Era diferente. Na fala, nos gestos discretos, no andar
contido, estar ou não estar, quem saberia dizer. A tristeza seguia-a, três
passos atrás, por isso não tinha sombra.
Recortava máscaras que imaginava, ou outras que lhe
sugeriam, e eram tão reais como as pedras dos muros, como a farinha para o pão,
como a quentura das mantas nas noites frias. As crianças gostavam dela no
empréstimo dos sonhos que sabia traduzir, escondidos os rostos tudo era possível
de acontecer e de conquistar. Somos o que encenamos ser.
O teatro onde trabalhava sobrevivia, apenas. Porque era
amado. E ela construía os objetos de cena de quase nada e um golpe de luz e
apesar dos dias escuros, o público acorria. Bater as palmas aquece, rir aquece,
chorar faz brilhar os olhos, pano de palco é um vestido novo que se estreia à
quarta-feira.
E quando ela própria cobria a face com a sua máscara
perfeita, preferida, aquela que não dava nem cedia, o cabelo avermelhava-se,
crescia, desmesuradamente crescia. Nessas noites regougavam gritos pelos cantos
da cidade e as velhas acautelavam galinheiros e fechavam as portas das
cozinhas.
Era excessiva. E o que não consumia guardava, e possuía
vinte esconderijos e não se esquecia do lugar exato de cada um nem do que lá
escondia.
Depois o público levantava-se, dizia, bravo! Ela sacudia
o coração azul e o pó pousava devagar já era madrugada.
contos de palco, o primeiro
23 comentários:
MANUELA BAPTISTA
Somos o que encenamos ser, nem mais e quando o que não somos se encena, dá disparate!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 12 de Janeiro de 2013
Maravilhoso, o conto e as telas!
O cabelo vermelho é dono do palco!
Beijo, boa semana!
Raios-te-parta, que fazes para tão bem escrever coisas que rasgam a alma?
Que lindo....cabelo vermelho e coração azul!
A tristeza a segue mas não consegue entrar... pois o coração está cheio de felicidade da cor do céu, crescendo, crescendo, crescendo até transbordar.......
Um beijo Manuela!
Bia
www.biaviagemambiental.blogspot.com
.
.
. serão sempre os detalhes dos sonhos . as noites em que se acautelam galinheiros e se fecham as portas das cozinhas . térreas .
.
. lá dentro . o que era excessivo . basta . e por agora . chega .
.
. cá fora . ajeito o gorro e resguardo o cume das orelhas encarnadas . calço as luvas de lã . pego na sacola onde res.guardo as pantufas de pêlo de ovelha . da qual sou carneiro .
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. ______________________ . e entro . :) .
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. íssimo . sempre feliz .
.
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Kriu?
Sempre tive o cabelo encarnado, o corpo verde-esperança e o coração totalmente azul, da mesma cor de todo o sangue que me percorre as veias!
Não fora eu ser quem sou, mesmo que isso não te interesse nada, nada de nadíssima, até porque e afinal, esta é a tua casa.
No entanto, muito obrigadinha por estares sempre comigo!
Kriu!
É por causa das velhas, é sempre por causa das velhas fecharem as portas das cozinhas, que tantos como eu dormem ao relento a noite inteirinha, e depois não há cão-gripe que resulte, porque se é gripe, cão-gripe!
A seguir, tens de pôr em cena um gato,
isso é que era! um objecto fugidio, e o teatro atrás e as cadeiras e as luzes e os bilhetes
magnífico o conto,
palco onde se assoma deslumbrado
Olá, Manuela!
Disfarçada de si mesma, com máscara feita de tristeza - tal como acontece com tanta gente gente que para aí existe...E que assim ainda outros encantava, apesar do seu coração triste.
Fingimento e verdade; quantas vezes se confundem...
Um abraço amigo.
Vitor
Raposa azul, mas sem nada vermelho, é o Pinto da Costa... desculpa, mas não resisti...
Magnífico conto, como sempre.
Beijo.
É a magia que nos torna diferentes, são os sonhos que transportamos na alma que nos fazem projetar de uma forma diferente...
Lindo mesmo, linda é também a tua maneira de escrever, lemos as entrelinhas tal como na vida o temos que fazer...
bj
Um coração azul e um cabelo vermelho que combinavam na perfeição... Bravo, Bravo- gritava o público.
E o sucesso era porque ela encenava o que era na realidade e as pessoas entendiam, como te entendem a ti na belíssima coreografia que fazes com as palavras.
E os desenhos? Fazem-me sonhar!!
Mil beijos e um bom ano...com muitas histórias!
Graça
Tão bonito este palco!
Assim fosse o palco da vida.
Beijinhos
Sentado na plateia
assisti a uma bela viagem
Um palco cheio de vida
O meu aplauso
um palco cheio de cenas bem encenadas.
sempre inovadora.
e gostei das imagens.
boa semana.
beijos
Me han gustado mucho las pinturas.
Un abrazo azul
Kriu?
Olha, sabes, os dela já nasceram e os meus nada! A culpa é toda tua, porque me andaste a pintar com tintas baratas e demasiadamente tóxicas e agora o resultado está à vista...
Kriu!
Oh Kika, tu nem marido queres ter, como queres tu que os teus nasçam?
A tua sorte é que eu adoro omoletes, senão o desperdício seria total...
É capaz de ser dos pastéis...
O tempo é mais que linear...
É uma leitura dinâmica das paisagens em todos os ângulos...
Somos um único em cada cenário diverso... a essência que nos reveste é imutável, talvez...
Abraços
E como nos transformamos quando os sonhos nos dão o impulso que necessitamos!
O Amor também cresce.
Um Abraço para ti Manuela.
Um beijo, Manuela e muitos parabéns.
Ná
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