Ainda não o grito das andorinhas. Ainda assim cantam os
pássaros na madrugada. Por ora os jarros invasores e as azedas dos campos, as
flores de pessegueiro, os rebentos das ameixoeiras e o cheiro a húmus e a terra
molhada.
Sonha o urso e o seu coração pulsa a vaguear superfícies
geladas. A compassar binários, a imaginar ursas maiores, enroscados
um urso, dois ursos e o firmamento azul tão escuro.
Dizem os mitos que é o homem do gelo quando sai à caça
e veste essa outra pele quente assente nas patas traseiras, mas dorme ainda o
urso e assim cantam os pássaros.
14 comentários:
MANUELA BAPTISTA
Conciso mas belo, bravo!
Quanto ao desenho, quente e acolhedor como tu.
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 6 de Março de 2016
Um verdadeiro poema, Manuela. Tão belo que fico com pena de não ter sido eu a escrevê-lo...
Um beijo.
Há coisas lindas de se ler, outras de se ver e, ainda outras, de ouvir.
Nós a ler litanias, a ver ursas (ou ursos), maior ou menor não interessa. O que nos vale agora é o céu aberto onde os pássaros olham para/por nós...e o perfume de Manuela como cânfora para os tendões. Depois do eclipse.
não cante o pássaro mais alto que o seu voo
e o urso não sairá do seu sono (ou sonho?)
A hora do urso, "Let me freeze again".
Brevemente, uma revoada de pássaros quentes relembrará ao ser polar a sua rota de recolhimento, e então será a primavera :-)
o urso agradece a King Arthur, a Purcell e ao Luís
Há ursos assim
que dormem de olhos abertos
para ver os pássaros
Linda música, como o frio de hoje,
que me arrepiou os ossos,
enfim, que redundante estou hoje,
que mais poderia arrepiar-se nesta sua Hanaé,
Manuela?...,
fale-lhe dos meus ossos,
brancos como o urso,
fui para o Ártico, com as falangetas todas arrepiadas,
Falangetas?...
Falanges, falanginhas e falangetas,
branquinha como a cal, ninguém me via contra as neves,
nem o merceeiro do coma com pão,
chupem-me os ossos,
passou o Tiago Ginja, e diz,
ai, filha, és só ossos,
eu sou um saco arrepiado de ossos,
Manuela,
mas o Duarte Parente sabe que sou um saco honrado de ossos,
e,
se alguém me quiser despir tem pouco por onde ir,
só se me quiser pôr os tutanos todos à mostra,
olhe,
adorei o urso,
tivesse eu aquela pelagem e não andava sempre a espirrar,
só graças ao GPS eu não perco por aqui nenhuma das peças...
Melhor ainda do que esta versão da Litania do Génio Frio, é mesmo o Klaus Nomi, mais decadente e intemporal.
Parece o Cesariny esfomeado :-)
:-*
"os rebentos das ameixoeiras e o cheiro a húmus e a terra molhada",
é uma dor que me vai pelo corpo todo,
pudesse eu senti-la,
e isso ainda é nos dias bons, em que a maré quente dos desvairados da noite da catinga me atropela as peles,
julgam que sou um Jamaica que vai fechar e toca de apressar,
branco, só o lençol do colchão que acabaram de entornar,
e o nariz de quem nem mexer se pode afocinha no cheiro dos rebentos das amendoeiras, a respirar húmus e terra molhada,
às vezes é uma noite inteira neste penar,
pareço um cachalote bento a respirar terra,
e, quando as irmãzinhas da solidariedade me vêm levantar,
ainda têm tempo de comentos,
tens sorte, Jacinta, de te terem afocinhado as molas só no canteiro, há desgraçadas mais sem jeito que caíram de narinas nos latões da "câmbra", na hora de recolher o lixo,
olhe,
dizem que está frio,
pudesse eu senti-lo,
as estações, para mim, são letras,
e o frio aquele gesto que eles fazem para as mudas na RTP2,
pudesse eu entendê-lo...
Olá, Manuela
Verdadeiro poema enroscadado no firmamento azul tão escuro.
abç amg
ler e ouvir o canto dos pássaros
quase que se consegue sentir o sono do urso
tão belo isto!
:)
Um bom fim-de-semana.
Beijo
:)
Vim, a mais...
Prestes a despertar estará.
Muito lindo, bjbj Lisette.
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