Deixava-se ir com as correntes. Uma voz vinda do fim dos tempos dizia-lhe “prende-te, só assim sobreviverás!” e a outra, do princípio de nada “solta-te, só assim poderás viver!”.
Para trás ficavam as conchas e os ouriços-do-mar e a sua cauda longa e flexível mal lhes tocava numa carícia fugaz e na verticalidade insólita de um peixe, vibrava os seus inúmeros filamentos e arriscava-se em águas mais profundas e mais frias.
Os da sua espécie olhavam-no espantados, os olhos direitos revirados nas correntes ascendentes, os esquerdos nas descendentes e não diziam nada, porque a fala não estava na sua natureza e o espanto apenas cabe nas fábulas inventadas pelos homens. Eles ficavam, comendo vorazmente o que por eles passava, numa sedentariedade mítica e confortável.
E porque não cuidava de permanecer para se alimentar, era magro e ágil e marinhava pelos oceanos, sedento de plâncton e de medir a distância que vai da superfície ao fundo, apossando-se do limite do mar e das estranhas criaturas que o habitam.
Temia o peixe-martelo e o peixe-agulha, ria com o peixe-palhaço, transformava-se com o peixe-folha, escondia-se atrás do peixe-elefante, alcançava o céu com o peixe-anjo. Com o peixe-farol aprendeu a olhar a terra e do peixe-lua herdou o seu amor pelas estrelas-do-mar e pelas outras, mais brilhantes.
Se estava triste vestia-se de castanho, de verde se a indecisão o assaltava, de vermelho todos os outros dias.
E quando o rei-peixe dos peixes lhe contava, que na terra seca corriam cavalos pretos e com crina, quatro potentes patas e um coração quente e falava-lhe dos outros, os alados, que são dos sonhos para quem dorme e ele não, conhecendo apenas a vigília e o repouso e os olhos permanecem sempre abertos, ele sabia que se soltava e os outros não.
E porque não cuidava de permanecer para se alimentar, era magro e ágil e marinhava pelos oceanos, sedento de plâncton e de medir a distância que vai da superfície ao fundo, apossando-se do limite do mar e das estranhas criaturas que o habitam.
Temia o peixe-martelo e o peixe-agulha, ria com o peixe-palhaço, transformava-se com o peixe-folha, escondia-se atrás do peixe-elefante, alcançava o céu com o peixe-anjo. Com o peixe-farol aprendeu a olhar a terra e do peixe-lua herdou o seu amor pelas estrelas-do-mar e pelas outras, mais brilhantes.
Se estava triste vestia-se de castanho, de verde se a indecisão o assaltava, de vermelho todos os outros dias.
E quando o rei-peixe dos peixes lhe contava, que na terra seca corriam cavalos pretos e com crina, quatro potentes patas e um coração quente e falava-lhe dos outros, os alados, que são dos sonhos para quem dorme e ele não, conhecendo apenas a vigília e o repouso e os olhos permanecem sempre abertos, ele sabia que se soltava e os outros não.
"marinho" de mb
23 comentários:
Entre a voz vinda do fim dos tempos e a do princípio de nada, mistura-se a indecisão, a tristeza e o sexto ou sétimo sentido.
Sobreviver ou viver era a grande questão, e ele optou por ignorar a modorra dos dias. Esperava-o a insegurança, mas o vislumbre de outras fronteiras dava-lhe asas na comunhão das marés...
Obrigado pela viagem, Manuela!
Beijo :)
CAVALO
Cavalo
meu doce embalo
halo de meu respirar
alado sem ter lugar
se és marinho
a nadar
voas no mar
és meu par
Belo como sempre!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Outubro de 2010
Foi bom recordar aqui os meus dias de infância na praia, quando todas as águas eram puras e existiam as aranhas de água, que só vivem onde não há poluição e os peixes de borda de água, nas pocinhas que enchiam os baldes das crianças que os devolviam ao mar. Às vezes aparecia um cavalo-marinho que se aventurava na "praia deserta" e ali deixava o seu corpo ao sol, como as estrelas do mar.
Lindos Manuela os seus cavalos-marinhos e os seus peixinhos.
Beijinhos
Branca
Olá Manuela,
Eu prefiro s o l t ar - m e ..nem é para viver mas para ser…
Ouriço do mar sem cauda… e , peixe voador…
…
Nem vale falar…pensar… ou suspirar…
... não há limites para as tais criaturas que o mar tolera e nós tb porque sabemos o sabor da água…
… continuo a gostar do laranja de estrelas do mar e de relembrar o sabor das rochas… os pé doridos... a alegria de saltar de pedra em pedra,...
É assim o brilho do sonho deles… que é = ao nosso e deixa no sono um sabor de almofada de espuma e brisa … essa de quem dorme entre as ondas e o céu…
...
só tu para trazer a Lua para me adormecer com tanta luz…
...
...
quanto ás pinturas já sabes o que penso.......mto mto belo...
Obrigada
Infinito beijinho
E porque peixe, também eu sou marinha e não me importo de navegar sozinha na profundidade oscilante.
Contrario correntes na minha verticalidade e, ora me abrigo dos ouriços nas estrelas do mar, ora parto em busca da luz poderosa da lua. O importante é nunca deixar que nenhuma rede me prenda a cauda e consiga sempre andar por aí e vir aqui, onde nado até ao que é mais fundo e profundo.
Um beijinho muito grande para si, Manuela.
Marinho escolheu soltar-se! Tomar conta da vida, enfrentar seus perigos descobrir seus encantos. Viver é mesmo isso, há que arriscar, dobrar as esquinas não temendo o encontro fortuito com o imprevisto. Ainda assim será sempre bom que se tenha um porto de abrigo onde possamos descansar em segurança. :)
Como sempre adorei seu conto, LINDO!
Beijos
MariaIvone
"Eles ficavam, comendo vorazmente o que por eles passava, numa sedentariedade mítica e confortável."
qualquer semelhança com algum habitante do mundo seco, composto por duas pernas, dois braços e uma dita inteligência humana é pura coincidência :)
não! o "marinho" é um tipo para a frente... por tal, deu ouvidos
à voz que vinha do nada e seguiu em frente: foi viver, e mandou a outra voz à fava
mas alguma vez lhe passaria pela cabeça não saber a rota das aves migratórias que voam entre o azul do mar e o branco da lua?
Manuela,
este conto é uma voz - aquela que vem do mais profundo do seu ser e essa eu sigo, porque é livre como o vento!
amei os desenhos!
da minha voz solta-se um beijo
walter
Passei para desejar um bom final de semana...
de sol... que assim com tanta chuva apagam-se as candeias todas do hallwoeen...
o São Pedro assim enervado com as Bruxas e nós cá em baixo é que nos molhamos...
já acendi a minha lamparina para arder até ao final do ano e libertar assim a bruxa que há em mim....ahahahah
beijinhos
.
. do fim dos tempos a voz que res.guarda . do princípio de nada a voz que nos guarda na memória do que fomos para de.pois deixarmos de ser e voltarmos a ser tudo ao sermos tanto .
.
. pois é do arrepio que a vida mesmo que por um fio se aprende e se afaga . vaga que se agarra . e se amarra .
.
. com garra .
.
. tememos a.penas o que não enfrentamos e não há tristeza, nem aspereza en.quanto houver luar que nos seja do coração um lugar .
.
. por exemplo, o mar .
.
. onde e também sózinho a.marinho .
.
. somos uns . somos outros .
.
. soltos .
.
.
.
. e um e dois e três .
.
. íssimos . felizes .
.
. querida manuela,,, .
.
.
. boa noite,,, . um bom.fim.de.semana .
.
. paulo .
.
Manuela,
gosto de cavalos-marinhos e de histórias que falem do mar e seus habitantes...
Gosto de lembrar de Portugal e dos amigos.
Gosto de aqui vir e encontrar sempre histórias de encantar.
Um beijo de carinho
Um bom final de semana
Querida amiga
Como é lindo o cavalo-marinho, parece tão suave, tenho que tomar cuidado senão me apego e não largo mais, e pronto dou uma de mãe.
Tem razão, como amar sem se apegar, mas eu quero cuidar e levar para casa, e não pode tem que dar liberdade.
Lindo conto, estou flutuando junto.
Seu Marinho é tão meigo.
Lá vou eu querer adotar.
Os desenhos como sempre lindos.
Com muito carinho BJS.
.
. e re.volto com um ponto que resgato no encontro de um momento intemporal .
.
. íssimo sempre feliz .
.
. paulo .
.
no meu sonho és um cavalo marinho escrevi eu, um dia...
este texto não desfazendo dos outros que tem postado, é um belissimo texto em prosa poetica que se lê e relê, pela sua qualidade literária.
um beij
Quem sou eu para comentar este lindissimo texto. Gosto do mar, gosto do peixinhos, vivos, e adoro os seus desenhos.
Bom fim de semana
Beijinhos
Reencontrei a magia, ando a precisar muito de magia, já que olhando em volta, tudo cansa!
Este teu texto faz navegar, pela liberdade de seguir o seu próprio caminho, podem vir sonhos e pesadelos, mas o mais importante é ser!
Beijinhos
E volto Manuela para lhe desejar mais um vez um bom fim de semana, no sonho dos mares, dos peixes e de todas as marés.
Beijinhos
Branca
MANUELA
No meio do meu verde
COR VERDE
Cor verde
Verde dos pinhais
E dos abetos
Que alegram
Os meus olhos...
----------
Olhos-os e vejo
Oa pássaros que chilreiam...
Que voam...
Que vivem plenamente...
A sua liberdade...
----------
E olho...
Fecho os olhos...
E sinto... que também eu...
Se fosse ave...
----------
Conseguiria ser...
Totalmente livre...
LILI LARANJO
P.S.O meu livro está quase pronto a capa está linda.
Para a semana começo a enviar para quem o resrvou. Já começa a ser uma linda prenda de Natal...
Espero direcção
cidalialaranjo@yahoo.com.br
Um beijo
Gosto de mar e muito mesmo dos seres que nele habitam. Vejo neles sempre uma história, uma janela para deixar fruir a minha imaginação, e, neste caso, trazê-la até à realidade...
Às vezes sinto-me assim "marinho", outras vezes sei que apenas se "sobrevive" às marés!
É uma deliciosa escrita, um coral de palavras marinhas que nos oferece!
Beijinho
Manuela,
Construído o castelo com as pedras do passado temos agora a mesa para o pequeno almoço recheada dos afectos que perduram no tempo.
Muito obrigado por ter possibilitado a envolvência que se verifica actualmente nos blogues de quem tanto gosto.
Um forte abraço,
Carlos
quem chega de novo
é sempre bem vindo!
Carlos
um castelo nunca está terminado, por isso não deixe de guardar no bolso as pedras mais bonitas
e na mesa do pequeno almoço recheada de afectos, eu acrescento as torradas com manteiga e doce de frutos vermelhos!
um abraço mezzo forte
porque eu não tenho lá muita força
manuela
Manuela,
Que lindo, é só o que consigo dizer!
Uma vezestava eu em uma praia distante no norte do Brasil, quando veio a maré e trouxe consigo alguns milhares de cavalos marinhos. Fiquei ali pasma e embevecida com tamanha beleza de seu singelo nado nas águas transparentes e límpidas daquela praia deserta! Eram de um amrelo claro, lindos, lindos!
Beijinhos,
Bia
www.biaviagemambiental.blogspot.com
saudades de ti, marinho!
um abraço a todos
manuela
Bia!
a quase última a chegar
que tem a sorte de conhecer os marinhos de tanto mar...
um beijinho especial
manuela
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