No princípio existiam duas folhas. Os melros, as toutinegras e os gaios eram três.
Virar a página é sentir o coração pulsar antes de a página virar. Quem está no meio do campo um esquilo, no meio do lago um barco, no meio da sala uma borboleta amarela.
Esvoaça a cortina na ausência de luz, lagarto pintado quem te pintou.
Se deslizar devagar, sola sapata rei rainha, doura-se a tarde húmida, mais fria. Foi uma velha que aqui passou.
Quando eu for velha, quero ser velha, não quero ser corretamente idosa, no tempo da eira. Fazia poeira.
Lengalengar reenvia-nos lá para trás num tempo de chuva miudinha, de botas novas a estalar folhas amarelas, de soprar castanhas quentes escondidas na concha das mãos e nas mãos em concha beber a água das torneiras porque os copos são de vidro quebram-se com as correntes de ar.
Pousio é dar descanso a uma terra cultivada. Ouvir as vozes que vagueiam os sulcos, pelo mar abaixo vai uma formiga e nós a acreditar em deus e ele desfeito a perguntar por nós.
Poisio.
folhear de mb

21 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Pousio é também dar silêncio à palavra por lavrar. Por isso escolho o não comentar e aproveitar o momento para ir relembrar lengalengas que também me lengalengavam na infância.

É bom empurrares-me para quando era criança... com o mar ao fundo

Isa Lisboa disse...

Pousio... Uma boa palavra... Vou levá-la comigo para o sono que espera, e quero que ainda lá esteja quando acordar!

Beijos

Jaime Latino Ferreira disse...

MANUELA BAPTISTA


Lengalengar é desafiar-nos às respostas ... e a Deus também!

O deus que em nós habita:

Caem as folhas e poisam, espectantes, aqui.


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Outubro de 2012

. intemporal . disse...

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. momentos antes da minha partida para itália . venho encontrar aqui a narrativa salvífica do antes . do agora . em poisio . e do depois . do eterno . na sua mais ampla plenitude e fulgência .

.

. porém . esta narrativa é também o exemplo inequívoco de tantas chapadas sem mãos . pois as mãos . essas . estão mais.do.que.ocupadas . na medida.em.que.estão . à mercê da Criação . sempre .

.

. "para bom entendedor meia palavra basta" . ou então . faz.se um desenho . e também isso é tão possível aqui . :) .

.

. "No princípio, Deus criou os céus e a terra." . e por ora . cumpre.me agradecer.Lhe por isso . através da minha presença corpórea . junto . de uma Alma escolhida para ajudar a salvar o mundo .

.

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. ______________ . até breve .

.

.

. íssimo mais.do.que.feliz .

.

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Anónimo disse...

"Poisio" é deixá-las ladrar, pois para falar, já basto eu!

Anónimo disse...

Olá, Manuela!

Em pousio, é como está o meu quintalinho, para embaraço meu;ao contrário do que neste acontece: de palavras bem cultivado - como sempre.

Um abraço; bom fim de semana.

Vitor

Unknown disse...

folhear muito devagar, para não quebrar o fio de tinta - o ouro das palavras com que o escrevedor
semeou o Outono.

lindo, lindo, lindo... 1000 X lindo!

um beijo

Nandinho

Kika disse...

Kriu?

Kem és tu que eskreves tão bem?

ki.ti disse...

Não sabia que os pompons falavam no outono.

O Profeta disse...

Sopram ventos de melancolia
Transparente é o cinza que a tua alma encerra

A minha pobreza é a falta de um par de asas
Encontrei um lugar de reinvenção das sombras
Pensei virar as costas ao tempo e ao deslumbramento
E aí houve estranhamente o amanhecer das minhas palavras

E passei para te deixar


Um mágico beijo

Mar Arável disse...

Um dia seremos de novo crianças

beberemos das fontes

com mãos cheias de sol

Rita Freitas disse...

Um texto que encanta, no passar pelo tempo e no viver o agora.

Beijinhos

Nilson Barcelli disse...

Deus a perguntar por nós...
Não tenho ouvido, talvez por ser agnóstico...
Encantam-me sempre as tuas histórias.
Manuela, tem uma boa semana.
Abraço.

CamilaSB disse...

Olá Manuela, gostei tanto deste «lengalengar...» tão bonito! Fez-me lembrar, também a mim, a «chuva miudinha» de tempos idos cheios de traquinices!
É um gosto - saborear histórias tão belas e bem cuidadas!
Parabéns, por tão bela sementeira e bem-haja, por nos oferecer os frutos do seu belíssimo trabalho :)
Um beijinho carinhoso, boa semana e bom poisio, se for caso disso!

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Doçura, doçura e mais doçura,com saudade querida, é o que percebo nesse pousio...

Beijo

Silenciosamente ouvindo... disse...

Pousio da vida...hiato à espera?!!!
nem se sabe...enquanro as folhas
vão caindo...e as esperanças se
diluem.
Um beijinho
Irene Alves

mz disse...

Sossegamos no Poisio do teu conto de letras semeado. Estará Deus adormecido?

. intemporal . disse...

.

.

. un bacio . d.aqui . :))) .

.

.

alegria de viver disse...

Querida amiga

É uma delícia passar aqui, tenho a sensação que Deus soprou em seu ouvido e seu coração registrou toda esta maravilha, depois nos transmite estas mensagens de amor.

Com muito carinho BJS.

Petrus Monte Real disse...

Manuela,

Belo regresso à infância:

falas de hábitos
conceitos
coisas que julgávamos perdidas num canto da memória
e de repente se soltam
e adaptam ao quotidiano dum novo tempo!

Uum grande prazer:
a palavra e a pintura!
Muito grato
Abraço

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

pousio, deve ser assim...

um beijo