conto antigo da filha do rei







um
dois
três
quatro
cinco
seis


Sobre a calçada pisavam os pés descalços da filha do rei. Não vos corteis princesa nas agulhas dos pinheiros, não vos piqueis senhora nas formigas dos carreiros.
Se me cortar que importa, se me picar que faz, eu sou a filha de um rei. Falaram-lhe de uma outra, delicada como um junco, que acordada ficava toda a noite a juntar ervilhas debaixo do colchão. De manhã escalfava ovos e molhava pedacinhos de pão torrado na gema quase líquida e todos confirmavam, esta sim é uma princesa real.
E ria-se a filha do rei.
Ofereceram-lhe sapatos forrados a ouro e prata, bordados a linhas de seda, de salto, sem salto, com laços, sem laços e até de papel. Ela dobrava o riso e prendia nas orelhas uma flor azul.
De cada canto do reino enviaram-lhe brincos de pérolas e de diamantes e escreviam, princesa, aceite este destino que deus não lhe deu.
Por decreto ordenaram que as princesas de todos os reinos tinham este dever de se calçarem, de sorrirem em silêncio, de se abrilhantarem e de juntarem ervilhas verdes debaixo do colchão. Ela não.
E riu-se a filha do rei. 





















e estrelado era o céu e líquido era o mar






























19 comentários:

Jaime Latino Ferreira disse...

MANUELA BAPTISTA



Tal qual a toada da canção.

Bravo!



Jaime Latino Ferreira
Estoril, 5 de Julho de 2014

Rogério G.V. Pereira disse...

Ditoso o reino
em que se ri
assim
a filha do rei

Fosse eu
dele plebeu
e riria também

Unknown disse...

A filha do rei...era rebelde e pouco lhe adiantavam os bons conselhos.
Porque era filha do rei teria direitos próprios de que não desistiu.

O outro conto diziam:
- O rei vai nú....

Contos que nos fazem pensar.

Kika disse...

Kriu?

Gosto tanto quando dobras o riso, é como se o teu nariz, de repente, tivesse onde pousar...

Kriu!

Anónimo disse...

Até que enfim que aprendeste a contar até seis, pelo menos!

. intemporal . disse...

.

.

. por decreto ordeno também . que esta nossa íssima Escritora publique sempre que quiser e em qualquer lugar . sem que e para o efeito . tenha que por isso pagar . :))) .

.

. bel.íssimo . querida amiga .

.

. e aqui . o tempo é lenda .

.

. :))) .

.

.

Beatriz disse...

E assim a filha do rei segue sorrindo.....não importa a cor, nem o tecido do sapato....que bom!

Beijinhos

Bia

Graça Pires disse...

A filha do rei sorria, talvez por saber que o riso encerra algumas das coisas mais sérias deste mundo...
Adoro, o que escreve, Manuela.
Um beijo.

Guiomar Lobo disse...

Belo conto/ode à liberdade de ser.
Gostei muito.

Isa Lisboa disse...

Realmente, para que são necessários os sapatos, se não se sente a terra debaixo dos pés com eles?
Rio-me eu com a filha do rei... ;)

Vitor Chuva disse...

Olá, Manuela!

Não é princesa quem quer.E também há aquelas que o não querem ser, preferindo ser aquilo que são - e assim continuar a rir...

Bonito!

Abraço e boa semana.
Vitor

Rita Freitas disse...

Uma filha do rei sem deveres, daí o riso :)

Bjs

Olinda Melo disse...


Menina que pensava pela sua própria cabeça. Gostei muito. :)

Bj

Olinda

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Manela

acho que esta filho do rei tem um pouco de mim....

muito belo tudo o que escreves.

:)

. intemporal . disse...

.

.

. e hoje . ali ou acolá .

.

. o tempo é tenda . e essencial.mente . o tempo é lêndea .

.

. :)))))) . "oras" .

.

. e já ouço os chiados de tantíssimos e seculares mimos .

. "rainha" por umas horas .

.

. ou talvez não .

.

.

ki.ti disse...

ai, é?

as princesas são muito mais simples

Graça Pereira disse...

Bem, a filha do rei não tinha que dar contas a ninguém...ou teria??
Mais um conto que me fascina.
beijo
Graça

Jacintinha Marto disse...

Juro que não me cortarei e adorei o lindíssimo conto, dizem que a Poesia dá a ver aos cegos, assim de desse ela para andar, que a Poesia é aqui tanta, que eu passava da santa acamada para o Obikwelo do panteão da santalhada.

Bem haja, que é uma referência na minha artrose, e um dia me porá a andar: a Fé é como a Poesia, move montanhas!...

Maria Rodrigues disse...

Uma filha de rei que sabia bem o que queria. Belissimo conto.
Beijinhos
Maria