filomena e fazemos uma festa...sem bicicletas!
:)))
beijos
Manuela
Belíssima história Manuela, a recordar aventuras que alguns meninos-graúdos, :)ainda têm o prazer de fazer.
Pedalar, sentir o vento na cara, trepar montes e vales, ou simplesmente numa aventura mais dos tempos modernos, defender o ambiente.
A bicicleta pode ser uma amiga inseparável e com o pormenor que lhe acrescentou (o raminho de flores)fica duplamente atraente...e perfumada.
Gostei muito.
Beijinhos
Branca
Peço imensa desculpa Manuela. O comentário eliminado era meu, mas estava péssimo, foi publicado com partes que recompus e corrigi por apagar, etc, é a falta de sono destes dias e...e...para além do teclado ser mau. Hihihi, lá vem o Paulinho dizer que sou assim em todos os teclados. Às vezes como letras é verdade, troco coisas com o cansaço, mas estas teclas são mesmo duras.
Ah, como fiquei contente quando a minha filha estes dias veio ao meu teclado escrever os parabéns para o Paulo e vim dar com ela a queixar-se do mesmo...quando lhe perguntei se era assim tão demorado...hihihi, senti-me salva...:)), afinal confirmei que as queixas não são só minhas.
Beijinhos
Branca
P.S. Vou ver se não comi nenhuma letra, :)), se é que estou a ver bem a esta hora, porque também ando a precisar de "ólicos", :))
Olá Manuela,
Ainda estou todo equipado...
Ja adivinhou o que fui fazer nesta última hora, não é verdade?
Pois é! A bicicleta sempre foi e sempre será o meu brinquedo favorito. Sabe onde ela dorme?
No meu quato, pois claro!
Últimamente anda muito queixosa, até um pouco chateada comigo... acho que são ciúmes, pois sabe que ando de olho numa outra:)
Acho que lhe vou ler esta sua linda história, para ver se a lhe levanto a moral...
Manuela agora se me der licença, roubo-lhe a sua veloz bicicleta por um bocadinho, é que a minha já está a ressonar...quero ir num instantinho dar um beijinho à Branca, pode ser?
Então cá vou...! zuuuuuuuuummmmmmmmmmmmmmmm... trim trim trim...
Branquinha
amiga do ambiente e nossa amiga!
que come letras é verdade...
está a ouvir este ruído? Não? é que eu não faço barulhinho nenhum quando estou para aqui a teclar...
mas se quizer companhia, vou chamar o Jaime que me maltrata o pc como se fosse um tamborete...ainda está ligado àquelas velharias das máquinas de escrever Remington ou Royal! Eu nem sei como é que a tecla enter ainda funciona...
e a falta, é de sono ou de dormir? Ou...demasiada caféina?
Peço desculpa por tantas perguntas, mas espero sinceramente que me responda :)
e finalmente
eu também como letras! e obrigada por ter gostado da canção da bicicleta.
beijinhos
Manuela
Walter!
livre-se de abandonar a sua bicicleta!
até pode comprar mais duas ou três, mas essa deve continuar a dormir no seu quarto.
Como é que descobriu que a minha bicicleta é voadora?
...se já se foi embora, não lhe posso dar um beijinho...
Manuela
Pronto já voltei... entrego a bicicleta!
A Branca estava a olear o teclado do computador, mandou um beijo para si...
Então venha daí o beijo!
Olhe! Sabia que hoje é o dia mundial do beijo?
Então beijos para todos...
Manela
Deixei há pouco um comentário...que não vejo! Terá a bicileta levado a dar uma volta? Então...ainda regressa!
Beijo amigo
Graça
Graça
eu não eliminei nada!
mas hoje já aconteceu, os comentários levarem imenso tempo a aparecer...
espero que a volta seja curta e obrigada Gracita!
beijinhos
Manuela
Walter
chegou tão depressa, que eu nem o vi...
a olear o...essa é mesmo boa! :)))
o dia mundial do beijo? há cada dia...
então um beijo para todos!
Manuela
Olá!
Manuela, tantas perguntas e quer as respostas todas????
Bem, vou responder a tudo ou quase tudo...a falta é realmente da falta de sono...esta semanita tenho andado muito excitadita, também um pouco de cafeina, basta que seja pouca,a mínima de um descafeinado à noite é fatal, não preciso de mais e depois esta semana começou de forma diferente e pouco propícia a grandes expansões, ontem ainda vim cá mas já não consegui voar nesta bicicleta florida, só a vi e que linda que a achei!
Sabe que eu volto e revolto sempre... e cá estou.
Tem um comentário no meu sítio, que o Walter e a Manuela excepcionalmente me provocaram e aí não precisa de saber o porquê (hihihi) foi só porque sim, porque abri o blogue depois de jantar e tinha lá a resposta para o que precisava - apenas sorrir - os amigos são a coisa melhor do mundo. Não sentiram que Alguém vos transportou naquela bicicleta voadora? Eu senti...e ri-me e emocionei-me ao mesmo tempo.
Beijinhos
Branca
Branca
há sempre uma bicicleta voadora
para nos conduzir tão longe, mas tão longe
onde apenas chega o nosso coração!
durma bem...
beijos
Manuela
Manuela, eu também só soube ao fim da tarde que era o dia mundial do beijo, estou mesmo a ver o que é que a indústria vai inventar a seguir para vender neste dia. Será que vamos começar a ter todo o ano aquelas montras pirosas do dia dos namorados?
Ou será que cada vez mais os beijos são virtuais e têm que ter um dia de emancipação para saírem à rua? Ahahah, eu rio-me, mas é coisa séria!!!
Beijooooooooos até ao dia em que possa beliscar-lhes as bochechas e abrir os braços como fiz ao Paulinho, ahahahah, o que vale é que ele está muito ocupado nas arrumações e nem me lê, :)), se não andasse tão cansado, ia-me arrasar,:))
Beijosssssssss outra vez.
Branca
que história mais linda.
eu não sei andar de bicicleta, lamento tanto por isto.
mas há outros meios..
linda história. Recordações sempre vivas e presentes na nossa memória.
Ah, Manuela, se amanhã aparecer a qualquer hora não me pergunte como apareço na hora de trabalho, não é uma escapadela, estou a faltar mesmo, embora sejam faltas justificadas.íssimas, como diz o nosso amigo.
E já durmo de pé, hoje pousei finalmente.
Beijinhos
Mariana
não lamente nada! há muitos meios.
obrigada pela visita!
um abraço
Manuela
Luís
obrigada!
um abraço
Manuela
Branca
e antes de eu também cair para o lado
obrigada pelas respostas! e agradeça ao Walter a boa disposição, foi ele que se deslocou velozmente de um blogue a outro na minha veloz e inventou o dia dos beijos!
...a arrumar a casa?? a arrumar a escrita, talvez?
então até amanhã, fora de horas
um aperto nas bochechas
Manuela
Olá querida
Que belo texto, sua bicicleta está viva sempre que você quiser, é só pedalar um pouquinho todos os dias.
Com muito carinho BJS.
Rufina
pedalando todos os dias com alegria de viver
que bom seria!
beijinhos
Manuela
(...)
E não existia mais nada à superfície da terra. Apenas aquela terna canção de caminhar.
(...)
Maravilhosa esta história de reencontro com o tempo
numa viagem de movimento ligeiro ou mais veloz feita de vento e de brisa do mar, de flores...muitas flores silvestres, de muros de musgo e de campos de silvas carregados de amoras...e eu sinto tão grande saudade ...de no verão sair e já só voltar tarde tarde, sempre em viagem estrada fora...que bom que era Manuela..!
Quanta saudade sinto em mim daquela doce terna canção de caminhar...
Um beijinho de Obrigado Manuela por ter viajado de novo nela...sentindo quase quase a mesma emoção...
dulce
Dulce
não sei se as estradas têm agora mais carros
se sou eu que tenho as pernas mais compridas ou se é o vento que sopra em tanta direcção
mas às vezes, também ainda procuro as tardes tão longas de um Verão!
um beijo
Manuela
minha querida Rosemary!
eu penso que é melhor começarmos a falar inglês...
do you speak english?
Manuela
Bom dia, Manu.
Já havia comentado e acho que por problemas de conexão não chegou até você. Enfim o vale nestas histórias é que a memória esta vivida, festiva e a bicicleta passa por nós levantando a poeira de nossas lembranças, eu me recordei que meu psi tentou me ensinar a pedalar e não conseguiu, ganhei uma moto e até hoje morro de medo da magrela (bicicleta).
Beijos
Renata.
Bom dia, Manu.
Já havia comentado e acho que por problemas de conexão não chegou até você. Enfim o vale nestas histórias é que a memória esta vívida, festiva e a bicicleta passam por nós levantando a poeira de nossas lembranças, eu me recordei que meu pai tentou me ensinar a pedalar e não conseguiu, ganhei uma moto e até hoje morro de medo da magrela (bicicleta).
Beijos
Renata.
( A pressa é inimiga da gramática)
O que se traz na memória é o que nos faz sonhar. E sempre um sonho nos arrasta (nem que seja de bicicleta...) Gostei imenso deste texto escrito como quem sabe o valor das palavras e das recordações.
Manu criei um selo, vejo que não os coleciona mas esta lá a tua disposição caso queira, avisa por favor a Filomena e a todos que temos em comum que carrege este pedaço de carinho que fiz para todos nós.
beijos
Renata
http://renatagomesdefarias.blogspot.com/
Renata
o seu 1º comentário está aímais acima, inteirinho!
até sei que não sabe andar de bicicleta...e eu não sei andar de moto...
Agradeço o selo e tenho um blog só para eles:
http://tesouros-do-fundo-do-mar.blogspot.com/
vá lá ver!
beijos
Manuela
Graça Pires
...levando connosco os nossos valores
velozmente!
um beijo
Manuela
Manela
Que pena...o comentário não voltou mesmo...
Também tive uma ginga...no passado que fêz a minha alegria de várias férias...Agora tenho uma estática, não sai do mesmo sítio, nada romântica...não conta histórias, nem tem memória de coisas vividas...
Emprestas-me a tua? Talvez com ela consiga encontrar pedaços da minha primeira bicicleta e construir minutos e horas vividos com ela num campo cheio de capim onde as sardaniscas pediam boleia.
Beijos
Graça
Graça Pereira
...estática, voa com o pensamento...mas eu experimentava!
Do capim quem me dera ter o cheiro, agora das sardaniscas...(são osgas não são?)com essas, tenho uma relação muito atribulada.
beijos
Manuela
Manuelaaaaaa!
Andar de bicicleta é bommmmmmm!Levei um monte de tombos para aprender,mas conseguindo, não larguei maissss!YES!
Volto aqui depois...Só vejo provas,provas e provas!Conselho de turmas,correções,notas!
Eita!
Mas volto logo, pois gostei da veloz e da Tita!
Um abraço apertado
Linda Simões
Linda!
tanta prova, tanta!
roube-me a bicicleta, assim chega mais depressa ao fim...
até já e um grande abraço!
Manuela
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