e as garças cinzentas os corvos marinhos e os alfaites no sapal





- Se eu voar.
- Tu voas.
- Não. Quero dizer, se abrir as asas mesmo parado, a quilha a cortar os mosquitos sobre a água, colocar a cabeça um pouco para trás, esvaziá-la. Apagar a memória de algas e crustáceos e este rio.
- Este rio. Trocarias este rio por outro qualquer.
- Qualquer, não. Um escolhido por mim, mais salgado.
- Não tens escolha.
O flamingo hesitou. Não sabendo o que responder limitou-se a erguer e a baixar o bico duas vezes. O flamingo cor de salmão encolheu a perna esquerda e lançou-lhe um olhar penetrante.
- Todos os dias duvido de deus.




















Um pequeno barco a motor cortou o silêncio e fez ondular ligeiramente a água. Uma tainha encontrou o caminho para o mar.
É uma dúvida sistemática, cansativa. Depois abranda, desaparece, deus queira. A fragilidade do branco manifestava-se em pinceladas de rosa pálido e a temperatura do ar caiu de repente. Nos terrenos alagadiços, nos sapais, o entardecer anuncia-se desta forma.
As outras aves, curiosas, foram-se aproximando, as narinas dilatadas pelo prazer, pata aqui, pata ali, os ossos das pernas eram talos flexíveis, altos, pernaltos na profundidade das águas.
Levantaram voo mal o rio foi estuário e foz. A largura das asas era tal que planava sombra entre as margens.










18 comentários:

Paulo Francisco disse...

Bommmmmmmmmm! Viajei na música de fundo.
Um grande abraço

Unknown disse...

Encontros em águas paradas perguntas sem resposta.
Porquê trocar de casa e procurar outros lagos se todos são salgados...?
Se eu voar tu voarás porque vais comigo e juntos procuramos comida neste lago onde abundam os mosquitos.

É preciso acreditar
É preciso resistir
É preciso combater e vencer as águas contaminadas deste lago onde nos reduzem a água e nos tiram os sonhos refletidos pelo luar.

Gosto de a ler e viajar neste sonho.

Jaime Latino Ferreira disse...

MANUELA BAPTISTA


VIAGENS


Planava sombra entre as margens
e o voo das tuas viagens
me iluminava de imagens


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Junho de 2013

Vitor Chuva disse...

Olá, Manuela!

Partir para outras paragens não é mesmo nada fácil; sobretudo quando se não consegue apagar a memória nem ter a certeza sobre o rio para onde nos possa levar o bater das asas...

E os pernaltas flamingos são lindos!

Bom fim de semana; abraço amigo
Vitor

. intemporal . disse...

.

.

. uma coisa é certa . aqui . neste canto Seu . serenam.se todas as dúvidas . sacras ou laicas . mas serenam.se .

.

. destaco a Sua capacidade visionaria . a qual . confere à Sua escrita . um sentido único . a ser o leito e a alma ao peito . em arco . aberto .

.

.

. íssimo feliz .

.

.

Enviado do meu iPad

Kika disse...

Kriu?

Perguntar a uma ave se voa é a mesma coisa que te perguntar a ti se escreves...

Por vezes, és assim, meio meio...

Kriu!

Anónimo disse...

Também costumo dilatar as narinas, quando chegas da Churrasqueira Atibá...

Menina no Sotão disse...

Houve um tempo, distante, em que eu repetia pra mim mesmo "todos acreditam, eu preciso acreditar também". Mas hoje eu repito "se os outros acreditam é porque precisam. Eu preciso acreditar em mim sempre".
Engraçado ler-te e pensar nisso agora. Me fez bem.
Me fez pensar em muitas coisas outras também. Asas abertas eu sempre tive. rs

bacio

Silenciosamente ouvindo... disse...

Gosto de flamingos, muita vez vou
vê-los...eles aparecem perto de
onde moro...
Penso que percebi a intenção
do seu texto.
Um beijinho
Irene Alves

Rita Freitas disse...

Sim, não trocaria este rio por qualquer outro :)

Adorei ler.

Beijinhos e boa semana

Isa Lisboa disse...

Eu acho que temos sempre escolha, mas às vezes ela é difícil...

Lindo de ler, sempre é!

Beijo

Isa Lisboa
=> Instantâneos a preto e branco
=> Os dias em que olho o Mundo
=> Pense fora da caixa
=> Tubo de ensaio

Daniel C.da Silva disse...

Assim se diz o momento...

Beijo amigo

ki.ti disse...

Para mim, até um miúdo de sete anos
é um pernalta

mz disse...

Oh agora sei porque o sol não aparece por aqui!
É a sombra da asas das tuas aves que planam até chegarem ao meu sítio.

Um abraço Manuela

Nilson Barcelli disse...

Brilhante, como sempre.
Manuela, querida amiga, tem um bom resto de semana.
Beijo.

Linda Simões disse...

Manuela,


A saudade é INTEMPORAL. A música é LINDA.Os AMIGOS são QUERIDOS e INESQUECÍVEIS.

E aqui,neste blog é tudo LINDO!

Beijinhos de carinho ao casal amigo


Ana Simões


Kika disse...

Kriu?

E, enquanto mudas de página, eu vou ali buscar a Siri, porque, apesar de tudo, gosto dela!

Kriu!

Anónimo disse...

E, se trouxer o abajur, não te esqueças de comprar uma lâmpada LED, Kika!

São tendência, como sabes!