Está ali à porta. Com muito calor, com muito frio. Tanto faz.
Tem sempre um sorriso, uma palavra de ternura, mesmo para aqueles que, olhando-a não a vêem e os que a vendo, não a querem ver.
É muito jovem, uns olhos expressivos, um dente desalinhado por cima de outro dente que lhe empresta um certo ar infantil, mas não é uma criança, é uma jovem, licenciada, desempregada.
Tem sempre um sorriso, uma palavra de ternura, mesmo para aqueles que, olhando-a não a vêem e os que a vendo, não a querem ver.
É muito jovem, uns olhos expressivos, um dente desalinhado por cima de outro dente que lhe empresta um certo ar infantil, mas não é uma criança, é uma jovem, licenciada, desempregada.
Tem sonhos, tem projectos. Mas entre a luta que todos os dias trava entre os centros de emprego, as eternas entrevistas e os nãos, dá, entrega o entusiasmo que tem, angariando fundos para uma instituição de ajuda a crianças em risco que precisa de mais uma casa, de mais uma cama, de mais um berço.
Foi assim que adoptei três coelhos, vários carneiros com uma vela na cabeça e uma caixa de cogumelos encarnados com pintas brancas, daqueles bonitos mas nitidamente venenosos.
E se não podemos comprar nada, não se importa, damos-lhe um abraço e ela responde que conversar um pouco é o melhor que lhe podem dar.
Lá de dentro vem um cheiro a café fresco, a fornadas de croissants e de bolo rei, que chega sempre antes do tempo, que isto da realeza já não tem tempos ou talvez sim.
Quem sai, carrega sacos de papel reciclado, pegas de algodão entrançado, acastanhado, um logótipo, uma espécie de coroa com duas letras.
Os meninos que entram também são príncipes, sapatinho azul escuro de presilha e botãozinho ao lado. As meninas têm laços de xadrez na cabeça e parecem saídas dos álbuns de fotos antigas, tão antigas me parecem as meninas!
Foi assim que adoptei três coelhos, vários carneiros com uma vela na cabeça e uma caixa de cogumelos encarnados com pintas brancas, daqueles bonitos mas nitidamente venenosos.
E se não podemos comprar nada, não se importa, damos-lhe um abraço e ela responde que conversar um pouco é o melhor que lhe podem dar.
Lá de dentro vem um cheiro a café fresco, a fornadas de croissants e de bolo rei, que chega sempre antes do tempo, que isto da realeza já não tem tempos ou talvez sim.
Quem sai, carrega sacos de papel reciclado, pegas de algodão entrançado, acastanhado, um logótipo, uma espécie de coroa com duas letras.
Os meninos que entram também são príncipes, sapatinho azul escuro de presilha e botãozinho ao lado. As meninas têm laços de xadrez na cabeça e parecem saídas dos álbuns de fotos antigas, tão antigas me parecem as meninas!
Os pais são colunáveis e insuportáveis, mas os fins de semana às vezes também o são e nós estamos sempre à sua espera.
Este sábado trouxe para casa seis cogumelos encarnados com pintas brancas, para me lembrar que há modelos e paradigmas tão gastos que fazem mal e têm de ser urgentemente mudados.
Ela está ali, cá fora.
Este sábado trouxe para casa seis cogumelos encarnados com pintas brancas, para me lembrar que há modelos e paradigmas tão gastos que fazem mal e têm de ser urgentemente mudados.
Ela está ali, cá fora.
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Esta é uma página em que se suspeita, que as árvores não são todas iguais.
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Manuela Baptista
Estoril, 9 de Novembro
46 comentários:
À Lisa
coração de cristal
um abraço
Manuela Baptista
Manela:
Já cá venho comentar a tua nova historia.. Mas agora é para tedizer que há um jogo/selo no meu blog para ti...Sei que não gostas destas coisas...mas eu é que não me sentia bem deixar-te de fora...entendes?
Beijocas
Graça
Manela:
Não sei aonde acaba a fantasia e começa a realidade ou antes,não sei aonde acaba a realidade e começa a fantasia...ou será que elas coabitam?
Se ela fica feliz só com um abraço, pois venham crianças velhos e adultos, apertá-la de encontro ao coração. Mas se fôr preciso,não me importa nada trazer dúzias de cogumelos ás pintinhas (ainda que venenosos) e carneiros distorcidos com velas na cabeça...
E o bolo rei chega para todos ou os colunáveis (insupotáveis) açambarcam tudo como é costume??
E ela continuará sempre ali fora porque cá dentro, é só para certas árvores...porque elas não são, efectivamente..iguais.
Um beijo carinhoso
Graça
Graça
Obrigada pelos selos e pela inclusão, mas eu sou uma perfeita nulidade nessas coisas, nem sei colá-los...
Esta página não é inventada, é verdadeira.
A rapariga está sempre ali, à porta da Pastelaria Garrett do Estoril, todos os fins de semana.
Dos bolos, sente o cheiro, embora não lhe impeçam a entrada e eu seria a primeira a fazer um escândalo, ela sabe que vender é apenas lá fora.
Mas as coisas que vende até são bonitas e afinal a compra é simbólica.
As instituições solidárias por vezes esquecem-se de ser solidárias com os seus voluntários...
O bolo rei chega para todos, os que podem pagar claro! Só no Natal é que esgota.
É caro, mas é delicioso!
Um beijo
Manuela Baptista
ALGURES
Algures no arco-íris
cruzam-se olhares
sentires
erguem-se árvores
diferentes
levantam-se iguais
indiferentes
aos que não olham
a dor
a vontade
e o amor
porque não olham
quem vê
aquilo em que se crê
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Novembro de 2009
Jaime
Muito bonito!
MB
Olá Manuela,
Uma nova história, ou parte dela, de uma vida verdadeira.
A de uma jovem que com sorrisos e com ternura a todos vê e a todos fala.
E com sonhos e projectos, está sempre ali
E mesmo ficando de fora, cá fora
Tem sempre o mesmo querer, uma vontade imensa de Ajudar.
E nesse Seu querer
Tão nobre e tão belo
Entrega todo o seu entusiasmo.
Alguns que passam, não a vêem...também não faz mal...
O importante é que alguns a vejam.
Esta Jovem precisa saber que Somos Mais, muitos mais a ter um sonho...que talvez também possa ser o Seu,
O de podermos criar um mundo onde seja seguro amarmo-nos uns aos outros- um mundo de "inclusão", onde seremos amados e respeitados exactamente como somos. Pelo que Somos.
E ajudaremos a criar este mundo melhor, com todo o bem que fizermos em cada um dos nossos dias...
Foi o que a Manuela já fez ao trazer-nos hoje esta história, desta Jovem, que mesmo ali à porta acalenta, não desiste e, dá vida a um sonho...
E para Si Manuela e para a Jovem da sua história, dedico...umas palavras de Matilde Rosa Araújo,
O Chapéuzinho
A menina comprou um chapéu
E pô-lo devagarzinho:
Nele nasceram papoilas
Dois passáros fizeram ninho.
Chapéu de palha de trigo
Que a foice um dia cortou,
Na cabeça da menina,
O trigo ressuscitou.
Depois tirou o chapéu,
Tirou-o devagarzinho,
Não vão murchar as papoilas,
Não se vá espantar o ninho.
E, chapéuzinho na mão,
De cabeça levantada,
A menina olhou o Sol,
Como a dizer-lhe: obrigada!
Maravilhoso o Seu acto de tanta ternura, nesta partilha de parte de uma vida.
Beijinhos,
dulce ac
Olá Manuela,
Um «flash» do que podia ser uma história real dos nossos dias, mas basta esse «flash», para compreendermos tudo.
Gosto bastante dos seus textos, sintetizam, mas motivam que leve a história mais longe no meu pensamento.
Bjs,
Marisa
Manuela,
há pessoas assim,que mesmo não tendo nada,ainda oferecem solidariedade,nos dando lições de vida...
Muito bonito.
Beijinhos
Dulce!
Que linda mensagem!
O que é preciso é nunca perdermos a capacidade de usar chapéuzinhos onde as papoilas cresçam e os pássaros façam os ninhos,daí até ao Sol é apenas um pulinho...
Matilde Rosa Araújo esteve sempre ao lado das crianças!
Um beijo
Manuela Baptista
Marisa
A história é real!
Mas leve-a tão longe quanto quizer, isso só me poderá deixar feliz.
Um beijo
Manuela Baptista
Linda
Casa arrumada, a Linda cá dentro!
Mas tenho esperança, porque ela é a primeira a manifestá-la, de que a vida desta jovem vai mudar porque capacidades e formação ela tem.
Não há coisa mais injusta do que um desempregado, sentindo-se excluído e marginalizado, sobretudo um jovem.
Beijinhos
Manuela Baptista
Esta história, ou devo dizer esta página da realidade, chegou à minha porta só hoje... isto dos blogues tem destas coisas...
Gosto da jovem que guarda a sua esperança nas palavras que vai trocando com os outros e que vai dando esperança ao angariar fundos para a causa que defende voluntariamente.
Lindo texto de voluntariado da Esperança
Filomena
Filomena
minha esperançosa amiga!
Espero que arrume depressa os currículos
os meninos inquietos
e a inquietude do seu coração
e venha cá para fora dar chutos nas pedras da calçada.
Quer maior disparate?
Beijinhos
Manuela Baptista
Gostei tanto que li duas vezes.
Beijos.
Para a Mariana
dois beijos!
Manuela Baptista
como o real se confunde...!!
beijos meus!
Olá Manela:
Venho lá de fora, do meu jardim...podando aqui, tirando folhas secas dali e espreitando os bolbos que já estão a querer romper a terra...santa paz e lembro-me que para lá da sebe...começa a "guerra": da nossa jovem que permanecerá muito mais tempo lá fora e ao frio que vem chegando...dos jovens, tão novos...arrastando sonhos desfeitos...e como pesam!! Das mães que não têm que dar aos filhos..Daquela idosa (que conheço) que fala com os gatos porque não tem ninguem que a oiça... Ponho uma rosa num solitário, acendo uma velinha e..dou graças!!!
Um beijo
Graça
Dos sorrisos crescem flores
e os tapetes tecidos de pétalas
segredam palavras de amor
O Profeta é um romântico!
Um abraço
Manuela Baptista
ParadoXos
O real confunde-nos.
Um abraço
Manuela Baptista
Dar Graças
é o dar mais bonito
ao fim de um dia tranquilo
para lá e para cá dos muros
onde as solidões se escondem
ou se mostram despudoradas
e frias
acendendo uma vela na noite escura
à Graça solidária e compassiva
com um beijo
Manuela Baptista
Ola!
Linda história, faz pensar
Um abraço
Linda a sua história Manuela e parecendo ou sendo uma história cheia de imaginação porque recriada por si de forma muito original, é no entanto a história de uma triste realiddae, mas também de muita esperança.
As árvores não são realmente todas iguais...a natureza é o único lugar onde tudo é diferente, onde não existem modelos gastos e esta jovem é ela mesma uma força da natureza, ainda bem que não é igual aos modelos que a rodeiam.
Esta é uma outra interpretação para a suspeita de que as árvores não são todas iguais, de facto de uma forma ou de outra não são.
Beijinhos
. de facto as árvores não são todas iguais .
. é pela folhagem que o mundo se abarca . para uns sendo arca, para outros sendo marca .
. ou pegadas no meu coração .
. o beijo,,, sempre total .
. [e,,, um sorriso rasgado para o comentário que me deixou] .
. gostar de Si é o projecto a que me proponho, desde há uns tempos para cá .
. :))) .
. paulo .
À Cris
Um beijinho
Manuela Baptista
Brancamar
vamos plantar duas árvores.
Uma para mim, outra para si, diferentes e espantosamente próximas, porque nelas reflectimos a sombra que nos dão.
Um beijo
Manuela Baptista
deixando pegadas
marcamo-nos
sorria Paulo
;)
um beijo
Manuela Baptista
Importante mesmo, é que está sempre ali à porta e sabe que alguém há-de reparar nela. Um dia uns, outro dia outros. Com persistência vai distribuindo coelhos, carneiros ou cogumelos que levam mensagem.
O sonho cresce quando se sonha.
Veja Manuela, onde já chegou o sonho dela...
Um grande beijinho,
Maria Emília
Safa!
Desses não comia eu!...
Beijinho
Manuela,
Tendo em vista praticar alguma economia a nível dos neurónios, comento brevemente o seu último trabalho, realçando o seu conteúdo, terno e profundamente humano.
Quanto ao resto, copiarei o que acabo de comentar ao Jaime:
"Chegado ontem, após périplo bem nortenho, cá me vou recompondo, porque estafado estou.
Sem ser em off, cá me apresento pois ao serviço, constatando, prazenteiramente, que continuas com a habitual exuberância produtiva.
Por este fim-de-semana ter cá a miudagem, ainda por cima com a incumbência de fazer a Joana (a mais nova) ler, na íntegra o Cavaleiro da Dinamarca, da Sofia M. Breyner, e após isso, esgrimir a sua interpretação, preparando-a para o teste de Segunad Feira, não irei ter por certo muito tempo para vos comentar.
Direi a talhe de foice que este teu último trabalho merece o meu total acordo, pois sem mencionares nomes, ela, a hipocrisia, grassou e grassa infelizmente por este Mundo, em particular neste pedaço de terra em frente ao Atlântico.
Bom fim-de-semana para vós meus amigos sempre em on."
Abraços,
Zé
ps. Como é evidente, o "vós" no último parágrafo acima, dirige-se, a vocês, "ambos os dois"
À Maria Emília
desejando lonjura para todos os seus sonhos
com um beijinho
Manuela Baptista
Vieira Calado
São venenosos, mas bonitos...
Um abraço
Manuela Baptista
Zé Ferreira
Obrigado pela presença.
A sua filha nem sabe a sorte que tem, com a leitura de "O Cavaleiro da Dinamarca" bem mais bonito do que os livros dos programas escolares anteriores.
No entanto, para muitos jovens da idade dela, o universo de Sophia também já está a anos luz das suas actuais vivências e têm dificuldade em efabular.
Um abraço e bom fim de semana
Manuela Baptista
Manela
Preparo tudo para amanhã...para que menos "fiquem lá fora"...
Venho deixar-te um beijo e um convite.
Se puderes e quando puderes, visita blog Mac' blog ... e se quiseres, claro!
Um beijo
Graça
A minha cabeça...já não é o que era...Rectificação: Mac's Blog.
Graça
Graça
Lá fui, mas aquilo serve para quê?
Ou a minha cabeça também já não é o é???
Bom fim de semana
Beijinhos
Manuela Baptista
Ahhhh!
é para o mac!
MB
Na realidade, as árvores não são todas iguais mas são todas filhas da Terra e um ser assim tão especial só pode ser um anjo humano.
Consegui imaginá-la tal como descreve e são jovens com esta fé e coragem que me fazem acreditar que o Mundo está a mudar.
Com essa s atitude vai certamente conseguir realizar os seus sonhos, aqueles que certamente não quer deixar de sonhar.
Mais uma história, que sinto ser verdadeira, maravilhosa e com uma forte mensagem.
Manuela, para si um beijinho grande e ….adoro vir aqui ler o que escreve.
Manela:
Queria apenas saber a tua opinião..é um blog de uma pessoa muito querida
Amanhã falo melhor.
Um beijo
Graça
Lindos escritos...obrigado por dividir suas letras com o mundo
Canduxa
falando de anjos...tem um à sua espera.
Venha sempre.
Um beijinho
Manuela Baptista
Graça
eu acho que falta qualquer coisa ao endereço...
MB
Carluxo
obrigada por dividir Van Gogh e a sua starry night, connosco.
Manuela Baptista
Querida Amiga
Obrigada pela linda história que escreveste sobre mim. Obrigada de Coração.
É uma história, com alguma imaginação mas com muita realidade.
Ao lê-la as lágrimas correram pela cara de emoção.
Nem sempre é fácil manter o sorriso na cara quando se ouve algumas resposta menos correctas, aguentar o frio ou o calor, mas a causa que me move combate tudo isso. Deste modo sempre que posso, pois tenho uma filha e nem sempre é possível, lá estou eu a ajudar gratuitamente quem de mim precisa.
Obrigada, Beijinhos e Sábado lá estarei.
Carmen
os comentários falam por mim!
Claro que a tua história também foi um bocadinho inventada, afinal nunca sabemos tudo sobre as pessoas.
Há aqui uma comentadora (a Graça Pereira) que até se oferece para comprar os teus cogumelos...
Volta sempre!
Um beijinho
Manuela Baptista
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