Mal nasceu, colou-se aos
vidros da janela. Primeiro o nariz, a observar a rua, o rapaz e o cão, o
carteiro, dois carros pretos e um azul. A seguir a mão direita, os dedos
abertos, cinco dedos e mais cinco da outra mão. Lambeu o vidro, soube-lhe a pó.
Riu-se e o riso quebrou o vidro e abriu a janela. A mãe chamou-a, Cristalina. Ela
não respondeu, arredondou o vestido, fez um balão e foi com a chuva e o vento a
soprar e ela a rodar como se fosse uma folha no outono ou a pena de um pássaro
na primavera.
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13 comentários:
MANUELA BAPTISTA
e como continua a chover, li e reli-te:
Cristalina
neblina
roda o vento
à minha esquina
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 7 de Abril de 2016
Para ler em todas as estações
Que linda história e desenhos, gostei muito, bjs
Cristalina. Uma folha de outono. Uma gota de chuva. Um som no silêncio. Um movimento de dança. Um fascínio pressentido nas palavras...
Obrigada, Manuela. Um beijo.
Cristalina só podia ser esse o nome...
beijinho
;)
.
.
. um fascínio . pelo que . só me resta agradecer.Lhe .
.
. obrigada manuela . obrigada . ada . ada . ada . :))) .
.
.
E do lado de cá estamos no outono, mas nenhuma menina a voar ao vento....que pena. Falta-nos por aqui agora um pouco de poesia - como as de Manuela!
Beijo grande
Bia
Esta imagem das palavras, era o que me apetecia mesmo fazer esta manhã, Manuela. Ainda que continue a chover!
Um abraço para si,
beijinhos.
Ai, a chuva mata-nos,
eu bem queria sair, as irmãzinhas da Misericórdia foram ao Kebab, eu só lhes dizia,
tende misericórdia de mim, não me deixem no Cais Sodré,
o que elas querem é pretos,
dou comigo entornada à porta do turco, com uma faca na mão,
não me mates que eu sou inválida,
virgem maria, atacou neles todos,
conheço-os todos, depois das sete vão ao kebab e depois saltam para cima da sobremesa, a carne mole é só treino para a minha dura,
eu tenho medo de arruaças, ao mínimo tumulto saltam-me sempre cima do colchão,
os polícias são uns ordinários, a perguntarem o que é que eu tinha visto,
não tinha visto nada,
com os olhos sempre em cima, quando muito a Via Láctea, se não estivesse sempre a chover,
tem sido um horror, nem os dedos nem os vidros lambo,
acabamos todos na esquadra,
o SEF a perguntar se tinha os papés em dia,
eu,
sim, sr. inspetor, pelo menos, desde 1917, e daqui para a frente o que é preciso é fé esperança e caridade,
benzó-deus...
Ah, Manuela...
depois de tantos anos, foi você lembrar-me de mim... pequenita, de nariz amassado no vidro da janela, depois de lhe soprar um bafo quente e desenhar o mundo com os dedos, lambê-lo... ouvir os gritos da mãe... Onde terá ficado a inocência neste espaço de tempo que separa a lambedora de vidros e esta?
Afinal, já não chove, mas a chuva não faz falta ao seu conto tão pequenino e tão grande, do tamanho da saudade.
bjn amg
.
.
. a jacintinha está com cara de quem esteve duas semaninhas em Tachai .
. :) .
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.
Ah!! e logo de seguida fecharam a ilha :))
Belíssimo como cristal.
Parabéns, Manuela.
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