Tocou à campainha um dia destes, olá como vais e fletindo
as orelhas entrou, como se conhecesse os cantos à folha. E conhece. Palmira nasceu no tempo quente das ameixoeiras em flor e eu dei-lhe um cordeiro branco de laço
encarnado, para a compensar daquelas orelhas fora de propósito, mas saíram-me
assim e até hoje isso não a impediu de ser feliz.
Que é feito do cordeiro, perguntei. Palmira olhou-me
surpreendida e respondeu, então não sabes que em dezembro, os cordeiros se
dirigem todos para o mesmo sítio? E sentando-se no tapete começou a folhear os
meus blocos de folhas pretas. Nas folhas pares, abanava as orelhas, nas ímpares
torcia o nariz. Na última folha, abriu desmesuradamente os olhos e rebolou-se a
rir, dizendo, desenhaste uma árvore metálica enfeitada com bolas pirosas. Tentem
imaginar um parente afastado da família Cervus,
porte médio, orelhas de coelho, gargantilha de bagas douradas, a gozar com o
humano que a criou. Nasceu tímida, solitária, uma grande cabeça. O tronco, as
patas, os cascos, a cauda, o pelo, autonomizaram-se, ganharam vida e ela ganhou
voz. Não fora o meu humor um pouco negro e ter-me-ia sentido humilhada.
No entanto, Palmira, sendo real, é um animal imaginário, logo,
detentor de muitos poderes e num segundo, soprou nos frutos-bolas-de-natal e
eles encheram-se de luz, transfiguraram-se. Os olhos de Palmira brilharam e o
entardecer entrou na sala pelos vidros da janela.
Palmira não ficou para a ceia. Suspeito que tenha ido
ao encontro do cordeiro branco de laço encarnado, nesse lugar mágico onde cabem todos
os seres especiais, mudos ou falantes, de duas ou quatro patas, de orelhas de
abano, ou de coelho.
E a árvore metálica? Resiste, imóvel, inquieta e iluminada,
na folha número duzentos e cinquenta e sete.
Este é um conto muito infantil, para celebrar o Natal.
Festas Felizes!
9 comentários:
MANUELA BAPTISTA
... e eu suspeito que, um dia senão mesmo este e ainda que aqui não passe de uma alegoria, a árvore metálica ainda dará frutos ...
Obrigado e Festas Felizes para ti também
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 22 de Dezembro de 2016
Tudo pelo melhor
mesmo no Natal
Mas sabes?
Palmira é nome de rena...
mas não emendes,
senão, que diria o cordeiro branco de laço vermelho?
.
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. feliz natal . :) .
.
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A Palmira conhece mesmo os cantos às folhas... Ela e o cordeiro branco de laço vermelho hão-de passar à minha porta...
Sempre belo o teu imaginário mágico, Manuela!
Um beijo.
Um feliz Natal cheio de magia, como aqui se vive.
Beijinhos
Nem sei porquê ainda não li as novidades por aqui. Imperdoável. Agora, vim a correr deixar um docinho de natal e um beijo.
Voltarei para não perder pitada.
Festas Felizes, Manuela, cheias de magia, como as tuas histórias.
Beijos :)
Ora, não tarda o caderno volta à estante onde os seres que o habitam regressam entram em estado letárgico até ao próximo Natal.
A arte de sempre, Manuela, de animar as folhas de papel com desenhos e falas do reino da fantasia. Não é coisa pouca!
Beijo de Boas Festas.
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