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Um dia sem saber muito bem porquê, a mão direita não foi capaz de segurar o pincel e a mão esquerda tomada de uma inveja angustiante espalhou pelo chão as tintas, o diluente, a paleta de tantas cores, mistura patética de pó e panos, pedaços secos como seco se sentia. À sua frente a tela branca tão branca que doía, como dor que não se pede nem se deseja, entendida, apercebida na sua dimensão rasteira.
Depois o espanto: Quem sou eu, que disparo sentimentos em folhas vazias, em telas solitárias, desapegadas de adornos, para que tenham a vida que eu lhes empresto, roubando a luz e a penumbra, a claridade e a obscura certeza de que sou apenas a consciência de mim próprio, no isolamento perfeito que me permite criar?
Se eu fosse pássaro, cumpria o meu destino num agitar de asas, na perda de uma pena leve, na construção de um ninho frágil, derrubado num primeiro ventar, mas logo reconstruído sem nunca perguntar, quem sou eu? se sou um pássaro!
Se eu fosse terra, era terra e se tremesse continuava a ser terra e se desse frutos era terra e não perguntava, porque não posso eu ser azul do céu? ou apenas azul ou infinitamente céu?
Mas sou tela e a tela por pintar é a mais bela das telas, nela estampo o grito e desenho o canto, misturo o ódio mas retoco o amor, torno mais clara a noite e enegreço o dia, desloco-me, entranho-me de cor, prometo o que não cumpro, água forte que me torna criador.
Depois o espanto: Quem sou eu, que disparo sentimentos em folhas vazias, em telas solitárias, desapegadas de adornos, para que tenham a vida que eu lhes empresto, roubando a luz e a penumbra, a claridade e a obscura certeza de que sou apenas a consciência de mim próprio, no isolamento perfeito que me permite criar?
Se eu fosse pássaro, cumpria o meu destino num agitar de asas, na perda de uma pena leve, na construção de um ninho frágil, derrubado num primeiro ventar, mas logo reconstruído sem nunca perguntar, quem sou eu? se sou um pássaro!
Se eu fosse terra, era terra e se tremesse continuava a ser terra e se desse frutos era terra e não perguntava, porque não posso eu ser azul do céu? ou apenas azul ou infinitamente céu?
Mas sou tela e a tela por pintar é a mais bela das telas, nela estampo o grito e desenho o canto, misturo o ódio mas retoco o amor, torno mais clara a noite e enegreço o dia, desloco-me, entranho-me de cor, prometo o que não cumpro, água forte que me torna criador.
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Esta é uma página escolhida a dedo, porque escrever é como pintar.
Basta uma folha em branco.
Basta uma folha em branco.
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Manuela Baptista
Estoril,7 de Fevereiro 2010
40 comentários:
Beij!nhos Manuela...
Basta uma folha em branco para uma letra ser maior em Ti...
ter o Mar ao fundo ao lado e o Céu !menso...
Histórias com coração... talento Criatividade... tanto que faltam as cores para pintar o Teu abecedário...
SENTIR EM TODOS OS TEMPOS...
Obrigada
!
n
f
i
n
i
t
o
beijinho
Pano branco onde risco, contorno, borro, recorto, acerto o momento que se esvai em cada cor que esbato.
Beijos
Maria Emília
Uma folha em branco é sempre a melhor obra de arte... aquela que pode ser tudo... e que espera ansiosamente que sejas tu a escolhê-la a dedo. :) beijinhos
.
. se eu fosse um peixe seriam os mares anzóis, serias tu sonhadora na lonjura onde és caçadora aos sete sóis .
. se eu fosse uma alma que grita, serias tu aflita sendo prece há tanto re.dita que hoje constróis .
. no emaranhado dos teus caracóis .
. se eu fosse um verso, serias tu o obverso no reverso de um terço onde hoje por ti me despeço sem que chegue sequer a partir .
. se eu fosse tela, serias tu aguarela de sentinela à janela no desejo do meu regresso .
. se eu fosse o que peço, pediria a Deus o que só peço, no nexo onde me és tácito convexo sendo aconchego da alma .
. se eu fosse manhã, serias tu a tarde calma na esteira onde és palma e pássaro aos olhos .
. se eu fosse aos molhos, seriam as des.avenças abrolhos e esta amizade um exemplo ímpar para tantas as íris sendo do mundo seus olhos .
. da terra inteira .
.
.
. bel.íssimo . íssimo . íssimo .
.
. um beijo total . íssimo .
.
. paulo .
.
Nagnífica Manuela, como sempre.
" porque escrever é como pintar.
Basta uma folha em branco."
Duas artes maiores de complexa criação.
Mas, como a inspiração por aqui abunda, qualquer folha em branco se transforma numa obra prima, até na caixa de comentários, como li por aqui atràs de mm, :)))
Vou dormir embalada pelo seu conto e sonhar...
Beijinhos
Branca
MAS QUEM SOU EU
Mas quem sou eu
se aquilo que verso
se derrama impávido
no que terço
Nesta caixa
branca
anverso
da fotografia
onde não fia
a cor que uns olhos tenham
só magia
Mas quem sou eu
se o sou
sem ser
escrever
é o meu ter
Mas quem sou eu
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 7 de Fevereiro de 2010
Uma folha em branco sente-se feliz
quando uma nova história está a ser escrita,
vai ser partilhada,
vai ser lida,
relida
e quantas vezes reconhecida.
Uma folha em branco encerra tanto de nós....
tal como a pintura onde se misturam as cores do sonho.
um grande abraço para a Manuela
feito de muitas folhas em branco
fá
infinitamente agradecida
pelas palavras!
sabendo que o alfabeto completo das tuas cores
é a ilustração criativa do meu sentir!
um beijo
Manuela
Maria Emília
esbatendo momentos
em panos brancos
ou não
é sempre um salto para cada risco...
beijos
Manuela
Eva
escolhi-a a dedo!
beijinhos
Manuela
Paulo
e agora o que é que eu faço com este poema?
não existem molduras para esta tela
as tintas e os pincéis desatinadamente
recusam-se a ilustrá-la
amedrontados com o risco imenso, de a poder estragar...
e então?
guardo-o,escondo-o junto com o mapa do tesouro e depois
um dia, solto-o para poder voar!
e
boa viagem para o seu próprio voo!
um beijo
Manuela
Branca
desejando que o seu sono tenha sido embalador
e babada e envergonhada com a obra prima (?)
que parto e reparto por aqui!
um beijo
Manuela
Jaime
és
exactamente aquele
que tem tudo
o mágico perfeito
dos versos por versar
o escrever
o ser
e o pensar!
a ti não te guardo
porque já sabes onde está a chave...
Manuela
Canduxa
no entanto
a angústia da tela em branco
é pensarmos
que não existem molduras perfeitas para a guardar.
beijinhos
Manuela
Uma folha em branco?
Aproximamo-nos, um e outra vez. E se quisermos, de cada vez veremos sempre algo de novo, algo de diferente.
Haverá maior magia?
Seguramos um lápis, um pincel, nem importa a cor. E aproximamo-nos de novo.
A folha murmura: Se me riscares... deixarei de poder sonhar, passarei só a ser os teus sonhos.
Ela tem razão.
Baixo o pincel e lanço-lhe um sorriso.
Deixemo-la sonhar.
Tudo de bom para ti,
Rolando
Rolando
em que entremares navegou?
agora chegado
respeitando o sonho de uma folha em branco.
um abraço
Manuela
Manuela,
O que faria se vivesse numa casinha toda feita de papel?
Mal posso imaginar...:)))
Sua escrita colorida de tão bonita que é, chega a doer...
Guarde, guarde muito bem, o poema que o Paulinho lhe deixou, aqui é ouro sobre azul.
Um beijo
Olá Manuela,
Para já quero dizer, que estimo muito o SKODA do REBELDE e apenas queria fazer uma brincadeira.
Na tela em branco podemos imaginar muita coisa...
ver tanta coisa!...
Quando se põe em acção os pinceis pode surgir a frustração...
eu também olho para telas em branco e pego em pinceis...
conheço a ideia...
a angústia...
a frustração...
nunca nada fica igual à ideia...
ainda se o meu pincel fosse a tua pena...
obrigada pelo Chopin, que faz 200 anos este ano, mas partiu bem cedo...
genial e cheia de sensibilidade a música que nos deixou...
muitos beijinhos,
Marisa
CLAVE
Minha chave
onde está
se é amor
tem a luz
invisível
do sabor
Minha chave
é uma clave
e de cor
são as notas
é um sol
música
cor
Minha chave
que não fecha
abre
e é mor
por saber-te
a meu lado
meu amor
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Fevereiro de 2010
Walter
se eu vivesse numa casinha toda feita de papel...
acabou de me dar uma ideia genial!!!
aqui guardo tudo, porque tudo é precioso!
um beijo, homem das altas montanhas
Manuela
Ó Marisa,
eu sei que era uma brincadeira! Mas que é giro, é!
obrigada por estar sempre atenta à música.
Beijinhos
Manuela
ao Jaime
clave de Sol!
Manuela
Uma folha em branco à espera de ganhar asas( coloquei uma imagem no blog da"minha vida " que lhe é dedicado)
Beijíssimos
Filomena
e são lindas as imagens desenhadas no céu!
Mas a mais bonita são os textos-ave!
Não conhecia Rafal Olbinski,qualquer dia roubo-o...
E a sua voz, já voltou para casa?
beijinhos
Manuela
Tal como uma pena leve cheguei com o vento...Manela, o que tu fazes com o pensamento...
Folhas brancas, nem pensar!Mal ouves o seu roçagar como sedas a passar...truz! Faz-se luz e há mais uma história para contar!!
Adorei!
Beijo e boa semana
Graça
Graça
já tinha saudades tuas!
Tens aí uma folha em branco?? :))
beijinhos
Manuela
.
. _____________________________ .
. :)))))))))))))))))))))))))))))
. _____________________________ .
. boa noite,,, .
.
. um beijo total para Si .
. uma abraço total para o Jaime .
.
. paulo .
.
bom dia____________________
Paulo!
não se vá embora, sem me dizer até já_______________
um beijo
Manuela
P.S...e não se podem esfaqueá-los? aos tropeços temporais, tão fracos a esgrimir facas?
em todas as viagens, é sempre bom levar um canivete suíço.
se não perceber, telefone :)))
Fátima
um sonho com nuances
é sempre um belo sonho!
um abraço
Manuela
.
. trrriimmmm, trrriimmmm ... .
. trrriimmmm, trrriimmmm ... .
. trrriimmmm, trrriimmmm ... .
. a sua chamada é importante para nós, esperamos atendê.lo nos próximos 456 minutos .
. queira a.guardar . por favor .
. trrriimmmm, trrriimmmm ... .
. trrriimmmm, trrriimmmm ... .
. trrriimmmm, trrriimmmm ... .
.
"Mas sou tela e a tela por pintar é a mais bela das telas, nela estampo o grito e desenho o canto, misturo o ódio mas retoco o amor, torno mais clara a noite e enegreço o dia, desloco-me..."
E deslocando-se Manuela...., vai deixando um rasto enormíssimo de tantas e tão maravilhosas cores na folha que era branca...
Muitos beijinhos Manuela e um abraçinho grande grande...!!
...é do call center? posso falar em português??
mas
o que são 456 minutos,
comparados com os 4,56 biliões de anos do planeta Terra??
e, após não ter resolvido nada ao pobre do paciente em fila de espera, não se esqueça de acrescentar: "Em que mais lhe posso ser útil?"
...já tenho algodão nos ouvidos...
Manuela
Dulce, cheia de trabalho
mas que ainda consegue dar por aqui umas pinceladas...
e bonitas!
Beijinhos
Manuela
sete e meio
obrigada pela informação,
Manuela
Manuela
4 a 1...
Foi golo do LIEDSON
..
Não sei que fazer...
mas que o meu livro está a apaixonar e a vender é mesmo verdade.
Um beijinho ...VERDE
Lili,
mas há muitos apaixonados pelo Sporting!
Jogo é jogo, não fique triste...
um beijo
Manuela
Olá Manuela,
Volto para dizer boa noite e que terminados os horários malucos de dois meses e renovado o computador que andava sempre a emperrar e lento, espero recuperar agora a minha assiduidade junto dos amigos e pôr a escrita toda em dia.
Bons sonhos, com histórias a germinar pelo subconsciente...
Beijinhos
Branca
Branca
às vezes a imaginação também emperra, com algumas dores, como os computadores,daí a composição da palavra :))
Então vamos lá pôr a escrita toda em dia!
beijinhos
Manuela
Querida Manuela,
fiquei sem internet e já estava a ficar sem paciência.
Que lindo texto aqui encontrei e mais os que se lhe seguem.
Como disse no Jaime, eu nem consigo acompanhar a v/ "pedalada" rsss.
Linda tela aqui pintou e a moldura formada pelos amigos que se juntaram e escreveram lindas palavras e poesias.
Beijinhos com carinho
Lisa
vim encontrá-la aqui!
Obrigada e beijinhos
Manuela
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