Era uma vez um pássaro verde, de peito branco e olhos azul-turquesa. Um pássaro curioso, diziam os melros. Um pássaro pequeno, afiançavam os gaios. Azougado, insistiam os verdilhões. Ágil, afirmavam as carriças. Na verdade ninguém sabia exatamente o nome daquele pássaro verde, de peito branco e olhos azul-turquesa.
Por seu lado a cerejeira não era curiosa, nem azougada, nem ágil. Quanto muito, seria pequena e em toda a sua vida nunca tinha dado flor. O pássaro gostava da cerejeira, de cambalhotar nos seus ramos frágeis, de cantar para ela quando o vento soprava. E o pássaro perguntava, vês aquelas nuvens altas, árvore fininha? E as poças de água onde eu gosto de esvoaçar? E os grãos que eu gosto de comer? Porque é que não voas comigo nas manhãs de sol, nas tardes quentes? continuava o pássaro. A cerejeira estremecia um pouco e não respondia. O pássaro, contudo, jamais se cansava de perguntar e a cerejeira gostava do pássaro tal como o pássaro gostava da cerejeira.
Passaram muitas nuvens altas, outras baixas e ainda médias. O pássaro voou, esvoaçou, cambalhotou e a cerejeira cresceu a ouvi-lo perguntar. Um dia floresceu. Tantas eram as flores de cerejeira nos ramos frágeis e o pássaro louco de alegria saltava de um para o outro e tão feliz era o pássaro verde, de peito branco e olhos azul-turquesa que nesse dia esqueceu-se de perguntar.
Naquele verão as cerejas foram doces, firmes e vermelhas e enfeitaram as orelhas de uma ou duas bailarinas que por ali tinham ido dançar.
Para a Mar ler quando for grande.
15 de agosto de 2020
6 comentários:
MANUELA BAPTISTA
Grande como é
e será a Mar
lerá certamente
qual bailarina
a dançar
Lindo!
Muitos parabéns querida neta
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Agosto de 2020
Belos, o pássaro, a cerejeira e o que viveram em conjunto...
Abraço :)
Só podia florir, a cerejeira. Só podia fazer ainda mais feliz "o pássaro verde, de peito grande e olhos azul turquesa". Os brincos de cerejas hão-de enfeitar todas as bailarinas que acreditam nos sonhos.
Tão bela, a tua história. Tão deliciosos os teus desenhos.
Uma boa semana com muita saúde, minha Amiga Manuela.
Um beijo.
Que bonitas são as suas fábulas!
A resiliência pode fazer brotar até flores na calçada, é a natureza com todas as suas forças.
Que a sua Mar leia um dia quando for crescer.
Um beijo para si
Se tinha penas e cor, só podia ser pássaro. Pássaro colorido e feliz. Por cantar, por voar... e, sobretudo, por usar o maior bem do mundo: a liberdade. Digo eu.
Enquanto isso a cerejeira crescia, afundava a raiz, paciente, à espera do dia da transfiguração dos sentidos. Amou e sentiu-se amada.
- E o pássaro?
- Embriagado de cor e doçura enlouqueceu?
Gostei tanto. Cerejeira ou pássaro, eu?
Beijo, Manuela.
Tinham-se um ao outro.
Só assim se vive e floresce.
Adorei.
Brisas doces *
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