As papoilas. Lembro-as em
maio, em junho também, afogadas em malmequeres silvestres e nós a procurarmos
ramos de oliveira, braçadas de trigo e o cheiro da terra e espinhoso é o pão nosso
de cada dia. Massa mãe, água, sal. Descansa, recompõe-se, amassa-se novamente,
arredonda-se, abençoa-se, faz-se-lhe o sinal da cruz. Sem bênção não cresce,
como os catraios do campo, os pés descalços, a pisar tarolos e estrume às vezes,
enfezados, a caminhar quilómetros para chegar à escola. A pá leva-o, ao pão,
para o forno de lenha. Nas histórias do faz-de-conta os meninos são levados na
pá, para o forno, mas escapam, exatamente porque são magrinhos e correm para
casa, mãe, era uma bruxa má, mãe. Não mintas, é feio mentir, vai para a escola,
aprende as contas de multiplicar sonhos, mas não mintas, faz apenas de conta. E
o pão ainda quente é partido e repartido e a manteiga a escorrer pelos dedos e
faz-se-lhe o sinal da cruz porque neste tempo de caminhos tão longos para
chegar à escola, lembram-nos as papoilas encarnadas a dançaricar com o vento.
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9 comentários:
MANUELA BAPTISTA
A DANÇARICAR COM O VENTO
A dançaricar com o vento
belo conto e teu invento
em entrelaçadas papoilas
que crescem como moçoilas
- desenho e texto magníficos! -
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Maio de 2020
E apeteceu-me tanto o pão quentinho com manteiga. E fazer de conta. E aprender a fazer contas de multiplicar os sonhos…
És linda, Manuela!
Um beijo enorme.
Nunca digas que as papoilas
são encarnadas
ela ficam zangadas
e iradas,
apesar do benzer
avisam
que não veremos o pão crescer
A esta curiosa lenga-lenga, não a conhecia de todo...
Abraço, Manuela!
Vim, lambareiro, às palavras de ternura da Manuela Batista.
Tanta coisa encantadora: as papoilas, os pés de menino a farinha, a água e o sal, a escola, as contas e o fazer de conta.
A massa mãe é outra história: "o crescente", porque acrescentava meninos a correr por ele para as mães, a merecer, à história do pão. Levedada a massa ficava o crescente para a mãe seguinte. Assim cresciam os meninos de casa em casa segundo a precisão e as histórias à lareira ou à mesa do faz-de-conta.
Não mintas, faz de conta recomendavam as mães, é verdade. Mas não é menos verdade que havia meninos que iam à escola com a barriga cheia de faz-de-conta.
Beijo, Manuela B.
E o pão crescia com o sinal da cruz, apesar dos meninos com fome.
Muito bonito.
Abraço
Senti o cheiro a pão quente com manteiga!
Sempre tão bonito, tudo, aqui!
Beijo, Manuela :)
Eu gostei muito das contas de multiplicar sonhos, aqui nesta lenga-lenga para fazer crescer o pão.
Fazer pão é tão maravilhoso! Ver o crescimento a acontecer, a transformação até chegar a hora de provar. Ainda hoje são as crianças que mais se deslumbram quando lhes contam o segredo e os deixam colocar a mão na massa.
Maravilhoso!
Beijinho.
FELIZ ENTRADA. UM ANO NOVO BOM.
ABRAÇO FESTIVO. ✌✌✌🍀🎈🎈🍀🍀
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