canção sem pássaros








O ramo pertence-lhe. E o espaço abandonado entre o muro de pedra e o poço, e as ameixas amarelas por ora verdes e o alguidar antigo de zinco onde cai a água da chuva e é limpa e fresca e chegam aos pares enquanto é manhã e o gato dorme.
Não se fixa, não se prende. Num instante é mancha de fogo e o sol arde-lhe nos olhos, no outro, é canto silabado a assobiar atrevimentos para cativar insetos crocantes e minhocas viscosas. Gostaríamos de falar de sementes, mas não.
Num súbito arrufo solta o ramo da laranjeira e artimanha volteios a conquistar o ar, não fora tão belo e seria uma escrevedeira-rústica, rara mas feia, avistada pela ria de Alvor ou pelos arrozais.
Os dias de estio são breves, quentes, luminosos, com os olhos a brilhar. E ele estica as asas, depois dobra-as, esconde o bico, enrola-se, pia, aninha-se talvez. 
Que sabemos nós destes sinais.












17 comentários:

. intemporal . disse...

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. prendo.me eu . en.quanto a liberdade for este suscitar de asas . e a escrita for esta . aqui e assim . e a imagética um punhado de cor . com este fulgor .

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. o colírio . é a alma efervescente .

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. bel.íssimo .

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. íssimo feliz .

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Anónimo disse...

"insetos crocantes e minhocas viscosas" serão (ainda que por mais uma vez) um repasto intemporal a ocorrer já em fevereiro próximo (:-)) o qual se prolongará até que seja outra vez primavera!

Kika disse...

Kriu?

Tenho fama de malcriada
Mas sou de todas a mais bonita
E a que nunca esconde o bico
A que te bica o carrapito
Mas que gosta da tua escrita
Tão clara e nunca velada

Kriu!

Jaime Latino Ferreira disse...

MANUELA BAPTISTA


:)


JLF
28/06/14

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida

Como sempre adorei esse descrever da natureza na sua plenitude, como plena é a tua escrita.
Voltando e agradecendo o carinho que me adoçou o coração e me fez voltar.

Um beijinho com carinho
Sonhadora

mz disse...

Um par de dias a chover e outro par de dias com sol, estranham as aves e os outros animais e estranhamos nós.

A certeza,
são os sabores das ameixas maduras, o sol a crestar a pele e o frio a arrepiar.

Um abraço, Manuela.


Rogério G.V. Pereira disse...

Dos pássaros?
Sei o que me contas, e é tanto!

Vitor Chuva disse...

Olá, Manuela!

Desses sinais sabe muito quem a pergunta faz, já que é observadora atenta e interessada no que estes e outros passarocos fazem: desde quando cedo acordam, até que escondem o bico debaixo da asa...

Bonito, como sempre.

Um abraço e bom fim de semana.
Vitor

Graça Pires disse...

Sinais que só podem ser entendidos por quem tem asas a sustentar os sonhos...
Um beijo, Manuela.

Unknown disse...

Gosto de os ver cantar e invejo-lhes a liberdade. Um bater de asas e vão subindo, subindo.
Depois o seu canto que se torna um hino e a todos convida à festa da vida. Quando se esconde continua atento e suas asas guardam-lhe a liberdade

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

as imagens estão em consonância com o texto.

tão rica e bonita a sua escrita Manela!

:)

Rita Freitas disse...

E temos tanto a aprender com ele :)

beijinhos

Anónimo disse...

Aproveita um voo race, apanha a boleia e colhe as ameixas maduras dos ramos superiores das centenárias árvores...

Kika disse...

Kriu?

Atirar a ki.ti ao ar, com determinação e pontaria, também atingirá o mesmo resultado... pelo menos, quatro ameixas virão, ainda que, marcadas pelas unhas...

A pele é o menos...

Kriu!

ki.ti disse...

não,

o melhor método é olhar para cima com a boca aberta num dia de ventania




Guiomar Lobo disse...

Fico agarrada às tuas evocações deste mundo onde irreal, real e fantasia se entrelaçam de forma eminentemente poética.
Lindo, muito lindo!

Graça Pereira disse...

Os sinais dos pássaros e da natureza são todos do teu conhecimento... O que se esperaria de alguém que tem o mar ao fundo??Verdadeira magia...é isso mesmo!
beijo
Graça