Quando as baleias e os golfinhos nortearam, ele pigarreou duas ou três vezes e rumou na
direção contrária. Agora preciso de partir, grugulejava o peixe, enquanto
soltava centenas de bolhas de ar que subiam à superfície e daí para a atmosfera
até não ser mais possível respirar. Era um peixe idilista, acreditava que o mar
comunicava com os rios, os rios com as lagoas, as lagoas com os cursos de água
subterrâneos e estes com as nascentes e com as lágrimas que os peixes possam
chorar. Nesta simplicidade crente, tinha viajado pelas cidades lagunares e
aquelas mais distantes onde os homens falam distintas línguas e se alimentam de
variadas e estranhas formas. Contudo, assemelham-se nos gestos, tal como os
cristais de sal são semelhantes a todos os poliedros regulares e cada mão tem
cinco dedos e os peixes, barbatanas para nadar. Para ele era claro como a luz,
que um dia, dando ele por isso, seguiria a cauda de um cometa e com o coração
calmo e leve a quilha, flutuaria naquele infinito azul de peixes e estrelas do
ar.
the october fish
Now, oh now, I needs must part
9 comentários:
MANUELA BAPTISTA
Um peixe é como um cometa
tem dele a cauda e a luz
e voa quanto nada
numa flutuação infinda
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Outubro de 2016
Quero ir com o teu peixe na cauda do cometa para que o meu coração fique leve, muito leve, tão leve como o ar azulado dos sonhos...
É fantástico o que escreves, Manuela. E o peixe é lindo!
Um beijo.
Dá a esse peixe
um recado
que a lua está lá
e não é um aquário
que o sol abrasa
mas não o assa
e que o infinito
é muito bonito
o resto, descobre-o ele
Afinal, este «October fish» tem aspirações etéreas semelhantes aos humanos...
Encantador, Manuela.
Beijinhos,
~~~
Quero ir com o teu peixe na cauda do cometa para que o meu coração fique leve, muito leve, tão leve como o ar azulado dos sonhos...
É fantástico o que escreves, Manuela. E o peixe é lindo!
Um beijo.
O peixe é lindo, é quase como que um retrato da desgraçada,
como eu reconheço este grugulejar, e estas centenas de bolhas de ar que tentam subir à superfície,
queria ser cachalote e batráquia, tratam-me como um carapau espalmado, um arenque fumado, olham para a cota e dizem, é um bacalhau da noruega, daqueles todos entrapados, o problema é que vem o mais novinho, que passa a palavra ao mais velho, e o velho ao barracão e o barracão ao bairro inteiro, conhecem-se todos uns aos outros, espalha-se por ali fora a boa nova,
vinde, que deixaram aqui a cama entornada na beira da estrada,
um dia destes tenho a Tanzânia toda a saltar-me para cima,
vou ser um Matthew que até as ligas me leva,
um peixinho fora de água, com uma maré inteira em cima, como me livrarei eu deste calvário, talvez peça às irmãzinhas da segurança social que me entornem nas bancadas da Assembleia Nacional,
lugar à velha,
e lá me empurram para a tribuna,
antes cair naquele alçapão do que estar a ser deste modo espezinhada!...
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. esta (nossa) Jacintinha Marto é uma espécie de isabel mendes ferreira na versão modesta . :))) .
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Continua maravilhoso ... o seu blog. Tanto as historias como a ilustração.
Nunca tinha pensado no assunto. Da leitura da tua história veio-me uma ideia à mona, uma convicção de que não abdico.
A relação entre o choro dos peixes quando os retiram da cama para lhes tirarem as escamas e as marés. Isto anda tudo ligado.
Feliz é o teu peixe redentor na cauda do cometa.
Bonita história, Manuela. A tua imaginação não tem limites.
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