O café deve ser forte, arábica para aguentar, o açúcar
mascavado e o limão acabado de apanhar. Debaixo de um jacto de água da
torneira lava-se bem para tirar a caca dos pássaros e as teias de aranha,
pega-se numa faca afiada e na tábua da cozinha cortam-se rodelas finas e
milimetricamente semelhantes. O gelo laminado. Não interessa como. Pode sair de
um frigorífico moderno que nos entrega a água já gelada, capaz de catalogar as
caixas de congelação, de as identificar sem misturar a base da sopa de cenoura
com a carne à bolonhesa. Alguns também são ecológicos, poupam energia e possuem
várias memórias de conversação consoante sejam invadidos pelas crianças em
busca de sumos ou pelo avô que guarda a garrafa do whisky de malte escondida na
gaveta dos legumes. Os mais educados são caríssimos, mas agradecem sempre que fechamos
a porta com o pé e esta bate sem que o consigamos controlar. Na falta deste
modelo, serve um martelo e um saco de plástico resistente. Neste caso o gelo
não sairá laminado, mas lascado, que é aquela forma como às vezes nos sentimos
ainda o verão mal começou.
O movimento de bater no gelo não é isento de perigo e os dedos
mais frágeis são o anelar e o mindinho seu vizinho com quem gostamos de
partilhar o limoeiro.
O segredo está na proporção talentosa dos elementos, o
café, a água gelada, o açúcar, o gelo, as rodelas de limão. Mistura-se com uma
vareta num jarro de vidro azulado translúcido para brigar com o amarelo branco
preto limão.
Bebe-se pausadamente ou só de um trago e o sabor será
igual.
Entre o factual e o imaginado a luz refrata-se no jarro
de vidro azulado e o pássaro da tarde já cantou. Coloco então o limoeiro
debaixo do braço e vou por aí acidular.
limão metálico desenho a lápis de mb
22 comentários:
Gostava de te ver por aí com o limoeiro debaixo do braço a vender limonada fresquinha, acabada de fazer... eheheh...
Mas, com esta crise, já tudo está a ficar acidulado em excesso...
Manuela, querida amiga, tem um bom fim de s emana.
Beijo.
O Nilson disse tudo. Nilson e a
Manuela são duas pessoas que muito
admiro neste mundo da Net.
Não tenho capacidade para fazer uma
análise elaborada aos v/trabalhos
literários(como os críticos fazem)...
sei apenas que gosto de ler o que
escrevem, que muito me agrada.
Desculpe amiga juntar os dois.
Calhou.
Um bom fim de semana e beijinhos.
Irene Alves
mazagran :)
sem rum
obrigada Irene
MANUELA BAPTISTA
Acidulíssima receita!!!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 14 de Julho de 2012
Não há comparação, mas fez-me lembrar do "mate-limão", nas quentes areias de Copacabana,Rio, quando lá vivi 1/2 de século...
Lá, havia calor com beleza,
aqui, há beleza e poesia...
Melhor do que o café com água gelada, açúcar, gelo e rodelas de limão, só mesmo a luz refratada no jarro de vidro azulado e o pássaro da tarde a cantar.
Ah, este seu jeito de tornar belíssimas as coisas mais simples da nossa existência!
Um grande abraço, minha querida Manuela.
.
.
. de.facto . o segredo está na proporção talentosa . com a qual nos deparamos sempre que chegamos aqui .
.
. mais uma vez .
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. como se fora sempre a primeira vez . mas na bagagem trazemos tão bem e também a certeza de que aqui tão bem e também encontraremos o húmus profundo da Criação .
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. uma dádiva nos dedos de quem sabe escrever . tão simples quanto isto . ainda que isto . seja . a.penas e só . para alguns . . .
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. . !!! . ___________________ . bel.íssimo .
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. íssimo . sempre . sempre . feliz .
.
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ó Manuela!!!
amanhã, prevê-se que a temperatura suba em flecha, e sendo assim, troco de bom grado, as bejecas e os camarões do Janardo, p'la sua receita refrescante, sublimemente acidulada com o seu talento literário
não sei... mas acho que em Mazagran, na tórrida Argélia, eu não me safava somente a tomar mazagran, acho que chorava por umas boas imperiais:))
mas os franceses lá resistiram ao cerco que os árabes lhes fizeram em 1840(?), graças às litradas de mazagran
tiveram sorte, se já houvesse a super bock, não tinham resistido, caíam redondinhos, e depois era só apanhá-los do chão:))
beijo, Manuela!
Nandinho
Auf!
Continuo a preferir o Cãopri-Sonne!
Não estranhes caso me sintas mais arredado, mas agora mais por ali, e também pela vida real, naquela que já existia antes deste mundo virtual, onde afinal também estou sempre! :)))
Auf!
Béu, béu!
Deixo um poema muito original, acho até que desta vez nem tem erros, por isso pensei em doer, ai, desculpa, em doar esta obra de arte a quem escrever "quase" tão bem como eu escrevo:
Quando quiseres escrever um livro mesmo à maneira,
Para o lançares até podes pagar com Visa,
Dirás adeus a essa vida de pasmaceira,
E em qualquer convite emergirás como Poetisa!
Béu, béu!
É do calor...
bora lá para o Janardo! bejecas e cões, digo, camarões, adoro.
Béu, béu!
Em vez de "pasmaceira" também podes utilizar "assistente à cabeceira"...
Béu, béu!
Auf!
Ups! Esqueci-me do "ando"... Pudera, eu não ando, eu voo, eu cruzo mares e oceanos e apesar de pesar quase tanto como o A380, nada me impede ou impedirá de voar!
Tens capacete?
Auf!
ao ler o teu texto, so me lembrei de uma limonada muito fresca.
a imagem, muito original.
boa semana.
um beijo
Adorei as rodelas de limão, o jarro azulado e o sabor delicioso desta bela poesia... como sou gulosa, bebi várias vezes... que delícia!!! Parabéns Manuela, o seu talento para misturar cores e aromas é maravilhoso! Um beijinho carinhoso e obrigada pela delicadeza! Tenha uma semana bem docinha!
Não trouxe o limoeiro debaixo do braço ... porque esse gesto é para as poetizas como tu!
Mas trouxe três ou quatro limões nas mãos...passei-os pela água da torneira, cortei-os às rodelas numa espessura nada matemática, cubos de açúcar e de gelo e água....porque a sede já não esperava mais!
Faltou-me o jarro azulado com luz refractada e o pássaro da tarde a cantar que ...deve ter tanta sede como eu!!
E faltou-me, isso sim, a tua alma de poeta.
Beijo
Graça
Há segredos que não se revelam.
Este seu acidular tem arte.
Maravilhosas também os desenhos.
Blue
Querida amiga
Quanta beleza num texto refrescante.
Obrigada, sempre tenho uma bela surpresa, vir aqui é passear.
Com muito carinho BJS.
Acidulados estamos
mas os coisos não são eternos
Que bom, Manuela fizeste-me lembrar o refresco de café (de saco) que bebia muitas vezes no Verão quando era criança.
Capilé!
Lindo.
Abraço, abraço.
Um texto e uma bebida fresca com uma simplicidade bela e deliciosa.
Beijinhos
Gostei de reler.
Manuela, minha querida amiga, tem um óptimo fim de semana.
Beijo.
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