Gallop with wind© milan malovrh
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Era o mais belo. As patas traseiras bem assentes no chão, as dianteiras levantadas numa atitude de desafio, coxas firmes e musculadas, as narinas abertas num resfolegar de alegria, os olhos ternos e mansos a pedirem afagos, as crinas esvoaçando mal o vento soprasse!
O pelo era liso e brilhante e nas noites de lua cheia todos sabiam onde ele estava, tal o reflexo que emitia, como um copo de cristal em festa de reis confundido com o brilho dos lustres.
Os arreios não lhe pesavam, fixos, firmes no seu pescoço de raça e tilintavam ao som da música, compasso binário de uma polca cantada, sempre a mesma toada.
As pessoas diziam "Que bonito!" e os meninos gritavam "Brilhante! Eu só quero o Brilhante!" e lutavam entre si para o montar e zangavam-se e choravam e as mães diziam "Não chores! Vem cá, vamos comer algodão doce e andar no comboio fantasma...". Mas os meninos tinham medo dos fantasmas e do comboio, temiam as suas curvas perigosas, o escuro imenso dos seus túneis, os estranhos esqueletos vestidos de teias de aranha e os sopros sinistros que vinham do nada. Sentiam a magia daquele companheiro de viagens, ouviam o seu sussurrar, as histórias que lhes contava entre passos e trotes, galopes e voos, sempre a rodar.
E quando por fim pela madrugada os sons se calavam, as luzes esmoreciam e um vento ligeiro arrastava as folhas e os papéis pelo chão gelado, Brilhante fechava os olhos e sonhava partir à desfilada pelos caminhos pedregosos, o mais veloz, o mais temerário de todos os cavalos.
Todos os anos os meninos voltavam, mais crescidos uns, mais feios outros, mais brigões, mais chorões e voltavam os meninos desses meninos e um dia, Brilhante, já não sabia que dia era esse, sentiu um peso no peito e as patas traseiras tremeram no chão e alguém disse "Está sem cor este cavalo" e ele pensou aflito "Sou eu?!" e a polca tocava e como era monótona a polca e o seu coração bateu mais forte, tão forte, galopava em vez dele, chamava-o não sabia porquê e ele parado, cansado e triste percebeu como era redonda a sua caminhada e como o primeiro a chegar era sempre ele, porque na roda redonda não há princípio nem fim.
E nessa noite, no seu sonho de todas as noites, Brilhante libertou as patas traseiras ainda agora assentes no chão, agitou as patas dianteiras desafiando o vento, coxas firmes e musculadas, as narinas abertas sedentas de aventura, os olhos ternos e mansos buscando o infinito e soltando-se num galope doido, relinchou três vezes, o mais veloz, o mais temerário de todos os cavalos!
O pelo era liso e brilhante e nas noites de lua cheia todos sabiam onde ele estava, tal o reflexo que emitia, como um copo de cristal em festa de reis confundido com o brilho dos lustres.
Os arreios não lhe pesavam, fixos, firmes no seu pescoço de raça e tilintavam ao som da música, compasso binário de uma polca cantada, sempre a mesma toada.
As pessoas diziam "Que bonito!" e os meninos gritavam "Brilhante! Eu só quero o Brilhante!" e lutavam entre si para o montar e zangavam-se e choravam e as mães diziam "Não chores! Vem cá, vamos comer algodão doce e andar no comboio fantasma...". Mas os meninos tinham medo dos fantasmas e do comboio, temiam as suas curvas perigosas, o escuro imenso dos seus túneis, os estranhos esqueletos vestidos de teias de aranha e os sopros sinistros que vinham do nada. Sentiam a magia daquele companheiro de viagens, ouviam o seu sussurrar, as histórias que lhes contava entre passos e trotes, galopes e voos, sempre a rodar.
E quando por fim pela madrugada os sons se calavam, as luzes esmoreciam e um vento ligeiro arrastava as folhas e os papéis pelo chão gelado, Brilhante fechava os olhos e sonhava partir à desfilada pelos caminhos pedregosos, o mais veloz, o mais temerário de todos os cavalos.
Todos os anos os meninos voltavam, mais crescidos uns, mais feios outros, mais brigões, mais chorões e voltavam os meninos desses meninos e um dia, Brilhante, já não sabia que dia era esse, sentiu um peso no peito e as patas traseiras tremeram no chão e alguém disse "Está sem cor este cavalo" e ele pensou aflito "Sou eu?!" e a polca tocava e como era monótona a polca e o seu coração bateu mais forte, tão forte, galopava em vez dele, chamava-o não sabia porquê e ele parado, cansado e triste percebeu como era redonda a sua caminhada e como o primeiro a chegar era sempre ele, porque na roda redonda não há princípio nem fim.
E nessa noite, no seu sonho de todas as noites, Brilhante libertou as patas traseiras ainda agora assentes no chão, agitou as patas dianteiras desafiando o vento, coxas firmes e musculadas, as narinas abertas sedentas de aventura, os olhos ternos e mansos buscando o infinito e soltando-se num galope doido, relinchou três vezes, o mais veloz, o mais temerário de todos os cavalos!
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Viver é correr riscos
cavalgando carrosséis patéticos
libertando o mais brilhante de todos os cavalos.
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Manuela Baptista
Estoril, 4 de Fevereiro 2010
35 comentários:
BRILHANTE
Como é brilhante
o brilhante
que brilha
corre
cintila
risco
e anilha
giga
que toca
e fia
galopa
e um dia
acorda
sem ver
a trote
a cor da magia
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 4 de Fevereiro de 2010
Brilhante ...digo eu...
Puxa vida que já ando sem palavras e ando sempre a roubar algumas aqui aos meus queridos amigos...
Bem...ocorreu-me ao ler o conto que o Brilhante me parece alguém que eu conheço...assim um lindo Ser que merecia já há muito tempo... que "alguém" lhe desse à alma de artista um certo brilho...que demora a chegar.Aguarda isso vai mantendo a persistencia e "fôlego" para galopar...
Adorei o conto e posso estar redondamente enganada mas para mim interpretei-o assim...como gostei...
Beijinhos com carinho
Lisa_B
Tão bonita esta história... e logo eu, que adoro carrosseis!! Quando os meus filhos eram pequenos, e levava-os às festa e feiras, só andavamos no carrossel( eu tinha de andar, não fossem caír ou se assustar, rrs, ou pelo menos, era o que eu dizia, rrss). Fez-me lembrar a Mary Poppins e aquela cena em que os cavalos saiem e voam.... é essa precisamente a sensação do Carrossel que tanto gosto :))
.
. na roda que gira giro agora a galope do mais temerário de todos os cavalos .
. .b.r.i.l.h.a.n.t.e. .
. porque ao risco dos riscos ninguém é imune .
. porque a racionalidade é também ir.racional .
. fruto de todos e tantos momentos .
. porque antes de humanos somos seres, como quaisquer outros .
. e tantas vezes tão similares .
.
. um beijo total,,, manuela .
.
. dos riscos que já corri, dos riscos nos quais já caí, venho aqui, de onde saio tão somente ou a.penas, ligeira.mente des.penteado, sendo este o derradeiro risco a que me submeto .
. por graça da des.graça .
. :))) .
. paulo . sempre íssimo .
.
O Brilhante perdeu-se no tempo e confundiu-se quando os meninos que o vieram visitar já não eram só os mesmos.. até o seu coração galopava mais do que ele que só sabia andar á roda... mas uma noite ele libertou-se de todas as amarras e, desafiando tudo, o próprio sonho,partiu num galope veloz, aceitando correr todos os riscos...apenas para viver!!
Mais uma história emocionante, Manela!
Um beijo
Graça
O Brilhante perdeu-se no tempo e confundiu-se quando os meninos que o vieram visitar já não eram só os mesmos.. até o seu coração galopava mais do que ele que só sabia andar á roda... mas uma noite ele libertou-se de todas as amarras e, desafiando tudo, o próprio sonho,partiu num galope veloz, aceitando correr todos os riscos...apenas para viver!!
Mais uma história emocionante, Manela!
Um beijo
Graça
Jaime
venham todos!
mais uma corrrrrrrrida, mais uma viaaaaaaaaaagem!
e quem tiver medo de cavalos alados, pode sempre dar uma voltinha na chávena gigante
e virar o estômago do avesso
nauseado
estonteado!
as meninas e as senhoras não pagam, porque aqui o cavalheiro já pagou por elas!!
esta é a cor da magia!
Manuela
Lisa B
brilhante disse ela!
vai um algodão doce??
bem lambuzado
bem enrolado num lindo pauzinho que tem sempre utilidade
em qualquer lar...
tenho de lhe confessar, que além de ter medo do comboio fantasma,
o algodão doce enjoava-me imenso
mas, era lindo!
beijos
Manuela
Eva
Supercalifragilisticexpialidocious!
e as girafas
e as chávenas que andavam à roda
e os bancos para os meninos enjoados...
Vamos à feira??
é por isso que a luta dos "empresários da diversão" me deu volta à cabeça!
Um dia as leis tornarão tudo tão seguro, tão seguro, que ficaremos fechados em casa para não cairmos...
beijinhos
Manuela
Paulo
se o cavalheiro me quizer acompanhar
levo-o comigo no mais belo cavalo e após percorrermos os arredores da terra
relinchamos três vezes e na feira mais feira que possa existir, compro-lhe um frasco da melhor brilhantina!
para jamais! sair daqui despenteado :))))
e aqui este ser
como apenas outro
riscando e riscado porque somos humanos
dá.lhe um totalíssimo beijo
Manuela
Graça
com a cabeça a andar à roda
não desejamos, também nós,
partir à desfilada
e deixar para trás os parafusos que nos prendem ao chão?
e obrigada pelos teus comentários gémeos! :))
beijinhos
Manuela
Não gosto de carroceis mas gosto muito de cavalos.
Parecem-me muito familiares com aqueles olhos enormes que nos absorvem de simpatia.
Lembro-me quando era menino de a minha avó me levar na burra. De um lado ia o Luís e o outro o David.
A avó ia na frente para ela não fugir.
Sempre que nos queria convencer era só uma voltinha no alforge da burra e estava o assunto concluído.
Anos 51 ou 52. Entretanto a burra morreu de velha.
Luís
Grande avó!E a trote na burrinha os meninos eram conquistados...
Os burros são uns animais muito bonitos e meigos, mas apenas o galope dos cavalos nos dá uma sensação de liberdade!
um abraço
Manuela
.
. há comentários que des.tecem os dias sombrios . como o de hoje . para mim . não sei porquê .
. o seu .
. ao qual dei seguimento na terra onde foi semeado .
. para que germine no tempo que dizem findo . um dia .
. re.beijo de hoje .
.
. paulo .
.
mesmo sem cor
brilhante
não desistiu do sonho
cavalgou
libertou-se
arriscou
para viver
a magia da vida.
....
podíamos ser como o brilhante
com algodão doce
colado ao rosto
um sorriso de alegria
e um grito de vencedor...
quem vem comigo?
beijinhos meus para a mágica Manuela
Manuela,
Não sei se o cavalinho que eu montava na Feira de Março, (agora em Maio) de Leiria, era assim tão BRILHANTE... mas mais brilhante era o meu pai - plantador de laranjeiras e sonhos, que se divertia tanto ou mais do que eu...
Eu tinha sim um cavalo preferido, tinha um ar tristonho, mas era todo branquinho com uns olhos grandes e azuis...
E as bolinhas de serradura envolvidas em papeis de prata colorida, lembra? Aquelas que estavam sempre a partir o elástico fininho pelo frenético movimento de vai-e-vem...
Nas minhas mãos não duravam nem cinco minutos, achava eu que podia esticar até à lua:)))
Quando já não havia elástico, por tanto ter sido atado, minha mãe, resolvia o problema com elásticos de cuecas, mas como eram mais grossos, o movimento era completamente desquadrilhado, um desatino... e aí eu já não achava muita graça...
Obrigada Manuela por me ter levado à Feira dos sonhos...
Vai mais uma voltinha?
Um algodão docinho para si
Ufff...Manuela, está desejosa que o cavalo se libertásse daquele rudopiar incessante...o cavalo tinha a consolação da alegria das crianças, mas devia ter levado muito pontapé!...
Delicioso Manuela e então ao som de uma Gigue de Bach e com o genial e excêntrico Glenn Gould!...
Beijinhos,
Marisa
Viver é isso Manuela, tão bem sintetizado por si no final do conto, porque apesar de todos os riscoa e quedas, o que conta é que o saldo seja positivo.
De resto, esse saldo positivo faz-se também de histórias felizes em carroceis, com cavalos como o "Brilhante" e de algodão doce e do "comboio-fantasma" e de tanta animação e históras que as nossa mães nos contavam e que a Manuela sempre que conta uma nos faz assomar um sorriso de ternura por elas, as nossas mães e avós, porque se sente que as suas têm o seu talento, mas as memórias de uma infância feliz, mas que aprendeu a libertar os seus cavalos e a ajudar a libertar os dos outros.
Beijinhos de boa noite.
Branca
"...os olhos ternos e mansos buscando o infinito..."
E na música me fui tão atrás no tempo e trouxe à memória momentos de sonhos de em tantos dias terem sido momentos vividos de criança feliz numa belíssima magia...
e fiquei com a saudade e uma tão grande gratidão em os ter sonhado e vivido...
Muitos abraçinhos para Si Manuela..!
dulce ac
Bom dia Manu.
Mandei para Graça e resolvi te enviar também, o que?
Receita de Sequilhos, se já tem compara e me diz se é igual.
• • 1 lata de leite condensado
• • 5 xícaras (chá) (575 g) de amido de milho (maisena) aproximadamente
• • ½ colher (chá) de essência de baunilha
• • 1 colher (chá) de sal
• • 2 colheres (sopa) de fermento em pó
• • 5 colheres (sopa) de manteiga em temperatura ambiente
• • 2 ovos
1. Misture bem todos os ingredientes
2. Faça bolinhas e achate-as com um garfo
3. Asse em forno quente até dourar por baixo
Dica para esta receita
- Se desejar, substitua a maisena pela mesma quantidade de araruta.
- Se desejar, substitua 1 xícara (chá) de maisena por 100g de coco seco ralado.
- Esta massa se conserva bem em geladeira até o dia seguinte. Se desejar, após frios, coloque-os em um pote com tampa.
100 unidades
Tempo de preparo da Receita:15 min + 15 min de forno
Beijos
Renata que montou neste cavalo e deixou esta receita.
um beijo, Paulinho!
Manuela
Canduxa
vamos nós! ou ainda tem dúvidas??
Tem graça
que a sensação que tenho quando recordo o algodão doce é exactamente essa: colado ao nariz...
beijos
Manuela
Walter
nas feiras de maio
ou outras, também eu cavalgava um cavalinho branco, mas não tinha um ar tristonho, ou tinha e eu achava que não...Os arreios coloridos bem pintados e os olhos pestanudos sublinhados a preto!!
Agora é que me fez rir com as artes de costura da sua mãe!!
Há tanto tempo que não me lembrava dessas bolinhas de prata com um elástico...
Aliás já nem sei para que serviam...para lançar à cabeça dos mais pequenos e fazê-los chorar?
Já viu? agora que as cuecas deixaram de ter elásticos como é que se consertam estas bolinhas de fazer chorar os putos?
Se calhar já nem existem...
Bora lá Walter! mais umas quantas voltas até marear!!
um beijo
Manuela
Marisa
também gosta de Glenn Gould?
lembra-se da velha cadeira, feita pelo pai e que o acompanhava para todo o lado?
Pois aqui galopou com o meu cavalo!!
beijos
Manuela
Branca
aqui chegada
estou cheia de saudades dos carrosséis e de dar um tirinho numa garrafa e ganhar uma jarra pavorosa
comprar uma rifa,
papelinho de seda com um número da sorte
e ganhar uma boneca vestida de espanhola igualmente horrorosa!
E o Walter que se lembrou das bolinhas de serradura forradas a papel de prata com frágeis elásticos...
Então este fim de semana, está combinado! desbumdamos numa feira qualquer?
beijinhos
Manuela
Dulce
que bonito, o que escreveu!!
nem sempre a infância é um território de felicidade,
mas conquista-se
tal como a liberdade!
beijinhos
Manuela
Doce Renata
Obrigada pela receita!!
esta com leite condensado eu não conhecia, mas vou experimentar.
e guardar alguns biscotinhos para o Brilhante, bicho guloso...
beijos
Manuela
Eita que quero galopar !...
Manuela,que conto mais lindo!É bom viajar nas asas do teu pensamento,lembrar dos carrocéis de minha infância,e ainda aprender receitas com Renata!
Bom,muito bom.
Jaime,você é mesmo um cavalheiro!
Beijinhos
Manuela
o dia
está frio mas...
quando chegar a Primavera ...
vamos mesmo voar
Um beijo
LINDA SIMÕES
Minha Querida,
Cavalheiro eu, como, porquê, desculpe-me que me perdi!!!
Ai cabeça a minha ...
Beijinhos
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 5 de Fevereiro de 2010
Linda
nada como um galopar, para afastar a gripe!
Beijos
Manuela
Lili
não, não! para voar é já,
nada de esperar pela Primavera!
beijos
Manuela
Jaime!
então? e dizes tu que eu não te leio?
"as meninas e as senhoras não pagam, porque aqui o cavalheiro já pagou por elas!!"
ai, ai!
Manuela
Ai, ai ...!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 6 de Fevereiro de 2010
Olá Manuela, Foi um grande pianista o Glenn Gould, lembro-me bem da cadeirinha baixinha. Tenho umas gravações antigas, mas em VHS.
Beijinhos,
Marisa
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