antigas são as janelas da casa





Vou-me embora, mas levo todas as janelas da casa. Os vãos, as ombreiras, os vidros sujos da chuva fina e da terra que voa das calçadas. Atravesso o portal de cada uma delas, a luz refletida nas esquinas, os outros lá fora nas suas próprias janelas, o pano do pó, o grito, vem para casa o jantar está na mesa, estará. O vaso a ver o sol no parapeito, a flor a crescer, o pássaro pousado, ousado, a bicar migalhas dos biscoitos de azeite e canela, como aqueles que a avó fazia aos sábados à tarde e nós a quebrar nozes nas dobradiças das janelas. Os plátanos suspeitam das partidas e chegadas e o musgo aveluda-se na lapinha. A chuva forte, as mãos espalmadas nos vidros numa despedida e eu pergunto-me como será possível reconstruir a memória adezembrada, tão antigas são as janelas da casa.


























7 comentários:

Petrus Monte Real disse...

Manuela,
Que belas são as tuas memórias!
Fazem lembrar o Natal da infância! Claro que é possível,
ou pelo menos, tu conseguiste, revisitar os momentos,
muito antigos, mas felizes, vividos com os entes queridos!
Cada palavra está repleta de amor,
que fica tão bem nesta época festiva.
Um bom Natal!

Jaime Latino Ferreira disse...

MANUELA BAPTISTA


... e os plátanos soerguendo-se, à memória adezembrada a enraízam e fortificam na despedida das despedidas ...


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Dezembro de 2018

Rogério G.V. Pereira disse...

Nunca te ocorreu meter conversa
com a janela
aquela
que mais espreitavas?
Ela te lembrará
onde a tua memória falha

Tenta
Não há janelas que guardem
segredos
São tão transparentes...

Graça Pires disse...

As janelas antigas. Assombrado e discreto é o coração da memória…
Tão belo, minha querida Amiga!
Que o teu Natal seja mágico como a magia que nos ofereces. Que o teu ano de 2019 te traga tudo o que mais queres.
Boas Festas!
Um beijo.

mz disse...

As nossas janelas guardam as nossas histórias, o que veem fora e o que veem dentro.


E as memórias, são por vezes tão ténues, a querer vida e nós com um grande querer reconstruir, a querer estar lá, novamente.


Beijinho, Manuela e Boas Festas!


Beatriz disse...

Como era bom quebrar as nozes nas dobradiças das janelas, das portas, o barulho já era delicioso...
Boas lembranças de uma memória pra lá de gostosa!
Bom fim de ano cheio nozes, amêndoas, afeto e um bom vinho!!!

Beijinhos Manu!

Agostinho disse...


Habilidade é ter pássaro amestrado às migalhas, mas eu, nómada de deserto, sustentado a maná, coisa nenhuma,não tomo ensino, deserto por parapeito e migalhas perto.
Há muito tempo, não pousava por aqui,lorpa, sabendo das iguarias de contorno gráfico e de cores excelentes.

Boas Festas, sempre, Manuela.