Ando assim há uns dias...arranho as paredes, dou pontapés nas pernas das cadeiras, afogo pedras nos poços, lanço gritos, parto ossos! Uma voz estranha diz-me "está calada! para quê falar daquilo que incomoda, as pessoas estão cansadas de coisas tristes, querem histórias de navios afundados mas rapidamente reconquistados na bravura das marés, ondas gigantes e assustadoras mas que chegam mansas e pequenas junto à praia. E no final, um cor de rosa pálido que não faz piscar os olhos nem espirros no nariz!". Não reconheço esta voz, não é minha nem quero saber de quem será! Eu sou fogo e água e terra e mar revolto, quando amo gosto, quando desgosto grito.
Neste espaço onde tenho encontro marcado e desejado, não sou uma imagem num quadradinho pequenino, um avatar ridículo, uns olhos assustados, uma pintura abstracta ou concreta, num desconcreto medo de me expor e também não é desta maneira que vejo e sinto os que me falam e me emprestam as suas palavras e me oferecem a sua amizade!
A minha viagem pelo estranho mundo dos blogues, começou na Casa de uma mulher corajosa que perdeu um filho muito jovem e é a voz dessa mulher que eu quero hoje ouvir e que tem repetido tantas vezes que apenas falamos do sucesso, das curas, das lutas que terminam com uma vitória, mas ignoramos o sofrimento e a coragem dos que lutaram e no final acabaram por partir! Dos que se libertaram e dos que os acompanharam até essa partida e para além dela..
E é aqui que começo a contar-vos baixinho e devagar que, um de entre os seguidores do meu blogue se foi embora. Angelito partiu e deixou-me entalada entre páginas em branco, com um sentimento estranho de partida e de chegada, de respeito e de tristeza, de ganho e de perda. Os seus amigos falarão dela melhor do que eu, passageira recente da sua escrita e da sua luta, mas este distanciamento leva-me a ousar dizer-lhe que entendo tão bem o que escreveu na página do seu perfil sobre os livros de que gostava: "Os que me embalam docemente até dormir e sonhar que entro na história".
Entrou na história, entrará em muitas histórias, jovem corajosa, brava, doce, cheia de sentido de humor!
Neste espaço onde tenho encontro marcado e desejado, não sou uma imagem num quadradinho pequenino, um avatar ridículo, uns olhos assustados, uma pintura abstracta ou concreta, num desconcreto medo de me expor e também não é desta maneira que vejo e sinto os que me falam e me emprestam as suas palavras e me oferecem a sua amizade!
A minha viagem pelo estranho mundo dos blogues, começou na Casa de uma mulher corajosa que perdeu um filho muito jovem e é a voz dessa mulher que eu quero hoje ouvir e que tem repetido tantas vezes que apenas falamos do sucesso, das curas, das lutas que terminam com uma vitória, mas ignoramos o sofrimento e a coragem dos que lutaram e no final acabaram por partir! Dos que se libertaram e dos que os acompanharam até essa partida e para além dela..
E é aqui que começo a contar-vos baixinho e devagar que, um de entre os seguidores do meu blogue se foi embora. Angelito partiu e deixou-me entalada entre páginas em branco, com um sentimento estranho de partida e de chegada, de respeito e de tristeza, de ganho e de perda. Os seus amigos falarão dela melhor do que eu, passageira recente da sua escrita e da sua luta, mas este distanciamento leva-me a ousar dizer-lhe que entendo tão bem o que escreveu na página do seu perfil sobre os livros de que gostava: "Os que me embalam docemente até dormir e sonhar que entro na história".
Entrou na história, entrará em muitas histórias, jovem corajosa, brava, doce, cheia de sentido de humor!
Nós não somos uma imagem num quadradinho pequenino.
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Espero não ter chocado nenhum dos seus amigos, mas para sair daqui eu tinha que passar por aqui.
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Manuela Baptista
Estoril, 14 de Março 2010
31 comentários:
SE
Se eu fosse um quadradito
chanfrado
Susana
Angelito
somaria o meu grito
à vontade com que te fito
e diria
arco-íris
mil cores
e dias
bendito
o momento em que te vi
sentada
ao Sol que ri
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 14 de Março de 2010
Sim, eu já tinha percebido a sua tristeza, revolta também, mas...
não consigo falar nada agora, estou com um nó na garganta muito grande... choro choro e choro...
Desculpe amiga tá?
Um abraço imenso e intenso que a conforte
Imagino o canto maternal das baleias
Como doce e sentida balada
Imagino um beijo na procura
De uma fugidia criatura amada
Um domador de ventos e tempestades
Uma viagem de aventuras repleta
Serei eu um herói de comédia de enganos?
Ou apenas um pobre e louco poeta
Doce beijo
Tens razão Manuela. Nós não somos uma imagem num quadradinho pequenino... Fiquei deveras comovida com este texto e o blogue que fui visitar. É verdade, que normalmente se fala das pessoas que vitoriosamente sobrevivem, menosprezando as outras como se tivessem lutado menos... Um grande beijinho para ti, e para todos que a conheciam pessoalmente,e os que conheciam a imagem no quadradinho, a sua luta, a sua alma e a sua escrita...
Não, não me chocou Manuela, mas pôs-me com as lágrimas nos olhos.
Em Dezembro a Susana mandou-me uma mensagem no aniversário do Salvador Vaz da Silva a agradecer por estar presente numa homenagem a "alguém que lutou tanto pela vida", estes doentes são muito solidários e estou a escrever de olhos rasos de água, porque se há alguém que lutou tanto pela vida, tão discretamente e com tão poucos meios foi a Susana e não esqueço o David nesta luta e percebo porque a sua mãe quer que se fale dos que lutam e não vencem.
Nâo pretendia nunca até aqui falar da minha "sobrinha" virtual na internet, não me sinto muito capaz de o fazer, ela era tão discreta, mas acho que apreciaria o seu texto, sei como apreciava os carinhos que chegavam ao seu sítio.
Um dia disse-me "é mais minha tia que algumas tias a sério". As pessoas vão-se esquecendo do que incomoda e foi muito longo o seu sofrimento. Algumas vezes teve as suas revoltas. A Manuela deu-lhe alguns momentos bonitos de amizade e alento.
A sua luta vinha de há muito tempo, agora tinha os amigos virtuais que sabe que por lá passavam, mas nas primeiras vezes que lá cheguei senti-a quase sózinha, mas com uma mentalidade crítica extraordinária e uma coragem enorme. Escrevia também outros textos que não os relacionados com a doença e fui tendo o meu tempo mais para ela do que para outros casos de felizes desfechos que iam contando as suas vidas vitimizadas, embora com muito respeito por todos. A Susana vivia a recidiva de uma já longa história, evitando sempre vitimizar-se, só os últimos posts falavam mais da doença, quando um dia escreveu na entrada do blog que ia deixar de ser políticamente correcta e mesmo nesses sempre falou de forma diferente, como só ela sabia. Indo aos posts antigos vemos como até as imagens que escolhia eram de um humor que só ela conseguia, até isso deixou de poder escolher, porque era incapaz de incomodar alguém e quando não tinha meios recusava-se a pedi-los se soubesse que ia dar trabalho a alguém.
Vou transcrever aqui uma parte de uma carta dela que me chegou há dias, porque diz respeito a todos os que a visitavam:
"Não passo no blog há muito tempo. Sinto-me desleal no ciberespaço, por isso fui deixando lentamente. Acho que deu para perceber porque deixei, não acha Tia Branca?"..."O que me atrapalha mais são as costas, por isso o meu afastamento do pc".
Mesmo quando já não se mexia estava preocupada connosco, sempre nos dizia para aproveitarmos bem o que tínhamos.
Eu sabia Manuela que não ia resistir a falar da Susana, a Filomena também lhe dedicou um pequeno apontamento, mas fico contente que tenham sido feitos com carinho e dignidade, porque o meu receio inicial é que outros grupos que sei que não passam por aqui se pusessem a distribuir fotografias por toda a blogosfera, com velinhas e "mésinhas" e isso sim chocar-me-ia, porque sei que ela não gostaria dessa publicidade, por isso nunca colocaria a notícia no meu sítio, por isso a dei particularmente.
E continuo a preferir o silêncio...
Beijos.
Branca
Jaime
bonito poema!
quadradito
onde soltamos a vida que agarramos, libertamos e onde e sempre retornamos.
Manuela
Walter e Branca
assim aos dois numa assentada, porque o que quero dizer, sendo naturalmente lido por todos os que o desejarem, é especialmente dirigido à vossa canção com lágrimas.
Não era minha intenção fazer-vos chorar eu é que sou assim apaixonada e sei que às vezes a minha escrita traduz tanto o que sinto, que corre o risco de ser forte demais...
E quando as pessoas me tocam, mesmo apenas conhecendo o que elas permitem que conheçamos, não me são, nunca mais, indiferentes, na vida ou na morte.
Já não estou triste e a sua consolação Branca, será a de soltar os cabelos ao vento, apanhar a chuva na cara , comer quilos de chocolate, como a sua sobrinha tanto gostava de fazer e nos pedia que fizessemos. Nestes dias li todas as páginas da Susana e isso foi o melhor que eu poderia ter feito!
E Walter, se eu estivesse ao pé de si dava-lhe um abraço apertado!sentiste? :))
um beijo para os dois
Manuela
Profeta
eu acho que é um louco poeta!
mas sentido
doce
como o canto das baleias.
um abraço
Manuela
Eva
comovida também! com o "tu" que entrou por aqui adentro...
Esta gaivota, não é um quadradinho, não!
beijinhos para ti :))
Manuela
Oi manu.
É mesmo o triste deprime, coincidentemente postei hoje sobre violência e pedofilia, às vezes é inevitável comentar, principalmente quando é fato como o que postei indignação, o Brasil é imenso e seus números também, tanto o que é bom, como o que é ruim. Mas é como disse tudo são escolhas e lamentavelmente eu tinha que escrever o que sentia.
Beijo
Renata
Não, não me chocou, mas fiquei triste. Para entender melhor a história deste anjo num quadradito, onde dormia também o sofrimento, fui ao seu blogue onde perpassa um vento gelado que eu não entendo e vi que o tempo parou a 7 de Janeiro pelo menos aquele em que as forças lhe faltaram para continuar...
" Morrer é um esforço para dizer EU.
Esta distância que introduz o Eu na minha morte, é a medida da minha responsabilidade. Este EU deixa-me só perante a morte, mas esta solidão é liberdade e não isolamento"
Um anjo entrou no Céu...aonde era o seu lugar..
Curvo-me perante a dor destes Pais e rezo a uma nova estrela que brilha no firmamento...
Beijos, Manela
Graça
Renata
aqui foi alguém que partiu...o teu texto é sobre a violência urbana onde ainda é possível uma escolha.
beijinhos
Manuela
Graça
o tempo não parou, é apenas um outro tempo.
beijinhos
Manuela
MAIS LOGO, um novo capítulo da história de Alice.
lá no,
... continuando assim...
Aceito , e agradeço as vossas sugestões ... talvez a letra esteja pequena... talvez o blogue possa estar confuso.... talvez ... e talvez :)
talvez nem gostem da história...
Enfim...qualquer coisa, digam.
até logo
obrigada por seguirem
Bj
teresa
teresa,
continuando assim a ignorar o que os outros escrevem
onde é que espera encontrar a Alice, seja ela quem for?
Manuela
Ó minha rica amiga... só uma telha? leve o telhado inteiro, as paredes, os alícerces, a rua, as árvores, o rio, o mar, o céu, o sol o vento e... a minha amizade!
Olhe só não dou o que não tenho, de resto, dou tudo, só assim fico mais rico...
Beijinho com um telhado ao fundo
Oh! Walter!
tanto??
Obrigadaaaaaaa!
e telhados com mar ao fundo é um achado...
um beijo
Manuela
PS para quem não percebeu, eu pedi uma telha ao Walter...
E eu cheguei agora...
Para dizer que há uma Passagem e que não morremos nunca,pois o espírito é imortal...
... Não somos um imagem num quadradinho pequeno...!
Beijinho de saudade
...
Linda Simões
Linda
...e eu a cantar uma canção no seu blogue...
e que seja bela a outra margem!
beijinhos
Manuela
Olá Manuela,
Evidentemente que me chocou...
Que fui ver o Angelito...
Que não há palavras, para estas situações...
«Morrem jovens os que os deuses amam...»,
beijinhos,
Marisa
Marisa
morrem corajosamente jovens
por isso não devem ser esquecidos.
um abraço
Manuela
Angelito libertou-se do sofrimento e isso, depois de ler esta história e de ter visitado o seu blogue, é para mim reconfortante.
Tenho a certeza que hoje vive num Mundo de luz e apesar do sofrimento, mostrou a sua coragem, sua força e lutou... lutou até 7 de Janeiro, altura em que parou de escrever o que sentia.
Acredito que somos eternos e este "regresso a casa" estava há muito combinado…Angelito será sempre lembrado por todos que o amaram e que através da sua história o conheceram.
Neste momento ele sorri para si,
sorria para ele, Manuela.
Para a Manuela,
um abraço apertadinho com todo o meu carinho
Querida Manuela,
sentida história em homenagem a quem partiu.
Susana foi humorada,forte e corajosa...lamento o desfecho :-(
Há muito tempo que conheço o blog da Venância para o David. Deixei de comentar lá mas vou lendo com muito respeito e sentimento profundo.
Não tenho muito jeito para falar destas situações de perda.
Que Deus os ampare e aos pais que sem eles tiveram de aprender a re-viver.
Bejinhos nossos com carinho
"Entrou na história, entrará em muitas histórias, jovem corajosa, brava, doce, cheia de sentido de humor!Nós não somos uma imagem num quadradinho pequenino"
Sim Querida Amiga Manuela, a vida continua profunda e tão viva dentro de nós com Todos aqueles de que já não prescindimos nos nossos dias até Sempre...
Para Sempre.
Um abraço de sentida ternura.
dulce
Olá Manu.
Lamento por sua perda, não entendi bem mas te digo que viagens todos faremos um dia para mares nunca navegados a nos guiar a paz de espirito, gaivotas e muitas histórias da nossa passagem por aqui.
Desculpas por não ter entendido teu post.
Beijo
Renata
Renata
não tem de pedir desculpa!
eu é que não fui muito explícita.
Beijinhos
Manuela
Canduxa, Lisa e Dulce
fazendo minhas as vossas palavras
a vida continua profunda e viva, porque nós somos feitos de todos estes pedaços que nos unem para Sempre!
um beijo para as três
Manuela
Manuela,
Que palavras tão lindas para prestar homenagem à nossa Susanita.
Filomena
fada bonita!
beijinhos e perdoe-me ter-lhe roubado o gato :))!
Manuela
.
. disse.me um anjo:
. "A Susana habita agora no mundo dos que vivem para sempre" .
. e eu _____________ eu, sorri .
.
. paulo .
.
. porque todos somos tão somente ou a.penas por en.quanto . neste instante .
.
. um beijo total . entre.mãos .
.
entre-as-minhas-mãos cabem os anjos
tenha eu o dom para os ouvir
agora______________________
passageiros deste e de outro tempo
mas que seja sempre o nosso tempo, em todos os instantes que hão-de vir.
um beijo total para si Paulo,
Manuela
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