Joana era tímida, silenciosa, gostava de pássaros, amava secretamente um Poeta e tinha um vestido branco de algodão.
Judite era cruel, insensível, corajosa, detestava animais, desinquietava os homens e não amava nenhum. Usava um vestido vermelho de seda pura.
Julieta era alegre, carinhosa, determinada, o seu vestido era de linho azul e gostava de um Marinheiro.
As três eram fisicamente tão parecidas que apenas as distinguiam pela cor dos vestidos e pela tonalidade da voz: como o voo suave de um pássaro, como cristais de gelo, como a água de um ribeiro.
As pessoas diziam:
-Passou um pássaro!
Era Joana.
-Que frio!
Era Judite.
-Não ouvem esta canção?
Era Julieta.
Nenhuma delas se podia ver ao espelho, porque se assustava com o reflexo das outras.
Judite era cruel, insensível, corajosa, detestava animais, desinquietava os homens e não amava nenhum. Usava um vestido vermelho de seda pura.
Julieta era alegre, carinhosa, determinada, o seu vestido era de linho azul e gostava de um Marinheiro.
As três eram fisicamente tão parecidas que apenas as distinguiam pela cor dos vestidos e pela tonalidade da voz: como o voo suave de um pássaro, como cristais de gelo, como a água de um ribeiro.
As pessoas diziam:
-Passou um pássaro!
Era Joana.
-Que frio!
Era Judite.
-Não ouvem esta canção?
Era Julieta.
Nenhuma delas se podia ver ao espelho, porque se assustava com o reflexo das outras.
Nenhuma delas podia caminhar ao entardecer porque tinha medo da própria sombra.
As três moravam numa casa baixa virada para o mar, com sete portas, sete janelas e um pátio branco, onde em noites de muito calor se estendiam no chão contemplando as estrelas e tagarelando umas com as outras.
Nesses instantes as suas vozes confundiam-se e os cristais de gelo derretiam-se, o pássaro voava mais alto e a água do rio saltava das margens em dia de tempestade ou descia suave pelas encostas.
As três moravam numa casa baixa virada para o mar, com sete portas, sete janelas e um pátio branco, onde em noites de muito calor se estendiam no chão contemplando as estrelas e tagarelando umas com as outras.
Nesses instantes as suas vozes confundiam-se e os cristais de gelo derretiam-se, o pássaro voava mais alto e a água do rio saltava das margens em dia de tempestade ou descia suave pelas encostas.
O riso saía do seu esconderijo e enchia a noite de festa.
No roupeiro, os vestidos de algodão branco, os vermelhos de seda pura e os de linho azul, saltavam dos cabides, ganhavam vida e percorriam a casa dançando uma Giga, em passos loucos e ritmados.
O Poeta, escrevinhando um eterno poema de amor, lembrava-se de Joana. O Marinheiro suspirando no mar alto sentia saudades de Julieta e os outros homens, solitários e tristes tinham inveja de Judite.
Há muitos anos atrás alguém perguntara:
-Quem se lembrou de chamar a esta menina Joana Judite Julieta?
No roupeiro, os vestidos de algodão branco, os vermelhos de seda pura e os de linho azul, saltavam dos cabides, ganhavam vida e percorriam a casa dançando uma Giga, em passos loucos e ritmados.
O Poeta, escrevinhando um eterno poema de amor, lembrava-se de Joana. O Marinheiro suspirando no mar alto sentia saudades de Julieta e os outros homens, solitários e tristes tinham inveja de Judite.
Há muitos anos atrás alguém perguntara:
-Quem se lembrou de chamar a esta menina Joana Judite Julieta?
-
Esta é a página sem número em que nos perguntamos, quantos de nós somos apenas UM?
Manuela Baptista
Estoril, 17 de Agosto 2009
Estoril, 17 de Agosto 2009
22 comentários:
PAGINA SEM NÚMERO
Página sem número ou número dois ( onze de um e um ) e em que um, sendo dois, trinitários se desdobram e multiplicam reflectidos, em si mesmos, um no outro e os dois em todos os demais.
Para variar, é linda a tua história!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 24 de Agosto de 2009
... como as demais!!!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 24 de Agosto de 2009
Muito obrigada Político!
Manuela Baptista
Nota: Político é um dos Eus do Jaime
Ora aí está!
Que bela história e que bela pergunta.
Somos todos feitos de bocadinhos genéticos, de bocadinhos apreendidos, de bocadinhos de outros bocadinhos.
Lembrei-me das "brumas de Avalon" e de uma pergunta que artur( penso que é ele) faz sobre uma mulher e o facto de ela ser deusa( não me lembro pois não tenho aqui os livros)mas acho que é assim." é porque tu és a deusa e nela todas as mulheres são uma?)
Perdi-me um bocadinho mas a ideia do seu texto estará talvez presente nesta frase.
Beijinhos
Filomena
E qualquer coisa também como: "Todos os deuses são um deus"?...
As Brumas de Avalon! De facto a minha história sendo clara como a água, é um pouco brumosa! Mas as brumas também são água, não são?
Beijinhos para si
Manuela Baptista
São! E a sua história não é nada brumosa, é clara como as águas da fonte.
Beijinhos
Enquanto estive ausente, Leonardo da Vinci passou por aqui e deixou-me uma Gioconda vestida de Marisa Soveral.
Só posso sentir-me honrada!
Manuela Baptista
Manuela,
vinda ali do lado e a ouvir falar o Prof.Adriano Moreira (que muito admiro) em conversa com o Mário Crespo na SIC Notícias,apetece-me dizer:que fantástico contador de histórias!
O "Parlamento dos Murmúrios"...;)
1 beijinho
Ana Cristina
Gostei da maneira interessante de você contar histórias!
Um abraço!
Ana Cristina
Esta contadora de histórias agradece a sua passagem por este mar e por fazer ouvir a sua voz!
Como sabe, pode sempre entrar e ficar em silêncio...
O "parlamento dos murmúrios" é um conceito inspirado e inspirador, o prof. Adriano é de cepa!
Um beijinho
Manuela Baptista
Eliane
Seja bem vinda e traga as suas fadas.
Saudades para o Rio, aqui deste Mar.
Um abraço
Manuela Baptista
Linda, maravilhosa, instigante e misteriosa. o destino de cada uma qual seria, o destino de três ou de uma?
O que me resta senão agradecer por ter acesso a pessoas tão distintas, de sensibilidade e inteligência divinas.
Beijos
Renata Vasconcellos.
Renata
...como o nosso próprio destino, que avança a par com o destino dos outros.
Assim as pessoas sensíveis também o são, porque têm entre si comentadores e amigos inteligentes e igualmente sensíveis.
A Alegria chegou connosco a este cais e navega agora neste mar.
Um grande abraço
Manuela Baptista
Histórias com um sentido especial que encontrei por aqui.
Abraço
Chris
Chris
Ainda há quem navegue na madrugada!
Obrigada pelas palavras e pela presença.
Um abraço
Manuela Baptista
...Adoro vermelho!E azul,do MAR.
Judite?...
Será?...
Para refletir se as cores realmente nos dizem algo...Vou investigar!
Beijinhos
Vermelho?
É!
Um beijo à Linda
Manuela Baptista
O eu alimenta-se ao nutrir ou deixar à míngua outros eus. Eus sem pouso nem repouso... Ainda que tivéssemos muitas vidas não seríamos apresentados a todos esses seres misteriosos que nos habitam (e que me fascinam).
Fascinam-me também os seus escritos. Vou-me encantada pelos eus revelados em sua poética prosa.
Obrigada, querida, por mais essa prazerosa leitura.
Bjs, uma boa semana. E inté!
Alguns. Nenhum uns! Muitos. E diversos. A cada tempo um e na essência de um único outro.
Um poema numa poesia a refletir... e a colorir, os dias, às vezes tão confusos, de uns.
¬
Desculpe-me, via Ju Rigoni, no comentário em seu post.
¬
obrigada Ju!
pela paciência em me ler...
inté, pois então!
um beijo
manuela
epee
obrigada pelo seu comentário!
e se emprestei alguma cor, apenas poderei ficar feliz por isso
um abraço
manuela
Enviar um comentário