-
Da rocha onde o rapaz vivia, avistava-se a praia, as casas, a torre da igreja. Ignorando a terra entrava-se no mar.
Já não se lembrava há quanto tempo ali estava, mas estava bem.
No início não tinha sido fácil, sentiu frio, medo da solidão, da imensidão daquela massa azul marinho ou verde água ou negra como um véu, fechada como as trevas.
Mas as gaivotas vieram e desinquietaram-no com o seu falar, contaram-lhe histórias de marinheiros, de barcos perdidos, de meninas de cabelos de algas, de sereias que amavam príncipes e de reis que se tinham perdido para o conquistar, ao mar.
Os peixes diziam, tens de vir connosco um dia ou uma noite. Talvez...respondia.
E foi, um dia.
Agarrado às barbatanas de um peixe-lua, percorreu milhas e milhas sem nunca parar, enfrentou as altas ondas e duas tempestades, nadou junto aos golfinhos e às baleias e ouviu-as cantar. Depois desceu às águas profundas e pensou -Se alguém acendesse luzes nestas planícies, nestes desfiladeiros, nestas cordilheiras, este fundo seria a terra e o mar o céu e no meio do céu um barco!
Às vezes, junto à sua rocha aparecia Aster, a estrela do mar e ficavam os dois horas a fio a conversar. O rapaz contava-lhe como tinha vivido na terra, da sua paixão pelos palcos e pelas luzes, da tonalidade das vozes dos que ainda amava e do seu tempo que tinha sido escasso mas bom.
Aster agitava levemente os seus cinco braços e pensava -É como eu! Se alguém me cortar um braço ele regenera-se e o pedaço que me roubaram, forma uma nova estrela do mar e eu vivo na continuidade do meu tempo.
Quando o rapaz contemplava as estrelas, Aster sentia ciúmes e zangada, puxava-lhe um pé, enrolava-se numa das suas mãos, tapava-lhe os olhos e ainda ficava com dois braços disponíveis para o abraçar.
O rapaz pensava - Um dia vou-me embora, afinal lá em cima as luzes brilham com mais fulgor e os meus pés estão verdes de tanta água...
Assim passaram luas e sóis, muita maré vaza e outras tantas praia mar e numa noite gelada de Inverno, o silêncio instalou-se sobre a praia deserta e a terra adormecida. A rocha permanecia quieta e calma. No alto mar juntaram-se todos os peixes e as aves marinhas, as lulas gigantes, os polvos, os tubarões, os golfinhos, as baleias azuis e as orcas e começaram a cantar.
Nessa noite Aster, a estrela do mar, deu a mão ao rapaz e desapareceram os dois no azul de um céu, escuro como breu, onde hoje brilham duas novas estrelas.
Já não se lembrava há quanto tempo ali estava, mas estava bem.
No início não tinha sido fácil, sentiu frio, medo da solidão, da imensidão daquela massa azul marinho ou verde água ou negra como um véu, fechada como as trevas.
Mas as gaivotas vieram e desinquietaram-no com o seu falar, contaram-lhe histórias de marinheiros, de barcos perdidos, de meninas de cabelos de algas, de sereias que amavam príncipes e de reis que se tinham perdido para o conquistar, ao mar.
Os peixes diziam, tens de vir connosco um dia ou uma noite. Talvez...respondia.
E foi, um dia.
Agarrado às barbatanas de um peixe-lua, percorreu milhas e milhas sem nunca parar, enfrentou as altas ondas e duas tempestades, nadou junto aos golfinhos e às baleias e ouviu-as cantar. Depois desceu às águas profundas e pensou -Se alguém acendesse luzes nestas planícies, nestes desfiladeiros, nestas cordilheiras, este fundo seria a terra e o mar o céu e no meio do céu um barco!
Às vezes, junto à sua rocha aparecia Aster, a estrela do mar e ficavam os dois horas a fio a conversar. O rapaz contava-lhe como tinha vivido na terra, da sua paixão pelos palcos e pelas luzes, da tonalidade das vozes dos que ainda amava e do seu tempo que tinha sido escasso mas bom.
Aster agitava levemente os seus cinco braços e pensava -É como eu! Se alguém me cortar um braço ele regenera-se e o pedaço que me roubaram, forma uma nova estrela do mar e eu vivo na continuidade do meu tempo.
Quando o rapaz contemplava as estrelas, Aster sentia ciúmes e zangada, puxava-lhe um pé, enrolava-se numa das suas mãos, tapava-lhe os olhos e ainda ficava com dois braços disponíveis para o abraçar.
O rapaz pensava - Um dia vou-me embora, afinal lá em cima as luzes brilham com mais fulgor e os meus pés estão verdes de tanta água...
Assim passaram luas e sóis, muita maré vaza e outras tantas praia mar e numa noite gelada de Inverno, o silêncio instalou-se sobre a praia deserta e a terra adormecida. A rocha permanecia quieta e calma. No alto mar juntaram-se todos os peixes e as aves marinhas, as lulas gigantes, os polvos, os tubarões, os golfinhos, as baleias azuis e as orcas e começaram a cantar.
Nessa noite Aster, a estrela do mar, deu a mão ao rapaz e desapareceram os dois no azul de um céu, escuro como breu, onde hoje brilham duas novas estrelas.
-
Estas são as estrelas de David. Porque somos lestos a apontar a falta delas e não nos apercebemos quando brilham.
-
Manuela Baptista
Estoril, 17 de Dezembro 2009
-
(foto de John Colbersen)
30 comentários:
QUANDO
Quando as estrelas brilham
brilham porque cintilam
se elas porém nos faltam
à estrada do céu a asfaltam
Asfaltos escuros exaltam
liso é o caminho e sucalcam
o brilho esquecido apagam
no que perdido encontravam
De brilhantes escurecem
e escuras nos entristecem
ao encontro do que tecem
Às estrelas as absorvem
para uma outra ordem
onde pelo brilho acordem
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 17 de Dezembro de 2009
Antes de chegar ao fim da história percebi logo que era para o David.
Só ele poderia ter inspirado uma tão bela contadora de histórias
Beijinhos
Filomena
para o David
e para si
e para mim
e para todos
beijinhos
Manuela
Jaime
dei um salto e deixei a Filomena entrar primeiro...
Afinal tu és um cavalheiro!
Quando é um soneto(inho?)
em
am
e
em
mas que está bonito, está!
manuela
"Don't Ever Leave Me"
(Keith Jarrett)
No Meio do Céu um Barco
numa Melodia tão maravilhosa...
E foi, um dia, no azul de um céu, escuro como breu,
onde hoje brilham novas estrelinhas
E para o David
"paixão pelos palcos e pelas luzes, da tonalidade das vozes dos que ainda amava e do seu tempo que tinha sido escasso mas bom."
E para Muitos
porque esta história o é para muitos, a mesma...
Muitas Estrelinhas
tão juntas brilham lá
para nos aconchegarem profundamente aqui, com a sua tão amplíssima LUZ
que o é de aconchego
de tão grande ternura
silenciosa.
Manuela, olá.
Um abraçinho do tamanho do céu, por o ser já noite, neste tempo, e um céu tão cintilante por tantas estrelinhas,
que o são para sempre, para nós, Únicas.
Dulce
"Mas as gaivotas vieram e desinquietaram-no com o seu falar, contaram-lhe histórias de marinheiros, de barcos perdidos, de meninas de cabelos de algas..."
O irresistível chamamento do mar.
Um texto lindíssimo.
Beijos.
Dulce
e no aconchego
desta tão grande tarde
fria
chuvosa
silenciosa
leio a sua escrita e digo
a Dulce sabe ler!
Fico contente por gostar de Keith Jarrett :)
beijinhos
Manuela
Graça Pires
vindo de uma escritora,
dizer que o meu texto é lindíssimo
deixa-me sensibilizada...
um beijo
Manuela
Manela
Mais um conto lindissímo. Uma homenagem diferente ao David.." da rocha onde o rapaz vivia, avistava-se a praia, as casas (talvez a sua...), a torre da Igreja"
Quando se parte não deve ser fácil...enfrentar, sentir o frio da água ou da terra...
Depois...já não se consegue voltar! Mas a saudade também parte...então, hajam formas de a mitigar...
Caminha-se muito...até ao céu!!
Do alto, ouve-se melhor as vozes dos que se amaram...
E descobre-se...e descobre-se que há imensas janelas de onde se pode espreitar... e têm tantos nomes, todos aqueles que um dia partiram!
Um beijo
Graça
Graça Pereira
eu não queria que este conto fosse sobre os que partem
ou sobre os que ficam
mas sim uns e outros que permanecem
estrelados!!
beijos
Manuela
Manela
É lindo e emotivo o seu conto entre o mar e o céu.
As estrelas estão lá e só podem mesmo ser do David.
Como a Diana escreveu (depois do David morrer):...continua a fazer os teus espectáculos pois quando chegar ao pé de ti quero ver luzes,muitas luzes...!
Acredite, o David é maravilhoso.
Obrigada pela amizade e carinho.
Beijinhos.
Nini
...
então é Natal
e o que é que eu fiz
escrevi no chão
um poema com giz
ao Menino Jesus
contei-lhe histórias
desvendei-lhe segredos
tudo tão baixo e tão devagar
para o menino não acordar
(Manuela Baptista)
As estrelas brilham.No meio do céu e bem pertinho de nós.
...
Beijos
Manuela quero deixar um desejo de
um Feliz Natal e tudo de bom para
2010, a si e a todas as pessoas
que visitam o seu blogue e aos
que também deixam comentário.
Para a"minha família da Net" eu
desejo "nesta quadra" o mesmo que
para mim. A todos estou grata
pela atenção e disponibilidade
demonstrada.São pessoas muito
sensíveis as que tenho tido a
felicidade de encontrar na Net e
que de certo modo já fazem parte
de mim.
Um beijinho e BOM NATAL./Irene
Exactly, Fátima!!
bom fim de semana
e
um abraço para si também.
Manuela
Ana Cristina
um dia largamos o social
e a educação
-até porque estamos todos um pouco asociais e bem malcriados-
e montamos um espectáculo!!!
sem mecenas nem nada...
obrigada por estar aí
Manuela
.
. milhas e milhas percorridas sem nunca parar, da menina das algas, da Aster, dos inúmeros braços que são abraços . amplos e lassos . laços .
. a terra é o fundo do mar e o céu a água inteira, toda .
. no meio, um barco .
. pardacento . no rubor da preia-mar .
. maré tão alta que da ribalta é perene . terna e e.terna .
. "a literatura, como toda a arte, é uma confissão de que a vida não basta..."
. a literatura é este mar com histórias ao fundo .
. no mundo onde me encontro . perto de Si .
. "amei.de.amar", pois concerteza .
. porque daqui saio sempre de alma grande e repleta de um mundo melhor, que feliz.mente teima em permanecer na límpida mente com que me acrescenta .
. .m.a.n.u.e.l.a. . parabéns .
. no mais total beijo abraçado que hoje lhe deixo, a anteceder o natal, onde afinal o nascimento é aqui . perto de Si .
. um feliz natal para o Jaime .
. um feliz natal para Vós .
. sempre e para sempre,,, .
. paulo .
.
Para a Linda
que traz ao colo
as histórias que lhe conto...
muitos beijinhos
manuela
Irene, silenciosamente ouvindo
nestas tribos que partilhamos e onde nos encontramos
obrigada!!! e Feliz Natal
um beijo
Manuela
Um formoso menino estava mesmo alí
Tocou de leve o lado esquerdo do meu peito
Olhou-me com um luminoso sorriso
Deixou-me sem fala, sem jeito
Deixou-me no apagar de uma vela
Olhei novamente o mar
A calmaria voltou como por encanto
Mil criaturas inundaram-me o olhar
Golfinhos felizes assobiaram
A cria de uma baleia acenou-me
Uma andorinha do mar poisou no parapeito da janela
Uma maravilhosa e antiga história sussurou-me
As estrelas brilharam no celeste
A Lua estendeu seu manto de fino lusr nesta cena
Adormeci na imensidão deste mundo
No embalo de...Uma Noite Serena...
Uma noite serena
Um mágico Natal
Um terno beijo
Paulo
daqui
envio-lhe uma estrela para o ir buscar
conto-lhe uma história, desta vez sem mar
e
o Jaime faz-lhe um poema porque esse é o seu cantar!!
um beijo mais do que total
Feliz Natal para si também!!
manuela
INTEMPORAL
Intemporal é o tempo
que por aqui passa sustento
que se acende como luz
em que a cantar te compus
Um poema que conduz
ao que querendo reluz
é meu mar e um lamento
meu eterno catavento
Que aos que aqui passam os vendo
os enlaça no argumento
que lhes faça sempre jus
No Natal em que te pus
no Presépio e minha Cruz
a adorá-Lo no que invento
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 19 de Dezembro de 2009
Profeta
que as criaturas
da terra e do mar
lhe embalem o sono
e deixem
a serena noite
serenar
um abraço
Manuela
Jaime
obrigada pelo poema
o meu falar era metafórico, mas foi bonito!
manuela
Mais uma linda história que nos envolve na magia do mar, das estrelas, da luz e do sonho.
É uma história em que acredito e por isso deixa de ser história e passa a ser a realidade do David e de todos nós.
Manuela,
como sempre as suas histórias são mágicas,
encantam-me…..
adormeço para lá das estrelas e custa-me regressar.
Uma noite com muita paz e que os seus dedos mágicos continuem a escrever muitas histórias.
Beijinhos com luz de estrelas
Manuela ... Manuela
Ando um pouco silenciosa...
Fico emocionada com a forma como sempre "me" sente.
Consegue traduzir em poesia, que sempre são os seus textos, as minhas formas estranhas de dizer que sinto saudades dessa minha estrela chamada David.
É tão bonito o que escreveu.
E a lágrima no canto dos meus olhos...
A forma corajosa que encontrou para que esse rapazinho não hesitasse em se desprender daquela rocha que lhe arrefecia os pés ... é a forma determinada com que o David enfrentava o palco luminoso dos dias, bons ou maus.
Obrigada por nos perceber tão bem!
A mim ... e ao David.
Sobretudo o David.
Obrigada por tudo o que me tem dado.
E que o seu Natal seja sereno e doce, sob um céu limpo e brilhante.
Isabel Venâncio
.
. jaime,,, .
. venha daí ...
http://terracosdeumanjo.blogspot.com/
. :) ________________ .
.
ANÓNIMO
Meu Caro,
Aí vou eu!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Dezembro de 2009
Canduxa
agora
de tarde
espero que a sua noite tenha sido mesmo para lá das estrelas!
beijinhos
Manuela
Isabel
o que lhe tenho dado
é apenas um reflexo
do que a Isabel sabe dar.
e que o Natal sereno e doce
seja!
Um beijo
Manuela
Anónimo e Jaime
daqui para aí
venha daí
não é em vão
que os anjos têm asas!!
Manuela
Enviar um comentário