Estás aí? a escuridão alongou-se a meu lado, mas não é nada comparada com o medo que eu sinto deste peso que me esmaga o peito, desta pedra que sustenta a viga que me fez cair, aqui onde estou, mas não sei onde estou, nem sei porque estou!
Oiço vozes ao longe, tão ao longe, mas não sei se são as vozes da minha cabeça se são as vozes dos meus filhos a chamarem por mim, se é a tua voz que me chama e que eu não quero ouvir.
Onde estão os filhos que me arrancaste demasiado cedo? mal sabiam já, dizer o meu nome e ainda não lhes tinha ensinado a pronunciar o teu. E para quê e porquê lhes ensinaria eu o teu nome, se o que sinto agora por ti é esta inominável pergunta que me queima o coração, mais pesada que a pedra dura que sustenta a viga que me fez cair, aqui onde não sei se estou.
Onde está a casa que eu construí tijolo a tijolo, com o amor, com a esperança de que fosse a minha casa, onde está o quadro que eu pintei com as cores do mar e do sol e era tão bela a minha pintura e estavam vivas as cores do mar e do sol. Onde está a canção que eu cantei em cada entardecer, mesmo quando não possuía nada para lá das cores do mar e do sol e um desejo enorme de ser feliz. E a dança que eu dancei mesmo sem saber dançar, porque é louco o que acredita que poderá viver sem dançar.
Falas tanto no teu sonho, fazes do teu sonho um segredo para nós, mas quando é que me perguntaste qual era o meu, que sonho sonhava eu para mim, que sonho tenho eu agora. Então não fales em sonhos e tira-me esta pedra que me esmaga o peito, tira-me este peso que me queima o coração, deixa-me ouvir as vozes dos meus irmãos, deixa que sejam eles a segurar a minha mão, a apontar-me aos olhos um feixe ténue de luz.
Estás aí?! deixa-me interpelar o teu sonho porque são mesmo vozes que eu oiço e depressa sairei daqui!
Oiço vozes ao longe, tão ao longe, mas não sei se são as vozes da minha cabeça se são as vozes dos meus filhos a chamarem por mim, se é a tua voz que me chama e que eu não quero ouvir.
Onde estão os filhos que me arrancaste demasiado cedo? mal sabiam já, dizer o meu nome e ainda não lhes tinha ensinado a pronunciar o teu. E para quê e porquê lhes ensinaria eu o teu nome, se o que sinto agora por ti é esta inominável pergunta que me queima o coração, mais pesada que a pedra dura que sustenta a viga que me fez cair, aqui onde não sei se estou.
Onde está a casa que eu construí tijolo a tijolo, com o amor, com a esperança de que fosse a minha casa, onde está o quadro que eu pintei com as cores do mar e do sol e era tão bela a minha pintura e estavam vivas as cores do mar e do sol. Onde está a canção que eu cantei em cada entardecer, mesmo quando não possuía nada para lá das cores do mar e do sol e um desejo enorme de ser feliz. E a dança que eu dancei mesmo sem saber dançar, porque é louco o que acredita que poderá viver sem dançar.
Falas tanto no teu sonho, fazes do teu sonho um segredo para nós, mas quando é que me perguntaste qual era o meu, que sonho sonhava eu para mim, que sonho tenho eu agora. Então não fales em sonhos e tira-me esta pedra que me esmaga o peito, tira-me este peso que me queima o coração, deixa-me ouvir as vozes dos meus irmãos, deixa que sejam eles a segurar a minha mão, a apontar-me aos olhos um feixe ténue de luz.
Estás aí?! deixa-me interpelar o teu sonho porque são mesmo vozes que eu oiço e depressa sairei daqui!
-
-
Esta é uma página perguntada
porque quem não ousa interpelar
não entenderá nunca as respostas do seu coração.
-
-
Manuela Baptista
Estoril, 15 de Janeiro 2010
43 comentários:
"I put my trust in you"
Manuela...!
Esta história contempla muitas outras já vividas...ou ainda por viver..
É maravilhosa.
É Verdade. Por sê-la a vida feita de sonhos, de interpelações
e é bom que vamos tendo algumas respostas...não as tendo..,impõe-se mesmo que o façamos..."Estás aí..?!!
Esta história Manuela é uma das mais bonitas, plena de sentido..., que já li (e muitas das outras também foram histórias Suas - não o ousei antes, mas faço-o agora, juntar-me àqueles que insistem na publicação de todas as histórias que vai escrevendo...será porventura um 1.º Livro de histórias..., porque muitas mais virão..).
Um beijinho de sonhos e de respostas para sermos mais felizes...!!
dulce
"Quem não ousa interpelar,não entenderá nunca as respostas do seu coração"...Lindo texto, mas quando se confia, não se interpela tanto ... :)pois corre-se o risco de continuar a interpelar e nem ouvir as respostas! Um beijo
Dulce
a tentativa de edição
é outro tipo de ousadia...
talvez um dia?!
beijinhos
Manuela
Eva
eu sou uma interpeladora nata!
Mas tem razão, é preciso confiar que um dia ouviremos as respostas...
um abraço
Manuela
Uff Manuela,
Texto lancinante, profundo, arrancado lá do âmago, bonito.
Irmã,Amiga,
espero que a pedra que o peito oprime, se desintegre.
Respire fundo.
Não deixaremos a viga cair.
Um abraço
José
OIÇO
Tiro-te essa pedra
e pergunto-te
mas que sonho
que sonho é o teu
que aperta
esmaga o meu coração
Tiro-te essa pedra
e liberto as vozes
tua e minha
nos filhos nascentes
de um amor
em que te tinha
Tenho
Tiro-te
tiro-te o peso da pedra
e acaricio-te o peito
e dessas vozes sem geito
libertam-se gritos
a eito
Está aqui
aqui
o amor que construi
a casa
o quadro
o tijolo que sorri
Estão aqui
mar e Sol
esta canção que ouvi
as cores
em que te pintei
e te vi
Estou
estou aqui
e oiço embevecido
as cores desses teus sonhos
que se entrelaçam
em feixes de luz
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Janeiro de 2010
José
não se aflija!
apenas dei voz, às vozes
dentro de mim
a todos os que sentem ou têm uma pedra sobre o peito.
um abraço
Manuela
Jaime
é assim, que aquele que nos sonhou um sonho
deveria responder, a todos os que têm uma pedra sobre o peito...
Manuela
Olá Manuela,
Este texto está com uma sensibilidade fantástica, parece-me que sei o que te inspirou, não foi aquela tragédia no Haiti? É que muitas destas perguntas, podiam de facto encaixar-se. É em coisas similares em que penso perante aquele caos.
Como sempre a música de Purcell é excelente, para complementar o que escreves.
Vir aqui é levar com uma brisa de inteligência.
Beijinhos,
Marisa
Marisa
foi! e o silêncio de Deus...
e se aqui sopra uma brisa de inteligência
também é graças a quem me comenta.
beijinhos
Manuela
Por mais que confiemos e que acreditemos no sonho,
num sonho nosso ou de alguém,
há sempre momentos em que necessitamos e ousamos interpelar.
Precisamos de respostas para tantas perguntas, para tantos sonhos sonhados que se desfizeram, muitas vezes deixando um rasto de sofrimento.
Mas só obtemos as respostas quando o coração se aquieta, se tranquiliza e aceita o que vai ouvindo.
Nem sempre nos fazem sorrir, nem sempre nos fazem chorar, mas num dado momento acabamos por retirar a pedra do peito e sentimos vontade de recomeçar.
E, nesse recomeço voltaremos a sonhar com as cores do sol e do mar e mais fortes para construirmos uma nova casa e sentirmos ainda mais amor pela vida.
Manuela, adorei este texto, esta reflexão... esta grito lançado para o Universo.
Um abraço cheio de luz
Muito bonito!
Sem pedra, com pedra...Escuridão ou luz...
As vozes devem ser libertadas,de vez em quando.Para que não fiquem oprimindo o peito,fazendo doer o coração...
Beijoquinhas
O teu sonho ( ou será pesadelo?) é o grito de tantos esmagados que procuram pelos filhos, pelos familiares e querem ir à procura da luz que ainda há momentos era a sua vida...mas a escuridão e aquelas pedras que os esmagam deixam-nos inertes á espera de corações de todo o mundo que, mesmo abafados, tenham escutado o seu grito a pedir ajuda...
Amanhã, pode ser tarde demais... e as pedras, deixar-nos-ão dormir depois?
Um beijo
graça
Querida Manuela,
sentido e... desesperado o texto lindo e triste que hoje escreveu.
Sabemos qual o sonho que todos querem para si...interpelamos porque...não são justas certas situações e quanto dói sabermos e sentirmos que existem.
Não digo mais nada...porque...não sou boa com palavras de dór.
Beijinhos meus com carinho
.
. hoje, o meu comentário é de acenos, com a cabeça, e com as pontas de tantos dedos tarsos destas mãos por onde escoo os dias .
.
. um beijo total, .m.a.n.u.e.l.a. .
.
. bom fim de semana .
.
. paulo .
.
A vida é construída momento a
momento e através disso se vão
construindo várias histórias.
A vida é uma simbiose...
Gosto de vir aqui...
Todos damos e recebemos através
dos imensos blogues. É uma corrente
que se estabelece...e como"na vida
real" há de tudo um pouco.
Beijinhos e bom fim de semana./Irene
Canduxa
e que o Universo
também ele, ouse responder!
Gostei das suas palavras!
beijinhos
Manuela
Linda
desoprimindo o peito e soltando o coração
saudades para Olinda onde nunca estive
mas gostaria de ter estado...
beijinhos
Manuela
Graça
entre os poucos que entenderam
solidariamente para que um dia possamos todos dormir sem medo!
Beijinhos
Manuela
Lisa!
palavras são palavras e as suas são sempre bonitas e sabendo um pouco da sua história
quem diz que não é boa com palavras de consoloção?
beijos
Manuela
Paulo
das mãos por onde escoam os dias
dizer sim é o mais bonito dos gestos!
bom fim de semana para si também,
com a serenidade na ponta dos dedos
um beijo mais do que total
Manuela
Irene
em correntes corremos
e aqui
é a vida mais do que real (pelo menos para mim!)
bom fim de semana
beijos
Manuela
O troar do trovão, esta incessante chuva
As estrelas choram todas as mágoas na terra
Onde param os Anjos, porque não nos acodem os Santos
O mal e o bem porfiam esta eterna guerra
As casas do sul ruiram todas
Tal como a esperança desesperada
Toquei no rosto de uma criança triste
Senti uma paz surgir do nada
Mágico beijo
Olá Manuela,
Senti sim o seu abraço...
Assim que publiquei o comentário, detectei o erro e emendei logo a seguir. Mas o Paulinho, mesmo assim, veio logo em minha salvação...
Fique descansada, hoje estou sem forças e ainda por cima não sei onde tenho a vassoura...
Um beijo e um abraço (sentiste?)
Profeta
ruiram as casas do sul
as do norte e todas as outras!
não são apenas as estrelas que choram...
um abraço
Manuela
a vassoura Walter??
espere aí
que vou ali ao armário e envio-lhe a mais esperta de todas
aquela que voa sozinha
sem palavras mágicas nem nada!
É só sussurar-lhe ao ouvido o que queremos e ela Zássssssss faz-se aos ares...sentiste??
um beijo sentido
Manuela
Na vida aprendemos que não existe resposta para muitas perguntas apenas devemos sentir em nosso coração, muita paz.
Lisette
e sabe decerto do que fala...
um abraço
Manuela
Sim, quem não ousa interpelar não encontrará as respostas do seu coração, no entanto muitas vezes ficamos num eterno "porquê?" e como diz a Lisete que tão bem saberá disso há que procurar a PAZ,reconstruir um sonho, um objectivo e começar de novo, encontrar as respostas, juntando as pedras que ruíram, uma a uma, ainda que cimentando-as com a argamassa da dor e das lágrimas.
Deixo beijinhos.
Branca
Manuela,
Só para lhe dizer que gostei tanto, mas tanto, do último comentário que fez no blog do Paulo, que não resisti em vir até aqui, só para lhe dar uma terna e carinhosa vassouradinha...
Achei lindo o que escreveu!
Beijos
Branca
deixou beijinhos
que eu apanhei!
e vou juntando num saquinho
de seda
depois
quando já tiver muitos reconstruo os sonhos
os meus e os dos outros.
um beijo
Manuela
Walter
aceito a carinhosa vassouradinha, mas apenas por ser pequenina!
e porque hoje é domingo,
e está cinzento lá fora...
eu às vezes também acho lindo o que escrevo
outras vezes, não :))
um beijo
Manuela
Querida Manuela,
passei cá para espairecer, o ânimo começa a faltar ao ver o amontoado de caixas e pastas com tantos documentos para arquivar.
Foi um trabalhinho que consegui para fazer ao domicilio mas detesto isto ehehe.
Mande pf a sua vassourinha mágica a mais inteligente para me tirar daqui e já agora junte uma borracha mágica também com o poder de parar o tempo...
Sim...para os que precisam urgentemente de tempo...
O Bruno toca vários instrumentos, pensei que tinha percebido nos comentários que já fiz elogiando o seu Lindo e a música.
Todos os que estão ligados à música muitas vezes não sabem a dimensão do seu valor...mas a música é terapia de muitas doenças e uma mais-valia no dia-a-dia dos que sofrem...ajuda-os a viver, ajuda-os a suportar a dor.
Se viu na TV, uma mulher cantava enquanto sem anestesia lhe faziam cirurgia. O Poder da música, do canto e "espantar" os males do corpo e da mente.
O Bruno toca vários instrumentos: piano, guitarra e bateria.
Vai ter uma audição de bateria em Julho cá na cidade. O seu prof está muito confiante e desta vez após muitos pedidos o Bruno acedeu a fazê-lo.
Estarão presentes umas 600 pessoas. Será o momento decisivo da vida do Bruno com a sua fobia e pánico para além da sua natureza autista.
Conseguir ou não enfrentar este terrivel, mas maravilhoso desafio...dependerá mais uma vez da sua capacidade de resistência...mas eu tenho fé que ele vai saír vencedor.
Ele sabe que será a maior vitória depois de tudo o que lhe fizeram e continuam a fazer, por via da protecção de menores e depois o tribunal ,(onde decorre ainda o processo contra mim ).
Fui acusada de megligência na prestação de cuidados médicos ao Bruno e depois passou para excesso de protecção:-), entender a justiça?
O Bruno sabe que tenho de me sacrificar muito para ter a minha filha na Universidade em Coimbra,acumulando todas as despesas com ele para lhe dar as aulas partiulares de música,materiais para as artes,futebol e materiais para o mesmo, os especialistas que precisa consultar com regularidade e a gasolina que o carro gasta para o levar a todas as suas actividades. Para além disto e o que o revolta é o processo que me instauraram mesmo depois de se assegurarem que ele estava muito bem acompanhado ,dos melhores especialistas de Portugal, com os melhores cuidados maternos etc. Mesmo depois de saberem quem eu sou...de onde vim e de quem nasci...
Tenho andado a pagar a advogados ora uns ,ora outros por várias razões já tive de mudar 3 vezes infelizmente um deles que foi assassinado :-(
Este dinheiro considero mal gasto, podia aproveitar para dar mais coisas que o Bruno precisa, ou podia aliviar um pouco mais a minha familia que tudo paga e sempre com fé que isto termine bem para mim e para o Bruno.
Em breve dia 14 Fev será o 16º aniversário do Bruno e ele nem o quer festejar porque diz ele que não é livre e só o será quando tiver 18 anos.
Disse-me ele que aos 18 faremos festa. Custa-me muito e escondo tudo quanto posso, para que ele não saiba da maior parte das coisas que se vão passando, e assim não tenha tantos pesadelos.
Desculpe a má construção de frases mas nem estou com tempo de corrigir nada senão corto tudo como já tenho feito rsss. Sou a minha própria censura ehehe daí que vai assim em bruto e abrutalhado talvez.
Desculpe Manuela se lhe ferir os olhos com este arrazoado de palavras.
Não posso dizer tudo porque o processo decorre e alguma juiza ainda me lê e condena de imediato eheheh. O que eu vale eu ainda sorrio com estas tretas que nos fazem, senão estaria louca e internada.
Beijinhos mágicos e obrigada por tudo.
O Bruno quase terminou a sua caixinha.
Lisa
eu não tinha percebido que era uma audição para bateristas!
Boa sorte para o Bruno!
E a minha caixinha está quase pronta?!
Iupiiiiiii!!!!
Vou já comprar mais pacotinhos de chá...
já, quer dizer amanhã.
(e agora em segredo: os juízes de menores e família, deveriam ser por obrigação, pessoas mais do que sensíveis...às vezes não são, mas também não são papões!)
beijos
Manuela
Belíssimo texto, meus genuínos parabéns. Por dentro da queda para que assomem as perguntas e possam diminuir um pouco o peso da pedra sobre o peito.
saudações,
luís filipe pereira
Luís Filipe
pelas perguntas
em queda
obrigada pelas palavras!
um abraço
Manuela
Onde é que estão as respostas?
Eu deveria tê-las.
Sou mãe!
Beleza traduzida em gestos, palavras, sons, nesta coreografia espantosa do "Lamento de Dido".
Obrigada Manuela por tanta beleza.
Maria Emília
Forte, lancinante, objectivo.
Passando pra deixar bjins
e o desejo de um belissimo dia.
"Não importa o que fizeram de mim, o que importa é o que eu faço com o que fizeram de mim. "Jean-Paul Sartre
Maria Emília
as mães já têm por natureza, tantas respostas!
beijinhos
Manuela
João Videira Santos
um abraço
Manuela
Reflexo
bom dia e bom Jean Paul para si também!
um abraço
Manuela
Mais um texto em cujas palavras me refugio, num conforto que necessito.
A musicalidade das letras faz com que dance, num corredor comprido, em passos de valsa premiada com aplausos infantis.
Estou assim, a absorver cada sentimento com que solto emoções repartidas em reflexos de luz nua.
Um beijo.
E nada do que eu traga é para agradecer. É que levo sempre tanto daqui :-))
Mas se comento o belíssimo post das Cartas, debulho-me em lágrimas...
Enviar um comentário