é hora do sol pôr






O silêncio dos pássaros, as flores do pessegueiro a rebentar, a litania cantada das vésperas, o sol alaranjado, é hora do sol-pôr, bem queria o meu senhor, a ir atá-lo. Bem queria ir atá-lo.
Com uma fitinha de seda escarlate, prendê-lo noite e dia e dia e noite numa ausência das noturnas estrelas e esta estrela apenas a dar luz aos nossos olhos e vigor às nossas penas e asas e quilha.
Por ele ser tão vilão, não posso amá-lo. Por ele não, posso amá-lo.
Segredo-lhe somente que o paraíso é mesmo aqui, pleno de rios, de mar, de ondas, de rochas, de túlipas, de hera, de macieiras, laranjais e vinhas. De estuários e deltas, de ilhas. De baleias, de garças de pernas esguias. Não fechem os olhos dos defuntos para que o contemplem, ao paraíso, porque a viagem que iniciam poderá essa sim, ser vilania. 
É hora do sol-pôr, bem queria o meu senhor ir atá-lo, bem queria.




























7 comentários:

Jaime Latino Ferreira disse...

MANUELA BAPTISTA


( ... )

mas como nada se ata
em vão
livre é meu coração

( ... )


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 17 de Fevereiro de 2018

Rogério G.V. Pereira disse...

Se eu o conseguir atar
que me vais dar?

O mar?

Mar Arável disse...

Sempre belo o seu entardecer

Luis Alves da Costa disse...

À hora do sol pôr, vislumbrei as primeiras folhas verdes da amoreira e todas as saudades das devoradoras brancas de seda me vieram aos dedos. Queria ser pássaro, e voar para esses tempos táteis :-)

Graça Pires disse...

Aí, onde pudeste descrever o verdadeiro paraíso, na hora do sol-poente, aí é que eu queria ouvir o silêncio dos pássaros e ver nascer as estrelas...
Uma boa semana, Manuela.
Um beijo.

Beatriz disse...

Eu também queria atá-lo, Manuela, e da noite fazer o dia!


Beijinho <º(((<

Bia

silvioafonso disse...

Eu não podia deixar
de seguir a beleza
desse blog.
Espero que sigam o
meu...

Beijos, gente e boa
páscoa.

silvioafonso


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