A representação das coisas que amamos chega inesperadamente com o reflexo da luz num copo, com o toque de um casaco de lã, com o cheiro de um churro quente acabado de fritar.
E trincamos. O brilho, o conforto, a doçura.
As imagens são tantas como aquelas que coleccionávamos e colocávamos uma a uma, cuidadosamente, numa ranhura daquele brinquedo de ver filmes de quem já ninguém se lembra do nome, imagens paradas a três dimensões.
A sua lente poderosa, fazia do olho que espreitava, não já um olho, mas a lua cheia onde a magia do universo tivesse feito crescer compridas pestanas e as histórias contavam-se do fim para o princípio, começavam a meio ou de pernas para o ar e nunca eram as mesmas. Uma quarta dimensão surgia, a que nós realizávamos, sem câmara, com todos os personagens a quem emprestávamos a palavra e uma vida.
Como os cacilheiros brancos e pretos com o nome que tinham, “Porto Brandão” ou “Caparica”, palavras que nos chamavam daquele lado, o de lá, depois as margens fugiam de nós e a largueza era outra e o farol ali no meio, redondo, à espera das ondas mansas e do nevoeiro, cuidado com a noite escura, há sempre um navio perdido no mar.
As imagens são tantas como aquelas que coleccionávamos e colocávamos uma a uma, cuidadosamente, numa ranhura daquele brinquedo de ver filmes de quem já ninguém se lembra do nome, imagens paradas a três dimensões.
A sua lente poderosa, fazia do olho que espreitava, não já um olho, mas a lua cheia onde a magia do universo tivesse feito crescer compridas pestanas e as histórias contavam-se do fim para o princípio, começavam a meio ou de pernas para o ar e nunca eram as mesmas. Uma quarta dimensão surgia, a que nós realizávamos, sem câmara, com todos os personagens a quem emprestávamos a palavra e uma vida.
Como os cacilheiros brancos e pretos com o nome que tinham, “Porto Brandão” ou “Caparica”, palavras que nos chamavam daquele lado, o de lá, depois as margens fugiam de nós e a largueza era outra e o farol ali no meio, redondo, à espera das ondas mansas e do nevoeiro, cuidado com a noite escura, há sempre um navio perdido no mar.
O cheiro das cordas e do gasóleo queimado confortava-nos a ousadia de um lugar distante e nos bancos da cobertura engolíamos as estrelas e os salpicos de água.
Reflectimo-nos desconstruindo espelhos, uma viagem de comboio começa e acaba onde quisermos chegar e no inverno frio, o sol aquece o vidro e multiplicamos as vezes em que fomos felizes com as pernas nuas a balancear, as sandálias transparentes, boas para conquistar as rochas, as lapas, os caranguejos e os burriés.
Quem somos quando nos olhamos?
As lembranças guardam-se nas gavetas, nas prateleiras, no lugar longínquo onde dormem os sonhos ou na tonalidade de uma voz. A memória é a imagem bela onde libertamos o aprisionado olhar.
Reflectimo-nos desconstruindo espelhos, uma viagem de comboio começa e acaba onde quisermos chegar e no inverno frio, o sol aquece o vidro e multiplicamos as vezes em que fomos felizes com as pernas nuas a balancear, as sandálias transparentes, boas para conquistar as rochas, as lapas, os caranguejos e os burriés.
Quem somos quando nos olhamos?
As lembranças guardam-se nas gavetas, nas prateleiras, no lugar longínquo onde dormem os sonhos ou na tonalidade de uma voz. A memória é a imagem bela onde libertamos o aprisionado olhar.
kalos.belo
eidos.imagem
scopeo.olhar
25 comentários:
Manuela,
minha querida !
As lembranças são guardadas também na memória do coração
...
E tome lá um abraço
Cheio de lembranças
dos amigos que me receberam tão bem!
Beijinhos
Linda
Um olhar, que vai buscar olhares e emoções, de uma idade de curiosidade pela descoberta, que reteve, formas, texturas, cores, cheiros...
Beijos,
Manuela
MANUELA BAPTISTA
A memória é uma prisão liberta de constrangimentos!
Como sempre belo o olhar que imagina ...
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Janeiro de 2011
Auf!
Cãoleidoscópio? Ké isso?
Exames médicos, não obrigado...
Auf!
Auf!
A nossa memória é suportada por inúmeros links, tal como pelos cheiros, sons, etc.
E a tua forma de expor o assunto é brilhante. Mas tu não sabes fazer por menos...
Beijos, querida amiga.
.
.
. emprestar a palavra é des.lumbrar uma vida . é ceder este amar . é des.tecer uma saudade sentida .
.
. fomos outrora um . para que hoje sejamos tantos .
.
. está tão perto este cais onde apanho o comboio .
.
. a minha mãe diz.me que espere, que me sente à janela, que contemple este rio até que seja mar . e quando a Cascais chegar um churro me há.de esperar .
.
. para mais um dia de praia poder começar .
.
. tão jovem a minha mãe naquele tempo .
.
. com a sua blusa amarela de malha rendada, entre.tenimento de tantos serões tricotados .
.
. a sua saia azul escura sempre formal e in.formal porque a.final a cidade o campo ou a praia são sempre o mesmo lugar onde queremos estar .
.
. lembro.me também dos cacilheiros quando atravessar o rio era para mim dar a volta ao mundo de fio.a.pavio . e saborear todos os odores porque este rio nunca mentiu .
.
. olhar .
.
. lembro.me de tanta coisa . de todas as coisas que per.fazem a memória desta efémera estória .
.
. em todas as prateleiras a minha mãe está sentada, balouça suave.mente as pernas in.quietas e pergunta.me se eu gostava de ter um caleidoscópio .
.
. talvez um dia o meu pai o possa comprar .
.
. e eu respondo.lhe . mãe, minha mãe, o caleidoscópio encontro.o no teu olhar .
.
.
.
. um .
.
. dois .
.
. três .
.
. íssimos . em reflexo .
.
.
Paulo
a mãe conta
as histórias que vivemos,
como se ontem, fosse e.ternamente hoje
como se fosse este, o caleidoscópio
desejado
obrigada, pelo seu olhar!
um beijo
manuela
uma página de lembranças, de um livro de "imagens coloridas" que fomos fotografando com os sentidos e gurdámos no coração para abrirmos e folhearmos num dia frio e cinzento...
Manuela,
desta janela caleidoscópica saio emocionado, pela comoção que me provocou um comentário aqui tecido... e não sei dizer mais nada!
com um brilho no olhar, dou-lhe um beijo e digo muito obrigada!
Walter
Adorei ler-te!! Beijos.
Olá querida amiga
Amo passar aqui e ler este blog,são tantos contos fabricados com o coração, que derretem qualquer sentimento empedernido.
Quem resiste a dar uma olhadinha no caleidoscópio.
Com muito carinho BJS.
Manuela,Manuela,
que tem sempre o condão de nos fazer regressar a todas as prateleiras da memória por mais recôndidas que sejam.
Sabe que nunca mais me lembrei daquele brinquedo de ver filmes, que ainda chegou até ao tempo dos meus filhos?
Foi uma louca alegria que mo tivesse feito recordar aqui e com a filha ao mau lado, partilhamos tanto da sua história, só não conseguimos lembrar-nos do nome do tal brinquedo, parece mesmo que ninguém sabe.
Dos caleidoscópios ainda hoje tenho um interesse especial por eles. Há dias descobri uma casa única que colecciona todos esses brinquedos, casinhas de bonecas e caixas de música de todos os feitios, de todas as partes do mundo, desde as mais antigas às mais recentes. Caleidoscópios tinha-os lindíssimos e muito variados e a sua história deu-me cá umas ideias que nem imagina.
Tal como o Walter encontrei uma outra história dentro da sua história e emocionei-me também pela beleza e ternura da mesma.
Há comentários que são um poema que salta da alma.
Este despertar de emoções em cadeia é muitas vezes o que de mais belo levamos destas páginas.
Beijinhos
Branca
Manuela
deixo o farol que serve para nos guiar.para nos unir e tantas vezes para Amar...
O FAROL
Este Farol...
É diferente...
É farol...
Alto e longo...
Alberga...
Muitos sonhos...
Muitas fantasias e...
Muitas Amizades...
Farol...
Que gira...gira...
Deixa um raio de luz...
A propagar-se...
Em todas as direcções...
E aqui...
Concretamente...
Neste farol...
Eu paro...
Fico a olhar...
E a meditar...
Pois sinto...
Que aqui...
Neste farol...
A cumplicidade...
Está mesmo presente!...
LILI LARANJO
quero acreditar que em cada olhar nosso cabem todos os outros que por lá passaram.. e que em nós se contém, latente, a felicidade de todas as memórias...
Gostei imenso de ler! Obrigada!
Beijinho
Desconstruir espelhos
sem deles não perder a memória
Um belo texto
na rota dos amanhãs
Manuela,
Li o texto assim que ele foi publicado, mas desta vez não comentei logo. Quis fruir as palavras, degustá-las, senti-las...
Sentei-me num cacilheiro, aspirei os aromas do Tejo, senti a nostalgia das pequenas coisas...
Ah, Manuela, se soubesse as viagens que as suas palavras proporcionam!
Beijo :)
Manuela
A memória, tem esta construção de cores, cheiros e sabores presos a cada pedra que nos edifica. Olhares que desarrumamos num instante e voltam à flor da pele em arrepio, como se fossemos um navio que de repente reencontra o cais.
" Quem somos quando nos olhamos?"
E de repente, tudo quanto sonhámos e guardámos na espuma do Tejo, volta a estar presente.
Passámos estações e apeadeiros, grande é a viagem e o destino o que quisermos. Hoje, guardamos o apito do comboio a estremecer o coração assustado, como guardámos outrora os dias felizes com a ternura a aquecer-nos os ombros e as pernas nuas a balançar.
O olhar, continua a ser uma lente poderosa e o seu caleidoscópio um rendilhado de tantas e necessárias memórias.
Um beijinho e a minha gratidão.
Uma delicia de texto.
bjs
Insana
"A memória é a imagem bela onde libertamos o aprisionado olhar"
Como seríamos se não pudessemos viver a nossa memória..?!
Não seríamos na alma um simples ousar ouvir o pulsar do nosso coração...
Um Olhar de muita ternura que sempre fica nos momentos de vida que vivemos e onde nos guardamos das intempéries da vida. É a memória de vida do que hoje somos, e do que não somos...
"Quanto
fui, quanto
não fui,
tudo isso
sou."
É a raiz do nosso permanecer.
Bem Manuela, as suas palavras é como dizem...comovem e levaram-me de volta a um tempo tão bom e tão belo e saber que não o perdi e a ele posso voltar é mesmo uma das melhores certezas que vou tendo na minha vida.
Num abracinho grande grande, muitos beijinhos de ternura, de obrigado.
dulce
" A memória é a imagem bela onde libertamos o aprisionado olhar."
Um belo texto onde se constrói e desconstrói as lembranças de outros tempos e se faz do presente um sobressalto da alma.
Um b eijo, Manuela.
Que forma mais bela de descrever saudades, memórias, lembranças e nostalgias...
Lindo!
Abraços
Manuela, que saudades tinha da sua escrita!
Lê-la é sublimar o pensamento encontrando-lhe a razão. E... se isso não chegásse, seus desenhos seriam o complemento perfeito.
Beijo
Tambem eu tive um caleidoscópio e era uma guerra a ver quais as primeiras mãozitas a apoderarem-se dele! Bastava clicar e entrávamos num mundo de magia...As imagens não eram muitas mas, a cada manhã tudo começava de novo, em cada minuto crescíamos a amadurecíamos como os frutos...Ganhávamos asas como hoje aconteceu ao olhar pelo teu caleidoscópio...tantas cores, cada uma com a sua história...tantos espelhos a reflectiram amizade, amor, doação...
Já não tenho o velhinho caleidoscópio onde acontecia magia ao clicar...mas tenho um coração onde ficaram armazenadas as memórias desse tempo.
Beijo
Graça
Manuela
As imagens multiplicadas num caleidoscópio são capazes de contar histórias infinitas e encontrar um aconchego em nossa memória...
Beijo
Bia
www.biaviagemambiental.blogspot.com
agradeço-vos
tanto olhar!
manuela
Manuela, minha querida, me deleito a cada vez que venho aqui...com imagens, temas, textos, sempre tão envolventes, numa narrativa que me remete ao sonho, como numa realidade longínqua, enevoada, que ficou para trás num traço de memória fugidia...és maravilhosa!
Beijos,
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