Dei-lhe uma capa cor da noite e aprisionei-o no princípio do mundo. Ele não protestou, aluado e feliz. Chamei-lhe dançarino da lua, ele não sabia como me chamar.
Às vezes pensava,
que asas pequenas as minhas para este corpo gordo, que improbabilidade de equilíbrio estável.
Era aí que ouvia ao longe os outros patos ou gansos ou cisnes e inspirava o odor dos pinheiros e das plantas aquáticas e mais a norte, o gelo eterno dos fiordes.
Suspendia então a quilha e o vácuo e sentia uma dor na sétima fileira de penas mais escuras sob o peito.
Que forma tem o meu coração? – grasnava a ave.
Não tinha. Vazio o sangue, as artérias, as cartilagens, os músculos, imperfeita a anatomia.
E eu com um pincel de cerdas finas apaguei a lua, desenhei-lhe um voo descendente, depois um voo ascendente, estabilizei-lhe a cauda e disse, vai! e ele foi, o pato selvagem das histórias.
Na circularidade do tempo virá um outro ser em seu lugar.
dançarino da lua óleo de mb
31 comentários:
Vou ter saudades do pato aluado, muitas.
"Com o pincel de cerdas finas surgirá certamente outro ser" que me deixará aluada.
Adoro ler-te.
Beijo
MANUELA BAPTISTA
Bela a forma de aqui te despedires do pato ...!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Março de 2012
Le diste toda su forma.
Un abrazo
Como la nueva forma de mi laberíntico blog : ) Sólo hay que pinchar sobre cada entrada y entonces se puede leer el texto completo.
Se me disseres, poeta
o tom desejado do grasnar
e a suavidade necessária
para o pousar
Te conseguirei dizer
qual será esse novo ser
Não,
que não sejam aves necrófagas
nem falcão
Refazes-me a história
de Fernão Capelo Gaivota?
Levaste-me a voar com o pato, a (re)desenhar a lua, e ficar com a sensação de voo.
Oxalá se rolongue paelo fim de semana... :)
"Angélica regressou a casa dos pais com o recente marido?"
Respondendo: Os pais acolhem sempre os filhos, ainda que eles tenham cometido os maiores disparates... como se verá que foi o caso :)
Bom fim de semana. Beijinhos
Não sei dizer-te (gostaria muito de fazê-lo) como cheguei aqui. O navegador guardou o endereço (sorte minha) e eu fui ler-te finalmente nessa manhã se sábado. O trecho que fala do coração calou-me. Respirei fundo e mergulhei nessa sensação de conforto e desconforto causada pelas palavras em linha. Guardar-te-ei para não mais me perder dessa sensação agradável. Só posso agradecer por tal silêncio.
bacio
já sinto saudades...
de mim
nas asas que me levaram pelo negrume da noite, rumo às manhãs claras
olá, Manuela!
um beijo
Nandinho
Manuela,
As suas palavras são pinturas em permanente harmonia, que partilha com os outros, desencantadas em veleiros de memórias inesquecíveis...
É tanto!
Beijo :)
Querida amiga
Seus patos são lindos, queria poder voar junto.
Maravilhoso, esta despedida foi de liberdade.
Com muita alegria BJS.
És mesmo desgovernada
arroz de pato, era o que deverias ter feito.
.
.
. em cada despedida . como num voo . o alcance . mais.do.que.certo .
.
. e permaneço .
.
. rumo à maré próxima .
.
.
. íssimo feliz .
.
.
Às vezes também precisamos de um empurrão para voar...
Mas eu voo sempre nas tuas palavras.
Excelente, como sempre.
Manuela, querida amiga, tem um bom domingo.
Abraço.
Oh! mas afinal onde está o meu comentário anterior???
Às vezes não sei o que faço...
muitas vezes -:)
Dizia que terei muitas saudades do teu pato aluado, mas que conhecendo bem a teu poder criativo o que vier será tão belo ou ainda mais.
Partilhei.
Beijo
Ná
Ná...está lá em cima, o primeiro, sem foto
mas isso não fui eu
Olá, Manuela!
Bonita acção, essa: dar um corpo perfeito a um patinho desajeitado - e se calhar também feio; asas para que ele possa voar livre, percorrer o mundo.
Quanta imaginação!
Bom restinho de domingo, com um abraço amigo.
Vitor
Auf!
Antes o pato do que as patas, não quero ter de entrar aqui de joelhos, a menos que este blogue mudasse de nome para "A Peregrinação"!
Auf!
Béu, béu!
Assim é que eu gosto de ti, lean!
Béu, béu!
Contos com muita criatividade e amor.
Aprisionou e protegeu o dançarino com uma capa cor da noite...
...depois...soltou-o nas cores da liberdade e mandou-o seguir equilibradamente.
Salve-se o voo
neste ciclo de marés
Agora vi ambos -:)
Estou a precisar de mudar de lentes, seguramente!
Gosto tanto do teu patinho.
Este é um pato "marreco", julgo que sabes.
Tive patos e gansos e fracas e galinhas e coelhos, tudo a sério, mas era uma drama na hora de chamar a senhora que os matava ...
depois outro drama porque mesmo não sabendo se comia o lindinho ou o tiquinho, sabia que era um deles.
Acabei com tudo.
Tenho dois gatos, e do lago dos patos fiz um lago maior onde de.molho as minhas penas.
Beijo
Ná
Também andei como o pato aluado mas...ninguém me pintou uma lua mais perto!
E a tua imaginação que não acaba nunca, felizmente!!
Beijo
Graça
Ah, a Lua!
Quanto mais perto dela estou, maior é a vertigem de a perder...
Fico à espera daquele 'outro ser'. Por certo ainda mais fascinante que este pato selvagem, que um pincel de cerdas pintou...
Beijo
"Que forma tem o meu coração?"
Que excelente pergunta, que encerra tanto em si...! Espero que o dançarino da lua encontre a resposta!
Bjs, Isa
Minha querida
Que bem que as tuas mãos desenharam este maravilhoso texto...um voo terno e eterno.
Um beijinho carinhoso
Sonhadora
Um voo imaginário...virá sempre
outro alguém...sempre a renovação...
Beijinho
Bom fim de semana.
Irene
...e
excepcionalmente,
Hanaé
nem tudo se explica
é esse o sentido do voo!
e sacrário, é palavra que não cabe num blog
talvez numa igreja
como a liberdade de escolha entre publicar ou não
entre gozo e alegria
entre criatividade e inutilidade
grata pela sua presença
Então...Manuela,
"leio-vos e agradeço cada ponto que acrescentam a este conto"...
Os meus Amigos estão a ficar fans das suas palavras.
Estou muito Feliz, por os ter convidado a aderir ao seu blog.
Está a ser lida no fim do mundo,ou no começo dele.
Aprume as suas palavras, porque somos uma vasta, unida e verdadeira familia.
Não necessita aprumar, porque as suas palavras são lindas...
Lindas, lindas e lindas...
E, com pincel prodigioso, asas vão sendo dadas ao pensamento, de pato vestido, para os voos com que o espírito, inquieto mas seguro, se atreve "contra" a "circularidade do tempo"!
Beijinho e bom fim de semana!
jc
Também na nossa vida, por vezes o que parace desiquilibrio e desajustado tem uma função.
Apenas mais tarde saberemos.
Ajustamo-nos à situações ou é o tempo que se encarrega de nos ensinar.
Um abraço,
Mz
uma despedida bonita.
e um pato a namorar a lua,
beij
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