Havia um silêncio que o precedia.
Senhoras e cavalheiros, meninos e meninas aquietai-vos nas cadeiras nas balouçantes bancadas suspendei o movimento da mão direita que direita se aproxima das batatas fritas, dos chocolates e das pipocas, impossível o som do celofane, da prata, pardo é o papel, quedai-vos ansiosos medrosos à espreita de uma desgraça consentida.
Fazia a sua entrada na arena, o cabelo cor de fogo incendiava-lhe a cabeça e os olhos profundos ligeiramente sombreados de olheiras, percorriam a multidão irrespirante, como se fosse apenas outro olhar, que não suportando a certeza do seu, ingénuo lhe fugia.
O corpo esguio, as calças largas, pretas, brilhantes, de seda macia, a túnica cor de salmão que é um peixe fugidio e gosta de saltos e de fugas, mas regressa sempre ao lugar onde nasceu, como se esquecesse o mar e amasse o rio.
À volta da cintura as facas afiadas, sete, como os sóis e as luas e finalmente ela deslizava, suave como uma folha trazida pelo vento, frágil como um copo de cristal.
Senhoras e cavalheiros, meninos e meninas aquietai-vos nas cadeiras nas balouçantes bancadas suspendei o movimento da mão direita que direita se aproxima das batatas fritas, dos chocolates e das pipocas, impossível o som do celofane, da prata, pardo é o papel, quedai-vos ansiosos medrosos à espreita de uma desgraça consentida.
Fazia a sua entrada na arena, o cabelo cor de fogo incendiava-lhe a cabeça e os olhos profundos ligeiramente sombreados de olheiras, percorriam a multidão irrespirante, como se fosse apenas outro olhar, que não suportando a certeza do seu, ingénuo lhe fugia.
O corpo esguio, as calças largas, pretas, brilhantes, de seda macia, a túnica cor de salmão que é um peixe fugidio e gosta de saltos e de fugas, mas regressa sempre ao lugar onde nasceu, como se esquecesse o mar e amasse o rio.
À volta da cintura as facas afiadas, sete, como os sóis e as luas e finalmente ela deslizava, suave como uma folha trazida pelo vento, frágil como um copo de cristal.
O vestido branco de neve deslizava com ela e ao peito um malmequer de coração amarelo. O dela batia.
Uma elegante vénia e quedavam-se em frente um do outro, de pé, ela encostada a uma plataforma escura e ele concentrado na destreza dos pulsos e na calma que o invadia.
E num golpe certeiro lançava-as, uma a uma e quem irrespirava sufocava, as palavras presas na garganta. A primeira e a segunda das afiadas facas tocavam o dedo indicador de cada mão, a terceira e a quarta, os dois lados da cintura, a quinta e a sexta, respectivamente, o pé esquerdo e o direito e a sétima e última delas, trajectória de risco, zumbia no ar e fixava-se certeira por cima da cabeça, não beliscando sequer um fio dos seus cabelos negros.
Os aplausos irrompiam e o tambor tamborilava e o público não queria saber de mais nada, adoravam o rapaz das facas e a menina suave de vestido branco que lhes enchia os sonhos nas madrugadas de insónia e frio.
Mas um dia ela cansou-se do vestido branco e do malmequer amarelo e quando o tambor rufava, os seus olhos prendiam-se no trapézio e no rapaz que balouçava lá no alto, os ombros largos e fortes, as pernas musculadas e compridas e aquele voo de ave que se lança no espaço e ela farta dos gumes e dos fios e dos arrepios e do seu esguio companheiro.
Uma noite este hesitou, trocou as voltas às facas e cego de ciúme, baralhou a terceira e a quarta, a segunda e a quinta, a primeira e a sexta e a sétima delas desviou-se e num zumbir de malvado presságio, dirigia-se volante ao dedo indicador da mão direita e as senhoras disseram, Ah!!! e as meninas começaram a soluçar e os meninos quietos, mudos de terror.
Ela gritou e no segundo que pareceu durar toda uma vida, olhou-o, viu o seu cabelo cor de fogo rebrilhar e os seus olhos profundos, com uma dor de amor ainda mais funda e viva. E pensou que "tola sou" e no último instante, antes da faca ser sol e lua, deixou-se deslizar e o malmequer amarelo soltou-se e deixou-se cair com ela.
O vestido era encarnado mas o seu coração batia.
Uma elegante vénia e quedavam-se em frente um do outro, de pé, ela encostada a uma plataforma escura e ele concentrado na destreza dos pulsos e na calma que o invadia.
E num golpe certeiro lançava-as, uma a uma e quem irrespirava sufocava, as palavras presas na garganta. A primeira e a segunda das afiadas facas tocavam o dedo indicador de cada mão, a terceira e a quarta, os dois lados da cintura, a quinta e a sexta, respectivamente, o pé esquerdo e o direito e a sétima e última delas, trajectória de risco, zumbia no ar e fixava-se certeira por cima da cabeça, não beliscando sequer um fio dos seus cabelos negros.
Os aplausos irrompiam e o tambor tamborilava e o público não queria saber de mais nada, adoravam o rapaz das facas e a menina suave de vestido branco que lhes enchia os sonhos nas madrugadas de insónia e frio.
Mas um dia ela cansou-se do vestido branco e do malmequer amarelo e quando o tambor rufava, os seus olhos prendiam-se no trapézio e no rapaz que balouçava lá no alto, os ombros largos e fortes, as pernas musculadas e compridas e aquele voo de ave que se lança no espaço e ela farta dos gumes e dos fios e dos arrepios e do seu esguio companheiro.
Uma noite este hesitou, trocou as voltas às facas e cego de ciúme, baralhou a terceira e a quarta, a segunda e a quinta, a primeira e a sexta e a sétima delas desviou-se e num zumbir de malvado presságio, dirigia-se volante ao dedo indicador da mão direita e as senhoras disseram, Ah!!! e as meninas começaram a soluçar e os meninos quietos, mudos de terror.
Ela gritou e no segundo que pareceu durar toda uma vida, olhou-o, viu o seu cabelo cor de fogo rebrilhar e os seus olhos profundos, com uma dor de amor ainda mais funda e viva. E pensou que "tola sou" e no último instante, antes da faca ser sol e lua, deixou-se deslizar e o malmequer amarelo soltou-se e deixou-se cair com ela.
O vestido era encarnado mas o seu coração batia.
30 comentários:
.
.
. a angústia é sempre vibrátil e intermitente . des.igualada entre.intervalos sem frente .
.
. como latente é o des.amor que a sustenta .
.
.
. abre e fecha a porta des.educada.mente . na cara sem cara . no rosto sem rosto . no deposto do destituído gosto .
.
. por.que a ser gente mais gente não pode haver . nem saber . muito menos saber .
.
. a.penas as palmas . os aplausos sem mãos e sem braços e sem ante.braços de um tronco morto e a alma uma mancha e uma sombra .
.
.
. olhem, olhem, vem aí a diva ! .
.
. e nunca vinha .
.
. por.que quem adivinha não espera .
.
. e o mundo lá fora continua a ser uma esfera .
.
. e profunda cá dentro tenho sempre a atmosfera .
.
. que tanto e nunca em pranto se esmera . e que por isso simples.mente alcança .
.
.
. um .
.
. e dois .
.
. e três .
.
.
. íssimos felizes . que Lhe são vestais deste tempo em que somos raiz .
.
. paulo .
.
.
E este conto de trágicos amores fez-me lembrar o mundo do circo e dos anjos, naquele maravilhoso filme que se chama" Nas asas do desejo"
Já sei como vou passar o meu serão .
Beijinhos de um Março com sabor a Inverno
Filomena
... Entre vestidos
mocinhas
palco
...
Aplausos.
E sento-me na arquibancada
Olhos atentos
Coração disparado
Esperando
o próximo ato !
Beijinhos de carinho aos dois
Linda Simões
Sorry,
o comentario eliminado foi meu (estava duplicado)
Beijos
uma certa noite, o mundo, expectante, arrumou-se nas cadeiras de um circo, para assistir à sua própria tragédia... saiu mais apertado do que entrou e perdeu a voz...
entre facas e trapézios, a vida tal qual ela é - um malmequer de coração amarelo preso a um vestido branco, fitando as aves do céu...
um beijo e um grande aplauso para si, Manuela!
Walter
MANUELA BAPTISTA
... e o malmequer, transfigurado em vestido, pulsou inteiro como só ela o sabia fazer.
Que tola sou, pensou e voou entre trapézios e aves lançando-se no espaço.
Para variar ... muito bonito!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 5 de Março de 2011
sorry Linda...
eliminei o eliminado
e agora? falta aqui alguma coisa?
:)))
manuela
Excelente.
O teu talento é inegável.
A descrição que fazes do número de circo das facas é soberbo.
Querida amiga, bom resto de domingo e boa semana.
Beijos.
Manuela, podia quedar-me aqui o dia todo inebriada com teus contos cheios de magia e cor...impossível não me arrepiar a pele a cada vez que entro no teu mar....beijos,
Manuela,
Ando por aqui tão suspensa no trapézio deste conto, que só me apetece voar entre o suspense das facas e o brilho dos céus...e dos sonhos.
Tão belo que parece irreal...!
Beijos
Branca
Senti um arrepio...
A verdade é que o espectáculo das facas me põe em suspense; quase nem respiro quando assisto.
Pelo assunto e pela forma como o espões ficou um conto fabuloso.
Parabéns.
Bom final de domingo e alegre carnaval.
Beijinhos
Só uma sensibilidade muito grande
como a sua, pode colocar em palavras - como o fez - tal cena...
e utilizando os vestidos.
Só posso dizer que fico extasiada
lendo seus textos.Venho muitas
vezes apenas silenciosamente, mas
hoje tinha que deixar comentário.
Bj.
Irene
Gosta da minha música em tom Lisboeta? O poema é muito lindo, a voz também, mas eu gosto muito também do tom clássico e universal que por aqui vou encontrando.
Adoro piano, Maria João Pires e Pedro Burmester, meu conterrâneo, e muitos outros, já os tive por lá.
Talvez seja altura de me começar a motivar na renovação do blog pela música, já que tenho andado mais afastada e há muito que não a ponho por lá - musicoterapia.
Agora apeteceu-me algo diferente, aquele poema e o nosso Carlos do Carmo, que canta o único tipo de fado de que gosto, porque não gosto de fado.
Assim abri as janelas sobre o Tejo, mas outros sons se seguirão, sobre outros mares e outros rios...
Obrigada pela motivação.
Beijinhos
Branca
Manuela, excelente literatura tenho encontrado por aqui. Novamente constato o "malabarismo" inteligente e sensível, tão característico dos grandes escritores, agora conduzindo ao triângulo dessa história, que conjuga facas, trapézios e sentimentos, cujo desfecho faz rufar os tambores interiores. Que maravilha!
Bjs, querida. Uma boa semana. E inté!
Amiga,
Agora,
Só alegria...
Bom Carnaval!
♫♫.•*¨*•♫♫¸
ღ°ºBrasil♫º
♥º
Olá querida amiga
Um conto de suspense, foi assim que me senti lendo.
Quanta imaginação.
Quanta sabedoria.
Com muito carinho BJS.
.
.
. no dia internacional da Mulher .
.
. deixo flores .
.
. muitas flores .
.
. todas as flores .
.
.
. e um terno e e.terno bem.haja .
.
. paulo .
.
.
Manuela
Estou passando para desejar um feliz Dia Internacional da Mulher.
Rectifico no meu comentário anterir: (erro de digitação)
Não é espões, mas expões, claro! :)
Beijinhos
com as tuas palavras conseguiste recriar todo o ambiente do circo, seus actores e o punlico.
depois a tragica historia de amores desamores e ciume incluido.
os recortes dos vestidos muito bem incluidos.
e deixo um
beij
.
.
. [.20.] .
.
. vin.te ver . :))) . no tom e no dom deste quase e também breve "até já" .
.
. íssimo feliz . iz . iz . iz . iz .
.
. minha amiga.de.dentro.elo.do.meu.elo.que.ja.mais.esquecerei .
.
.
olá venho divulgar o meu trabalho... se estas interessado(a) em ter um site pessoal que é a tua cara, contacta-me, visita http://marta-ribeiro.pt.vu
faço todo o tipo de sites, com vários "acessórios" : comentários, imagens, galerias de imagens dinâmicas, animações, menus, etc
Poderá escolher como quer o site desde as cores, imagens e modo de navegar nele...
Visita ou contacte-me através do email : marta-ribeiro@live.com
Li e reli, leio e volto a reler... tropeço no recorte do vestido branco preso ao trapézio e pressinto a queda das pétalas do malmequer, sem que um único bem-me-quer permaneça junto ao peito.
Um peito que pulsa e voa e recortará o vestido, ao tamanho da tragédia.
Para guardar cá dentro...
Um beijinho, Manuela
Hoje vim e só li.
Volto para saborear cada palavra.
beijo
Ná
Enchi-me de silêncio para assistir ao espectáculo cheia de emoção...
Belíssima escrita, Manuela!
Um beijo.
Balaceio-me num vestido solto, de cor indefinida, assim um amor antigo. Prendo-me na história, sonho que sou bailarina e voo em direcção ao momento do aplauso em que caio em mim, quando leio palavras assim...daqui.
1001 beijos por momentos ternamente coloridos
recorto-vos
um vestido de seda
um relance de perigo no olhar
obrigada a todos!
manuela
Completamente fascinada e rendida a este texto que finalmente li e reli, como sempre.
Há algo de similar entre a sua escrita, amiga Manuela, e a da minha autora preferida, Joanne Harris.
Neste conto, absolutamente fabuloso, há um "Rous" - peut-être avec des tâches de rousseurs", uma personagem sempre presente nos seus contos.
Há um ambiente circense, um cenário encantado e uma fantasia da carne que revela que o amor é o mais belo sentimento humano.
Ah! e há esses vestidos, o branco e o vermelho ... e ainda a leveza e beleza de quem os desenha.
Parabéns
Ná
obrigada Ná!
um beijo
manuela
"O vestido era encarnado mas o seu coração batia"
Porque há corações que nunca deixaremos de ouvir, nas vozes que ecoam cá dentro, profundas em nós...
Gostei muito Manuela.
Um beijinho grande.
dulce
Dulce
chegou com a Primavera?
obrigada!
um beijo
manuela
Enviar um comentário